<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, outubro 11, 2005

A lista do Léo


Estou abrindo espaço para os companheiros de escriba soltarem seu veneno aqui. O primeiro convidado especial é o Léo Pinheiro, do www.balcaodapadaria.blogspot.com Retribuindo a gentileza de ter sido sua padeira convidada, pedi ao Leo para fazer uma lista com livros interessantes que ele já leu. E aí está o texto do moço.
Obrigada pela colaboração, Léo. E não esqueça: a luta é árdua, mas a inteligência sempre vence no final.


*********************************************************************************


Acho extremamente temerário fazer uma lista dos meus livros preferidos. Primeiro por que cem livros seria pouco, segundo por que sempre vai faltar algum. Que delicioso problema dª Jana me arrumou.

Adoro ler, leio tudo, sou daquelas pessoas que não saem sem um livro. Meu gosto pela leitura pode ser resumido da seguinte forma: Gosto de pegar ônibus e metrô. Grandes livros da minha vida li nestes dois meios de transporte. Acho que é por isso que não gosto de dirigir. Se saio de carro, não leio. Sou do tipo que se não tem o que ler procuro bula de remédio...

Mas vamos lá: dividi minhas leituras em fases, pois assim o processo fica menos monótono que a lista por si só. Infância, adolescência e fase adulta . Acho que desta forma posso fazer a coisa entrar em um processo de justiça do id. Meu conflito vai ser menor, uma vez que meus preferidos de certa forma vão estar lá e eu vou estar me justificando que não tinha espaço para todos os meus preferidos. Portanto vamos à famigerada lista:


Infância

Caçadas de Pedrinho e Hans Staden (Monteiro Lobato): o autor de Taubaté foi fundamental em criar o hábito de leitura para mim. Primeiro uma breve justificativa. Tomei “bomba” na escola e meu pai, avesso a castigos “tradicionais”, me deixou as férias lendo os livros da coleção dele de Monteiro Lobato. Lia um livro, apresentava um resumo. Tinha tudo para não gostar de ler, mas a literatura de Monteiro Lobato era algo que não se faz mais para crianças; quem acha que a inglesa JK Rowling e seu mediano Harry Porter são algo revolucionário, deveria ler Monteiro Lobato. Detalhe: o livro em si era politicamente incorreto ao extremo. Pedrinho organiza uma caçada de onça e sai vitorioso, como também sai vitorioso do ataque das onças e outros animais ao sítio de dona Benta. Depois encontra um rinoceronte, fugido de um circo do Rio de Janeiro, que se refugiara naquelas matas um animal pacatíssimo do qual Emília tomou conta, depois de batizá-lo de Quindim. Completa o volume a narrativa feita por dona Benta das célebres aventuras de Hans Staden. Esse aventureiro alemão veio ao Brasil em 1559 e esteve nove meses prisioneiro dos tupinambás, assistindo a cenas de antropofagia e à espera de ser devorado de um momento para outro. Mas se salvou e voltou para a Alemanha. Lá publicou o seu livro: o primeiro que aparece com cenário brasileiro e um dos mais pungentes e vivos de todas as literaturas


Sangue Fresco (João Carlos Marinho): Marinho escreveu uma série de livros sobre as aventuras da Turma do Gordo (personagem principal de todas as suas tramas), mas este em especial é simplesmente delicioso. Uma aventura que se passa na Amazônia, onde o Gordo e sua turma são seqüestrados por uma quadrilha de contrabando de sangue infantil (?). A ambientação da trama na Amazônia, e a riqueza de detalhes são contagiantes. Isto se deve as conversas do autor com José Genoino (ele mesmo) e seus relatos da Guerrilha do Araguaia, de onde o Marinho tirou algumas situações e as transportou para a trama. Recomendável para despertar o prazer de ler em crianças.



