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sexta-feira, abril 16, 2004

With a little help from my friends


(para ler ouvindo a canção de mesmo nome, na voz dos Beatles ou do Joe Cocker – ambas as versões são belas.)


Eu sempre tive uma dificuldade enorme para fazer amigos. Lembro-me que, quando eu era criança, rezava muito pedindo a Deus para me dar amiguinhos. Pois é. Como filha única, sempre fui bastante solitária, cresci no meio de adultos e toda amiguinha que fazia no colégio não durava muito. Eu começava o ano letivo com uma nova amiguinha e terminava brigada com a mesma. Era sempre assim, ano após ano.

Mas, aos 14 anos, eu conheci a Angélica. Estava no primeiro ano do segundo grau, colégio novo, meu pai morrera fazia dias... e a Angélica acabou se tornando minha primeira grande amiga. Deus ouvira minhas preces. Mal sabia eu o que viria pela frente ... quando tínhamos 17 anos, a Angélica descobriu que tinha um câncer raro no ombro esquerdo. A partir dali, minha vida mudou completamente. Eu passei um ano e meio visitando minha amiga, em casa e no hospital, toda semana, sem nunca faltar. Eu acompanhei sua quimioterapia, sua operação, sua melhora, seu coma e sua morte. Ela tinha somente 18 anos. Eu também. Na época, falei para minha mãe que nunca mais teria uma amiga como a Angélica. Minha mãe disse que provavelmente não, mas que pelo menos eu descobri o que era ter um amigo de verdade.

Os anos se passaram e em determinadas ocasiões eu pude ter ao meu lado amigos fiéis e leais, que – eu não sei explicar o porquê – acabaram se afastando. Porém, algumas amizades são eternas mesmo, e elas nos acompanham ainda que mudemos de cidade, de país e de plano espiritual. Eu não sei quanto tempo faz que eu não vejo a Giovanna, mas ela sabe mais da minha vida do que minha própria mãe. Giovanna é minha amiga querida que mora nos EUA, com quem eu trabalhei por apenas 4 meses mas que se tornou uma irmã. A gente não se vê faz muitos anos, assim como não vejo a Patrícia, a Simone, a Chris, a Vanessa, o Bruno, a Pri, a Cynthia, a Clau, a Vivi ... assim como eu não via a Ana, que eu reencontrei recentemente. Mais sorte tem a Lu, a Cíntia, a Nilda, a Dani (ela), a Carmen, e, é claro, a Dani (elle), o Marco, a Luiza e a Cida, que estão mais presentes no telefone e na internet do que pessoalmente, mas estão sempre por perto quando eu preciso.

Agora que eu moro em São Paulo, fiz algumas amizades por lá também mas às vezes me pergunto: será que o dia que eu for embora algumas dessas pessoas continuarão minhas amigas ? Será que eu só conheci pessoas em SP e não fiz amigos de verdade ? Claro que existem pessoas em quem confio, que tive ombros amigos quando precisei, mas acho que é um pouco cedo para saber quem pode me acompanhar no restante da jornada. Eu não consigo explicar porque meus amigos do Rio tem uma relação diferente comigo. Talvez porque muitos me conheçam desde uma época em que eu não era nada (e continuo sendo coisa nenhuma, mas ainda assim eles gostam de mim). Se eu nunca fosse para SP sem nada além de um portfólio, ainda assim, eles iriam me amar, me admirar, me amparar quando eu precisasse. Eu nunca precisei provar para eles que eu era uma pessoa legal, determinada, ou sei lá o que. Eu não precisei conquistá-los. A amizade veio naturalmente, como tem que ser.

Em SP eu tive que conquistar tudo: meu espaço, um emprego, um lugar para morar, amigos ... tive que mostrar para as pessoas que, apesar de carioca, eu era legal; que apesar de mulher, eu era ótima profissional; que apesar de não ter dinheiro, eu era gente boa; que apesar de não ter carro, eu era uma companhia bacana. Certamente, eu conheci muita gente. Provavelmente, algumas dessas pessoas se tornaram minhas amigas.

É duro ter que admitir mas para cada dez boas amizades virá uma traição. Sempre tem um amigo em quem você confia que vai lhe decepcionar. A vida é assim. Existe no mundo milhares de pessoas fracas, que não sabem como agir num momento em que uma amizade está em questão. É por isso que não faço negócio com amigos, porque costumo preservar a amizade. Uma das maiores dores que já tive nessa vida foi me decepcionar com pessoas a quem devotei meu carinho, meu respeito e minha lealdade. O desapontamento com alguém a quem demos nossa amizade é de cortar a alma; é ferida que cicatriza, mas deixa marcas profundas no coração.

Ainda bem que para cada fraqueza humana existe um bom coração, uma alma caridosa que lhe estende a mão. Porque é no momento de adversidade que vemos quem realmente é amigo, quem merece confiança, atenção e amor. É como já escrevi antes: Jesus teve ao seu lado a desconfiança de Tomé, a fraqueza de Pedro, a traição de Judas ... mas teve também o amor e a lealdade de João, o apóstolo fiel, que nunca lhe abandonou. Assim acontece conosco por toda vida: cada um de nós tem seus próprios Tomés, Pedros, Judas e alguns bons Joãos, que sempre estarão segurando nossas mãos nos momentos difíceis.

Eu só posso agradecer por ter descoberto, ainda tão jovem, o valor de uma amizade, graças a minha amiga de adolescência Angélica. Foi por causa dela que cheguei a todos os amigos que tenho hoje; foi ela que me ensinou a ser leal as pessoas que nos querem bem. Infelizmente nem todo mundo neste plano sabe o que é isso: ter lealdade aqueles que lhe querem bem. As pessoas insistem em distorcer os fatos e julgar os outros. É por isso que as amizades se tornaram um negócio, um jogo de interesses.

Espero que eu tenha, no Rio, em São Paulo e pelo mundo, tantos amigos bons e fiéis quanto a vida possa me oferecer. Porque os Judas, os Tomés e os Pedros virão, sempre. Mas um João nunca há de faltar.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora





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