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sexta-feira, junho 25, 2010

Dunga, Globo e o jornalismo esportivo



Em 2006, Dunga era comentarista da Copa pela Band e a Globo, pela terceira Copa seguida, tinha os direitos de transmissão e um acordo com o Ricardo Teixeira para fazer as entrevistas exclusivas com a seleção.

Em 2006 a Fátima Berrnardes ficava na porta da concentração fazendo entrevista ao vivo para o Jornal Nacional com jogadores e com o Parreira. Na Copa anterior, em 2002, Fátima se tornara a 'musa' da Copa e pé quente porque embarcava com os jogadores dentro do ônibus da seleção.

Assim que o Dunga foi convidado pelo Ricardo Teixeira a ser técnico, um mês após o fim da Copa de 2006, ele acertou em seu contrato que todas as emissoras teriam a mesma chance de falar com a seleção. Sem entrevista exclusiva para ninguém.

Teixeira aceitou porque, na época, pretendia ficar com Dunga no máximo por dois anos, período em que ele pretendia trazer o Felipão de volta. Felipão não voltou, Dunga ganhou tudo que disputou com o Brasil, classificou para a Copa e conseguiu o que ninguém imaginava: ficar quatro anos no cargo e ir à África do Sul.

Dunga acabou ficando com má fama na imprensa de um modo geral, mas vejam o CQC, que não é 100% jornalistíco mas é comandado por um ótimo jornalista, o Marcelo Tas. O Dunga sempre dá entrevista para eles, é atencioso, enfim, ele trata bem quem não tentou derrubá-lo nesses anos todos.

Em 1990, quando jogou sua primeira Copa, o Dunga viu a seleção perder para a Argentina nas oitavas de final graças a um grupo desunido que só pensava em dinheiro. Em 1994 ele era o capitão de uma equipe que sabia que, se vencesse um Mundial após 24 anos, entraria para a história.

Eu sempre gostei e sempre defendi o Dunga porque sei muito bem o quanto o jornalismo - em especial, o jornalismo esportivo - derruba as pessoas e passa por cima de tudo e de todos em benefício próprio.

Como jornalista não apoio essas atitudes de 'meus colegas de trabalho' e defendo o Dunga com o Brasil sendo ou não campeão. Aliás eu só quero que o Brasil seja campeão pelo Dunga, nem tanto pelos jogadores, mas porque o Dunga merece pela coragem de por algumas pessoas em seu devido lugar.



Janaina Pereira

quarta-feira, junho 16, 2010

De volta


Difícil voltar a rotina depois de perder alguém que a gente gosta tanto. A morte da minha avó vai me deixar triste por um longo tempo, embora eu saiba que a vida continua. Estou sem paciência para as picuinhas alheias e tentando apenas voltar ao ritmo de trabalho.

Algumas pessoas - ainda bem - são solidárias, queridas, afetuosas. Outras, ao contrário, só se preocupam com seus problemas e não têm o menor respeito pela dor alheia. De qualquer modo tento passar por cima disso e choro calada, levando a vida do jeito que dá.

Ainda bem que começou a Copa do Mundo, algo que gosto muito e me distraí imensamente.

O show não pode parar.


Janaina Pereira

domingo, junho 06, 2010

Na hora da sua morte


Quando escrevi o texto anterior, estava claro que alguém próximo de mim ia morrer. Era uma percepção minha, e só minha. O texto foi escrito em 29 de maio, horas depois que eu soube da internação da minha avó (que não corria risco de vida, é bom frisar). Ele só entrou no ar na última sexta para não atrapalhar a sequência de textos sobre a Copa.

E quando vocês leram o texto, minha avó já estava morta. Desde dezembro venho me preparando para esse dia, que chegou sem alarde, sem desespero. Por morar longe, eu observei melhor os sinais que o fim da vida da minha avó estava chegando e que eu teria que estar preparada para isso.

Não tenho medo da morte. Depois que perdi meu pai, encarar o rito de passagem tornou-se algo necessário para mim. Meu pai morreu num dia, foi enterrado no outro, e no dia seguinte eu já estava na escola. Uma semana depois fazia prova. A vida continuou, graças à minha mãe e minha avó, que me ensinaram a superar a dor.

Vovó era muito moderna, descolada, intensa. Como boa canceriana, era prática. A morte para ela era o fim de um ciclo, e ela achava que estava na hora de sair de cena. Mesmo tendo uma boa saúde nos últimos anos, sua memória começou a falhar e seu corpo começou a pedir o descanso. Ela dizia que não queria viver dependendo de ninguém, e se não tivesse mais função na vida, era melhor morrer.

