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segunda-feira, setembro 22, 2003

Escrevi este texto tem alguns meses. Mandei para vários sites mas ele continuava inédito ... até agora. Curiosamente, estou com ela de novo. Como vou me calar por alguns dias, ele veio a calhar. Aproveitem bem o meu silêncio, ele é mais perturbardor do que minhas furiosas palavras.



Pausa para escrever

Pra quem vive da palavra, o silêncio tem um significado inusitado. Eu não consigo ficar quieta por muito tempo. Além de escrever muito, eu falo muito também. Às vezes eu preciso me aquietar e não consigo. Preciso me calar, e tenho dificuldades. Então vem sempre uma faringite estratégica pra me deixar calada.
Falar pode gerar vários tormentos em sua vida. Nem sempre o que falamos é interpretado da maneira correta. Nem todo mundo está preparado para ouvir o que temos a dizer. E muitas vezes falamos de modo tão sincero que acabamos magoando quem está ouvindo.
Eu sou melhor escrevendo do que falando. Coisas de redator. Falo depressa demais, atropelo as palavras, não respiro entre as frases. Já quando escrevo consigo deixar claro meus pensamentos, minhas emoções e meu ponto de vista.
Durante muito anos eu me perguntei porque eu gostava tanto de escrever. Porque eu não sabia pintar, desenhar, costurar, cozinhar, fazer qualquer outra coisa, porque eu tinha que gostar de escrever ?
Lembro que eu sempre fiz redações enormes no colégio. Ao contrário da maioria das crianças, nunca tive dificuldade nas aulas de redação. Sempre fui ótima aluna, sempre escrevi muito. Escrevia poesia, escrevia na carteira do colégio, na parede de casa, escrevia cartas, escrevia contos, escrevia cartão de aniversário. Participava de concursos de poesia, de concursos de redação, escrevia, escrevia, escrevia.
Escrevi tanto durante meus 28 anos de vida que tenho calo nos dedos, tenho tendinite, mas não tenho a dor suficiente que me faça parar de escrever. Tenho mãos finas e dedos longos, aquelas mãos que chamam de mãos de pianista de tão finas … mãos que nunca tocaram num piano, mas que teclam o computador com ansiedade.
E quando eu não sei mais o que dizer, quando me faltam as palavras, eu escrevo. Tem uma frase da Fernanda Montenegro que é ótima: “Teatro e respiração pra mim são a mesma coisa.” Eu digo que escrever e respirar para mim são a mesma coisa. Se eu não pudesse escrever, eu não existiria. Aliás, eu só existo porque posso expressar meus sentimentos escrevendo.
A palavra, quando dita, gera milhões de interpretações. Quando escrita, pode ter outro significado. Eu aprendi a respeitar o fato de que sou péssima falando. Enche o saco ficar repetindo a mesma coisa, porque muitas vezes o outro não quer entender. Pior ainda é ficar falando o que o outro não quer ouvir. Então às vezes é bom mesmo que a faringite “feche” minha garganta. Assim eu me poupo. Curioso é como as pessoas reagem diante do silêncio – daí ele ser inusitado. Se você não fala, cobram isso. Por que você está quieto ? O que aconteceu ? Ora, você pode estar usando apenas seu direito de não falar.
Dizem que a palavra vale prata e o silêncio vale ouro. E que você deve se arrepender das suas palavras, nunca do seu silêncio. E que uma imagem vale mais que mil palavras. Eu acho que “EU TE AMO” é tão lindo quando você fala ou quando você escreve. Só que quando você fala, as palavras podem não ficar ecoando em seus ouvidos na próxima briga. E quando você escreve, elas podem ser guardadas no fundo da sua gaveta por toda eternidade.
Sou a favor de que as pessoas falem menos e façam mais. Que as pessoas aprendam a se ouvir também. E que cada um pare para ouvir o que o outro tem a dizer. Que respeitem as opiniões contrárias à sua. Que se respeitem e silenciem. Principalmente quando não há nada para dizer, que façam silêncio. E olha eu aí, de volta ao silêncio. A matéria-prima de quem vive das palavras. Mesmo que a pessoa relute a se calar. Mas aí vem uma faringite estratégica que cala você. Só que nem a faringite impede o bom uso das palavras. Porque escrever é como respirar: quando eu deixar de fazer isso, eu deixarei de existir.

Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

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