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quinta-feira, maio 29, 2008

Isso e aquilo


Para ler ouvindo “Alive”, do Pearl Jam



Com a faculdade chegando ao fim, a pergunta que não quer calar é: Janaina Pereira vai retornar ao mundo mágico da propaganda? A resposta? Não tenho ainda. Talvez seja difícil entender que eu não escolhi nada, o destino me levou a tudo isso. Vou tentar explicar.

Dos 10 aos 13 anos eu achava que ia ser médica pediatra, por causa da minha paixão por crianças. Mas, aos 14 anos, vi uma novela chamada “Sassaricando”,em que o personagem do Marcos Frota era publicitário. Achei interessante e fui pesquisar o assunto. Gostei da idéia e escolhi a publicidade. Aos 16 anos, no entanto, eu iniciei minha vida de torcedora oficial: de vôlei, de basquete, de futebol e até de tênis. O amor pelos esportes me fez pensar em ser jornalista esportiva. Em meu teste vocacional, apareceu que meu QI era acima da média e eu devia ser escritora. Na verdade eu queria mesmo era fazer cinema. Diante de tanta indecisão, aos 17 anos fiz vestibular para jornalismo e publicidade. Não passei na UERJ, para jornalismo, mas passei na UFF, para PP. Só que eu queria estudar na UFRJ. E ainda precisa trabalhar – a vida de estudos pagos pelos meus pais acabara e com a morte do meu pai, alguns anos antes, minha mãe avisou que só me bancaria até o fim do segundo grau. Ou seja, não poderia fazer faculdade particular. A UFF só tinha aulas à tarde e à noite. Abri mão da faculdade para trabalhar. Meu padrasto, inconformado, pagou meu curso de Publicidade na ESPM. Nas primeiras aulas – de mídia e atendimento – eu fiquei na dúvida se era aquilo que eu queria. Quando chegaram as aulas de criação, eu me encontrei.

A partir dali começou minha vida de publicitária. Uma carreira cheia de anúncios para carro, para remédios, para o varejo, um stress louco que eu amava. Um novo mundo se abriu para mim. A obsessão pelo sucesso, pelos prêmios, pelo dinheiro era maior que tudo. O tempo passava, as coisas não aconteciam e eu não desistia. Fiz milhares de cursos, conheci muita gente, badalei em todas as festas, era extremamente popular no mercado do Rio de Janeiro. Não foi diferente quando vim para São Paulo. Quase todo mundo de PP sabe quem eu sou. Ou melhor, quem eu fui. Alguém que nunca desistiu do melhor anúncio, do melhor título, do melhor portfólio.

De repente eu cansei. Cansei das faltas de oportunidades do Rio. Tal qual a Natalie Portman em “Closer”, mudei de cidade – só faltou mudar de nome. Mas mantive o sobrenome do meu pai e segui adiante. Em Sampa um mundo ainda mais maravilhoso se abriu para mim. E, de repente, eu cansei de novo. Cansei da vidinha de não ter hora para sair do trabalho, das cobranças de clientes que não sabem o que querem, dos atendimentos surtados, da vida insana. Cansei de ser quem eu era. Resolvi me reinventar.

Eu nunca escolhi o jornalismo: ele me escolheu. Fui escolhida quando comecei a escrever para sites de publicidade sobre o mercado. Meu primeiro texto, no saudoso Trampolim, do André Gola e do Paulo Lisboa, fez tanto sucesso que eu era a colunista mais badalada do site. Daí para os jornais de PP foi um pulo. O pulo da gata: este blog nasceu e com ele a certeza de que eu deveria seguir um novo caminho.

Todo mundo sempre falou que me faltava uma universidade na vida. Lá fui eu voltar aos bancos escolares. Com 30 anos, não foi fácil conciliar tudo. Mas foi uma decisão que me abriu novas possibilidades. Ver pessoas dez anos mais novas com uma perspectiva de vida tão diferente da minha foi realmente assustador. Foi então que percebi o quanto eu era favorecida por ser mais velha e por ter dedicado 12 anos da minha vida à publicidade. Foi ali, na Universidade, que eu vi que eu não precisava deixar de ser publicitária para ser jornalista. Foi neste ponto da minha vida que eu mudei meu rumo e arrisquei tudo.

Aos poucos o destino me levou para os trabalhos jornalísticos e a publicidade ficou em segundo plano. Mas nunca, nunca mesmo eu a abandonei. E não vou abandonar. Eu gosto muito, sinto saudades de várias coisas, especialmente dos trabalhos em dupla, de poder criar algo do nada, vender uma idéia inusitada.

