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segunda-feira, junho 29, 2009

Holofotes na violência


Você sabe quem foi Jacques Mesrine? Bandido violento, e dos mais ousados, ele provocou pânico, mas também gerou admiração em seu país de origem – a França - ao longo de duas décadas de crimes. Assaltos e fugas espetaculares, somados a entrevistas cheias de pose, fizeram dele uma lenda da história policial francesa. Isso é tudo que você precisa saber para assistir a Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte, que estreia na sexta, dia 3.

O longa é a primeira parte de um ambicioso projeto do diretor Jean-François Richet (Assalto à 13ª DP), encabeçado pelo ator Vincent Cassel (Senhores do Crime). Com orçamento estimado em US$ 80 milhões e filmagens que se estenderam por nove meses (com as duas partes sendo filmadas simultaneamente), o projeto foi um sucesso de bilheteria na França. No Brasil, não deve – e não pode – passar desapercebido: o filme é, no mínimo, surpreendente, palavra que também define a insana figura de Mesrine.

A narrativa começa com a fuga de um casal, que acaba sendo encurralado em uma emboscada. Não sabemos o ano em que isso acontece, e na seqüência começamos a conhecer um pouco da vida de Mesrine, nos anos 1960. De volta da Guerra da Argélia, onde recebeu um certificado de bom comportamento, Jacques Mesrine (Cassel) leva uma vida comum, mas aos poucos é atraído pelo mundo do crime. Mesmo se casando e construindo uma família, acaba se envolvendo em assaltos e exercitando seu lado violento ao extremo. Trabalhando para Guido (Gerard Depardieu, irreconhecível), começa a alcançar fama entre os ladrões da época.

Mas suas atitudes obscuras ganham mesmo notoriedade ao se aliar a Jeanne Schneider (Cécile De France), com quem realiza diversos atos criminosos. A partir daí, passa a ser conhecido como ‘o inimigo público número 1’ dos franceses. Sua vida cheia de aventuras, seus assaltos mirabolantes e sua arrogância rendem um roteiro enxuto, repleto de cenas de ação e excelentes diálogos, tudo feito sob medida para Vicent Cassel brilhar.

O filme termina chamando a atenção que haverá uma continuação – afinal, o início da história, a tal emboscada, não é explicada, mas se você se aprofundar na vida de Mesrine saberá que o começo do longa é o fim da sua carreira de criminoso. Porém, pouco importa sua morte: a vida dele foi tão intensa que vale cada minuto de Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte. O crime não compensa, mas rende uma história e tanto. Que venha logo a segunda parte.



Janaina Pereira

sábado, junho 27, 2009

Top 20


As minhas 20 músicas preferidas do Michael Jackson - porque foi impossível escolher só 10.


1 - Billie Jean


2 - Beat it


3 - Don´t stop 'till you get enough


4 - Bad


5 - Black or white


6 - I'll be there (Jackson 5)


7 - Say, Say, Say (com Paul McCartney)


8 - The way you make me feel


9 - Man in the mirror


10 - Thriller


11 - Blame it on the boogie (Jackson 5)


12- I just can´t stop loving you


13 - I want you back (Jackson 5)


14 - Jam


15 - Heal the world


16 - ABC (Jackson 5)


17 - Human Nature


18 - Can´t you feel it (Jackson 5)


19 - In the closet


20 - Ben (Jackson 5)



Ouça todas as músicas aqui.



Janaina Pereira

sexta-feira, junho 26, 2009

Michael


Michael Jackson está morto. Aos 50 anos, o Rei do Pop morreu ontem, de parada cardíaca. Como quase todo mundo, quando meu amigo Léo falou da morte de Michael, eu disse que não era verdade... porque volta e meia a imprensa ‘matava’ ele. Mas eis que ligo a TV e na CNN informam que ele estava em coma. No decorrer da noite, a confirmação da morte.

