<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, setembro 02, 2005

82


(para ler ouvindo “High and Dry” do Radiohead)


Era uma casa muito engraçada. Ou melhor, um apartamento. Gente indo e voltando, gente feliz, gente triste, gente que chegou a SP repleta de sonhos. Gente que veio para ficar, gente que veio para partir, gente que não veio, gente que se foi. Mães, irmãos, avós, amigos, incenso para disfarçar, luz de vela, luz da lua.

Era lá, naquela esquina da Manoel da Nóbrega, naquele prédio cheio de estilo que a gente se escondia. Era uma fase e a gente sabia que ia passar. Por aquele corredor muita gente entrou e por aquela porta muita gente partiu. Acordar ao som dos pavões, ter a Thompson como olhar da minha janela e apenas um colchão no chão. E eu não tinha nada mas também tinha tudo. Eu tinha sonhos. Eu me iludi. Mas eu não desisti.

Era uma festa, um tédio, um silêncio, uma algazarra, uma briga, várias brigas, muitas panelas, tempos sem fogão, sem geladeira, sem TV, com sofá, com plantas, com microondas e com a Isaura. Era assim, sem passado e sem futuro, era um presente incerto, era uma esperança renovada, era uma fuga, um desemprego, um desespero, uma vida que parecia que ia mudar a qualquer instante.

Não mudava.

De repente mudou.

Hoje o 82 não existe. Sinto saudades de muita coisa que vivi ali, de muitas lágrimas que se perderam no meu imenso quarto com armário embutido. O tempo não volta. Tudo mudou. As pessoas se perderam ao longo da estrada. O 82 é só um apartamento vazio cheio de recordações. Quando eu sai de lá, deixei para trás um pedacinho da minha vida paulistana. Só o começo dela.

O apartamento 82 da Manoel da Nóbrega 401 foi minha primeira casa de verdade em SP. Depois de anos sem rumo, foi ali que me encontrei. E foi depois dali que segui o meu caminho para, quem sabe, nunca mais voltar. Como um dia me disseram para eu fazer. Seguir minha vida sem olhar para trás. Ops, agora eu olhei. E vi o 82 lá no final, como uma lembrança de uma fase importante e decisiva na minha vida.

Satya. Juli. Ju. A estrada é longa, o caminho cheio de espinhos, mas a gente nunca deixou de acreditar.

E quando olhar os bilhetinhos, Ju, lembre-se que o passado não volta. Mas o presente é todinho seu. E o futuro vai ser melhor do que a gente imagina. Basta acreditar.

E no final das contas, 82 é um bom número... e era uma casa muito engraçada mesmo. Quer dizer, um apartamento. Ou melhor, era realmente um lar.



Janaina Pereira
Redatora

Comentários
Duca...é chover no molhado né moça? Adoro tuas crônicas, um Sabino de saia, isso é o que você é.
Beijos,
Léo
 
82.... 74..... 68.....
apartamentos, copas do mundo, nascimentos...

82 sempre me lembrou muita coisa: Laranjito, Porto Alegre, Ploc, Atari, Betamax, vizinhas, Tron, pular elásticos, lobinhos.

Agora as memórias cresceram: jantas, risadas, facas quebradas, novelas da globo, palavrões em espanhol, hippongas, sonhos, medos, falta de grana, planos, falta de Sol, idéias, novos amigos.

Jana, nos vemos no 98.. ou no 102, ou no 56...... fazemos uma loteria? :)
 
8 + 2 = 10

:)
saudades!
mas nos vemso em outros números.
beijos.
 
pois é, Jana... era o cantinhodos gaúchos em Sampa.

eu já me senti um tanto desorientada quando passei por Sampa e não morava mais lá. deve ser estranho para vocês deixar para trás o lar (mesmo que aos poucos), a casinha muito engraçada.

bjos
 
Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?