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terça-feira, junho 21, 2005

O novo rumo do Cavaleiro das Trevas


Ele está de volta. Sem aspecto carnavalesco ou firulas, um dos maiores personagens dos quadrinhos retorna às telas em impecável aparição. “Batman Begins”, de Christopher Nolan (“Amnésia” e “Insônia”) traz ao cinema o início da vida do Homem-Morcego. Baseado nos quadrinhos 'Batman: Ano Um' e 'Cavaleiro das Trevas', criados por Frank Miller no final dos anos 80, este filme inaugura uma nova fase na trajetória cinematográfica do herói. Esqueça o Batman de Tim Burton (“Batman” e “Batman, o retorno”). Esqueça, principalmente, o folclórico Batman de Joel Schumacher (“Batman Eternamente” e “Batman & Robin”). A quinta aventura do protetor de Gotham City é sombria e dramática. Finalmente posso dizer que assisti um Batman para adultos, graças ao competente diretor Nolan e a atuação marcante de Christian Bale, que dão um novo status ao personagem.

Batman foi criado em 1939, por Bob Kane e Bill Finger, para a DC Comics. E em “Batman Begins” fica claro, já na abertura, que o filme segue fielmente a estética visual dos quadrinhos. Christopher Nolan trouxe novos elementos ao personagem, apresentando um Batman parecido com o que as “HQs” sempre mostraram: um homem perturbado, melancólico e vingativo. Nolan – que, curiosamente, nunca foi fã de quadrinhos - expõe todos os dramas vividos pelo protagonista, desde a morte de seus pais na infância, evidenciando a humanidade sob a capa preta do herói.

Bruce Wayne (o talentoso Christian Bale) presencia o assassinato dos pais quando criança, e cresce traumatizado pelo fato. Absorvido por um enorme sentimento de culpa, ele vê sua cidade, Gotham City, afundar cada vez mais na violência e na corrupção. O jovem herdeiro da mais poderosa família local pensa em fazer justiça como forma de vingar a morte dos pais. Após um desentendimento com a amiga de infância, Rachel Dawes (Katie Holmes, totalmente deslocada no papel), que se tornou promotora pública e questiona o senso de justiça de Bruce, ele desaparece. O jovem Wayne roda o mundo tentando entender a mente dos criminosos, passa fome, rouba e acaba sendo preso. Na prisão, de forma misteriosa, conhece Ducard (Liam Neeson), membro da Liga das Sombras, uma espécie de grupo de justiceiros ninjas que vem agindo na região. A proposta do grupo, liderado por Ra’s Al Ghul (Ken Watanabe), parece ser a mesma de Bruce: capturar bandidos. É com Ducard que nosso herói aprende as técnicas de artes marciais e ninjas, e como controlar e canalizar seus sentimentos – como medo e desejo de vingança – a fim de chegar a seus objetivos. Porém, Bruce descobre que a Liga das Sombras é um pouco radical em seus meios de fazer justiça. E por causa disso, ele decide trilhar seu próprio caminho, voltando a Gotham e fazendo nascer Batman.

Neste retorno, Bruce reencontra Rachel, o fiel mordomo Alfred (Michael Caine, excelente como sempre) e os criminosos que pretende desmascarar: o chefão que comanda o submundo do crime da cidade, Carmine Falcone (Tom Wilkinson) e o dr. Jonathan Crane (Cillian Murphy), que parece ajudar Falcone, alegando insanidade para poupar os bandidos da prisão. Com a ajuda de Alfred e de Lucius Fox (Morgan Freeman, em simpática aparição), funcionário das Indústrias Wayne, consegue todos os aparatos inseridos nessa guerra contra a bandidagem, incluindo o sensacional Batmóvel. Encarando sua maior fobia, relacionada a morcegos, Bruce Wayne vira Batman, o herói que age nas noites de Gotham assustando bandidos e intimidando a polícia, de onde sai um dos grandes aliados do protagonista, o (ainda) tenente Gordon (o versátil Gary Oldman). Mas algumas surpresas estão reservadas ao nosso herói e seu mentor Ducard volta das sombras para se vingar.

O roteiro de “Batman Begins”, escrito por Nolan e David Goyer (fã confesso do Homem-Morcego) dá maior valor ao drama e aos sentimentos sombrios do personagem, mas há espaço para grandiosas cenas de ação e algumas piadinhas espertas. Provando que se trata de um filme para adultos e não simplesmente mais uma adaptação pop dos quadrinhos para os cinemas, a trilha sonora, composta por Hans Zimmer e James Newton Howard, é totalmente instrumental. A direção de arte e a fotografia são primorosas, embora eu ache que Gotham à noite seja muito mais legal – de dia, ela vira um misto de Nova York com Chicago; bela, mas menos atraente do que sua visão noturna.

Christian Bale (o eterno garotinho de “O Império do Sol” e o lunático de “Psicopata Americano”) é o quarto ator a viver o Cavaleiro das Trevas nos cinemas. Antes dele, Michael Keaton, Val Kilmer e George Clooney vestiram o personagem – sem sucesso, já que em todos os outros filmes do Batman, os vilões sempre tiveram maior destaque (até nos créditos dos filmes, nomes como Jack Nicholson (o eterno Coringa) e Arnold Swazzenagger, apareciam antes dos atores que viviam o herói). Dizem por aí que um dos critérios de escolha para viver Batman seria ter a boca bonita, pois assim quando o ator estivesse de máscara, os lábios sobressairiam. Agora isso não deve ter sido levado em consideração: a boca de Bale não é bonita, e quando ele está vestido de Batman o que chama a atenção é a sua mudança – bastante perceptível – de voz. A partir disso percebemos o quanto o ator se envolveu para fazer o personagem – a diferença na voz é só um detalhe na atuação precisa, e cheia de versatilidade, do galã Christian Bale, sem dúvida nenhuma o melhor Batman. Ele soube captar toda a raiva do personagem, diferenciando o Homem-Morcego de Bruce Wayne mas tornando ambos igualmente atraentes. Bale conta com o apoio de um elenco coadjuvante cheio de estrelas (que inclui, além dos já citados, Hutgher Hauer como o vilão que comanda as Indústrias Wayne), que fazem o filme ainda mais interessante. Com exceção de Katie Holmes, os demais atores dão show. Destaque para os momentos cômicos protagonizados por Michael Caine e Morgan Freeman.

”Batman Begins” não é somente “mais um filme do Batman”, mas “o filme”, completamente independente dos anteriores (embora eu ainda goste muito da concepção visual dos filmes de Tim Burton, em especial a Gotham City gótica que ele criou). Maduro, cheio de boas atuações, muito bem dirigido e roteirizado, supera na narrativa e agrada em cheio aos fãs. Com certeza vai virar uma série. Mas enquanto os outros vilões não chegam, aproveite esta aventura do Homem-Morcego. Vale muito a pena sobrevoar Gotham nas asas dele. E o título do filme diz tudo. Isso é só o começo.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

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