Para os amigos, novos e velhos, talvez a Janaina publicitária seja diferente da Janaina que será jornalista. Mas, para mim, não existe isso ou aquilo: eu sou alguém que permitiu se descobrir novamente. Ao contrário da galera de vinte e poucos anos, eu não tenho medo do futuro. Eu sonho. Eu arrisco. Eu vou à luta. Não me prendo a valores e preconceitos. Ao contrário da maioria do pessoal da minha idade, eu não me conformo com o pouco que tenho. Eu quero mais e melhor. Sempre.

Quatro anos depois, a faculdade está quase no fim e eu não fui vencida pelo cansaço. E espero que a minha história de amor com a publicidade e o jornalismo sejam apenas mais alguns capítulos autobiográficos. Porque eu vou me reinventar de novo. Quando todo mundo menos esperar.


Janaina Pereira

terça-feira, maio 27, 2008

3.3

Para ler ouvindo "She will be loved", do Maroon 5.


Faltam menos de 90 dias para meu aniversário. Meu Deus, eu realmente envelheci. Não que isso seja um problema, mas não é fácil ficar bem sempre. Eu páro e penso como eu consegui chegar até aqui usando meia calça laranja e a minissaia. Fico pensando se às vezes não parece ridículo o meu jeito de eterna menina. E eu nucna quis ser menina, isso é que é o pior.

Eu sempre curti as idades que tive, e aproveitei tudo intensamente. Gosto de mim como sou, me aceito do jeito que dá. Não mudo mais. Sempre fui a menina que gostava de futebol, que tinha muitos amigos homens, que respirava cinema, que amava praia, que adorava chocolate e chorava escondida. Eu não mudou muito. Ainda gosto de futebol, respiro cinema, amo praia, adoro chocolates e choro sozinha. Os amigos homens permanecem, mas hoje tenho mais e melhores amizades femininas.

Sempre fui tímida, quieta, na minha. Odeio me expor, falar em público, ser considerada melhor do que o outro. Não gosto de olhar para o lado e perceber que me olham. Mas ao mesmo tempo gosto de ser notada. Contraditória. Mudo de opinião mas tenho posiçao firme quando decido algo. Ah, sim, decidida. Sempre fui muito decidida.

Para alguns louca, para outros corajosa, para tantos estranha, para outros tantos misteriosa. Transparente sem me revelar muito, discreta acima de tudo.

33 anos e finalmente eu sei quem eu sou. A frágil mulher forte. Esta sempre foi a minha auto-definição preferida.


Janaina Pereira

sexta-feira, maio 23, 2008

Indiana Jones - eu vi


Há 19 anos, fui assistir a primeira sessão da estréia de Indiana Jones e a Última Cruzada, em um cinema de Madureira, saindo diretamente do colégio com minhas amigas Angélica e Ana Lúcia. Lembro que meu almoço foi pastél e caldo de cana. Ontem lá estava eu, em uma pequena fila do Shopping Paulista, para ver Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Fui na segunda sessão da estréia, porque não dava para esperar o final de semana: a ansiedade era muita. Não dá para acreditar que Indiana Jones ainda tem folêgo para novas aventuras. E que fôlego.

O filme é todo amparado no carisma do personagem e desde a abertura mostra a que veio. A primeira cena de Indy é muito simbólica e mostra o quanto sua figura é apaixonante. Aos primeiros acordes do tema de John Williams, todo o cinema - lotado de gente com mais de 30 anos em plena matinê - veio abaixo. Impossível não se emocionar ao ver Harrison Ford, de cabelos brancos, com o mesmo sorriso e o mesmo olhar que deram a Indy o título de maior herói do cinema.

O roteiro é bom, cheio de referências aos filmes anteriores, com direito a uma fofíssima homenagem ao Sean Connery - o inesquecível Dr. Henry Jones, pai de Indy, que só não apareceu em carne e osso no novo filme porque Connery se aposentou e não quis voltar ao personagem. Dá para perceber em que momentos Dr. Jones pai iria aparecer, mas sem ele o filme não perdeu o sentido. Pelo contrário, a homenagem foi muito bem sacada.

A volta de Marion (Karen Allen) e a inclusão de outros personagens - como o jovem Mutt (Shia Labeouf) - dão gás à aventura e são simpáticas aquisações para aliviar a correria que Harrison Ford, do alto de seus 65 anos, não seria capaz de fazer sozinho. Aliás, a idade do ator caiu como uma luva ao persoangem - Indy envelheceu com ele, mas manteve a ironia tão característica, o que garante muitos bons momentos em ótimas piadinhas.

