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terça-feira, maio 13, 2014


Viaje na viagem

"Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes"
Mario Quintana

quinta-feira, maio 08, 2014

Racismo




Achei sensacional a atitude do Daniel Alves com a banana que jogaram para ele. Interessante como as pessoas apoiaram, e agora todo mundo diz que é macaco. Mas na hora de procurar emprego, somos todos macacos? De conseguir promoção, de flertar, de viajar, de escrever sua cor em algum documento, todo mundo é macaco também? Duvido. 

O reflexo de tudo isso é que já estão vendendo camisetas sobre o assunto. Observo sempre - especialmente nas viagens internacionais - que não existem negros nas salas de imprensa mundo afora. Eu sou 'exótica' para os padrões internacionais. As pessoas já esperam que saia do avião sambando, afinal, sou negra e brasileira. Mas, na minha certidão de nascimento, eu sou branca. "Adoro a cor da sua pele", é a cantada mais barata e ridícula que já ouvi (algumas vezes por sinal). 

As pessoas só precisam entender que, no final da história, brancos e negros, homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, judeus e católicos, vamos todos para o mesmo buraco. O fim é certo, a maneira como se vai chegar a ele é o que define você nesta vida. O que falta ao mundo não é sair por aí dizendo que é macaco - quando, no seu dia a dia, não é e nunca vai ser. Só precisamos de tolerância, minha gente. Só isso. Aceitar que todos somos diferentes, até os irmãos gêmeos têm suas diferenças.

Não acredito que o mundo vá mudar em relação ao racismo ou qualquer outro tipo de preconceito. Mas sempre vale a tentativa, e sempre terei a esperança de que o ser humano terá um pouco mais de tolerância com o próximo.

segunda-feira, maio 05, 2014

Blues da Piedade

Cazuza

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo, derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com caras de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo
Que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas mini-certezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar, fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem.
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar os blues
Com o pastor e o bumbo na praça.
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade


quinta-feira, maio 01, 2014

Ayrton Senna do Brasil


Eu tinha uns 9 anos de idade quando vi o Ayrton pela primeira vez na TV. Era o Grande Prêmio de Mônaco, aquele que ele ganhou mas o Alain Prost levou. Senna e sua Toleman voaram baixo na chuva, e meu pai na época disse: "O Senna vai ser o melhor piloto do mundo".

Meu pai adorava automobilismo. Era fã de Fittipaldi, Piquet e Senna. Eu nunca prestara atenção às corridas até aquele domingo. Além de ficar encantada com Mônaco, fiquei impressionada com o estilo do Senna. A partir dali ele deixou de ser Senna e virou o Ayrton, que entrava na minha casa todos os domingos sem a menor cerimônia, e me dava imensas alegrias.

Quando eu era criança, não conseguia acompanhar as largadas, ficava muito nervosa. Com o tempo, porém, eu passei a ver as corridas do começo ao fim, e já adulta, gravava tudo. Foi a temporada de 1988, com o Ayrton já na McLaren, que eu acompanhei ao lado do meu pai sem perder uma corrida. Era nosso programa obrigatório de domingo. Só não vi a vitória no Japão, peguei no sono, mas quando acordei meu pai tinha deixado um bilhete ao lado da minha cama dizendo "Senna ganhou".

Em março de 1989 meu pai morreu, deixado para mim o legado de ser fã do Ayrton Senna. Meu pai era apaixonado por esportes, e foi dele que eu herdei o amor pelo Botafogo - e pelo futebol - , a paixão pelas Olimpíadas, e a admiração pelo Ayrton. Lembro que, quando estava no 2º grau da escola, eu tinha prova aos sábados, então eu saia da prova e parava em frente as lojas de eletrodomésticos para acompanhar os treinos da F-1. Brigava no colégio com os 'piquetistas' - detesto o Piquet tanto quanto o Prost - e defendia o Ayrton com veemência.

Nunca tive ídolos. Ayrton sempre foi o único. Ele era minha inspiração diária, ele me fazia acreditar que todos os meus sonhos seriam realizados um dia. Tentei duas vezes ver o GP Brasil de F-1 - em 1991 e 1993, os anos em que ele ganhou. Doeu demais saber que eu podia estar em Interlagos, mas mesmo pela TV aquelas foram duas das corridas mais emocionantes que eu já vi.

Não conheci o Ayrton pessoalmente - tive uma chance, em 1992, quando estudava Publicidade na ESPM do Rio. Ele estava a poucos metros de mim mas não consegui vê-lo tamanha a multidão que se aglomerava na rua. Mas fiz parte da TAS - Torcida Ayrton Senna - e guardo com carinho o boné do Banco Nacional - igual ao dele - que meu tio me deu. Também tenho autógrafos, enviados pelo escritório dele para os fãs. Sim, eu era fã mesmo, daquelas que chorou e sofreu muito quando ele morreu.

Aquele domingo 1 de maio foi um dos piores dias da minha vida. Fazia calor no Rio, minha mãe estava na cozinha preparando o almoço e eu via a corrida pela TV. Quando aconteceu o acidente, gritei: "Mãe, o Ayrton bateu." Na hora pensei 'putz, já era o campeonato, ele vai ficar muito p. da vida quando sair do carro'. Era a terceira corrida do ano e Ayrton estava pressionado a ganhar, pois tinha abandonado as duas primeiras. Quando ele não saiu do carro, e sua cabeça tombou, eu gelei. Ali eu senti que ele tinha morrido. Tiraram seu corpo da Williams e se formou uma poça de sangue no chão. Os pés não se mexiam, ele estava imóvel. A essa altura minha mãe estava comigo na sala e eu, em silêncio, só rezava. Foram horas de angústia até o Roberto Cabrini entrar ao vivo, por volta de 13h30, para anunciar a morte do Ayrton. Chorei copiosamente, e assim foi a semana toda, até o enterro. Era uma dor no coração, uma tristeza, um pesar. Eu, que já tinha perdido meu pai e minha melhor amiga, tive a certeza de que tudo que eu gostava, eu perdia. Entrei num processo de recolhimento que só a análise, algum tempo depois, conseguiu me tirar. Tenho a corrida gravada e nunca tive coragem de assistir. Sempre que repetem a cena eu fecho os olhos. Não é dessa forma que quero lembrar dele.

Sua morte foi como um buraco que se abriu em baixo dos meus pés. E agora, como eu ia ter referências na minha vida? Fiquei uns dez anos sem ver F-1 na TV - o barulho do motor me incomodava. Graças ao Fernando Alonso - fã do Ayrton - eu voltei a assistir as corridas. Ano passado fui conhecer Mônaco exclusivamente porque lá continua sendo meu circuito preferido. Hoje, 20 anos depois do trágico acidente em Ímola, ainda choro com as homenagens que prestam a ele. Ainda sinto muitas saudades. Ainda lembro, como se fosse ontem, de suas corridas, de suas frases de efeito, de seu jeito arrojado e destemido nas pistas. Para mim, ele foi sim o melhor. E sempre vai ser.

Ayrton Senna é o cara que nunca vou entrevistar. O piloto que nunca mais vou ver correr. Mas o homem que irei admirar para sempre.Saudades, Ayrton. E obrigada por fazer de mim alguém que acredita que nada, absolutamente nada nesta vida é impossível.





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