Gosto do Michael Jackson desde que era muito pequena. Minha mãe é fã dos Jackson 5, e tem vários discos de vinil. Então aprendi, ainda no começo da minha vida, a ouvi-lo. Aos 9 anos, ganhei o LP Thriller, aquele que é o mais vendido da história. Aos 12 anos, ganhei o Bad. Depois disso Michael não cresceu comigo, como Madonna, mas ficou marcado como uma das minhas referências musicais da infância.

Amo de paixão a música Billie Jean, adoro Beat it e nem sei dizer quais outros sucessos dele eu curto. Só sei que ainda estou chocada, triste, de luto. Como ele cantou em verso e prosa, não me interessa se ele era negro ou branco, Michael Jackson foi um dos maiores cantores da música pop, e uma prova viva de que sucesso e dinheiro não levam a nada.

Como bem disse Madonna, sua música viverá para sempre. E ele foi tão grande, mas tão grande, que nenhuma de suas loucuras importa. O que fica é um som de alma e ritmo negros, algo inconfundível, a batida, o ritmo, a força de uma música que nunca mais se repetiu.

Hoje é dia de luto.



Janaina Pereira

terça-feira, junho 23, 2009

O jornalismo é a fonte


Russel Crowe tem pelo menos quatro papéis marcantes no cinema – o policial de Los Angeles, Cidade Proibida, o executivo com dor na consciência em O informante, o mocinho de Gladiador e o cientista de Uma mente brilhante. Os últimos trabalhos do ator, no entanto, deixam a desejar. Muitos quilos acima do peso, ele volta em Intrigas de Estado (State of Play), de Kevin McDonald (do ótimo O último rei da Escócia) – estreia de ontem nos cinemas -, um misto de suspense e ação que coloca mais uma vez os bastidores do jornalismo e da política em xeque.

O filme é baseado em uma série de televisão britânica de mesmo nome, exibida pela BBC de Londres, que obteve relativo sucesso. O ponto de partida da trama é o assassinato de Sonia Baker, assistente de Stephen Collins (Ben Affleck), que investigava para ele o processo de “privatização” das forças armadas dos Estados Unidos. Collins tem um amigo de faculdade, o repórter do The Globe, Cal McAffrey (Crowe) e é ele quem conduz toda a narrativa.

Cal é o tipo de repórter que qualquer redação do mundo gostaria de ter: conhece as pessoas certas, tem faro investigativo apurado, é corajoso, defende e acredita na matéria. Ao lado dele está a inexperiente (e blogueira, diga-se de passagem) repórter Della Frye (Rachel McAdams), responsável pela parte online do jornal que fica conectada aos acontecimentos no Capitólio. No comando da trupe de repórteres está a editora, Cameron (Helen Mirren) – durona, sem papas na língua e determinada como todo editor deve ser – e é, pelo menos no cinema.

O filme mostra algumas ‘verdades’ das redações atuais: o impresso versus o on-line; os jornalistas veteranos esbarrando na pressa da nova geração; a apuração correndo contra o tempo; a matéria sendo derrubada porque os donos do jornal não querem problemas com notícias polêmicas; e algumas questões que norteiam o jornalismo atual – ainda existe ética? Qual o preço que o repórter paga pela proteção das fontes? O jornal impresso vai sobreviver ao mundo virtual?

Tudo isso faz de Intrigas de Estado uma razoável produção sobre jornalismo, nada comparada a clássicos como Todos os Homens do Presidente, Boa noite, boa sorte e o já citado O informante – todos baseados em fatos reais – ou mesmo os ficcionais Síndrome da China, A montanha dos sete abutres e Herói por Acidente.

Apesar de longo – são mais de duas horas de projeção – o filme tem bom ritmo, intercala cenas de ação com diálogos consistentes, e consegue entreter, embora tenha um final previsível. Grande parte da boa performance de Intrigas de Estado se deve a Russel Crowe – que segura a produção com seu habitual talento, mesmo sem ter um grande papel nas mãos – e pela história em si – o jornalismo e a política sempre renderam bons roteiros ao cinema. Não é brilhante, mas funciona.


