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domingo, agosto 30, 2015

Vou lá

"Desde que minha vida saiu dos trilhos sinto que posso ir a qualquer lugar." (Zack Magiezi)

sexta-feira, agosto 21, 2015

As moças que são (ou não) para casar


Eu vejo a humanidade caminhar a passos lentos para sua evolução. E vejo os estereótipos cada vez mais fortalecidos. O mundo é machista, heterossexual e branco. E, pior de tudo, julga as pessoas sem dó nem piedade. Uma das coisas que mais sofri - e ainda sofro - em meus 14 anos em São Paulo é o fato de estar aqui sozinha. Isso parece que dá o direito as pessoas a entrarem e saírem da minha vida como elas bem entenderem. Eu sinto, desde que pisei em São Paulo, que sou muito julgada por ser uma carioca solteira aqui. Ai vem os estereótipos, que me irritam demais.

Vamos aos fatos: mulher brasileira tem má fama mundo afora - e a carioca pior ainda. A carioca é considerada fácil, aquela que anda de roupa curta e decote, oferecida, o tipo que o cara chegou e já vai pegar. A carioca é a típica mulher que serve para uma noite e nada mais. Vejo que as moças de São Paulo são sempre mais reservadas, muitas fazem o estilo pudica e de noite se transformam. Acho interessante como as paulistanas conseguem ser exuberantes e elegantes ao sair para baladas e afins,

Já a carioca, né, gente, é aquela coisa rasteirinha e palavrão, um escracho só. Mas tem o sotaque fofo, algo que vira fetiche quando a gente abre a boca e fala um 'é mexxxxmo' que faz o homem dar aquela risadinha safada e rídicula. Tédio desses momentos.

Eu perdi as contas das coisas que já ouvi por causa desse meu jeito 'carioca de ser'. Sim, eu uso vestido. Sim, eu uso saia. Sim, eu não ando sempre de salto alto porque eu não gosto mais de usar salto alto. Sim, eu não uso maquiagem. Sim, eu gosto de cabelo curto. Sim, eu falo palavrão, Sim, eu sou o tipo que ri com os meninos, bebe cerveja com os meninos, fala de futebol com os meninos, mas, putz, eu não sou um menino.

No trabalho eu sempre tive que me impor com atitudes fortes e desconcertantes - sou a rainha das frases de efeito - para poder me respeitarem. Vinda da publicidade, um universo masculino, eu precisava me impor para não ser tratada como um bibelô. Uma vez, ao ser demitida, o diretor de criação da agência me perguntou se eu não ia chorar. Minha resposta: 'Eu não sou o tipo de mulher que você está acostumado a trabalhar. Essa não é minha primeira demissão, e nem vai ser a última. Quando eu recebo?'

Meu jeito estúpido de ser, aquela coisa 'pé no peito' que a vida me ensinou, é fruto de um machismo que está por toda parte - e sai do trabalho e invade os relacionamentos. Vamos aos exemplos:

- Ficante que reclama do tamanho da roupa. Ele: "Se você fosse minha namorada não usava um vestido curto assim." Eu: "Ainda bem que não sou, por isso vou usar sempre."

- Ficante que reclama que você passou só 40 dias na cidade, e que vive viajando. Minha resposta: "Quando você me conheceu eu já viajava, e sinto te dizer, eu vou continuar viajando."

- Namorado que reclama que você vai passar o feriado no Rio. Minha resposta:"Eu te convidei para viajar comigo. Você não quer. Então só por causa disso eu não vou?"

- Namorado que reclama que você é muito auto-suficiente. Minha resposta: "Você prefere alguém que pegue no seu pé?"

