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sábado, outubro 15, 2005

Aos mestres, com carinho


Fazia tempo que eu não lembrava que hoje se comemora o Dia dos Professores. Agora, de volta ao universo estudantil, vejo este dia com especial carinho. Uma das minhas maiores amigas em São Paulo é professora de Língua Portuguesa, hoje fazendo seu mestrado na USP. Para a Sueli, companheira de cinema, copos e bares, fã de Beatles, Rolling Stones, Gil, Caetano e Saramago, o universo pedagógico é a essência da vida. Ela, que me dá lições de humanismo e solidariedade, foi a pessoa que me fez enxergar mais claramente que a Educação precisa de socorro urgente.

Sabemos que não vale a pena investir no ambiente educacional, afinal, manipular pessoas que sabem o que pensam é bem mais difícil. Por isso, estudar, no Brasil, é luxo. Estudando sobre as cotas em Universidades, graças ao seminário de Sociedade e Cultura Latino-Americanas, pude perceber que qualquer iniciativa de igualdade no ensino gera uma discussão preconceituosa. Assim, os ricos continuam em Universidades públicas, os pobres não conseguem estudar, e o proletariado financia a elite, que estuda e a qualquer momento volta ao Poder. Lamentável.

Num país de analfabetos, de gente que idolatra a indústria cultural, onde a cultura de massa é o que fortalece bolsos e produz mentes vazias, ter opinião própria dá quase cadeia. Por isso filosofia não é obrigatório nas escolas, por isso é tão difícil entrar numa Universidade pública, por isso o mundo acadêmico não pode se vender nem se sujeitar a qualquer coisa.

Eu sempre gostei de estudar, e me recuso a acreditar que numa sala de aula ainda exista gente com infantilidade e comportamento de criança. Aliás, eu, que trabalho também com crianças, sei que elas são bem mais espertas que muitos por aí, que chegam aos bancos universitários dispostos a ter um diploma e nada mais. A consciência para lutar pelos seus direitos, inclusive o direito de refletir sobre a vida, parece que não existe. O que interessa é azucrinar a paciência de quem quer preencher a mente com algo que valha a pena. Se é para perturbar, vai encher o saco do garçom no bar, ao menos.

Eu respeito, e admiro, todos os professores que passaram pela minha vida. Cada um ajudou a formar a pessoa que sou hoje. Recordo com um carinho especial de todos os meus professores de língua portuguesa, pois foram eles que me incentivaram a continuar escrevendo. Desde a tia Edméa, com quem aprendi a ler e escrever, passando pelas tias Marilene e Selma. Fundamental na minha adolescência, dona Élida foi a professora que me convenceu que escrever seria, para sempre, o meu ofício. Professores Almir e Abrahão, que me ajudaram a formar o bom gosto na literatura, completam esta lista.

Claro que outros conseguiram arrancar de mim algo que eu não sabia que tinha: um conhecimento além das palavras. Podem acreditar, eu sou apaixonada por biologia e já quis fazer biologia marinha. Graças ao Eraldo, meu professor no segundo grau, que tornou genética um assunto inesquecível em minha vida. História, outra das minhas grandes paixões, só foi interessante porque eu discutia com o professor Marcos tudo que cercava esta matéria. E, apesar de detestar matemática, confesso que o professor Mauro sugava o que podia do meu QI (que naquela época era bem alto).

Da parte publicitária que eu adquiri em sala de aula, lembranças boas dos professores de criação: Vera Marques e Álvaro Gabriel. Hoje, da parte jornalística, alguns dos meus professores são leitores deste blog: Odair, que é a fonte de inspiração para tantos textos filosóficos recentes (ele é o culpado pela minha arrebatadora paixão pela Filosofia); Nanci, que mantém a minha tradição de excelentes professores de Língua Portuguesa (com a vantagem de que ela, como eu, é fã de HQs); Jair, que me fez acreditar que sou uma boa oradora; Marcela e Rosângela, que, além de ‘mestras', são minhas jornalistas preferidas; Luiz, que é um cinéfilo disfarçado de professor; mestre Zé Amaral, que sempre tem uma visão interessante dos fatos para narrar (além de ser fã do Paulinho da Viola, o que lhe dá muitos pontos a favor) e ela, professora Márcia Alegro, o terror da Uninove, aquela que pôs medo em todo mundo para plantar a semente da sociologia em cabeças que precisavam pensar.

À Márcia, queria dedicar um capítulo à parte. Um dia, já com as aulas terminadas, estive na faculdade para pegar minha prova e encontrei com ela. Numa longa conversa, ouvi todas as coisas que eu precisava naquele momento de profundo incerteza. A ela, presto a minha mais singela homenagem neste dia, pois todas às vezes que penso em desistir, lembro das suas palavras. Aliás, lembrar dela não é difícil: outro dia, alguém me falou que não conseguiu aprender sociologia e não entendia Weber. Minha resposta: “é porque você não teve aula com a Márcia Alegro. “

Aos meus mestres, professores queridos, que passaram ou ainda estão em minha vida, meu agradecimento pelo apoio e pelo aprendizado constante. Esta ainda é a minha única maneira de retribuir o que todos me ensinaram ao longo desses anos: dedicando estas palavras a vocês.

Muito obrigada por tudo.



Janaina Pereira
Redatora

Comentários
bela homenagem
 
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