<$BlogRSDUrl$>

sábado, março 05, 2005

A moça que veio do Rio


(para ler ouvindo “The long and winding road”, dos Beatles)


As pessoas sempre acham que me conhecem. Tolice delas. Eu não sou tão previsível como pensam. Meu olhar diz muito, mas meu silêncio fala mais ainda. Sou alguém muito transparente, que com meia dúzia de atitudes demonstra facilmente irritação e cansaço. Mas, acima de tudo, sou muito mais esperta do que imaginam.

É justamente por ter aprendido a me calar que poupei meu organismo de conseqüências mais sérias, como ter uma gastrite ou uma úlcera. E quando todo mundo acha que leu meus pensamentos, eu saio de cena, sempre à francesa. Talvez a pessoa que mais saiba quem eu sou seja minha mãe. Até porque temos um vínculo umbilical, e assim ela consegue perceber a tristeza da minha alma antes mesmo de mim. Mas até ela eu engano vez ou outra. Ela pode até desconfiar, mas jamais vai saber o que se passa no meu coração. Eu aprendi a conviver comigo mesma e com minhas incertezas. E neste momento isto está fazendo uma enorme diferença.

A verdade é que eu não sei muito bem quem eu sou. Eu às vezes finjo que me entendo, mas eu já desisti de me compreender. Mas não desisti de mim mesma, de melhorar como pessoa, de ser mais humana, menos tensa, mais feliz. Eu aprendi, essencialmente, que fatores externos jamais vão me trazer a felicidade. E aprendi a nunca, jamais, em hipótese alguma, desistir.

Eu sou alguém que acredita na verdade, na justiça, e, infelizmente, ainda creio muito no ser humano. Por isso vivo quebrando a cara, vivo confiando em quem não devo confiar, e assim me ferro sempre. Mas, apesar do ser humano estar cada vez mais volúvel e traiçoeiro, eu ainda dou um voto de confiança a muita gente. Não sou Cristo para dar a outra face, e se precisar eu bato mesmo. Mas também não sou Judas, muito menos Pilatos, para condenar alguém e lavar as mãos por este ato.

Não vou ser sutil, porque isso eu nunca fui mesmo, e prefiro ir direto ao ponto: nunca, jamais ache que você conhece alguém. O ser humano tem a capacidade absurda de forjar a si mesmo com muita eficiência. Nesta vida, aprendi que só eu tenho que me conhecer. Isto já basta, o resto é tolice. E não acredite que você me conhece, que consegue perceber na fúria do meu olhar ou na aspereza da minha voz, todos os meus sentimentos. Porque minhas maiores dores e meus melhores amores só o meu espelho pode conhecer.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

Comentários Postar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?