Janaina Pereira

sábado, junho 20, 2009

Panorama do Cinema Francês


Há um bando de gente preconceituosa que acha que filme francês é tudo chato. Não concordo. Já assisti vários e muitos, excelentes. Mas minha história de amor com a França, país que nunca me atraiu - eu sempre achei que sou a única pessoa no mundo que não tem vontade de conhecer a Torre Eiffel - começou no início do ano, ao assistir Entre os Muros da Escola. Um dos filmes mais apaixonantes que já vi.

Desde a semana passada tenho visto alguns filmes franceses graças ao Panorama de Cinema Francês, que está rolando no Rio e em São Paulo. E vi três filmes maravilhosos, sendo que um deles eu já coloquei na lista dos melhores filmes da minha vida. Então, aí vão as dicas.

Vejam Inimigo Público nº 1 - Instinto de Morte. A história de um bandido francês que se tornou lenda, contada com muita ação, roteiro muito bem escrito, trilha sonora bacana, direção e fotografia perfeitas... e um ator maravilhoso chamado Vincent Cassel. Estou encantada com ele - o cara é bom pacas. Amei.

Tem ainda Há quanto tempo que te amo. Filme denso, longo e muito, muito, muito bem escrito (amo filmes com roteiros, coisa nem tão comum no cinema), uma história daquelas que te deixam mudo quando o filme acaba. E tem a Kristin Scott Thomas flando francês com fluência e sem sotaque em uma atuação magistral.

E, por último, mas jamais o último, o filme que me deixou em êxtase: Bem-vindo. Uma das melhores coisas que já vi na vida. Isso sem falar que o diretor - que participou de um debate após a exibição - é um fofo. Triste, daquelas tristezas que pesam o coração... mas tão necessário para compreendermos algumas coisas que se escondem na alma humana.

De vez em quando vale a pena sair da mesmice e aproveitar algo além do entretenimento que a telona nos proporciona. Às vezes é bom ir ao cinema para pensar.


Janaina Pereira

quinta-feira, junho 18, 2009

Diploma: eu tenho. E você?


Acabou-se o diploma para jornalistas. Se com diploma já tinha uma galera medíocre por aí, agora que ferrou tudo. Qualquer um pode ser jornalista - e olha que a faculdade de jornalismo já é repleta de gente ruim. Agora vai ser um Deus nos acuda.

Eu passei quatro anos da minha vida tentando melhorar, e para mim a faculdade foi útil. Tenho muito orgulho do meu diploma e de ter tirado meu MTB com ele. Agora tudo foi jogado no ralo - inclusive a grana que gastei. Parabéns ao ministros do STF. Ao invés de colocarem exame tipo OAB para liberar o MTB - e tirar um bando de farsantes que se autodenominam jornalistas - resolvem acabar com a obrigatoriedade do diploma. Simplesmente vergonhoso.

Sinto-me enojada e enjoada de viver num país que abomina o conhecimento e transforma a Academia em um negócio que só serve para os reitores lucrarem. Pior que com esta crise econômica, a saída nem é mais pelo aeroporto. É triste ver o Brasil se transformar na terra dos blogueiros, dos twitteiros, de gente que não sabe escrever o próprio nome mas assina matéria. Tanto faz eu ter me endividado por quatro anos. Tanto faz eu ter meu diploma, meu MTB, meu currículo. Tanto faz eu saber o que é um lead e ter toda a técnica jornalística. Agora eu só mais uam perdida na multidão.


Janaina Pereira

quarta-feira, junho 17, 2009

O tempo não pára

O joelho dói. É como se um trator tivesse passado por cima dele, sem dó nem piedade. A cabeça dói, o corpo padece daquilo que é inevitável: eu envelheci.

Não adianta vir com o papinho de 'você não aparenta a idade que tem'. Isso não importa tanto. Fortalece o ego e só. VocÊ é mais que um corpo de formas perfeitas trabalhadas na academia. Você é osso e todo um organismo que falha ao avançar da idade.

