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quinta-feira, junho 02, 2005

Onde anda você ?


(para ler ouvindo “My sweet lord”, do George Harrison.)


No dia de hoje, se fosse vivo, meu pai estaria completando 62 anos. Não consigo imaginar como ele seria ... cabelos brancos ? E a barba que ele nunca deixava crescer por completo, permaneceria ? Ainda manteria o bigode que escondia sua cicatriz próxima a boca ? Eu não tenho idéia de como seria meu pai. Eu tenho em minha cabeça a lembrança de um homem que adorava futebol, e todo sábado ia bater bola com os amigos. Lembro claramente de sua fisionomia mas não me recordo da sua voz. Ela se apagou por completo da minha mente e é isso que me faz estranha agora ... por que não lembro ?

Fico pensando o quanto ele se orgulha de mim. Porque eu sei que, de alguma forma, ele está por perto. É difícil chegar aos 30 anos de idade sendo dona do próprio nariz, num mundo machista onde a mulher sempre é subestimada. Não devo satisfação a ninguém, trabalho, estudo e faço o que quero da minha vida. Exatamente como ele me ensinou, aprendi a ser a mulher que segura qualquer onda, que suporta qualquer percalço, que cai mas sempre se levanta. Nunca baixei a guarda, nem a cabeça. Cresci forte porque a dor de perdê-lo me fez uma imensa fortaleza. E quando penso que a rocha vai se partir ... percebo que sou frágil sim, que cansa pra caramba ser forte, mas que sou corajosa e disso não posso mais fugir.

Hoje, quando meu pai está tão longe e tão perto, quando sinto tantas saudades, eu apenas queria que Deus o trouxesse de volta pra mim por alguns segundo, só por hoje. Só agora. Somente para abraçá-lo mais uma vez. Como em meus sonhos, onde ele aparece sempre para me proteger e me guiar. Mas ele não está aqui. Ou está mas não posso vê-lo.

Eu precisava escrever para deixar a dor da perda ser expulsa do meu coração. Para que minhas lágrimas não fossem apenas consolo e saudades. Porque vejo filhos e pais brigando, achando que assim conseguirão resolver alguma coisa. Eu nunca briguei com meu pai e sempre vivi às turras com minha mãe. Porém, quando meu pai morreu, percebi que por mais que eu não concorde com as atitudes da minha mãe, se ela também se for, eu vou sofrer muito. Por isso eu só tenho uma coisa a dizer: ame incondicionalmente ao homem e a mulher que te deram a vida, aos que te criaram e ajudaram a formar seu caráter. Porque um dia eles não estarão mais aqui. E aí o que deve sobrar é uma imensa saudade com doces lembranças, e não rancor, mágoas e arrependimentos.

Então... estou com saudades, e ela vai percorrer meu dia. Espero que ele esteja bem. Aliás, tenho certeza que está. E um dia, quem sabe, a gente se encontra novamente. Vai ser um belo reencontro. Meu pai, que eu sempre chamei de papai. Meu pai, que estará por toda eternidade em meu coração. Meu pai, quantas saudades.



Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
janaredatora@hotmail.com

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