Adolescência

Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll): descobri Alice tarde, achei que era um livro infantil, e como tinha ganhado de presente, fui demorar um pouco para ler. Li a contragosto, mas depois vi meu equívoco. Não se sabe em nenhum momento se é um livro infantil ou adulto. O livro simplesmente é uma sucessão de mensagens subliminares, arremeta-se para época em que foi escrito e entenderá o que digo. Não bastaria a Lewis Carroll compor uma narrativa que apresentasse o país das maravilhas como universo ficcional caótico; desvinculado de qualquer comprometimento com o real - ou propostas de realidades - não permitindo ao leitor estabelecer relações cognitivas e emocionais no encontro com o texto. Na condição de obra de arte, Alice no país das Maravilhas não trata apenas dos delírios usuais do mundo infantil, de um nonsense desprovido da coerência, mas apresenta um discurso interno de ordenação lógica singular. O livro em uma frase: A desconstrução das Ilusões.


Capitães da Areia (Jorge Amado): esta obra relata as peripécias dos meninos de rua da Bahia, na década de 30, tendo como pano de fundo a miséria do cais de Salvador e a sombra protetora da mãe de santo Aninha. Mostra o cotidiano do grupo e o seu modo de agir, de conviver, a sua luta por alimento, abrigo, dinheiro, em suma, pela sobrevivência. Procura demonstrar que a sociedade é que leva essas crianças ao crime e à marginalidade. É também a história dos amores de Pedro Bala e Dora, figura feminina frágil, mas, ao mesmo tempo, protetora. A violência, sempre presente na vida destes jovens que vivem do roubo, tem o seu contraponto na amizade que os une e nos momentos em que, extasiados, ouvem, como qualquer criança, histórias de aventureiros, de homens do mar, de figuras heróicas e lendárias.



Fase Adulta

Crime e Castigo (Fiodor Dostoievski): divido o livro em duas partes - quando o li pela primeira vez em meados de 1994, e recentemente, em 2002, quando foi relançada uma nova edição pela editora 34. A primeira vez em uma tradução do Russo para o Francês e deste para Português, foi uma leitura de descobertas, porém de pouco prazer, sou obrigado a confessar. Era um português duro, sem mobilidade, o francês deprecia muito algumas particularidades da nossa língua. Em compensação com a tradução direta do Russo pude ai sim gostar da história e colocar ele como um dos melhores livros que já li. O grande conto que é Crime e Castigo faz pensar. Seriamos todos um Raskolnikof? Assassinos, que ficam corroídos anos por sentimentos de culpa de seus atos.


Feliz Ano Novo (Rubem Fonseca): O autor para criar o clima do conto que dá o título do livro, passou o natal do ano de 1974 em uma favela no Rio de Janeiro. Devido ao conteúdo extremamente realista que permeia os contos desta obra, foi proibido pela censura do governo militar em 1975. Rubem Fonseca, após a proibição de sua obra, recorreu à justiça e conseguiu a liberação do livro. Fonseca é hoje o maior escritor de contos no Brasil, seu corte seco, sua forma dura de contar a história fazem dele um dos escritores mais realista do Brasil. A descrição de cenas e personagens e de tal precisão que em alguns momentos pode-se achar possível sentir os cheiros e odores. Minha descoberta de Rubem Fonseca veio com o livro A Coleira do Cão de 1965, mas o melhor dele ainda é Feliz Ano Novo.

Para que eu possa tentar dormir no mínimo tranqüilo vou citar apenas cinco que não coloquei aqui. É uma forma de diminuir o remorso:


• Antologia Poética (Carlos Drumonnd de Andrade) é difícil citar um do Drumonnd, então nada melhor que uma antologia.
• O Tempo e o Vento (Erico Veríssimo) A maior saga em livros no Brasil.
• Madame Bovary (Gustave Flaubert) Flaubert são – juntamente com Madame Bovary – suas maiores criações, mostrando um estilo jamais visto na literatura francesa, dominado por significados profundos e uma linguagem pura, onde o autor demonstra toda a sua genialidade, uma das mais peculiares do século 19.
• Diário de um Cucaracha (Henfil) Henfil escreveu estas cartas entre 1973 e 1975, os anos que passou morando nos EUA e um pouquinho no Canadá. Depois publicou algumas dessas 600 cartas na Revista do Fradim, a partir do número 12, no livro a integra deste período.
• 1984 (George Orwell) Sem comentários tão realista e perturbador que dá até medo, quase profético.


Jana muito obrigada pela chance. É uma honra escrever na publicação de quem me incentivou a começar postar meus escritos.

Comentários Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?