O tempo não perdoa. De repente a gente fica doente, mas quando se é jovem, a recuperação é rápida. Depois dos 30, tudo muda. O corpo falha e fala alto, grita por socorro. Alguns não ligam e morrem cedo. Outros viram hipocondríacos. E há aqueles, como eu, que ficam neuróticos quando sentem dor.

Agora é a época das 'ites'. A sinusite atacou, a tendinite também. Aí vem todas as inflamações juntas, numa série de dores que corroem meu corpo e me atormentam. E aquele monte de exame médico para dizer que você tá velho.

Pois é. O tempo não pára.


Janaina Pereira

segunda-feira, junho 15, 2009

Direto do front


Os anos passam mas um assunto nunca morre: a guerra. Filmes sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial ainda causam impacto graças às histórias baseadas em fatos reais que continuam surgindo, o que mostra que o tema está longe de se esgotar. Já está em cartaz Os falsários, (Die Fälscher), do austríaco Stefan Ruzowitzky, vencedor do Oscar 2008 de filme estrangeiro; uma história no mínimo curiosa envolvendo judeus e alemães.

Em plena Segunda Guerra, o falsificador Salomon “Sally” Sorowitsch (Karl Markowics) é um artista da cópia. Com seu talento para forjar documentos, ganha dinheiro e notoriedade como criminoso. Mas ele é judeu e acaba preso. Enviado a um campo de concentração, começa a prestar favores aos alemães para se manter vivo.

Em1944, os nazistas transferem o falsificador para outro campo com um objetivo: gerenciar um grupo de prisioneiros na maior falsificação de dinheiro da história. Eles ganham teto, comida e algum conforto. Mas nunca paz. Ao som das bombas e dos fuzilamentos, “Sally” e seus ajudantes se questionam sobre os limites da sobrevivência diante do maior crime de todos: ajudar os nazistas a ganhar a Guerra.

A dúvida moral dos personagens é o grande trunfo do filme – e o que o torna brilhante. Afinal, aqueles judeus estavam trabalhando para o inimigo. Se não o fizessem, morreriam na certa. E é justamente neste ponto que a produção se aprofunda, fazendo o público se questionar junto com os personagens. O que é mais importante, o país ou a própria vida?

Vários filmes já trataram da questão do Holocausto e do nazismo, mas poucos conseguiram levantar tantas questões moralmente conflitantes como este. Totalmente sustentado em sua história, Os falsários é um filme de roteiro, que faz com que todo o resto funcione – direção segura, ótimas fotografia, montagem e direção de arte e atuações memoráveis do elenco, especialmente do protagonista Karl Markowics, que consegue com o olhar expressar os sentimentos dúbios que afligem seu personagem.

Os falsários entra, com louvor, para a seleção dos melhores filmes de guerra – sem apelos dramáticos ou judeus exaustivamente sendo mortos, mas retratando mais um capítulo desse lado obscuro da história mundial.


Janaina Pereira

sábado, junho 13, 2009

O perfeito não existe


Difícil Luana Piovani passar desapercebida. Graças à sua beleza ou às suas atitudes polêmicas (e namorados idem), ela está sempre na mídia. Por isso não deixa de ser lúdico o papel da atriz no filme A mulher invisível, de Cláudio Torres. Ao mesmo tempo em que encarna a mulher ideal, Luana só é vista pelos olhos de Pedro, personagem do versátil Selton Mello (daí o título do filme). Com estes elementos, esta comédia romântica deve arrastar uma multidão aos cinemas e confirmar a boa fase das produções brasileiras – que vem apostando, com sucesso, em comédias simpáticas com atores carismáticos.

A história começa com o fim do casamento do controlador de trânsito Pedro que, desiludido, resolve se ‘fechar’ para o mundo. Um dia, sua vizinha Amanda (Luana) bate à porta de seu apartamento para pedir uma xícara de açúcar. Diante daquela jovem linda, sexy e simpática, Pedro se apaixona à primeira vista. Aos poucos, Amanda vai se mostrando a mulher ideal: dedicada, companheira, sempre disposta a ajudar o parceiro, ela está ao lado de Pedro a todo o momento – entende até de futebol! -, fazendo com que o rapaz se envolva cada vez mais.