Foram várias ao longo dos anos, mas a pior de todas é aquele jeito mequetrefe de terminar relacionamentos, quando a pessoa acha que tem o direito de te humilhar e ofender. Ai eu me pergunto: será que se eu tivesse família aqui, se fosse o estereótipo de 'moça de família', o cara ia ficar insistindo para ir na minha casa; e se eu disser não ele ia ficar ofendido? Por que eu não tenho família aqui eu sou obrigada a abrigar no meu lar pessoas que mal conheço? Por que a mulher que mora sozinha e/ou divide apartamento é obrigada a ser liberal em todos os sentidos? Eu não posso preservar a minha casa e a minha vida de pessoas que eu ainda não sei se vieram para ficar ou estão só de passagem?

Eu não sou perfeita - graças a Deus - mas eu sou isso aí mesmo, essa pessoa fofa e adorável que, se pisar no calo, vai levar patada. Eu não vim ao mundo a passeio, eu não sou trouxa, e não é porque sou independente e dona do meu nariz arrebitado que as pessoas - em relações pessoais, sentimentais ou profissionais - têm o direito de entrar na minha vida, fazer o que querem e sair como se nada tivesse acontecido.

Ser mulher, independente, estar longe de casa e da família, ter um trabalho legal, viajar, ter amigos, enfim, ter vida própria, é algo que não deveria ser negativo, muito menos ser motivo para as pessoas tratarem a gente como se fossemos o nada.

O que eu vejo claramente é o mundo dividido entre 'moças de família', que moram com os pais e mantêm suas vidas numa bolha cor de rosa, onde elas inspiram confiança de que serão progenitoras e perpetuarão a espécie; e moças como eu, que saíram de casa, foram à luta, entregaram-se a esse mundo machista com a cara e a coragem e, graças a isso, estão pagando um preço alto. Tenho a impressão que os homens me veem como essa mulher 'liberal', afinal, ainda nos dias de hoje uma mulher que sai de casa para viver sua vida - e não para casar - é rotulada da pior forma possível.

É por isso que eu digo: eu não pertenço a esse mundo. As pessoas vão dizer que estou enganada, mas eu falo por experiência própria. Pago para ver um homem que realmente entenda que o fato de eu ter saído de casa não quer dizer que eu quero qualquer coisa nessa vida. Muito pelo contrário. Eu sou muito bem educada, tenho meus valores e princípios e posso sim recusar quem não me valoriza. Eu não sou avulsa no mercado como a maioria dos homens pode achar - porque do jeito que me abordam, sinceramente, é como me sinto. Só que eu não sou. O fato da minha família morar longe não significa que sou menos 'moça de família' que qualquer outra. Fica a dica.

Eu quero mais, sempre. E se as pessoas não podem me oferecer isso, não entram na minha casa, nem na minha vida. Simples assim.



terça-feira, agosto 18, 2015


Juventude


"A idade é uma questão de atitude. Quando você sabe o que quer e tem paixão pela vida, permanece jovem". (Jane Fonda, 77 anos, Festival de Cannes 2015)

sexta-feira, agosto 14, 2015

Eu


"Ela é um mistério para ela mesma, poucos a compreendem. Sentir pouco nunca foi o seu ponto forte. Muitas vezes ela acorda com olheiras, o que significa que ela pensou demais, e acabou se perdendo. Ela não demonstra que está chateada com algo, sempre guarda tudo sozinha. Não entre na vida dela apenas como visita, para ela, é tudo ou nada."

(Alexandre Guimarães)

segunda-feira, agosto 10, 2015

Nem curta, nem longa demais

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." (Cora Coralina)

sábado, agosto 08, 2015

Frases


“ Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.” (Satre)


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“ Pedras no caminho? Guardo todas, um dia construirei um castelo...” (Fernando Pessoa)

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“Nossa sanidade e felicidade terão mais a ver com nossos relacionamentos interpessoais do que com como está o tempo, ou em que trabalhamos ou quais são nossos hobbies. Ficamos por aí, ganhamos a vida, conquistando coisas e fazendo alarde de tudo isso (ou não), mas o que mais nos afeta são as pessoas à nossa volta: nossos pais, nossos filhos, nossos amantes, nossos colegas, nossos vizinhos e nossos amigos.” (Philippa Perry)

