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sábado, setembro 17, 2005

Quando eu crescer quero ser criança



Quando eu achei que o tempo ia melhorar, lá veio o frio de novo. Adoro São Paulo assim ... nebulosa ... fria ... preguiçosa... e muito lentamente despertei, correndo para pôr a vida em ordem. Mas meus olhos ficaram perdidos no devaneio da saudade.

Estou lendo o “Almanaque dos Anos 80” e fiquei encantada com o mundo de lembranças que achei ali. Parece que tudo que vivi está neste livro – e essa onda saudosista, pelo jeito, não vai parar. Mas a parte que mais mexeu comigo foi quando me deparei com fotos de brinquedos. Lembrei de todos que tive, e lembrei até de coisas que eu achei que tinha esquecido para sempre.

E de repente, na manhã deste sábado, descobri que não tenho um passado. Meu passado mora no Rio de Janeiro, habita um apartamento que foi meu só por dois anos. Lá estão alguns dos meus brinquedos, que guardei com carinho para olhar com saudades em dias como hoje. A minha Moranguinho foi embora, para as mãos da pequena Bia, filha da minha amiga Priscila. Tantas outras bonecas foram doadas ao longo dos anos. Nunca achei justo guardar tanto brinquedo para as filhas que nunca vieram e talvez nunca venham.

Como filha única, sempre ganhei muito presente e, especialmente, muitos brinquedos. Nem todos eram caros, mas a maioria tinha um valor inestimável. Lembro quando eu quebrei a minha primeira boneca, a “Bochechinha”, num acesso de raiva infantil – pois é, eu era pirracenta desde pequena. E lembro também quando quebraram meu ”Bambam”, deixando o pobrezinho aleijado. Meus brinquedos eram tão bem cuidados que parecia que eu nunca brincava com eles. Mas eu me divertia muito. Tinha minha família de bonecos, a coleção inflável dos Barbapapas. Milhares de ‘fofoletes’, ‘agarradinhos’, panelinhas, cozinha, fogão, pipoqueira Pip Pop, liquidificador, credo ! Eu ia ser uma autêntica dona de casa, e vejam só, tanta brincadeira de cozinha não deu em nada ! Logo cedo me rebelei – lógico ! – e comecei a ganhar jogos. Também tive um quadro negro, que por anos fez minha mãe acreditar que eu seria professora (e de certa forma eu sou, mas sem quadro negro, ou lousa, para os paulistanos !). Meus brinquedos eram parte de um mundo próprio, que minha imaginação fez acreditar que seria eterno. E talvez por isso crescer seja tão doloroso.

Hoje eu descobri que estas lembranças, que minha memória fez questão de adormecer, não vivem em São Paulo. Elas estão na casa da minha mãe, no Rio. Hoje eu senti saudades. Hoje eu até chorei. E foi aí que olhei a minha volta e vi que tudo que construi em São Paulo foi minha história de adulta. Caramba ! Não é que eu cresci ?!

Entre lágrimas, olhei minha cama enorme e lá estava ele. Quando cheguei a Sampa em 2001, trouxe minha mala com meia dúzia de roupas, meu portfólio de publicitária e ele. Há 21 anos ele está sempre no mesmo lugar: em cima da minha cama, seja ela qual for. As orelhas foram remendadas, as roupinhas estão desbotadas mas ele continua ali, silencioso, me olhando com ternura. Ele chegou em minha vida quando eu tinha só 10 anos de idade, no Natal de 1984, um presente inesquecível do meu pai. Ele é o pedaço da minha infância, ele é o meu olhar de saudades. Meu Snoopy inseparável prova que eu cresci. Mas que no fundo, no fundo, eu continuo sendo aquela menininha suburbana sorridente, com cachinhos esvoaçantes e queimada de sol (ok, já não tão bronzeada ...). E pensando bem, acho que nem sou tão adulta assim. Porque continuo adorando um brinquedo – vide minha digital !

Ah, para que ser uma adulta ranzinza, chata e perfeccionista – que eu sou, mas só de vez em quando ! Olhem bem para minha cara: porque todo mundo acha que tenho 20 anos ? Porque minha essência, minha alma, é a mesma. Porque eu ainda sou a menina que usa saias coloridas, sandálias de plástico, bolsas espalhafatosas e camisetas com bichinhos. Eu nunca deixei de ser criança. Só que agora eu tenho atitudes e a força de uma grande mulher.



Janaina Pereira
Redatora

Comentários
esse saudosismo é bacana. faz bem recordar. parabéns pelo blog.
 
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