Enquanto isso, Carlos (Vladmir Britcha), o melhor amigo do controlador de trânsito, começa a desconfiar deste romance. Cético, do tipo que nunca se relaciona seriamente, ele duvida que possa existir alguém tão maravilhoso que valha a pena se envolver. Para completar o ‘quadrilátero’ amoroso temos ainda a vizinha de Pedro, Vitória (Maria Manoella), que se apaixona por ele de tanto ouvi-lo pela parede do apartamento.

Mas Pedro não quer saber de nada do que acontece ao seu redor, até começar a desconfiar que Amanda é tão perfeita… que simplesmente não existe. A partir daí a história garante boas risadas, graças à atuação de Selton, especialmente nas cenas em que parece beijar e agarrar Luana, mas na verdade ele está contracenando com o vazio.

Apesar de tentarem ‘vender’ a ideia de que Luana Piovani rouba o filme – de fato, a coleção de calcinhas e sutiãs que ela desfila em cena são lindas, e a atriz está deslumbrante – quem carrega A Mulher Invisível nas costas é mesmo Selton Mello, mostrando porque, atualmente, sua presença é tão disputada nos filmes brasileiros. Vale citar também a atuação de Fernanda Torres, irmã do diretor, no papel de Lúcia, a irmã de Vitória. Divertida como sempre, Fernandinha dá show e tem as cenas mais engraçadas do filme.

A Mulher Invisível é uma comédia leve e despretensiosa, que mostra um Rio de Janeiro engarrafado, mas ainda belo, e personagens que a gente simpatiza facilmente. É daqueles filmes redondos (roteiro, direção, elenco, tudo funciona direitinho), em que se percebe o quanto foi prazeroso fazê-lo – da mesma forma que é muito legal assisti-lo.


Janaina Pereira

quinta-feira, junho 11, 2009

Mais um casal suspeito


Quando Julia Roberts conhece Clive Owen na primeira cena de Duplicidade (Duplicity), achei tudo muito parecido com Sr & Sra Smith (2005) – aquele filme em que Brad Pitt se encantou por Angelina Jolie. Minha suspeita se confirmou nas cenas seguintes. O novo filme de Tony Gilroy (Conduta de Risco) é mesmo uma versão ‘cabeça’ daquele que lançou o casal Brangelina – sem pancadaria e com muito mais cérebro – e ainda um trampolim para Julia & Clive repetirem a boa dobradinha de Closer (2004).

Vamos as semelhanças com o filme de Doug Liman. Casal bonito (embora Julia e Owen não tenham a beleza devastadora de Brad e Angelina), com profissões misteriosas que envolvem espionagem e uma trama em que eles são apaixonados, mas se colocam em lados opostos. Dessa vez, porém, a história é sobre espionagem industrial e conta com dois coadjuvantes de peso: Paul Giamati e Tom Wilkinson.

Enquanto Julia é a enigmática Claire, Owen vive Ray, igualmente obscuro. Depois de uma noite de amor – em que ela rouba algo importante dele – descobrimos que eles são espiões, e agem pelo mundo no melhor estilo ‘roubo uma fórmula secreta e leva quem me der mais’.

Aos poucos percebemos que a relação da dupla é mais intensa do que parece. Pelos flashbacks vamos descobrindo que Claire e Ray estão do mesmo lado, ainda que desconfiem um do outro, e planejam um grande golpe. Nestas cenas se destacam a montagem e a edição, grandes aliados do filme. Dá para acompanhar a história sem atropelos, mesmo com as idas e vindas do roteiro – e com passagens de cenas muito inteligentes, mostrando várias ações que ocorrem em tempos diferentes, todas exibidas em pequenos quadros na telona.

