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sexta-feira, abril 22, 2005

Sangue no asfalto


Finalmente assisti “Amores Brutos” (Amores Perros), o filme de estréia de Alejandro Gonzalez Iñarritu (que alguns anos depois faria o excepcional “21 gramas” – que eu comentei aqui em janeiro de 2004). Para um filme de estréia Iñarritu soube ousar, dirigindo de maneira bastante crua uma história que conta as mazelas humanas. Um filme contundente, forte e corajoso, simplesmente imperdível.

A história se passa na cidade do México. O destino de três pessoas (Octavio, Valéria e El Chivo), de classes sociais e vidas completamente diferentes, muda radicalmente após um terrível acidente de carro. O jovem Octavio (Gael Garcia Bernal, ótimo como sempre) é apaixonado por sua cunhada Susana (Vanessa Bauche) e planeja fugir com ela. Cofi, seu fiel cachorro, acaba se transformando num cruel veículo para que ele consiga o dinheiro que precisa para a fuga. Ao mesmo tempo, Daniel (Álvaro Guerrero) resolve abandonar esposa e filhas para morar com a bela e famosa modelo Valéria (Goya Toledo), por quem está apaixonado. Na véspera da fuga com Susana, Octavio provoca involuntariamente um acidente de carro. No dia em que Daniel e Valéria festejam sua união, ela acaba envolvida no trágico acidente. A testemunha desta fatalidade é El Chivo (Emilio Echeverria), um ex-guerrilheiro comunista que se tornou um assassino de aluguel, após passar vários anos preso. Ali, em meio ao caos, ele encontra Cofi, o cão de Octavio, e tenta salvá-lo. Este encontro abre para ele a possibilidade de se reconciliar consigo mesmo e com seu doloroso passado. A relação dos protagonistas com os cães dá o tom da história: os cachorros são de fundamental importância nas vidas de Octavio, Valéria e El Chivo, definindo, inclusive, o que será de cada um após o acidente.

Premiado como Melhor Filme pela crítica na Mostra de São Paulo e vencedor do Grande Prêmio da Semana Internacional da Crítica, no Festival de Cannes, “Amores Brutos” foi ainda indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de ser um filme ácido e cruel, conquistou público e crítica. O roteiro de Guillermo Arriaga é muito bem elaborado e a idéia do filme, por si só, uma grande sacada. O título (que literalmente pode ser traduzido como “Amores Cães”) mostra um pouco do que é a história: o amor da forma mais bruta, visceral. Sem flores, sem cores, sem grandes emoções, o amor aqui é apenas uma forma crua de sentimento. Não interessa muito as conseqüências do ato: amar em estado bruto é assim, avassalador, sem medos ou culpas.

Acredito que boa parte do mundo já tivesse visto este filme. Mas aos que não viram ainda, vale muito a pena. Mas é bom estar preparado: “Amores Brutos” é uma história agressiva e mordaz, que revela o talento de Iñarritu. Difícil imaginar uma estréia de um cineasta melhor do que esta. E eu, que assisti o filme numa tarde quase fria, na nebulosa cidade de São Paulo, sob uma forte gripe, não poderia ter tido um programa mais arrebatador num feriado que não se prolongou. Para refletir, tal como diz o filme, que a gente aprende muito nessa vida, inclusive com as perdas.



Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
janaredatora@hotmail.com

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