Vovó, que tinha um nome pouco comum - Lenira - era mineira de Itajubá. Professora, fugiu de casa aos 18 anos e foi morar no Rio. Adorava escrever, desenhar e pintar, era extremamente politizada, inteligente, tinha veia artística. Podia ser atriz porque era linda, dona de belos olhos verdes. E pintava o cabelo de loiro porque ela não era boba: assim os olhos realçavam.

Quando eu tinha 4 anos, em minha primeira festa de aniversário grandiosa - com direito a um bolo enorme da Branca de Neve - passei por um momento constrangedor. Após o 'parabéns para você', fui até a cozinha dar o primeiro pedaço do bolo para minha avó. Meus pais ficaram chateados, em especial minha mãe, que depois me deu uma bronca e disse que o primeiro pedaço devia ser dela, e o segundo do meu pai.

Lembro - como se acontecesse agora - da cena: meus pais, constrangidos, e eu à caça da vovó, que tomava uma cervejinha na cozinha. O primeiro pedaço de bolo não é para a pessoa que a gente mais gosta? Então...

Vovó contava histórias, fazia cadernos de desenho para mim, era a típica avó que todo neto sonha ter. Eu era a primeira neta mulher, e por isso tinha uma preferência clara. Ela quem me dava mesada, me levava para viajar - adorava nossas viagens a Petrópolis -, adorava me carregar para passeios e almoços. Ela foi importantíssima para minha infância e adolescência e, na morte do meu pai, foi a pessoa que me protegeu da dolorosa noite do velório.

Eu cresci, comecei a trabalhar e vovó foi envelhecendo. De gênio forte, começou a controlar os netos - os outros, eu não - e chegamos a bater de frente uma única vez. Ainda assim ela sempre me respeitou, nunca questionou minhas escolhas (embora esperasse de mim um casamento tradicional com direito a alguns filhos), e apoiava minha mudança para São Paulo, mesmo nunca me visitando lá.

Um ano depois que eu fui para Sampa vovó começou a ter uma série de problemas de saúde. E a velhice chegou rápido, sem dó nem piedade, tornando-a uma pessoa triste, sem aquele espírio aventureiro que sempre foi sua característica. Ainda assim, quando eu ia visitá-la, ela sempre perguntava se eu não tinha ido à praia. Vovó sabia tudo, e nunca se importou que eu ficasse mais na praia do que com ela. Mesmo eu não sabendo lidar com sua velhice, ela ainda assim ficava feliz porque eu continuava sendo a neta que estava sempre por perto.

A última vez que eu a vi, nos poucos meses em que ela morou no meu quarto no Rio, vovó me reconheceu e me olhou com o mesmo brilho nos olhos verdes. E foi só eu virar as costas para ela se desligar lentamente, chegando ao ponto de precisar ser internada. Resolveu sair de cena num feriado, de modo que eu não viesse para o enterro mas chegasse para cuidar da minha mãe.

Ela sabia que eu não queria reviver as dores e lembranças da morte do meu pai. Ela me poupou até o fim de presenciar seus piores momentos. E na longa viagem de volta para casa, eu lembrei de tudo que marcou minha vida com ela esteve presente. Lembrei, especialmente, que eu pareço muito mais com a vovó do que nós percebíamos, e que até a calça roxa que ela tinha - e que minha mãe, que é uma mulher monocromática, achava um escândalo - eu tenho igual.

(Eu ri quando me toquei que tenho uma calça roxa como a vovó tinha. E vamos combinar que calças roxas são bens incomuns.)

Vovó, em sua última cena, diria: eu não tenho medo da morte. O que vou sentir é saudades da vida.

E por não poder mais usufruir da vida, ela preferiu sair de cena sem alarde, discretamente, deixando muita história para eu contar. É óbvio que sentirei muitas saudades, especialmente de dar um abraço bem apertado nela e de ver seus brilhantes olhos verdes... mas quando chega a hora, é melhor partir dignamente do que viver sofrendo - coisa que não combinava com ela, definitivamente.

Poxa, vovó, eu te amo tanto. E ainda bem que o amor é eterno. Manda um beijo para o meu pai. Saudades dos dois - mas eu sei conviver com isso, vocês sabem muito bem.


Janaina Pereira

sexta-feira, junho 04, 2010

Deus é quem sabe



Ter a consciência de que eu não sei de nada, e só quem sabe da minha vida é Deus, me angustia. As pessoas querem cuidar da vida alheia, se metendo onde não são chamadas, falando o que não devem e opinando quando não pedimos opinião, e nunca se preocupam em perguntar 'você está bem?'.

Se cada um parasse para pensar que o bom e o ruim de suas vidas é pura obra divina, não ficariam preocupados com a vida alheia Eu não sei de nada, e eu sou um reflexo daquilo que Deus quer que eu seja. Ele é quem sabe, Ele é o dono do jogo. Eu sou apenas uma jogadora e quem impôs as regras da vida foi Ele, não eu.

