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segunda-feira, setembro 08, 2003

Little Jane

Quando eu era criança, viaja muito para o sul de Minas e de São Paulo. Minha infância está repousando nas ruas sem calçada de Itajubá e Lorena e nas lembranças que deixei por lá. Minha avó materna, Lenira, é mineira, mas foi para o Rio com 18 anos. Ainda bem, porque eu não trocaria minha identidade carioca por nenhum sotaque desse mundo. Mas é maravilhoso ter família em outros lugares, especialmente num lugar tão curioso como Itajubá. Cresci achando aquela cidade sem graça e sem vida, e a medida que meus parentes lá iam morrendo, eu deixava de viajar para Minas.

A primeira perda da minha vida foi da minha bisavó materna. Eu tinha 9 anos. Eu viajava para vê-la em Itajubá todos os anos, nas minhas férias de julho. Era uma delícia: doce de leite, sorvete de queijo, frango com batata baroa, brincar na horta e não ver TV. Milhares de primos e primas, crianças para brincar – como filha única, cresci no meio de adultos. Mas quando a vovó Marieta (minha bisavó, de quem lembro com perfeição) morreu, parte dessa história acabou. Ainda assim Itajubá sobreviveu às minhas lembranças. São vinte anos sem ela, e eu lembro de tudo, do quarto dela, do seu lugar na mesa, de sua imagem serena. Viajar para Itajubá passou a ser menos frequente e mais sofrido.

Foram muitos anos longe da minha porção mineira. Quando eu entrei naquela casa de novo, senti que minha vida não mudara nada. Ainda sou a Jana, a prima carioca que vai passar uns dias em Minas. Minha porção caipira, interiorana, simplória e impressionantemente caseira ainda mora nas ruas de Itajubá. Cada lágrima que derramei ao ver meu tio-avó, com 94 anos, foi por um passado que nunca mais vai voltar. Um passado repleto da doçura que me fez bem, que me fez dar valor a este bem difícil, mas fundamental, que é a família.

Meus primos que vi nascer, que peguei no colo, que enchiam a casa de alegria e hoje são adolescentes e jovens que acham que eu tenho a idade deles. Ao mesmo tempo que converso com eles, sento na cama do meu tio João, minha única referência de avô, e ouço suas histórias. Seu rosto branquinho, bochechas rosadas e olhos azuis sempre foram a mais grata lembrança itajubense. Mesmo que o tempo apague milhares de coisas da minha mente, eu nunca esqueço da sua imagem cheia de ternura. E foi por ele, por saber que sua hora está chegando, que eu voltei à minha infância em Itajubá. É doloroso ver alguém tão bom sofrer tanto, mas eu não quero questionar a vontade divina. Só posso continuar amando-o, como sempre amei cada um daqueles que fazem parte da minha gigantesca e perdida família.

É muito bom saber que posso receber um abraço fraterno como o da minha querida prima Nia; um abraço caloroso, saudoso, cheio de afeto. Nia, a mais querida das primas, que eu tenho um carinho enorme, uma das pessoas mais amadas da minha vida.

Agradeço a minha mãe e a minha avó por terem superado qualquer rancor e terem me levado desde sempre para Itajubá, para eu ficar perto das minhas raízes e assim crescer e dar valor a elas. Em menos de 48 horas resgatei alguns anos de infância perdida. Lembrei de como a Jana continua com a mesma essência melancólica e emotiva. Ainda sou a Janinha de sempre.

Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com

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