A partir daqui você vai encontrar detalhes que revelam a história. Se não quiser saber o final do filme, não leia!

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal se passa no período da Guerra Fria, e Indy tem que encontrar um artefato - a tal caveira de cristal - para os soviéticos, liderados pela preferida de Stálin, Irina (Cate Blanchett, ótima como sempre). O primeiro confronto de Indy com Irina faz referência ao projeto Roswell, aquela famosa história que os americanos teriam escondido um corpo extraterrestre que caiu no país. Mas vemos, de maneira sutil, que o corpo do ET está no mesmo galpão em que a Arca Perdida - ela mesma - foi guardada no final de Caçadores da Arca Perdida, a primeira aventura de Indiana.

As sequências seguintes contam a história do personagem para a nova geração: Indy professor, Indy envolvido com os militares, Indy sendo traído por um amigo, Indy salvando um amigo, Indy reencontrando um antigo amor e Indy encontrando... um filho! Desde a primeira cena de Shia Lebouf - em referência explítica a Marlon Brandon em O selvagem da motocicleta - a gente desconfia que ele é o filho de Indy - e não demora muito para termos certeza. É do jovem Lebouf a cena mais bem montada do filme - um duelo de esgrima com Cate Blanchet e a hilária sequência em que ele pula, literalmente, de galho em galho.

O resto é cinema à moda antiga, sem muitos efeitos especiais, cenas de ação feitas pelo próprio Harrison Ford - poucas, mas convincentes - e muita, muita nostalgia. Um filme com cara de anos 1980, mas com um roteiro que segura as duas horas de adrenalina moderada, mas divertida.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é uma volta ao passado no melhor estilo. E uma homenagem sincera ao maior herói de todos os tempos.


Janaina Pereira

quinta-feira, maio 22, 2008

Campeã desde 1907



Minha história com o Botafogo vem desde criança.

Eu nasci botafoguense. Ainda bebê, meu pai me deu um uniforme. Sempre fui ao Maracanã com ele. E a gente sempre ia ver Flamengo x Botafogo. E o Botafogo sempre ganhava. E eu sempre chorava quando faziam um gol.

Sou filha única, então imaginem o desespero da minha mãe ao me ver uniformizada indo ao Maracanã. Ela achava um escândalo eu gostar de futebol. Sempre achei o Garrincha melhor do que o Pelé. E sempre tive orgulho de ser uma legítima torcedora da estrela gloriosa. Frquentei assiduamente o Maraca dos 5 até os 9 anos. Quase todo domingo eu estava lá. Mas meu pai ficou doente e nunca mais eu fui ver um jogo.

Vi o Botafogo campeão pela primeira vez em 1989. Foi o ano em que meu pai morreu - ele faleceu meses antes da conquista. Por isso, esse título significou muito para mim ... eu só pensava em como meu pai ficaria feliz com aquele momento. Aliás, eu não quis ficar com nada que era do meu pai, após a morte dele. Só abri uma exceção: a camisa do Botafogo que ele tinha e eu guardo até hoje no Rio. Só usei uma vez: no dia que, após 21 anos, o Botafogo ganhou o campeonato carioca.

Na minha casa no Rio, a 'estrela solitária' é espalhada por todos os cantos... tenho até uma caneca do Fogão. É tudo muito brega, mas minha mãe – aquela mesma que odiava que eu fosse ao Maracanã – adora. A família da minha mãe é toda flamenguista. Só tenho um tio vascaíno. Meu primo Vinícius é o típico flamenguista chato – quando éramos crianças, ele se achava o "Zico mirim" e me perturbava porque o Flamengo havia sido campeão mundial. A gente tinha altas brigas. Eu até suporto o Flu e o Vasco, mas o Flamengo para mim é carma. E a culpa deve ser do meu primo.

Infelizmente aqui em São Paulo não passaram o jogo. Mas eu vi a conquista da taça Rio porque eu estava lá. E eu gritava sem párar... mas o Botafogo anda freguês do Flamengo... assim não dá!

Não posso fazer comentários técnicos porque não vi os jogos, mas, enfim, acho que o Botafogo tem um bom time, eu gosto do Cuca, acho que o Bebeto de Freitas colocou ordem na casa... mas a gente pode vencer o Flamengo na final de vez em quando, né? Sei lá. De repente o negócio do Bebeto é vôlei mesmo.

