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domingo, outubro 30, 2016

O Estado das Coisas


O Rio de Janeiro continua lindo e continua sendo: provinciano, conservador, antiquado e hipócrita. Em sua quinta tentativa, Crivella conseguiu a prefeitura. Surpresa? Claro que não. O Rio é uma cidade conservadora, e não só politicamente falando. Essa imagem de liberal - que muita gente confunde com libertinagem, mas isso já é outra história - só existe para estrangeiro (e turista brasileiro) ver.

À parte das questões religiosas, é meio óbvio que vivemos um momento de conservadorismo no mundo, senão um cara como Donald Trump nem seria candidato à presidência dos EUA.. Só que o Rio sempre foi conservador, mas com aquela imagem de 'cidade moderninha' que jamais existe em seu dia a dia. Quem é carioca sabe disso - e eu posso falar muito mais facilmente porque sou a carioca que foi renegada pelos conterrâneos, afinal, perdi o sotaque então perdi o direito de reclamar da minha cidade.

Vou sempre desejar o melhor para o Rio, onde nasci e vivi a maior parte da minha vida, mas foi justamente a sua falta de perspectiva que me fez sair de lá. Não dá pra viver numa cidade que ainda acha que é a capital do país, e se comporta como tal.

São Paulo tem defeitos, o mundo tem defeitos, e vai ser complicado achar um lugar que não seja conservador nesse momento. Seguirei tentando. Mas o Rio e suas hipocrisia, sua liberdade disfarçada de retrocesso, definitivamente, não dá.

sexta-feira, outubro 28, 2016

Jornalismo e jornalista


Estava refletindo sobre o que escrevi aqui outro dia - que não gosto quando dizem que sou crítica de cinema, ou que associam meu nome ao cinema. O lance de me chamar de crítica eu detesto mesmo - não sou crítica de cinema, nem de gastronomia, e me irrita profundamente quando me chamam assim. Crítico é outra coisa, eu sou jornalista. Já esse negócio de me associarem ao cinema, algo como 'jornalista de cinema', também me incomoda. Menos, mais incomoda.

Penso que não deveria ser assim, mas é porque sempre vi as pessoas denegrirem quem trabalha com cultura. "Ah, isso não é jornalismo"; "Ah escrever sobre filmes é fácil". Como sempre fui humilhada neste sentido, fico incomodada quando associam meu nome ao cinema. O que é um absurdo, eu deveria sentir orgulho.

Sim, eu me sinto mesmo diminuída em relação aos jornalistas que cobrem economia, política, e afins. Eles fazem jornalismo de verdade, eu não. Talvez no fundo, bem lá no fundo, eu também ache fácil escrever sobre filmes e comidas, porque são assuntos que eu domino - mais filmes, do que comida, aliás. Sou capaz de escrever uma matéria sobre um determinado filme sem pesquisar, com riqueza de detalhes. Este é um mundo que sempre amei, que sempre tive contato e que eu tenho realmente algum conhecimento. Mas não é um mundo respeitado, o que me torna uma jornalista 'menor'.

Na real acho até que tenho vergonha de ser jornalista 'de cinema'. Eu realmente me sinto inferior aos meus colegas que fazem coberturas dos fatos, que são politizados, que entendem do que rola no controverso mundo sócio-econômico. E eu adorava trabalhar com economia, adorava entender o que acontecia fora do mundo encantado da TV. Estudei e aprendi muito como jornalista econômica, mas a cultura, que sempre foi um assunto confortável para mim, falou mais alto.

Acho que deveria ter orgulho de dominar um assunto tão complexo, mas o fato é que não tenho. Talvez porque a cultura hoje não passa de entretenimento; talvez porque eu sempre fui rebaixada por escrever sobre isso; talvez porque eu não me dê o devido valor. Não sei dizer. Só sei que os rótulos me incomodam, Prefiro ser apenas jornalista, repórter, daquelas que escrevem sobre qualquer assunto.

Não nego que cultura, especialmente cinema e gastronomia, e esportes são assuntos que domino. Mas preciso admitir que também sinto falta das pautas de economia e negócios, que volta e meio ainda faço. Eu sempre enxerguei o jornalismo com idealismo, e provavelmente é isso que me decepcione tanto. Meu idealismo foi para o ralo e só sobrou o lado raso das coisas.

terça-feira, outubro 25, 2016


Hoje me sinto mais forte


Um dia meu tio disse: "Você ainda vai ter um bom emprego e ganhar muito dinheiro". Eu ri e respondi: "Isso nunca vai acontecer e esse nunca foi o meu objetivo". Deve ser assustador para as pessoas lidar com alguém sem perspectiva. Só que é a mais pura verdade: eu não ambiciono mais nada nesse mundo.

Quando eu trabalhava com publicidade, tinha sonhos e objetivos. Lutei por muitos anos para que as coisas dessem certo - ganhar os prêmios, trabalhar em agência grande, ser bem remunerada, não necessariamente nessa ordem. Isso nunca aconteceu - até consegui ter um salário razoável, mas trabalhava em uma agência desconhecida e sabia que estaria marcada para sempre como a publicitária que não deu certo.

