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sexta-feira, janeiro 23, 2004

Alguma coisa acontece no meu coração


A primeira vez que eu cruzei a Ipiranga com a São João eu me emocionei profundamente. Eu me senti personagem da música mais paulistana que conheço, a famosa “Sampa” do Caetano. E agora que a cidade chega aos seus 450 anos, tudo é festa. Fico feliz de fazer parte dessa loucura toda. Eu nunca imaginei que um dia moraria aqui – embora muita gente diga que eu sempre sonhei com isso.

Eu sei que SP é uma cidade esteticamente estranha. Não digo feia, porque eu realmente não acho ela feia, mas acho bem esquisita. Lembro da sensação que tive ao entrar na Avenida Paulista pela primeira vez. Eu fiquei muito assustada. Olhei aqueles prédios, aquele agito, aquela confusão toda, uma coisa absurdamente ensandecida. Eu nunca imaginei que conseguiria morar aqui. Meu amor pelo mar, pela natureza e pela vida parecia que ia morrer a cada fim de semana de sol. Apesar da minha paixão doentia pelo Rio, eu consegui sobreviver em SP. E só por isso eu me sinto uma vitoriosa.

Eu vivo nesta cidade cheia de poluição, de gente que corre pra lá e pra cá, repleta de guetos e lotada de cores escuras e sombrias. Eu sobrevivo graças ao privilégio de ter um parque como o Ibirapuera; graças a gente como a Sueli, a Re, a Sil, o Haroldo, o Silvio, o Sergio, o Antonio, a Si, a Fe e todos estes paulistanos que me acolheram tão bem; graças ao universo cultural e gastronômico que eu encontrei aqui; graças as cores que eu trouxe pra cá. Eu não sou apaixonada por SP mas aprendi a respeitar esta cidade que me deu a vida que eu pedi a Deus, que me deu oportunidades, reconhecimento e coragem. E me sinto muito orgulhosa de saber que parte da história da minha vida eu escrevi nas suas tortuosas esquinas, sob o olhar desconfiado das suas meninas e no meio do seu concreto claustrofóbico.

Ah, meu, SP tem bossa, tem ritmo louco, tem força, tem grana e tem muita diversão noturna. SP me deu dores, lágrimas, solidão, novos amigos, novos amores e uma nova vida. E alguma coisa acontece no meu coração … quando cruzo a Ipiranga, a São João, a Santos, a Lorena, a Brigadeiro, a Faria Lima, a Berrini, a Funchal, a República do Líbano, a Paulista … alguma coisa acontece toda vez que eu olho para o céu e não vejo as estrelas mas penso: eu moro em SP. Eu consegui sobreviver na selva concreta.


Parabéns, Sampa. E obrigada pela vida que eu levo aqui. Uma vida cheia de turbulências, é verdade, mas cercada de uma rara e maravilhosa emoção.



Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

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