Mas o campeonato carioca ficou para trás. Agora estamos nas semifinais da Copa do Brasil e já ganhamos um jogo. Vamos ver se o final desta história será feliz.


P.S.: Muito maneira a vitória do Fluminense sobre o São Paulo em um Maracanã lotado. O gol abençoado do Washington, aos 47 minutos do segundo tempo, foi simplesmente emocionante. Que me desculpem meus amigos são-paulinos, mas eu torci - e gritei - muito pelo Flu. Saudações alvinegras a todos os tricolores cariocas, especialmente ao meu amigo Jorge Valente que, assim como o Renato Gaúcho, deve estar sem voz até agora.


Janaina Pereira

terça-feira, maio 20, 2008

Indy

Passados 19 anos, ele está de volta. Indiana Jones, o maior herói do cinema, meu herói para sempre. Lembro quando vi na TV "Os Caçadores da Arca Perdida". O que era aquele cara alto, olhos verdes, barba por fazer, chapéu de couro e chicote? Harrison Ford, meu ator preferido porque interpretou meus personagens preferidos, era maior que a tela, maior que o filme, maior que a música inesquecível do John Williams. Graças a ele eu já quis ser arqueóloga. Indy, o melhor de todos, foi lançado mundialmente domingo, no Festival de Cannes, e chega ao Brasil neste dia 22 - já rolaram umas pré-estréias. Imperdível.

Só vi no cinema "Indiana Jones e a Última Cruzada". Duas vezes. Sim, eu vi o filme na estréia, em duas sessões consecutivas. O sarcasmo e a coragem do Indiana, que não tem nada de super-herói, é o que sempre me encantou. Tenho até os livros baseados no roteiro. Pois é. Indiana é mesmo o meu herói.

Claro que estão dizendo pro aí que o Harrison Ford está velho demais para o papel. Mas eu descobri o personagem quando tinha apenas 12 anos de idade e 21 anos depois ele continua me fascinando. Ou seja, não existe ninguém que substituia o Indiana Jones e ele só pode ser interepretado pelo Harrison Ford. Envelhecer faz parte. E os heróis também ficam velhos.

Em entrevista a revista Época , Steven Spielberg fala da nostalgia de reviver as aventuras de Indy. Aliás, excelente entrevista, em que ele não nega suas raízes: o cinema de entretenimento.

Eu adoro filmes de arte - e o Spielberg já fez coisas brilhantes neste sentido - mas também vou ao cinema apenas para me divertir. E Indiana Jones é a melhor diversão.


Janaina Pereira

domingo, maio 18, 2008

Odisséia Paulistana - parte III


Para ler ouvindo "Epitáfio", dos Titãs.


E chegamos ao último capítulo da minha retrospectiva. O capítulo mais recente, e muito importante, chamado faculdade. A volta às aulas foi um dos melhores momentos da minha em São Paulo e, talvez, o mais marcante. Depois de 12 anos de uma carreira consolidada em publicidade, lá vou eu encarar aulas noturnas, trabalhos no final de semana, preconceitos e disputas desnecessárias. O saldo disso eu só poderei fazer no final do ano, mas adianto que nunca desejei tanto que um ano passasse rápido como esse.

Na faculdade eu conheci gente da melhor e da pior qualidade. Gente falsa, mesquinha, fofoqueira, sem cultura, sem amor próprio, sem vida própria. Conheci gente que faz eu preferir os cachorros. Gente egoísta, maldosa, invejosa. Aliás, a inveja é o sentimento mais comum nos corredores acadêmicos. O pior é vê-la estampada em olhos e palavras de gente que mal saiu das fraldas e outros que pintam seus cabelos brancos. Mas sobre essa parte medíocre nem vale a pena fazer comentários.

O que vai ficar mesmo é a galera do bem. Gente fina é outra coisa; gente educada, gente que é gente. Pessoas amorosas, carinhosas, humanas, sensatas, imparciais, verdadeiras. Gente que me acolheu, me abraçou, gente que eu amo como os irmãos que não tive. Gente como a Karina, a Guilene, a Bárbara, a Lísia, a Ivy, a Janis, o Rogério Lakes, o Cassiano, a Danielly, o Fabinho, a Brisa, a Elisa, o Jorge, o Júnior e toda a galera maravilhosa que colaborava para o jornal da faculdade, o Inove, a parte mais importante da minha vida acadêmica, meu aprendizado como profissional, em que eu era editora. Gente como minha dupla dinâmica preferida, Will & Diana, os mais queridos. Gente como meu irmão oriental, Wellington Keidi, a pessoa mais fofa do universo. Gente boa como a Sanny, o Zé, a Pri, a Keiko, o Valter, o Kwan e o Fábio Davidson. Gente como meus professores idolatrados, Márcia Alegro e Alexandre Barbosa, para sempre meus mestres e amigos, e pessoas fundamentais para minha vida. Gente como meus amigos e companheiros de grupo, Val, Mari, Camilinha e Edson Natale, este, mais que amigo, meu ídolo. Gente como minha irmã mais linda, Carlinha, amiga para todo o sempre.

