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quinta-feira, dezembro 18, 2003

Só falta reunir a zona norte à zona sul


Eu lembro como se fosse ontem. Um convite para festa do Prêmio Abril no Copacabana Palace… finalmente eu ia entrar num dos lugares mais lendários do Rio de Janeiro. Lembro de como fiquei assustada por entrar num universo que nunca me pertenceu. Eu, suburbana de corpo e alma, moradora da zona norte desde sempre, estava dando um salto qualitativo de vida graças ao mundo da propaganda.

Lembro do vestido tomara-que-caia que eu usava naquela quentíssima noite de abril. Eu estava “me achando” muito. E olha que eu não me acho nada – mas era uma noite especial e eu tinha o direito de brilhar. Eu estava particularmente feliz e radiante. Meu mundo, até então cheio de incertezas, ganhava um colorido com as conquistas que o meu trabalho me dava. Eu, que só ia à zona sul para ir à praia e visitar os poucos amigos que tinha lá, passei a ser frequentadora assídua do lado de lá do Rebouças.

Para você que não é carioca eu explico: o Rio é uma cidade eternamente dividida. De um lado a zona norte sem praia, popular, suburbana, com suas famílias classe média (eu sou de uma época que a classe média ainda existia no Brasil). Do outro lado a zona sul com praia, chique, bela, turística, com suas famílias poderosas. E o túnel Rebouças une, e ao mesmo tempo separa, as pessoas distintas que moram nessas duas regiões.

Eu não nego minhas raízes, tenho um pé na chinelagem, como diz a Juli. Eu falo muito e falo alto, eu ando de chinelo e nunca usei havaianas porque era chique, eu usava porque era mais barato mesmo. Apesar desse meu jeito popular e populesco, eu não gosto de pagode nem de funk. Eu tenho nariz arrebitado mas não sou metida. Eu nasci no subúrbio e tenho orgulho disso porque foi lá que eu aprendi que cultura a gente adquiri com as oportunidades que a vida dá.

E graças ao mundo encantado da propaganda eu consegui entrar nos lugares mais cobiçados e elitistas do RJ. Até à Hipoppotamus eu fui (e ir à Hippo era a coisa mais “in” que já existiu na noite carioca). Mas nada se compara a noite de estrelas do Copacabana Palace.

Quando entrei no hotel pela porta giratória eu tive a sensação que chegara longe demais. Eu chegara aonde nunca tinha imaginado chegar. Para aquele povo todo não era nada demais estar ali. Mas para mim, que era o nada e trabalhava no meio do lugar nenhum, era muito, era uma sensação de conquista absurda. Lembro que fui olhar a piscina, circulei pelo hotel e me diverti muito. Foram três anos consecutivos indo ao Copacabana Palace para aquela festa que nem era a melhor delas, mas era a mais especial.

Talvez um dos dias que mais me orgulhei de mim mesma foi quando, depois de contar essa história para algumas pessoas, elas passaram a lembrar de mim toda vez que passavam perto do Copacabana Palace. E quando eu pude apontar para ele e falar para minha mãe: “ Eu estive ali numa festa.”

Por mais cansativa, estressante e angustiante que tenha sido minha relação com a propaganda, eu devo minha vida à profissão que escolhi. Graças a esse mundo louco eu consegui, entre outras coisas, algumas noites no Copacabana Palace. E essa é a melhor recordação que eu tenho da minha vida de publicitária na cidade maravilhosa.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora


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