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"Deixar pessoas negativas para trás é permitir que nossa existência prossiga." (Carol Pereira)






sexta-feira, agosto 07, 2015

Home Office


Acho incrível quem se dispõe a trabalhar de segunda a sexta com horários e regras. E quem trabalha com plantão então, tiro o chapéu. Quem tem horário para entrar e não tem para sair, merece meu respeito. Já passei por tudo isso. Foram muitos anos em agências de publicidade e redações sem saber se eu teria uma folga amanhã. Viradas de noite, muita correria, trânsito infernal, essas coisas. Em troca, a suposta estabilidade. Que eu nunca tive, aliás, porque eu me lascava e quando tinha que ser demitida, era. E quando tinha que pedir demissão, pedia. Até que um dia a revista em que eu trabalhava terceirizou a redação e eu me vi trabalhando em casa.

No começo realmente era estranho. Mas com o passar do tempo eu percebi que rendia muito mais. E eu ia ao médico sem precisar pedir atestado; e eu marcava reuniões virtuais; e eu saia para reportagem de campo (algo que na redação era quase impossível). E de repente eu estava trabalhando para duas ou três editoras; para agências de notícias; para empresas; para agências de publicidade. Eu me via com mais ou menos trabalho, mas nunca sem trabalho. E, pra piorar, invariavelmente eu fazia o que gostava.

E ai vieram as viagens. E as muitas pautas externas, e os novos amigos, uma nova rede de networking. E, de repente, aquele mundo de agência de publicidade regada à pizza e redação regada à café sumiu. As paredes foram quebradas e eu virei freelancer. Para mim, ótimo. Para os outros, praticamente um xingamento.

Percebi que as pessoas tinham enorme preconceito com quem trabalha em casa. Ouvia coisas como 'mas você está desempregada' ou 'você não faz nada' ou 'você precisa fazer concurso porque isso não é vida'.

Pois bem, essa minha 'não vida' me levou a lugares que nunca sonhei; a conhecer pessoas que jamais imaginei; a fazer matérias sobre temas diferentes e inusitados; a ser diferente de você. De você que trabalha de segunda a sexta das 9h às 18h com uma hora de almoço e ainda assina ponto. Tá feliz? Que bom! Eu também, mas por mim. E se amanhã eu acha que não quero mais o home office, é uma escolha minha. Assim como continuar nele também foi.

Então você que ainda acha que quem trabalha em casa não faz nada, que fica o dia no Facebook, que não tem profissão e está à toa na vida, sinto lhe dizer que foi esse trabalho - e não aquele de segunda a sexta de 9h às 18h - que me deu tudo que tenho hoje. Pode não ser nada material, mas significa muito para mim.

Eu não tenho carro, casa, iphone nem outras coisas para ostentar, mas eu tenho vida própria. E essa sensação de liberdade não tem preço, mas te garanto que vale mais do que todos os seus bens materiais juntos. Para concluir, só mais uma coisa: eu trabalho tanto quanto você. De fato nem sempre de 9h às 18h, às vezes mais, às vezes menos. Mas eu trabalho. Então antes de julgar o trabalho remoto, preocupe-se com o seu. Obrigada, de nada.

quarta-feira, agosto 05, 2015

Ausência


Faz tempo que não escrevo sobre meu pai. Mas tenho pensando muito nele estes dias, talvez por estar fazendo uma matéria sobre o Dia dos Pais. Já são tantos anos sem ele que aprendi a sobreviver a essa data, mas confesso que ainda me incomoda quando coincide com meu aniversário. Este ano, pelo menos, estou livre disso.

Mas fazer matéria sobre o Dia dos Pais acabou mexendo comigo. Ontem me peguei chorando, naquele momento da vida em que você percebe que só ficou a lembrança da pessoa. Eu já não lembro mais a voz dele. E isso é uma coisa que dói, uma dor tão inexplicável que não teria como definir.