Apesar da inteligência em aspectos técnicos, o filme peca pelo roteiro longo – não havia necessidade de 125 minutos de muito papo e pouca ação – e pela total falta de sexy appeal de Julia Roberts, extremamente burocrática no papel. Já Clive Owen imprime todo seu charme e elegância ao personagem, o que lhe garante boas cenas. Mas os destaques do elenco são mesmo Giamatti e Wilkinson, os rabugentos donos de companhias farmacêuticas rivais. A cena em que eles brigam, logo no começo do filme – toda feita em câmera lenta – é primorosa.

Duplicidade não é brilhante como poderia ser, nem divertido como seu ‘alterego’ Sr & Sra Smith. Beira a monotonia mas é salvo pela reviravolta divertida do final e por outros aspectos que o tornam exatamente como seu título: duplo, ambíguo, duas faces. Ora bom, ora nem tanto.


Janaina Pereira

segunda-feira, junho 08, 2009

No Rio por Gondry


Rebobine, por favor é o nome da exposição interativa que o cineasta francês Michel Gondry, diretor do vencedor do Oscar Brilho eterno de uma mente sem lembranças, apresenta no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio, a partir de amanhã até 9 de agosto.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças é um dos meus filmes preferidos - e um dos mais marcantes deste início de século. Por isso, para mim, foi um privilégio acompanhar a abertura da sua exposição hoje, com as ótimas companhias da minha mãe e do meu amigo - também jornalista - Wanderson.

Na exposição, Gondry convida o visitante a filmar seu próprio vídeo, em grupo, em um dos 13 cenários customizáveis criados pelo cineasta, seguindo o “Protocolo Gondry”, uma série de improvisos criativos assim como no longa-metragem homônimo à exposição.

Depois de participar de um workshop de planejamento básico, o grupo, de até dez pessoas, recebe uma câmera para realizar um vídeo de no máximo 20 minutos. A filmagem deverá acontecer em ordem cronológica e a edição, feita na própria câmera. Ao final da produção, o vídeo será exibido em uma televisão que fica à disposição do público no cenário da locadora.

Proporcionar ao público uma oportunidade de interagir com o cinema, numa linguagem moderna, democrática e original, é o objetivo da exposição.

O evento conta ainda com uma mostra de filmes e videoclipes do cineasta, que acontece de 9 a 14 de junho nas salas de cinema e vídeo. Durante os dois meses da exposição, o filme Rebobine, por favor, que inspirou o evento, fica em cartaz no CCBB.


De quebra, ainda vimos o inédito Tokyo!, três medias-metragens transformados em filme - e a parte que cabe a Gondry é brilhante. O diretor conta, no segmento Interior Design, a história de um jovem casal recém-chegado a Tóquio que, durante a procura por um apartamento, passa por radicais mudanças pessoais e físicas. A megalópole é vista como um organismo estranho e misterioso que infecta seus moradores.

Bem ao estilo do diretor, o média-metragem mostra, de forma singular, como a cidade pode modificar cada um de nós – e como podemos ser absorvidos por sua neurose. Inteligente e divertido, Interior Design é um reflexo da busca insana das pessoas para se encaixarem no mundo cada vez mais hostil.

Os outros médias-metragens do filme são Merde, em que Carax dirige o ator Denis Lavant no papel de um sem-teto morador dos subterrâneos de Tóquio, que emerge pelas bocas de esgoto e rouba cigarros, sanduíches e armas dos transeuntes, até de novo desaparecer asfalto abaixo.

O protagonista de Shaking Tokyo, de Joon-ho, é um hikikomori, pessoa que se isola do mundo conectada apenas virtualmente – no caso, ele se esconde em sua casa há quase dez anos e vive de pizza, mas será obrigado a sair de seu casulo ao conhecer uma bela entregadora durante um terremoto.

O filme não foi lançado em circuito comercial no Brasil, mas estará sendo exibido no Ciclo Gondry, no CCBB.



