quarta-feira, janeiro 26, 2005
Quando o amor bate à sua porta
Ainda estou sob o efeito de um filme muito denso: assisti “Closer – Perto demais” (a parte do título em português é dispensável), do Mike Nichols (diretor dos clássicos “A primeira noite de um homem” e “Quem tem medo de Vírginia Woolf ?”). Baseado numa peça teatral inglesa, que fez enorme sucesso pelo mundo (incluindo o Brasil, onde foi estrelada pela Renata Sorrah e pelo José Mayer), “Closer” foi adaptada ao cinema pelo próprio autor da peça, Patrick Marber. E lá estão todos os ingredientes para uma história agradar a muitos, e desagradar a tantos: a veracidade e a crueldade dos relacionamentos, a frieza e a doçura do ser humano, as paixões e traições que movem o mundo.
Dan (o sempre maravilhoso e cada vez mais irresistível Jude Law) é um escritor fracassado que escreve obituários para um jornal e se apaixona à primeira vista pela stripper Alice (Natalie Portman, a garotinha de “O profissional” que cresceu e apareceu e mais recentemente é lembrada como a princesa Amidala da nova fase de “Star Wars”). Porém, pelo caminho de Dan cruza a fotógrafa bem-sucedida e recém-separada Anna (Julia Roberts, correta como sempre mas perdendo uma grande chance de ser brilhante - a personagem dela era rica em conflitos e rendia muito mais) e uma atração à primeira vista também é inevitável. No caminho de todos aparece o médico Larry (o bonitão – e muito talentoso – Clive Owen) e um intenso quadrilátero amoroso está formado.
Questionando sempre as relações dos casais e falando de sexo sem ser vulgar ou apelativo, “Closer” chama a atenção pelo fato de ir fundo nos sentimentos humanos. A verdade pode afastar e aproximar, a traição pode ou não ser perdoada, ser sincero não é o bastante e no final das contas o amor não é o suficiente para manter duas pessoas juntas. Sai do cinema com um peso enorme no coração, uma angústia incontrolável e a sensação de que a vida é um pouco do que o filme mostra: as pessoas ficam juntas sem se amar, as pessoas se separam amando, as pessoas amam e se perdem umas das outras, as pessoas mentem para não magoar e as pessoas dizem a verdade mesmo não querendo magoar. É por causar esta sensação perturbadora, por desafiar a gente a raciocinar sobre o modo como encaramos nossos sentimentos, que “Closer” se sobressai como um raro filme aonde o ser humano é posto à prova no seu mais instintivo sentimento: o amor.
O filme está longe de ser banal. Mostra que pessoas lindas estão sujeitas a chifres na testa; que a atração gera traição que gera vingança que gera compaixão; e que omitir, mentir e dizer a verdade, na real, são exatamente a mesma coisa. Tudo isso é mostrado em cenas de profundo teor erótico, mas com fantástica sensibilidade e elegância.
Destaque para a trilha sonora arrebatadora – com direito a Bebel Gilberto cantando a belíssima “Samba da Benção” – e a acidez do roteiro tipicamente inglês, com um toque de humor irônico que eles sabem fazer como ninguém (a cena de sexo virtual é hilária). Isso sem falar no elenco afinadíssimo (Natalie Portman e Clive Owen, vencedores do Globo de Ouro, concorrem ao Oscar 2005 como coadjuvantes e são favoritos ao prêmio) dirigido com maestria por Nichols. Um filme para casais, divorciados, solteiros e todos aqueles que tem coragem de encarar seus sentimentos mais nobres e mais repugnantes.
E o amor ? Ah, esse tal de amor, ele algum dia bate à sua porta, cruza sua esquina e invade sem pedir licença o seu coração. E as conseqüências do que você vai fazer com ele são de sua inteira responsabilidade. É nessa hora que a gente encara o desconhecido ... e muitas vezes aquela paixão enlouquecedora acaba, ou simplesmente toma outro rumo. E é aí, no final da história, que alguém sempre vai sair magoado. Isso é inevitável. Assim como amar também é.
Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.folotg.net/janaredatora
Ainda estou sob o efeito de um filme muito denso: assisti “Closer – Perto demais” (a parte do título em português é dispensável), do Mike Nichols (diretor dos clássicos “A primeira noite de um homem” e “Quem tem medo de Vírginia Woolf ?”). Baseado numa peça teatral inglesa, que fez enorme sucesso pelo mundo (incluindo o Brasil, onde foi estrelada pela Renata Sorrah e pelo José Mayer), “Closer” foi adaptada ao cinema pelo próprio autor da peça, Patrick Marber. E lá estão todos os ingredientes para uma história agradar a muitos, e desagradar a tantos: a veracidade e a crueldade dos relacionamentos, a frieza e a doçura do ser humano, as paixões e traições que movem o mundo.
Dan (o sempre maravilhoso e cada vez mais irresistível Jude Law) é um escritor fracassado que escreve obituários para um jornal e se apaixona à primeira vista pela stripper Alice (Natalie Portman, a garotinha de “O profissional” que cresceu e apareceu e mais recentemente é lembrada como a princesa Amidala da nova fase de “Star Wars”). Porém, pelo caminho de Dan cruza a fotógrafa bem-sucedida e recém-separada Anna (Julia Roberts, correta como sempre mas perdendo uma grande chance de ser brilhante - a personagem dela era rica em conflitos e rendia muito mais) e uma atração à primeira vista também é inevitável. No caminho de todos aparece o médico Larry (o bonitão – e muito talentoso – Clive Owen) e um intenso quadrilátero amoroso está formado.
Questionando sempre as relações dos casais e falando de sexo sem ser vulgar ou apelativo, “Closer” chama a atenção pelo fato de ir fundo nos sentimentos humanos. A verdade pode afastar e aproximar, a traição pode ou não ser perdoada, ser sincero não é o bastante e no final das contas o amor não é o suficiente para manter duas pessoas juntas. Sai do cinema com um peso enorme no coração, uma angústia incontrolável e a sensação de que a vida é um pouco do que o filme mostra: as pessoas ficam juntas sem se amar, as pessoas se separam amando, as pessoas amam e se perdem umas das outras, as pessoas mentem para não magoar e as pessoas dizem a verdade mesmo não querendo magoar. É por causar esta sensação perturbadora, por desafiar a gente a raciocinar sobre o modo como encaramos nossos sentimentos, que “Closer” se sobressai como um raro filme aonde o ser humano é posto à prova no seu mais instintivo sentimento: o amor.
O filme está longe de ser banal. Mostra que pessoas lindas estão sujeitas a chifres na testa; que a atração gera traição que gera vingança que gera compaixão; e que omitir, mentir e dizer a verdade, na real, são exatamente a mesma coisa. Tudo isso é mostrado em cenas de profundo teor erótico, mas com fantástica sensibilidade e elegância.
Destaque para a trilha sonora arrebatadora – com direito a Bebel Gilberto cantando a belíssima “Samba da Benção” – e a acidez do roteiro tipicamente inglês, com um toque de humor irônico que eles sabem fazer como ninguém (a cena de sexo virtual é hilária). Isso sem falar no elenco afinadíssimo (Natalie Portman e Clive Owen, vencedores do Globo de Ouro, concorrem ao Oscar 2005 como coadjuvantes e são favoritos ao prêmio) dirigido com maestria por Nichols. Um filme para casais, divorciados, solteiros e todos aqueles que tem coragem de encarar seus sentimentos mais nobres e mais repugnantes.
E o amor ? Ah, esse tal de amor, ele algum dia bate à sua porta, cruza sua esquina e invade sem pedir licença o seu coração. E as conseqüências do que você vai fazer com ele são de sua inteira responsabilidade. É nessa hora que a gente encara o desconhecido ... e muitas vezes aquela paixão enlouquecedora acaba, ou simplesmente toma outro rumo. E é aí, no final da história, que alguém sempre vai sair magoado. Isso é inevitável. Assim como amar também é.
Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.folotg.net/janaredatora
Comentários
Mesmo sabendo das adversidades, do inevitável da vida, principalmente da vida que se vive de forma intensa o amor é masoquista... sabe-se que vai doer, sofrer, ferir... mas se quer viver o amor. Eu estou aderindo para o slogan DIGA NÃO AO AMOR! Com muitas dificuldades, mas creio que poderei chegar mais perto do que eu possa imaginar...
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