Cada uma dessas pessoas tem um lugar muito especial em meu coração. E escreveram seus nomes na história da minha odisséia paulistana.


Janaina Pereira

sexta-feira, maio 16, 2008

Odisséia Paulistana - parte II


Para ler ouvindo "Epitáfio", dos Titãs.


Continuando minha retrospectiva paulistana, chegou a hora de lembrar os melhores momentos da minha vida pessoal. Bem, digamos que os momentos são marcantes porque eu sofri pra caramba aqui... dividir flat de um quarto com duas meninas que eu mal conhecia, morar em pensionato, dividir quarto com gente estranha... e ainda tinha a cidade esquisita. Tudo muito diferente do que eu vivia no Rio, e eu sem necessidade nenhuma de viver isso aqui. Loucura? Coragem? Não sei explicar até hoje como suportei o insuportável. Mas sobrevivi e não me arrependo.

Os melhores momentos da minha vida em São Paulo estão ligados às pessoas maravilhosas que conheci. David, meu amigo e companheiro fiel, das pizzas, das lágrimas, das gargalhadas. Em todo grande momento, seja bom ou ruim, ele estava lá. Ainda da lista de lembranças, posso incluir os roteiros tipicamente paulistanos da Sueli, a mais paulistana de todas as minhas amigas; os papos intermináveis com a Cleide, minha conselheira; as minhas companheiras de baladas Silvia e Parvati – que, por sinal, é carioca! - e por último, mas jamais a última, Gisele e nossos almoços, jantares e risadas.

Também tive bons momentos com minhas roomates, as Julianas, na época em que noite feliz não era a noite de Natal... era a balada mesmo. A gente saia de segunda a segunda, toda noite, chegava de manhã em casa, naõ sei como arrumávamos tanta festa para ir. Às vezes a gente ia ao cinema, mas normalmente era balada, balada e balada. Noites memoráveis no Matrix. E por falar em noite, São Paulo me lembra muita pizza, muito vinho, muito chopp escuro no São Cristóvão, muito chopp claro no Juarez, muitas caminhadas na Paulista, muito metrô lotado, muito frio, botas de cano alto, cachecol, exposições memoráveis, Trash 80, Boogie, açaí no Açai, waffle no Pibus, hamburguer no News, noites sem estrelas, árvores do Ibirapuera, pastel de bacalhau do Mercadão, dogão sem purê do Black Dog, cerveja na padoca e alguns jantares inesquecíveis no Spot e sua imbatível capirinha de saquê com mel e kiwi.

Claro que tem um namoro aqui, um ficante acolá, mas minha vida pessoal é um livro fechado, e eu só falo aqui dos amigos. E, falando neles, tem o pessoal da faculdade. Mas aí eu conto no próximo capítulo.


Janaina Pereira

quarta-feira, maio 14, 2008

Odisséia Paulistana - parte I


Para ler ouvindo "Epitáfio", dos Titãs.


Já que eu falei recentemente dos meus amigos cariocas, vamos aos amigos paulistas e nossos momentos inesquecíveis. Alguns nem são daqui, como o David, mas todos moram em meu coração. De cada um tenho – e sempre terei – muito boas recordações.

Como também já falei aqui, o lugar mais legal que eu trabalhei em São Paulo foi o Gad Design, onde conheci paulistas da melhor qualidade. Lembro, com saudades, do nosso chopp semanal no São Cristóvão – o melhor bar de Sampa – dos almoços divertidos, da viagem inesquecível para Porto Alegre, das pizzas toscanas pela madrugada, da torta de maçã que o Beto me presenteava quase toda semana e do saudoso café da manhã com palestras... bem, nem tudo era perfeito, mas era bem legal.

Do Gad ficaram amizades eternas e talvez o homem mais citado deste blog, depois do meu pai: Clauber, meu chefe preferido em todos os tempos, e nem é porque o moço é leonino como eu. Não devia ser fácil, para ele, administrar uma equipe cheia de homens pinguços e uma única mulher: eu, a mais marrenta entre todas as mulheres da agência, mas, sem falsa modéstia, a preferida da criação. Como eu sempre gostei de trabalhar em equipes predominantemente masculinas – com TPM, já basta eu – a relação entre a gente era muito divertida.