Diante da morte a gente percebe que não tem o poder para nada. A gente não decide quem vive e quem morre: Deus decide. É Ele quem manda, Ele sempre mandou e a gente nunca percebe isso. Somente diante do inevitável, quando vemos que a validade está vencendo, é que a gente percebe que Deus é quem está no comando.

Esperar é uma angústia. Não saber a hora exata da morte, não saber se vai dar tempo de me despedir, ou imaginar que alguém me espera para a despedida me angustia demais. Sei que não faz diferença estar longe ou perto, o que importa é o sentimento. Mas de alguma forma eu espero estar por perto.

Eu não queria passar por isso de novo. Mas parece que Deus está me mostrando quem, na verdade, comanda tudo. Já entendi, eu sou apenas co-piloto da minha própria vida.

Deus é quem sabe. Deus é quem manda. Deus é quem decide quem vive e quem morre. Deus é quem está no controle da vida.


Janaina Pereira

quarta-feira, junho 02, 2010

O amor nos tempos de Copa


Parte 8: De cabeçada



Em 2006 a Copa do Mundo aconteceu na Alemanha, país tricampeão mundial que passava por um processo de renovação na equipe. O técnico era ninguém menos que Klinsmann, um dos meus jogadores preferidos em outras Copas - mas precisamente na Copa de 1990. Klinsmann técnico significa que eu estava mesmo velha, já passara dos 30 e começava a ver os meus jogadores preferidos se tornarem o que o povo do futebol chama de 'professor'.

O Brasil, único pentacampeão mundial, chega à Copa com Ronaldo - ele, de novo - ainda como um jogador respeitado e Ronaldinho Gaúcho como o melhor do mundo. Mas pelo que me lembro, Ronaldinho não fez muita coisa naquela Copa. Ronaldo se tornou o maior artilheiro da competição, o Brasil - treinado de novo por Parreira, o técnico do tetra - mais uma vez não convencia... mas chegamos às quartas-de-final.

Eu continuava morando em São Paulo e já trabalhava como jornalista. Aliás, eu ainda era aluna da faculdade noturna de jornalismo e tive que fazer uma prova de Teoria da Comunicação depois de uma vitória brasileira. Como eu trabalhava só no período da tarde como repórter de uma ONG, eu mudei meu horário para acompanhar a Copa - passei a trabalhar de manhã para ver os jogos à tarde. Outra curiosidade é que deixei a redação da Band (rádio) semanas antes do começo da Copa - imagina a loucura que seria ver a cobertura de uma rádio tão de perto.

Voltando ao gramado, o Zidane - sempre ele - fez a diferença nas quartas-de-final e a França despachou o Brasil. Na verdade quem fez a diferença foi o Roberto Carlos ajeitando a meia em uma das cenas mais patéticas de todas as Copas. Zidane se tornaria o grande nome daquele mundial quando, na final, deu a lendária cabeçada em Materrazzi e deixou a França distante do bicampeonato. O título ficou com a Itália (sem Maldini mas com Canavarro) - que na semifinal derrotou, nos pênaltis, a Alemanha renovada de Klinsmann na vingança da semifinal de 1990.

Eu não torci para a Azzurra - minha admiração pela elegância do Zidane não permitia isso. Mas no final das contas aquela Copa foi bem estranha, a Itália tinha um time que nunca me convenceu mas ok, agora é tetracampeã. E continua uma fábrica de homens bonitos.

Para a Copa de 2010, em que Dunga - o símbolo da Era Lazaroni e capitão do tetra - é o nosso técnico, mais uma vez a imprensa acredita em um fiasco. Será? Seria legal ver times que nunca ganharam - como Portugal de Cristiano Ronaldo ou a Espanha do Raul (adoro o Raul) - conquistarem o primeiro título. Mas a gente sabe que é mesmo Brasil, Itália, Argetina e Alemanha que são sempre favoritos. E eu torço pelo Brasil, não pela equipe em sim mas porque gosto do Dunga.

Não falei em nenhum dos textos em um dos jogadores de futebol mais bonitos de todos os tempos - o inglês David Beckham. Ele não vai à Copa, nunca esteve entre meus preferidos mas sim, é lindo. Se o quesito é metrossexual, melhor ele do que o Cristiano Ronaldo - em Portugal o mais belo sempre será o Figo.

Vamos ver o que nos aguarda nessa Copa da África. Eu continuo jornalista, trabalho como freelancer e pretendo ver o máximo de jogos que puder. E em 2014, quando teremos a Copa no Brasil, vou completar um ciclo de vida de dez Copas, à beira de fazer 40 anos.

