<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, maio 02, 2005

Ele está no meio de nós

Foi num domingo de maio, mais precisamente no primeiro dia de maio, em 1994, que algumas vidas brasileiras se chocaram na curva Tamburello. Impossível eu deixar passar em branco esta data. Como já disse aqui (em texto postado em maio de 2004), eu era fã do Ayrton Senna. E não tenho nenhuma vergonha em revelar que ele foi a única pessoa no mundo que eu realmente admirei.

Já tentei entender o porquê da minha fascinação por ele. Talvez eu o visse como um cara forte, corajoso, invencível. Quando se tem doze anos de idade e poucas possibilidades de vencer na vida, os ídolos passam a exercer presença garantida no seu dia-a-dia. Eu era uma adolescente problemática, como todos os adolescentes são; não tinha muitos amigos e os poucos que estavam perto de mim, eu brigava. Vivia numa redoma de vidro, era criada como uma porcelana valiosíssima e isto tudo impedia meu crescimento. Mas admirar o Ayrton era uma válvula de escape fora-de-série: ele era tudo que eu queria ser, ele tinha tudo que eu queria ter e ele desafiava a morte, como eu gostaria de fazer.

Mas naquele fatídico domingo eu descobri, entre outras coisas, que o Super Homem não existia, que o Ayrton tinha medos, que o dinheiro falava mais alto que tudo e que foi a ganância e a ambição do circo da Fórmula 1 que o colocou naquele cockpit. Porque foi preciso o ídolo morrer para que alguma coisa ali mudasse. Era visível que ele não queria correr mas ele não podia fazer nada. O destino estava escrito. E meus domingos nunca mais foram os mesmos. Mas foi porcausa daquele domingo de maio que o Ayrton entrou, para sempre, em minha vida e na vida de milhares de pessoas em todo o mundo.

Hoje, onze anos depois, acredito que a Tamburello roubou de mim mais do que um ídolo: roubou uma certeza de mudança, de invencibilidade que eu acreditava que havia, não só nele, mas em mim mesma. Aquela curva roubou minha ilusão e destruiu meus sonhos adolescentes de viver ultrapassando todos os limites. O que restou foi a certeza de que os mitos sobrevivem a tudo. Até mesmo à sua própria morte.



Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

Comentários Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?