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domingo, março 13, 2005

A menina dos olhos de Clint


Finalmente assisti “Menina de Ouro” (Million Dollar Baby). Mesmo já sabendo a história – graças ao jornal O Globo e ao Fantástico, que revelaram a grande surpresa do filme – resolvi arriscar e paguei para ver se era tão bom quanto diziam. E é. Apesar de ter perdido bastante o impacto para mim – e se você acha que “Menina de Ouro” é somente a história de uma jovem que quer ser lutadora de boxe, continue pensando assim – valeu muito a pena. Sabem por quê ? Porque “Menina de Ouro” é um filme de Clint Eastwood e isso faz toda a diferença.

Maggie (Hilary Swank, excelente) é uma garçonete pobre que sonha entrar para o mundo do boxe. Para isso, ela convence o ex-lutador e agora treinador Frankie Dunn (Clint Eastwood, em atuação emocionante), um homem amargurado que não se perdoa pelo afastamento da filha, a treiná-la. Mesmo relutando, Frank acaba convencido de que por trás daquela mulher que não tem mais idade para ser uma lutadora de boxe, existe uma essência a ser aproveitada (nem que seja somente a teimosia da balzaquiana Maggie). Ao lado deles está Scrap (Morgan Freeman, ótimo como sempre), único amigo de Frank, assim como ele um ex-lutador, que incentiva Maggie. Com este trio de protagonistas, “Menina de Ouro” se desenrola como uma história sobre amizade, sonhos, esperança, amarguras e a redenção que todos nós esperamos ter um dia. E acaba se tornando um filme com alguns clichês, maravilhosas cenas de boxe e uma surpreendente e emocionante virada de roteiro.

Os personagens são muito bem escritos e defendidos por seus atores com maestria. O Frank de Clint Eastwood é cheio de cicatrizes na alma, arredio, durão e extremamente difícil. A Maggie de Hilary Swank, apesar de todos os infortúnios da vida, tem um sorriso repleto de simpatia, esperança e coragem de lutar pelo que quer – e neste caso, é uma luta por sua própria sobrevivência. O Scrap de Morgan Freeman é divertido, sereno e companheiro, e apesar de ter em seu corpo uma lembrança triste da época em que era lutador, ainda enxerga o mundo – e as pessoas - com bons olhos. Os três personagens vão passando por mudanças profundas ao longo do filme, num processo doloroso onde descobrem que as perdas da vida podem ser compensadas, mas jamais esquecidas. O que sobressai é a fantástica capacidade de Eastwood na direção de atores. Fica claro que cada um (incluindo ele próprio) teve um trabalho aprimorado e valorizado pela direção segura do bom e velho Clint. E vale ressaltar que a história da personagem Maggie se confunde com a história da própria Hilary, que agarrou a oportunidade de fazer este papel como uma chance de ressurgir na sua (até então apagada) carreira de atriz.

“Menina de Ouro” mexe com a emoção e traz à tona uma série de valores e questionamentos que a gente costuma fazer ao longo da vida. O filme chama a atenção por passar a idéia de ser uma história de boxe. Mas não é. Este foi apenas o pano de fundo que Clint usou para manipular com muita coragem uma história de busca incessante por uma chance na vida. Uma chance de vencer, de viver, de ser feliz. E no final a gente se dá conta que jamais vamos ter o controle de nada, porque Deus está sempre a postos para nos pregar uma peça e mostrar quem manda. E parece que não importa se você ganha ou perde a luta da vida: na realidade, como o filme deixa muito claro, o que importa mesmo é jamais desistir, é aproveitar a chance que lhe foi dada e fazer o seu melhor. Ganhar ou perder aqui é só uma conseqüência. Às vezes triste, às vezes trágica, às vezes cruel demais para a gente admitir que acabou. Mas tudo na vida tem um fim: seja a dor, o sofrimento, o amor, ou até mesmo o sonho, um dia termina.

Salve Clint Eastwood. Um senhor de 74 anos que sabe como ninguém fazer de uma história com toda cara de ‘filme como outro qualquer’, uma história única, sensível, corajosa e arrebatadora.


P.S.: Deixo aqui meu protesto contra o jornal O GLOBO e a REDE GLOBO, que contaram a história de “Menina de Ouro” contrariando a ética do cinema, dando informações que comprometem o fator fundamental num filme como esses: a surpresa. Foi lamentável e desnecessária a conduta de ambos, que revelaram ao público um detalhe importante do roteiro, tornando a história menos surpreendente.

E para os curiosos, sim, eu me emocionei. Mas certamente por já saber o que ia acontecer, eu não chorei.


Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
janaredatora@hotmail.com

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