Janaina Pereira

sexta-feira, junho 05, 2009

A vida é doce... mas, às vezes, amarga

Existem filmes e filmes que falam do universo feminino. Há muito tempo sabemos que Pedro Almodóvar é um dos raros diretores a filmar com verdade e poesia este mundo tão particular. De vez em quando aparece alguém que capta o espírito e consegue mostrar as mulheres como elas realmente são: sem máscaras, sem maquiagem, sem sutilezas. E foi este o caminho seguido pela atriz e diretora libanesa Nadine Labaki, que faz de Caramelo (Caramel), que estreia nesta sexta, 5, uma pequena obra-prima.

O filme nasceu no projeto Residência do Festival de Cannes, realizado por Nadine em 2004. O longa foi selecionado para o Festival de Toronto 2007 e para a Quinzena dos Realizadores de Cannes 2007. Impossível não se encantar com a história mas, especialmente, com a forma como ela é mostrada.

Usando um elenco de não-atrizes – apenas ela é atriz profissional – para ficar mais próxima da realidade feminina, Nadine Labaki narra a vida de cinco mulheres, que se encontram regularmente no salão Sibelle, em Beirute.

Layale (Labaki) é deslumbrante e cheia de vida, arrasta admiradores por onde passa, mas prefere se prender a um homem casado, que a coloca em segundo plano – e que, obviamente, não vai largar a esposa por ela. Nisrine (Yasmine Al Masri) parece ter o relacionamento perfeito, mas prefere fazer uma arriscada cirurgia para ‘voltar’ a ser virgem do que revelar sua ‘condição’ ao amado. Rima (Joana Moukarzel) é – e ela e todo mundo sabem disso – homossexual, mas não consegue assumir nem lidar com a cliente pela qual se encanta. Jamale (Gisèle Aouad) fracassa nos testes de atriz, mas quer ser jovem a qualquer custo – especialmente depois que o marido a trocou por uma mulher mais jovem. E na história mais tocante do filme, Rose (Siham Haddad) precisa se decidir entre um amor na terceira idade ou seguir com sua vida medíocre, cuidando da irmã mais velha.

No salão, entre cortes de cabelo e depilação à base de caramelo (receita oriental tradicional: açúcar, limão e água), homens, amor, sexo, casamento, maternidade e amadurecimento estão no centro de suas conversas mais íntimas. A forma como cada um dos assuntos é tratado, e como cada mulher é vista pela lente da diretora, é o que faz toda a diferença no filme.

Todas essas mulheres têm seus encantos, mas ao mesmo tempo suas dúvidas e dores. Todas são belas de alguma forma, mas não conseguem se olhar no espelho e encarar suas realidades. Todas são amigas e aconselham umas as outras, mas são incapazes de seguirem um rumo por suas próprias pernas. Todas são tratadas com incrível respeito pelo roteiro – Rodney El Haddad, Jihad Hojeily e Nadine Labaki – tornando-se reais e apaixonantes para o público.

Como propõe o título – uma metáfora sobre o doce que também pode machucar – Caramelo traz o melhor e o pior do universo feminino: o preconceito sexual (seja para gays ou para não-virgens), o amor não correspondido, a falta de amor próprio, o medo de envelhecer, a solidão, a amargura e a tristeza. Tudo isso é abordado de forma delicada, leve e sensível, e ao mesmo tempo forte e devastadora. Exatamente como as mulheres são.


Janaina Pereira

quarta-feira, junho 03, 2009

A guerra que nunca acabou


Edward Zwick fez um dos melhores filmes sobre guerra – no caso, a Guerra Civil americana – em 1989: Tempo de Glória (Glory), além de lançar Denzel Washington ao sucesso, rendeu o primeiro Oscar (de coadjuvante) ao ator. De lá para cá, o diretor tentou vários caminhos: filme romântico (Lendas da Paixão, com Brad Pitt e sua vasta cabeleira loira andando a cavalo), épico (O último samurai, tentativa frustrada de dar o Oscar a Tom Cruise), ação (o ótimo e premonitório Nova York sitiada) até chegar a Diamantes de Sangue, com Leonardo DiCaprio, belo e sensível relato sobre o tráfico de diamantes na África.