Haviam momentos inusitados. Por exemplo, até hoje é difícil para meus colegas de trabalho lidar com uma mulher que usa saia todo dia. Aí sempre tem um que fica olhando minhas pernas – o que, no começo, eu achava patético, depois constrangedor, mas agora eu não ligo mais. Depois de um tempo eles se acostumam. E eu também. Outra coisa complicada para os meninos que trabalham, ou trabalharam, comigo era aturar meu mau humor. Eu odeio acordar cedo, então, geralmente pela manhã sou muito quieta. Quando estou chateada, fico sem falar com ninguém, só abro a boca se for necessário. Como sou muito transparente, todo mundo sabe se estou bem ou não. No começo, as pessoas estranham, mas depois se acostumam e respeitam o fato de que, se estou calada, é melhor não puxar assunto.

Não deve ser fácil para o universo masculino ser comandado por uma mulher. Nas ausências do Clauber, eu assumi o comando da equipe algumas vezes e era mais complicado do que parecia. Eu sei mandar, mas nem todo mundo sabe obedecer, especialmente se o líder for mulher. Passei por alguns momentos delicados nessa função, mas nunca baixei a cabeça para isso. O fato de ser mulher nunca desmereceu meu trabalho mas eu via sinais de rebeldia porque eu era uma mulher e estava na frente dos trabalhos. Nada disso abalou as amizades que tínhamos, embora, naquele momento, eu tenha ficado magoada com algumas atitudes. Mas não chorei. Porque eu não sou o tipo de mulher que chora por isso.

Ainda entre os momentos inesquecíveis da odisséia paulistana estão os dois anos em que trabalhei na Grey. Uma agência de publicidade multinacional, com uma equipe de 25 pessoas na criação – e só eu de mulher. Como dizia o Hermes, na época, eu não aprendi nada de publicidade, mas muita coisa sobre os homens. E teve ainda os poucos, mas festivos meses na Acqua. Beto Venturi, Vamberto e Guto. Éramos quatro, novamente eu era a única mulher, mas talvez tenha sido o lugar mais tranquilo que trabalhei, com a criação mais unida e mais musical. Ouvir Tim Maia toda tarde não tem preço. Os outros lugares tiveram seus momentos e grandes amigos, como o Erlon e o Silvio, da Registrada, ou a Gi, da For. Mas, profissionalmente falando, geraram mais atritos do que alegrias. Ainda bem que sempre tem algum amigo para salvar a minha memória seletiva.

O jornalismo trouxe outras coisas para mim, entre elas, trabalhar em uma editora focada para o público feminino, cercada de mulheres, com uma editora e uma diretora mulheres, em uma equipe com apenas um homem. É estranho, mas ao mesmo tempo meu trabalho é mais egoísta e totalmente solitário, então como eu convivo bem comigo mesma, dá certo. O melhor foi eu ter sido vetada para trabalhar nas revistas femininas por não ter perfil de quem escreve para mulher. Tenho certeza que isso é herança do mundo publicitário. A convivência com os homens me tornou mais objetiva e prática – adoro isso neles – e menos passional. Assim, fui parar no núcleo de economia e hoje sigo um caminho totalmente diferente do planejado. Mais uma vez, uma mulher em um universo predominantemente masculino: o jornalismo econômico.

Meio sem querer, comecei a fazer um retrospecto dos meus sete anos de São Paulo. Sete é fechamento de ciclo, então vou fazer um balanço de tudo por aqui. Neste texto, vocês leram as melhores lembranças da minha vida profissional. No próximo capítulo, vou falar da vida pessoal.


Janaina Pereira

segunda-feira, maio 12, 2008

Diz que fui por aí

(Zé Kéti e H. Rocha)



Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando o violão embaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
Se houver motivo
É mais um samba que eu faço
Se quiserem saber se volto
Diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Tenho um violão para me acompanhar
Tenho muitos amigos, eu sou popular
Tenho a madrugada como companheira
A saudade me dói, o meu peito me rói
Eu estou na cidade, eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela

sexta-feira, maio 09, 2008

Maternidade


Para ler ouvindo "Woman", com John Lennon.


Existem mulheres que nasceram para ser mãe; outras, não servem nem para madrasta. Mas, parece que o grande diferencial de uma mulher ainda é esse: se você é mãe, tudo certo, se não é, tem algo errado. Tenho algumas amigas, que são ou já foram casadas, que não tiveram filhos e acho muito ousado da parte delas manter essa postura. Ser mãe não é só um estado de espírito, é uma vocação.

