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sexta-feira, outubro 07, 2005

Ainda lembro ?


(para ler ouvindo "Metamorfose Ambulante" com Raul Seixas)



Hoje o dia amanheceu esquisito. Eu simplesmente acordei. E agora estou visitando o passado. Graças ao Orkut, achei minhas comunidades de infância, dos colégios que estudei. E descobri que, apesar de lembrar de todos os professores e alunos, já não sei mais a maioria dos nomes.

Então bateu uma saudade e uma tristeza. Olhei para trás e percebi que, diante da maturidade, o passado ficou no passado mesmo, como uma sombra distante. Eu lembro como eu era CDF (ainda sou), e como vivia pegando no pé dos professores (ainda pego). Lembro que adorava as aulas de redação e escrevia tanto que os professores de Língua Portuguesa tinham que limitar a quantidade de linhas. Eu era uma magrela de aparelho nos dentes, depois uma magrela de óculos. Tímida, falava pelos cotovelos ... jamais fui escolhida a menina mais bonita do colégio e, sim, isto era decepcionante. Eu era a mais legal, a melhor amiga de todos, a mais inteligente. A inteligência, aliás, sempre foi minha aliada: era uma das poucas que conseguia conversar de igual para igual com o moço da cantina, o professor de matemática e qualquer outra pessoa que aparecia pela minha frente. Isso me tornava alvo fácil de inveja e esperança de ser uma mulher fora de série. Naquela época, um teste comprovou que eu tinha um QI acima da média. Tanta cobrança gerou uma crise existencial quando, aos 17 anos, não passei no primeiro vestibular que fiz.

Isso faz parte de tempos distantes e quase felizes ... a adolescência foi uma fase da minha vida repleta de perdas. E isso me fez mudar para sempre. A morte do meu pai, quando eu tinha 14 anos e estava entrando no segundo grau, mudou para sempre a minha história. E neste exato momento descobri que, ao crescer, perdi as boas lembranças de uma época que ajudou a formar a pessoa que sou hoje.

Agora, a mulher que estuda filosofia com a paixão de quem ouve uma música do Chico, é alguém que está longe de seu passado. E isso já não é metáfora, é literal. Minha infância se perdeu entre livros e amores esquecidos no fundo de uma gaveta, nas primeiras poesias, no livro que nunca terminei, nos contos que jamais publiquei, nos cartões de Natal guardados com carinho, nos milhares de recados na agenda, e naquele menino que me ajudou a fazer amizade com Platão – o amor platônico foi a minha primeira descoberta filosófica, com apenas 13 anos de idade.

Hoje, sou apenas a menina que cresceu com seus cachos indomáveis questionando o porquê das coisas. Pelo jeito algo não mudou: desde aquela infância distante eu já era uma metamorfose ambulante. Por isso sempre dei a cara pra bater, porque nunca aceitei a velha opinião formada sobre tudo. E olha que eu ainda nem mesmo sei quem sou.


P.S.: A música do dia é para o professor Odair. Já que ainda não consigo fazer a prova por aqui, pelo menos ela (a prova) e ele (o professor) me inspiram a mais uma reflexão filosófica.



Janaina Pereira
Redatora

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