Esperar que o filme seguinte a Diamantes fosse tão bom quanto não é pedir muito. Mas, infelizmente, não é. Embora Um ato de liberdade (Defiance) – a partir de amanhã nos cinemas – seja uma inspirada visão dos judeus sobre o holocausto – e, mesmo o tema sendo repetitivo, ainda há coisas para se falar sobre ele – o filme não acontece. Talvez porque a dureza da história tenha impedido algumas ousadias do diretor.

A trama se passa em 1941. Os bielorussos Tuvia (Daniel Craig, o atual James Bond), Zus (Liev Schreiber, que vem se mostrando um ator versátil e após X-Men Origens: Wolverine aparece neste drama de guerra) e Asael (Jamie Bell, de Billy Elliot) são irmãos que, ao fugir da perseguição nazista aos judeus, se escondem em uma floresta que conhecem desde a infância. De início eles apenas pensam em sobreviver, mas à medida que seus atos de bravura se espalham diversas pessoas passam a procurá-los, em busca de liberdade. Tuvia assume a posição de líder mas é contestado por Zus, que teme que suas decisões os levem à morte.

As reações dos irmãos ao que acontece em volta deles dão o tom pesado de Um ato de liberdade. Judeus brigando entre si por comida, mulheres cedendo aos homens para se sentirem protegidas, ganância, individualismo e muita vingança percorrem as mais de duas horas do filme. Tudo ao som de violinos, bela fotografia e um elenco afinado – e é aí que está o grande pecado desta produção. Tecnicamente ele é perfeito, mas falta emoção.

Um ato de liberdade tinha tudo para ser um grande filme, mas é confuso em suas intenções, misturando demais os gêneros drama e ação, sem convencer em nenhum deles. Assim é apenas mais um bom filme do competente Zwick. O que, nos dias de hoje, já significa muito.


Janaina Pereira

segunda-feira, junho 01, 2009

A fome e a vontade de comer


José Padilha alcançou a fama e os aplausos com o sucesso estrondoso de Tropa de Elite. Mas, para quem não sabe, o diretor tem em seu currículo uma marcante passagem pelo mundo dos documentários – é dele Ônibus 174, sobre o polêmico assalto no Rio de Janeiro que acabou em tragédia. De volta às origens, Padilha foi buscar na fome e na miséria a inspiração para seu novo trabalho, Garapa, que estreia nesta sexta, 22.

O tema, por si só, já causa incômodo. Raras são as pessoas que se dispõem a ir ao cinema para ver famílias passando fome e (sobre)vivendo com 50 reais de ajuda do Governo, o famigerado Bolsa Família. Mas, não se engane. Ao invés de causar tristeza e melancolia, o documentário dá uma certa revolta. Não pela pobreza nua e crua, interessantemente apresentada em preto e branco. Mas pela total ignorância das pessoas que percorrem o filme.

O documentário mostra o dia-a-dia de três famílias do Ceará, todas com os mesmos vícios e defeitos: homens que não trabalham e gastam o dinheiro do auxílio federal em bebida; mulheres que não acham errado parir mesmo sabendo que o filho vai passar fome; crianças desnutridas, com a barriga inchada pelos vermes que brotam dentro e fora do corpo, vermes originários da garapa (bebida feita com água e açúcar que substitui a comida).

Ao longo do filme, a revolta só vai aumentando. É triste saber que o aclamado programa do Governo, o Fome Zero, incentiva o alcoolismo e a fome. O que falta ao nosso povo, antes da comida, é a educação. É aprender que quanto mais filho se tem, mas fome vão passar; quanto mais a mulher aceitar o marido que vende o leite para beber cachaça, mais fome vão passar; quanto mais o homem acreditar que “Deus ajuda”, mais fome sua família vai passar.

Garapa mostra que a fome é cruel sim, especialmente com as crianças indefesas, que sem a educação necessária para entender sua própria realidade, irão seguir o caminho dos pais. Um caminho que passa pela total ignorância e acaba numa beira de estrada, sem ter o que comer.



Janaina Pereira

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