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quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Tricampeã


Foi numa madrugada fria de uma segunda-feira, em 5 de fevereiro de 2001, que tudo começou. Eu cheguei a São Paulo com uma mala com uma dúzia de roupas e meu portfólio. Sai do metrô das Clínicas direto para um flat em Pinheiros, na agitadíssima Teodoro Sampaio. Não pensem que foi fácil. Eu vim para São Paulo sem emprego mas com muita esperança. Dividi por três meses um flat de um quarto com outras duas cariocas. Vendi o almoço para pagar o jantar, pois precisava economizar cada centavo. Chorei noites e dias, cansei a mim mesma e aos meus amigos com tanta depressão e stress. Morei em pensionatos, dividi quarto e vida com pessoas que mal sabiam meu nome e minha origem. Sentia-me tão sozinha e tão perdida que nem mesmo os empregos e os poucos novos amigos que foram surgindo ao longo do caminho, conseguiam me consolar.

Eu jurei que nunca passaria nem fome, nem frio, nem sede aqui. Isto realmente aconteceu. Eu aprendi a controlar meus impulsos consumistas, a passar fins de semana dentro de um quarto, a não ver TV, aprendi até a não ter com quem falar quando precisava de consolo. Aprendi a sofrer calada, em silêncio, a viver cercada de incertezas e sem saber o que seria da minha vida na semana seguinte. Aprendi a conviver com a expectativa de ter vindo morar aqui sem saber se um dia teria que voltar para casa. Aprendi a não pensar no amanhã, a dar valor ao hoje e a sentir saudades do ontem. Aprendi a valorizar minhas raízes, a olhar meu Rio de Janeiro com eterno olhar de despedida. Aprendi até a aceitar que eu escolhera uma nova casa e uma nova vida.

Aos três anos de idade eu era uma criancinha que já ia à escola e que vivia cercada dos carinhos da dona Marcia e do seu Ivo (meus pais). Três anos foi o período que cursei o segundo grau. Indiana Jones teve três aventuras no cinema. Tem mais de três anos que eu não vejo minha amiga Giovanna. A Bia, filha do Marcelo e da Pri, tem três anos (quase quatro, é verdade). Em três anos uma mulher pode ter três filhos. Hoje eu completo três anos de vida em Sampa.

Eu sou uma sobrevivente. Passei por tantas lágrimas e dores, tanto medo e solidão, tantos apuros e desespero, tanta tristeza … muitas vezes eu perdi a fé, mas sempre havia uma voz distante que dizia: “Não desista.” E é por isso que estou aqui.

Hoje eu posso até dizer que eu vivo, e não apenas que sobrevivo. Eu tenho uma casa, amigos, trabalho, vida própria. Eu sou dona do meu nariz arrebitado mas ainda não sei se estou em São Paulo faz muito ou pouco tempo. A única coisa que eu sei é que eu ainda estou aqui. Sei exatamente o tempo que resta, se é que é possível saber o que ainda vai acontecer. Sei o que quero e o que eu deixei para trás. Desisti do que quis, abri mão do que era preciso mas segui meu caminho sem passar por cima de ninguém. Tenho orgulho de tudo que fiz e principalmente de nunca ter deixado de acreditar que ia dar certo. Claro que sofri, que fiquei frágil, que pensei em desisitir, que arrumei a mala pelo menos duas vezes para ir embora. Mas nunca me deixaram partir e isto era um sinal que eu precisava viver muitas experiências em Sampa.

Desde aquela manhã, no ano de 2001, eu sabia que não seria fácil. Hoje eu vejo que foi muito difícil, ainda é muito complicado mas tudo melhorou sensivelmente. A todos aqueles que acompanharam e ainda acompanham a minha trajetória, muito obrigada. Pelos ombros amigos, pelo dinheiro emprestado, pelo abrigo, pelo apoio, pelo consolo, pela força, por tudo.

Este texto eu dedico especialmente as pessoas mais importantes da minha vida: meu pai, onde quer que ele esteja, por ter me ensinado a acreditar em sonhos, e minha mãe, que sempre me amou mesmo nos momentos em que eu menos merecia. Agradeço também ao ser superior, a quem eu chamo de Deus, que me levantou todas as vezes que eu cai. Agradeço cada pedra que eu retirei bravamente do meu caminho. Agradeço a cada dor que me fez ser mais forte; a cada amor que me fez ser mais eu; a cada amigo que meu fez ser mais amiga, a cada lágrima que me fez ter mais fé. Agradeço também a você que está lendo este texto e que de alguma forma também faz parte da minha trajetória.

Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora


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