Como eu já passei dos 30 e nunca tive a maternidade como prioridade, fico pensando como seria minha vida se eu tivesse um filho. Certamente eu não estaria estudando – e se estivesse, minha dedicação não seria igual. Eu perderia várias oportunidades e talvez nem tivesse vindo para São Paulo – porque não consigo imaginar meu filho paulista, meu filho seria carioca, claro. Embora eu adore crianças, e tenha muita paciência com elas, eu não sei se tenho essa vocação para ser mãe. Mas se algum dia esse desejo aflorar, eu resolvo de modo bem simples: existem muitas crianças para serem adotadas e mãe é aquela que cria, portanto, há outros caminhos a seguir.

Mas vejo que não é fácil a escolha de ter o filho da própria barriga. Primeiro porque nem todos os homens estão preparados para a tarefa árdua de ser pai. E filho sem pai não dá. Eu, que perdi meu pai muito cedo, sei da importância da figura masculina na vida de uma criança, então esse negócio de produção independente não funciona comigo. Além da escolha paterna, existem outros problemas para se gerar um filho. As mudanças do corpo, as questões financeiras, a preparação psicológica e, talvez, o mais complicado de tudo: uma vida completamente diferente. Imagina ter alguém que, por anos, dependa de você... primeiro para comer, tomar banho, se vestir, andar, ir a escola, ser educado, ah, e tanta coisa... imagina ter alguém que saiu de dentro de você e um belo dia sai de casa sem dar satisfação e te deixa ali sozinha – exatamente como eu fiz com a minha mãe.

É por isso que ela sempre disse que eu só a entenderia quando eu fosse mãe.

Mal sabe ela que eu entendo bem ela mesmo sem ser mãe.

Claro que existem mães de caráter duvidoso, mulheres que envergonham os filhos – e que eu me pergunto como puderam gerar outras vidas se não conseguem administrar a vida delas. Mas também temos aquelas mulheres que fizeram da maternidade um ofício, que nasceram para isso, que abriram mão de suas vidas para cuidar de outra pessoa.

Desculpem, sou egoísta, não consigo pensar em abrir mão dos meus sonhos por causa de outra pessoa. Apesar de saber – e sentir, cada vez mais – que minha mãe precisa de um neto, eu não posso fazer isso. Talvez algum dia eu mude de idéia.

Isso só o tempo vai poder responder.


Janaina Pereira

quarta-feira, maio 07, 2008

Cariocada


Para ler ouvindo "Aquele Abraço", com Gilberto Gil.


Adoro quando meus amigos cariocas passam por Sampa e se lembram de me fazer uma visita. Gosto, especialmente, de mostrar o lado bom de São Paulo para eles. É divertido ver a cara de novidade que os cariocas fazem aqui. Porque as duas cidades, tão próximas mas tão distantes, são muito diferentes.

O ritual gastronômico é muito importante nessas visitas, e por isso faço questão de escolher alguns lugares especiais, que se tornarão inesquecíveis – ainda que o preço salgado assuste, acho que sempre vale a pena comer bem em São Paulo.

Minha amiga querida Luiza, visita que será constante por meses, disse que eu falo com carinho de São Paulo. Deve ser porque eu sofri muito aqui, fui – e sou – discriminada, 'pastei' pra caramba mas, como sou osso duro de roer, sobrevivi. Deve ser porque fizeram de tudo para me expulsar daqui e eu não fui embora. Deve ser porque eu aprendi a não me importar com o céu cinzento, o trânsito caótico e as pessoas frias. Eu aproveitei cada oportunidade que a cidade me ofereceu e fiz desse capítulo paulistano uma parte importante da minha vida.

São Paulo é uma lembrança que podia ser amarga, mas que no fundo me dá muita satisfação. Eu me orgulho demais de saber que meus amigos chegam aqui para horas de trabalho e eu posso proporciona momentos de descontração em meio ao caos da cidade. Em sete anos aqui, com exceção da Chris – que me trocou por BH – e da Lu, todos os meus amigos cariocas vieram me visitar. E até minha amiga brasiliense Dri e minha amiga mineira Dê também vieram. Ou seja, a prova de que a amizade não tem distância.