Ao migrar para o jornalismo, deixei as ambições de lado. Nunca quis trabalhar em redação, na TV, na revista ou jornal esse ou aquele. Nunca esperei nada do jornalismo. Desde o começo eu sabia que teria que abrir mão da vida razoável que eu tinha como publicitária. Troquei o apartamento simples, mas legal, com que sempre sonhei por uma quitinete, diminui drasticamente o orçamento, cortei os encontros com os amigos, e vivi, por muitos anos, uma vida de provações.

Em troca, com o passar do tempo, o jornalismo me deu algumas matérias legais, e me abriu as portas de embarque para o mundo. Hoje, minha única ambição é uma pequena lista de lugares que ainda quero conhecer - mas que se eu não conhecer também, não tem problema. Se eu nunca for a Nova York não vai fazer diferença, porque já fui oito vezes a Veneza e estou no lucro.

Acredito que essa vida de sonhos que o mundo impõe - você tem que ter um objetivo, investir na sua carreira, crescer e aparecer - seja angustiante. Pelo menos para mim era, nos 12 anos em que a publicidade sugou essa minha energia. Hoje é muito mais simples viver sem expectativa. Não quero sucesso, não quero fama, não quero prêmios (é, jornalista também ganha prêmios, mas eu nem penso em concorrer por eles), só quero trabalhos que paguem minhas contas e me permitam ter uma vida digna.

Sei que escrevo bem, que poderia ter dado certo seguindo os padrões (trabalhar numa redação de veículo conhecido e assim me tornar famosa no meio), mas eu não quis. Simples assim. Não quis, não quero, não almejo isso. Deve ser complicado para o mundo entender, mas é assim que funciona para mim.

Como diz a música que eu adoro, ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais. Decidi não mais chorar e sofrer por ambições profissionais; abraço todo o trabalho que vem e sigo em frente. Por isso hoje me sinto mais forte, mas feliz quem sabe. O mundo jamais entenderá essa escolha, mas também eu não estou aqui para que o mundo me entenda.

A vida é curta demais para eu perder tempo com objetivos profissionais. Tudo é trabalho, e geralmente ele é cercado de falta de respeito e reconhecimento. Então seguimos o caminho sem expectativas, e o que vier será muito bem recebido.

sábado, outubro 22, 2016


A morte anunciada


Amo cinema. E foi amor à primeira vista: fui ao cinema pela primeira vez aos quatro anos de idade e desde então estabeleci um amor profundo pela telona. Aos 12 anos, escrevi minha primeira crítica. No entanto, nunca passou pela minha cabeça trabalhar com cinema. Não busquei isso - foi o cinema que me escolheu e eu aproveitei as oportunidades.

O ano era 2008, dezembro, surgiu a chance de trabalhar em uma editora que tinha um site de cinema, onde eu poderia escrever algumas críticas - meu trabalho em si ainda era na área de economia. Eu tinha certeza que seria jornalista econômica, mas o amor pelo cinema falou mais alto.

Foram muitos anos dedicados a isso, mas nunca de forma incondicional. Tive oportunidade de trabalhar exclusivamente com cinema, mas segui outros caminhos. Abracei a gastronomia, e continuei fazendo o que a faculdade de jornalismo dizia ser errado: não me especializei. Ainda assim, todo mundo me associa ao cinema. "Janaina, a crítica de cinema. Janaina, aquela que escreve sobre cinema".

Para começar, odeio quando me chamam de crítica de cinema. Escrever críticas sempre foi a pior parte da história; não gosto e nunca gostei. Acho que minha opinião não é relevante a ponto de definir o que as pessoas devem ou não assistir. Mas, confesso, quando gosto muito de um filme, indico por livre e espontânea vontade, porque quero compartilhar aquela história. Simples assim.

Tentei fazer pós graduação em cinema mas não rolou. Achei chatíssimo. Cobrir festivais de cinema é algo que sempre curti, desde o começo, e foi uma coisa que descobri sozinha. Dei a cara a tapa e fui cobrir festivais dentro e fora do Brasil. Mas, claro, o reconhecimento nunca veio de fato. Quando eu achava que as pessoas me respeitavam um pouquinho, eu percebia que elas, na verdade, apenas queriam se aproveitar da minha boa vontade. Questionei muito a minha postura: será que essa falta de respeito profissional é porque sou legal e dou atenção a qualquer tipo de filme e entrevistado? Será que o fato de não ser arrogante me coloca 'um patamar abaixo' dos demais?

Sim, há arrogância dentro e fora da editoria de cinema, como em qualquer área de trabalho. Mas percebo que tem gente que só faz o que quer nessa área, enquanto eu sou capaz de ver qualquer filme com o mesmo carinho; entrevistar um ator/diretor mais ou menos famoso com a mesma atenção. Essa coisa de 'ser pau para toda obra' acabou me trazendo dissabores, porque nas horas mais importantes fui preterida. E isso me magoou profundamente.

