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quinta-feira, setembro 04, 2003

Não é preciso apagar a luz


No dia 4 de fevereiro de 2001 eu preparava minha mudança para SP (uma mala com meia dúzia de roupas e meu portfólio) quando fui bombardeada pela notícia do acidente do Herbert Vianna. Eu, fã número 1 do Paralamas, apaixonada pelas letras do Herbert, quase não pude acreditar. Lembro da minha mãe dizendo que ele ia morrer. Lembro dos meus amigos ligando para se despedir de mim e comentando do acidente. Mas o que mais lembro foi quando eu disse para minha amiga Luiza que eu tinha certeza que o Herbert sobreviveria e eu ainda iria novamente ao show do Paralamas. E a Luiza lembra disso muito bem.

Eu viajei naquela noite e não consegui dormir. Cheguei a Sampa na manhã do dia 5 e em minha primeira residência aqui – um flat de um quarto que eu dividia com outras duas cariocas – passei horas em frente à TV buscando notícias. O tempo foi passando e cada e-mail que chegava do Rio - em especial os da Luiza – vinham com notícias do Herbert. As pessoas lembravam de mim porque eu sempre acreditei que ele ficaria bom. Eu nenhum momento eu duvidei disso. Eu nunca imaginei minha vida sem uma música do Paralamas. Porque a minha vida são várias músicas do Paralamas.

Eu estava de passagem pelo Rio quando ele saiu do hospital. Eu olhei para minha mãe e disse: “ eu disse que ele ia ficar bom.” Algumas pessoas acham que ficar paralítico é a pior coisa do mundo e que seria melhor morrer do que viver assim. Não concordo. Primeiro que a hora de morrer é certa e a dele não chegou. Segundo, que temos que passar por determinadas situações e não podemos fugir delas. E terceiro – e definitivo – os filhos dele precisavam que ele estivesse vivo, não importa como. E a vida é maior do que as limitações de uma cadeira de rodas.

E nada como o tempo para mostrar que amor, amizade e fé fazem muita diferença. Como eu disse a minha amiga Luiza anos antes, eu fui ao show do Paralamas novamente. Na estréia da turnê “Longo Caminho” eu estava lá no Credicard Hall. Aplaudindo, gritando, dançando e me emocionando muito. Impossível não se comover ao vê-lo. Impossível não ficar feliz com tanta energia boa vindo de um cara que viu a morte, perdeu seu amor e renasceu. Com a força, a harmonia e o alto astral de sempre. Era o mesmo Paralamas que eu vi tantas vezes no Rio, a mesma vibração e presença de palco, o mesmo calor, tudo igual. Pular, vibrar, me esgoelar até perder a voz, o fôlego e o rumo de casa.

Foi a Luiza, claro, que me deu o último CD deles. Para ela, uma das coisas mais legais dessa história é que eu acreditei tanto que o Herbert viveria – assim como tantas outras pessoas torceram por isso – que não tinha como dar errado. E é justamente essa fé e essa crença de que o bem sempre vence que me faz acreditar que no fim, realmente, tudo dá certo.

Faz poucas semanas que eu, novamente, fui ao show do Paralamas no Ibirapuera, no meio da grama, da multidão, da emoção e de toda aquela energia sobrenatural. Ouvi todas as músicas que são referências para minhas dores, meus amores e que faz o meu mundo melhor.

Eu sempre vou acreditar que há uma luz no túnel dos desesperados e há um cais de porto pra quem precisa chegar. E que bom, ah, meu Deus, que ótimo, que eu posso continuar ouvindo a voz do Herbert a me guiar pela noite à caminho de casa.


Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com



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