Quando eu sai do Rio, o mais difícil foi a separação dos meus amigos. Eu nunca imaginei ficar longe deles, porque para mim essas pessoas sempre foram essenciais na minha vida. Como viver sem as baladas com a Lu e a Nilda, as conversas com o Marco e a Clau, os jantares com a Cida, as festas com a Dani, a Cinthia e a Chris, os almoços com a Luiza? Mais ainda temos os aniversários com a Danny, os famosos 'Jana in Rio', as lembranças de tantas coisas boas que deixamos para trás.

A praia sempre está lá, minha família também, até o crepe de chocolate com sorvete do Chez Minchou não mudou de lugar. Mas meus amigos mudaram, casaram, separaram, tiveram filhos, estão namorando, estão solteiros e passaram por situações que eu tive que acompanhar de longe. E é muito doloroso não estar por perto quando eles precisam. Mas, apesar de tudo, é sempre gratificante saber que a gente nunca se separou. E que algumas amizades são, mesmo, eternas.

Meus amigos são o melhor presente que ganhei nessa vida de filha única. São os irmãos que pude escolher para caminharem sempre comigo. São os amores que me acompanham desde o tempo que a gente nem lembra mais que estava junto. Maktub. Sempre esteve escrito.


André e Marcos, amei as noites paulistanas com sotaque carioca.
Luiza, te espero de novo no fim do mês.


Janaina Pereira

terça-feira, maio 06, 2008

De braços abertos



É muito bom ver as pessoas abertas às novas possibilidades, a um novo jeito de olhar a vida. É importante a gente se permitir conhecer novos mundos, novos lugares, novas pessoas. Por isso eu adoro viajar.

Quando viajo, gosto de aproveitar ao máximo cada ambiente novo. A gastronomia – imprescindível para conhecer uma nova cultura – é um ponto alto. É bom ver a vida por outro ângulo, derrubar preconceitos, descobrir que a gente pode se divertir onde menos se espera.

A vida está cheia de desafios. E com os desafios, descobrimos que a gente pode ser mais e melhor do que imaginávamos. Pena que nem todo mundo se permite essas descobertas.

Adoro pessoas que estão dispostas a aproveitar as oportunidades que a vida oferece. Adoro pessoas divertidas e que me divertem.




Janaina Pereira

segunda-feira, maio 05, 2008

Homem Primata


O caso da austríaca aprisionada por 24 anos pelo pai parece chocante em pleno século XXI. Mas, na verdade, é só mais uma prova de que o homem é um bicho esquisito, e sim, é apenas um animal, A`S vezes racional, mas quase sempre passional.

Imaginem o que é viver 24 anos em um porão, snedo estuprada pelo pai, parindo sete filhos dele, sem ver a luz do sol e criando os filhos sem nenhuma esperança de futuro? Não dá para imaginar. Não dá se quer para entender isso.

O pai/avô não é louco, nem doente. É um homem com má índole, perverso. Prisão perpétua não vai pagar o que ele fez. Pena de morte? Não sei, não acho que a morte resolva os problemas. Na verdade acho que nenhuma punição a ele vai mudar o que ele fez.

Ainda bem que essa história foi descoberta e existe uma esperança de vida para a mulher e seus filhos. Mesmo que seja uma vida traumática, mas que seja uma vida e não a sentença de morte que eles foram condenados sem defesa.

E ainda dizem que o homem é um ser racional. Que nada. O homem sempre será um primata.


Janaina Pereira

sexta-feira, maio 02, 2008

Um dia frio



Como diz o Djavan, "um dia frio, um bom lugar para ler um livro, e o pensamento lá em você".

Pois é. Chove chuva, chove sem párar. Por essas coisas da vida, sou obrigada a passar o feriado em São Paulo – trabalhando e estudando. Mas no Rio também chove, então... estamos na mesma. Meu corpo – cansado e com faringite – está aqui, mas meu pensamento está lá.

Detesto essa sensação de não ter vivido algo, de ter ouvido conselhos e não ter arriscado mais. Aí vem outra música. "Devia ter arriscado mais, errado mais... " e, adiante, a mesma música diz que o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraída.

Eu sou muito seletiva e sempre faço as escolhas erradas, embora uma ou outra escolha eu nem tenha errado tanto. Por isso não quero mais escolher. Mas também não quero ser escolhida. Eu quero que o mundo pare só um pouquinho para eu poder descer. Não sei descrever o que estou sentindo... não é sentimento de perda, porque não se perde algo que nunca se teve. Nem é sentimento de derrota, porque não sou de disputar determinadas coisas nessa vida. Mas é a sensação – detestável – de não ter vivido o momento.

Porque é sempre melhor errar do que não arriscar.




Janaina Pereira

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