Uma mágoa que não sei se vai passar. Amo o cinema demais, e por isso quero preservar esse amor. Quero continuar vendo filmes porque gosto. E sim, eu adoro fazer entrevistas, mas não nessa vibe 'celebridades' que hoje domina a área de cultura. Gosto de pessoas interessantes, e o cinema está cheio delas. Infelizmente, a maioria das pautas diferenciadas que estão na minha cabeça permanecem lá, porque mais vale um click pela atriz que falou bobagem do que uma matéria por alguém que realmente vale a pena.

Assim como em outras áreas, onde os blogueiros - agora chamados de influenciadores digitais - estão dominando, o cinema perdeu bastante de sua cobertura graças a essa coisa de 'qualquer um pode escrever'. Desculpem, não sou qualquer um. Não sou especialista em filme francês, nem em filme nerd, mas também não sou uma jornalista que chegou ontem e sentou na janela dizendo 'só entrevisto fulano e sicrano'. Eu valorizo meu trabalho, minhas palavras e respeito demais as minhas fontes, sejam elas de cinema, gastronomia, economia, o que for. Respeito, acima de tudo, o leitor, que merece reportagens e entrevistas de qualidade.

Então se a onda é essa, pulo do barco com dor no coração. O cinema nunca pagou minhas contas, e muitas vezes foi humilhante fazer entrevistas com um grau de dificuldade master para ganhar 200 reais. Sim, o povo acha que ganho milhões, mas o mercado jornalístico paga mal - em um nível de humilhação ímpar para quem, como eu, sabe muito bem o que é ser jornalista.

Tenho muito orgulho das matérias que fiz e das pessoas que entrevistei trabalhando com cinema. Mas também tenho muito respeito por mim mesma. Pelo grau absurdo de estresse que tenho vivido, graças a pessoas que não merecem a minha atenção, é chegada a hora de dizer 'não quero mais isso para mim'. E como dói fazer isso.

Não sei exatamente como as coisas ficarão daqui para frente, mas sei que o cinema vai existir na minha vida de alguma forma. Ainda que seja com aquela sensação infantil, quase ingênua, de entrar na sala e olhar para a telona com todo o amor do mundo. Quero preservar isso, e por isso é melhor pular fora antes que o barco afunde. Até porque não sei nadar.

No final das contas, isso nem é tão importante, afinal, nunca gostei de ser chamada de crítica de cinema, assim como não gosto que digam 'Janaina que trabalha com cinema', como se eu só fizesse isso na vida. Sempre me senti diminuída por ser associada a uma área pouco valorizada e considerada fácil. "Escrever sobre cinema é fácil, qualquer um faz", me disse uma vez uma editora.

Então tá, façam vocês. Vão lá escrever e entrevistar, afinal, é tão simples, né? Boa sorte.





domingo, outubro 02, 2016

Sentimentos Inversos


"Não quero alguém que morra de amores por mim. Só preciso de alguém que demonstre em pequenos gestos que gosta de estar ao meu lado". (Mário Quintana)

sábado, outubro 01, 2016

Não para mim


As pessoas vivem me cobrando um relacionamento. Depois do último, insano e ridículo, decidi dar um tempo para mim mesma. Sou na minha, quieta, e cansei de tentar buscar algo que não se encaixa comigo. Não nasci para grandes amores, nem para grandes paixões. Já tive essa fase. Já me apaixonei, perdi o chão, o rumo, e o que ficou foram lembranças e feridas.

Mas, voltando ao presente, é cansativo quando todo mundo cobra por você estar sozinha. Se digo que estou bem, as pessoas acham que estou mentindo. "Mas é só encontrar alguém para se divertir". Sorry, não quero. Tenho meus métodos de diversão, e garanto que eles fazem mais efeito do que muitos homens que estão por aí.

É irritante quando as pessoas querem me arrumar namorado, marido, ficante. Tédio! Eu não estou procurando ninguém. Estou mega cansada de tentarem me fazer de coitadinha só porque sou solteira. E se estou sozinha, talvez seja uma opção minha. Será que dá para respeitar?

Fica todo mundo me olhando com aquela cara de 'ai, tadinha, tão legal, mas não tem ninguém'. Chega, Brasil. Estou bem a frente dessa coisa convencional de casamento e filhos. Respeito quem optou por isso, mas minha vida tem outro sentido.

Se um dia eu quiser casar e ter filhos, eu vou buscar isso de forma serena e tranquila. Se estou quieta no meu canto, me deixa. Relacionamento configurado século XX tipo 'achei meu grande amor e seremos felizes para sempre' não é minha história de vida.

Um dia o mundo vai perceber que não sou daqui. Que nasci a frente do meu tempo, que sou de outro planeta, e que para se encaixar comigo, tem que olhar para frente, e não para trás.

Relacionamento padrão não é para mim. Apenas peço que respeitem isso. Obrigada, de nada.

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