Meu pai tinha muitos defeitos. Tantos que eu, depois de adulta, resolvi não ficar lembrando muito para não acabar com os bons sentimentos que eu tinha por ele. Apesar de tudo, ele era um pai legal, carinhoso, e muito mais moderno que a maioria. Ele me falou coisas que poucos pais diriam a uma filha - coisas do tipo 'casamento não é emprego' e 'trabalhe no que você gosta que o dinheiro vem de alguma forma'. Para uma criança de 10 anos, ouvir isso do pai parecia um recado para o futuro. E era.

Porém, o que sempre me lembro foi o dia que perguntei a ele 'por que você sempre quis uma filha?' Afinal, homem geralmente quer filho, e meu pai preferia uma menina. Ele me respondeu: "Para fazer companhia a sua mãe." Eu nunca esqueço disso, porque de alguma forma, era para ser assim, a força da minha vida estaria na minha mãe, e não no meu pai.

Eu sinto saudades, e às vezes quando sonho com ele acordo muito triste. Fico imaginando o que ele pensaria de mim agora. Acho que ele estaria orgulhoso, mas talvez reclamasse porque eu não segui a carreira de jornalista esportiva - foi ele que me fez gostar de esportes.

Meu pai era um homem muito honesto, simples, inteligente, calado e recluso; dificilmente expressava seus sentimentos, mas sabia como poucos conversar sobre tudo. Era muito ético, e sempre quis que eu tivesse tudo que ele não teve. Quando ficou desempregado, não abriu mão de que eu estudasse em colégio particular para ter as opções da vida que ele não pode. Se sacrificava ao máximo para sairmos do aluguel, termos um telefone e era obrigação que eu estudasse em bons colégios. Nunca exigiu nada de mim: eu estudava porque achava que era o mínimo que podia fazer para retribuir todo o esforço que ele fazia para pagar os meus estudos.

Vi a ascensão e queda profissional do meu pai, vi o quanto ele foi humilhado pelo mundo depois que teve um derrame e ficou dois anos sendo internado pelos hospitais do Rio de Janeiro. Vi como o mundo virou as costas para ele, e como ele deixou de ser um profissional espetacular para ser 'uma pessoa que já ficou doente'. Vi também o quanto minha mãe lutou para que nada daquilo interferisse na minha vida. Vi minha mãe pedir as minhas amigas para estarem perto de mim depois que meu pai morreu para que eu não me sentisse sozinha. Vi minha mãe abrir mão de sua vida, ainda muito jovem, para criar a única filha.

Dizem que a gente nasce na nossa família para resolver algumas questões do passado. Talvez com meu pai tenha algo pendente ainda, mas o fato é que tive com ele uma convivência muito mais marcante do que outros filhos. Vejo muitas pessoas em relações distantes e frias com seus pais, e acho isso profundamente triste. Admiro quem se preocupa mesmo com o pai, a mãe, o irmão, a irmã, os avós; quem saiu de casa e vai visitar a família; quem se importa com datas; quem expressa amor aos familiares. Por mais que a vida seja complicada e todo mundo tenha defeitos, é na família a base de tudo. Se a gente não aprende ali, fica difícil aprender depois.

Se eu tivesse que dizer uma coisa hoje para o meu pai, talvez eu agradecesse por nunca ter me criado como a garotinha mimada, e embora ele me chamasse de 'a garota do papai' nunca me tratou assim. Sempre soube equilibrar amor e disciplina, me fazendo entender que o mundo não iria me respeitar se eu fosse uma mulher como as outras. Foi ele quem me fez acreditar, ainda muito cedo, que eu tinha que ser uma mulher que fizesse a diferença.

É difícil todos os dias, é cansativo ser forte, mas ainda assim eu prefiro ser essa mulher que não desiste do que ser mais uma na multidão. E se era esse o objetivo do meu pai, acho que ele conseguiu com louvor.

Meu Dia dos Pais será de ausência, mas na minha vida meu pai sempre, de alguma forma, se faz presente.



domingo, agosto 02, 2015

Recriando


"Porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas não caber em lugar algum." (José Saramago)

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