Nossa. Deixa para lá. Em quatro anos muita coisa pode acontecer. Semana que vem vamos rumo ao hexa. Ah, e hoje, se meu pai fosse vivo, seria aniversário dele. Curioso que não fiz os textos da Copa pensando em escrever algo neste dia sobre um tema que ele entendia tão bem.

Em tempos de Copa, o amor está sempre presente. Pelo meu pai, pelo futebol, pelas boas lembranças que o torneio traz para mim. A cada quatro anos, uma história para contar. E, ao olhar para trás, perceber que muita coisa muda, menos o amor que eu tenho pelo futebol.


Boa sorte, Brasil!




Janaina Pereira

terça-feira, junho 01, 2010

O amor nos tempos de Copa


Parte 7: Longe de casa há mais de uma semana



Quem poderia imaginar que eu estaria morando em São Paulo e assistindo na cidade a Copa de 2002? Pois é. Mudei para Sampa em fevereiro de 2001 e depois de morar em pensionatos, estava mudando para um apartamento - que eu dividiria com outra publicitária - justamente durante a Copa do Japão e Coréia.

Era tudo novo: eu morando sozinha, a Copa sendo realizada na Ásia e em dois países simultaneamente. No primeiro jogo do Brasil, em uam segunda de manhã cedo, eu chegava de viagem do Rio e fui dormir, antes de ir para o trabalho, mas acordei com os gritos no prédio. O fuso horário impróprio para nós, brasileiros que adoramos Copa do Mundo para sair cedo do trabalho, foi uma das complicações daquela competição que se tornou atípica.

Eu trabalhava como redatora em uma agência de publicidade e tinha duas opções: ou ia para o a agência antes do jogo - que rolava por volta de 6 horas da manhã - e tomava café da manhã com o pessoal ou ia depois e pegava o trânsito bacana de Sampa. Eu não fazia nem uma coisa, nem outra. Saia ao final do primeiro tempo e chegava na agência no começo do segundo. Era perfeito.

Eu morava no Paraíso e trabalhava na Vila Olímpia; não pegava trânsito e podia ver metade do jogo em casa e a outra metade no trabalho. A internet já bombava então dava para acompanhar os demais jogos dos outros países com facilidade. As seleções já não eram mais as mesmas e os craques da minha adolescência começavam a se aposentar. Natural, eu já tinha 27 e a adolescência ficou num passado distante. Mas o Maldini ainda estava lá, com seus olhões azuis na seleção italiana.

Na Copa de 2002 já tinha aparecido um outro Ronaldo, o Ronaldinho Gaúcho, e o até então Ronaldinho virou apenas Ronaldo. Depois de uma série de contusões, Ronaldo era dado como certo... fora da seleção. Lembro perfeitamente das manchetes dos jornais afirmando que era o fim da carreira do jogador. Mas luiz Felipe Scolari, o Felipão, resolveu levar Ronaldo para a Copa.

Ronaldo era o melhor do mundo mas a sombra de 1998 o perseguia. Muita gente dizia que ele 'amarelou' na final e o jogador tinha que provar sempre sua competência. Felipão conseguiu dar um rumo para a seleção e a tal 'família Scolari' apareceu em campo. Mesmo achando o técnico um grosso, admito que ele conseguiu mexer com os brios da galera. E lá vamos nós para a terceira final consecutiva diante da Alemanha pós-Klismann e Mathaus. Aliás, a França, até então campeã do mundo, fora eliminada na primeira fase.

Ninguém merece final de Copa do Mundo no domingo às 7 horas da manhã. Mas acordei cedo e vi o jogo sentada no chão do saudoso apê do Paraíso. Nem tinhamos onde colocar a TV. Ronaldo brilhou como nunca e, admito, eu chorei. Chorei por mim e por ele, chorei porque o cara foi esculachado pela imprensa e desacreditado por muitos, mas alguém colocou fé nele e ele foi lá e mostrou seu valor.

Chorei porque o tempo cura tudo, o tempo cicatriza as feridas e o tempo é o melhor remédio para nossos males. Chorei porque eu estava onde nunca imaginei estar um dia, e Ronaldo estava onde sempre mereceu estar: no topo do mundo.

E se há um jogador da seleção brasileira que eu admiro e respeito é Ronaldo, simplesmente por não se abater quando todos queriam vê-lo derrotado. A final da Copa de 2002 é uma dos meus momentos esportivos preferidos. E Ronaldo é um dos caras que mais admiro nessa vida - e não me interessa o que ele faz fora de campo, dentro do gramado ele fez pela seleção naquela Copa o que muita gente tentou e não conseguiu.


Amanhã: Copa da Alemanha (2006) - O tempo não pára: meus jogadores preferidos viram técnicos.


Janaina Pereira

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