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sexta-feira, março 30, 2007

Lixo humano


Se me xingar, eu xingo de volta.
Se gritar, eu grito também.
Se menosprezar, vai ter revide.
Não levo desaforo para casa. Sou passional e não choro na hora do sufoco. Não admito que questionem minha competência, que falem mal da minha postura nem do meu trabalho.

Então fica combinado assim: não se mete comigo que eu não me meto com você. Mas quando me espalho, ninguém me junta.

Detesto gente arrogante, que se acha, estufa o peito e me olha com nariz empinado. Sabe qualquer olhar superior, do tipo: ‘eu sou foda?” Eu não aceito. Até tolero os arrogantes que realmente tem algo a dizer, mas arrogância sem conteúdo, não dá.

Tem gente que não tem onde cair morto e vive de aparências. Vive esbanjando o dinheiro que não tem e faz os outros acreditarem em sua superioridade. Mas, na verdade, não sabem fazer um ó sem copo.

Detesto gente que acredita ser a última bolacha do pacote. O biscoito mais recheado. A azeitona da empada. A ameixa do pudim. Todos terminam no mesmo lugar: o limbo. Porque o mundo dá voltas e por isso é redondo.

A melhor coisa do mundo é olhar na cara de um ser escroto e dizer: não preciso de você! Como é bom mandar um imbecil à merda, sem fazer o menor esforço para tentar ser política. Eu não aceito gente medíocre me dando ordens, e quem trabalha para pobre, trabalha para dois.

É por isso que eu digo que as pessoas nunca devem me irritar. Porque o resultado final é sempre desastroso. Eu sei quem eu sou, da onde vim, e o que tenho. Como diria minha avó, quem anda com porcos, farelo come. Então... não se una aos porcos.


Janaina Pereira

quarta-feira, março 28, 2007

Pé no peito



De tanto bater com o pé no peito dos outros, adquiri uma tal de fascite plantar.

Explico.

Sempre uso a expressão ‘chegar com pé no peito’, que significa ‘dar uma resposta dura, atravessada’. Eu adoro essa expressão, porque volta e meia enfio o pé no peito de alguém. As pessoas acham que sou doce, meiga, uma figura fofa. Quanta ilusão! Eu sou brava até o último fio de cabelo branco!!!!

Então fiquei pensado se a inflamação nos ligamentos do meu tornozelo, que resultaram numa dor insuportável no calcanhar e várias sessões de fisioterapia, não seriam resultado... de meter o pé no peito dos outros. Quem sabe, né?

Fiquei meio mal quando descobri a doença, mas agora estou mais otimista. As sessões de fisioterapia são ótimas – eu até durmo. Chato é não poder usar as minhas indefectíveis sandálias rasteiras.

Devo ser uma das poucas mulheres do mundo avessa a salto alto. Eu até uso, mas não para trabalhar! Como ando muito, evito saltos altos, ainda que curta plataforma e anabelas. Salto agulha só em ocasiões especialíssimas. Mas minha paixão são as sandálias baixas, algo bem riponga, porque minha alma é hippie. E agora eu tenho que usar... tênis!

Justo eu, adepta dos tênis coloridos, tenho que ceder aos modelitos genéricos estilo Nike. Que castigo! Mas isso é só uma fase. Em breve voltarei a usar meus tamancos, sandálias arrastando no chão e havaianas multicoloridas!

Então tá, vou parar temporariamente de chegar com o pé no peito os outros.

Mas não sou eu que faço isso deliberadamente. Os outros é que atiçam.


Janaina Pereira

segunda-feira, março 26, 2007

Casa


Estou com saudades de casa. É, isso às vezes acontece. Mal tenho tempo de ouvir a voz da mamãe. Mas não dá para viajar sempre que quero, e mesmo que pudesse, não iria.

‘Casa’ tem outro significado para mim. Num primeiro momento, as pessoas acham que vim para São Paulo com minha família. Quando descobrem que meus parentes não estão aqui, fazem aquela cara de espanto. Pois é.

Mamãe jamais sairá do Rio. Ela não gosta de São Paulo e não fazia parte dos meus planos que ela viesse pra cá comigo. Mas tudo seria diferente se meu pai estivesse vivo. Talvez eu nunca saísse do Rio. Talvez...

Estes dias foram de lembranças do passado. Notícias de gente que fez parte da minha vida quando eu morava no Rio. Passado que não volta. E talvez eu não queira que volte.

Quando eu tinha 20 anos, achava que sempre ia ter a Lagoa para me refugiar, o Mara para me acalmar e o céu azul do Rio para me proteger. Nada disso ficou.

Apesar de adorar viver em São Paulo, minha casa sempre será o Rio. Outro dia me disseram que manter o meu sotaque é sinal de muita personalidade.

É isso. Certas coisas eu não quero que mudem, e não vão mudar.

Estou com saudades de casa. Para os menos atentos, quando falo de casa, falo do Rio. Que é, foi e sempre será... meu verdadeiro lar.


Janaina Pereira

sábado, março 24, 2007

Alejandro Sant'Ander - Última Parte


Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)



Recorrendo mais uma vez à ficção cinematográfica, Neo, Morpheus e seus companheiros eram os vírus dentro da máquina, utilizando os próprios programas da Matrix para combatê-la. Como numa guerrilha, os vírus se movem rápido, atacam de surpresa, em pequenos grupos. A vitória final (desculpas aos que ainda não assistiram) somente acontece quando o herói consegue enxergá-la em todos seus códigos, tornando-se mais rápido, antecipando-se ao computador.

Passetti, no artigo já citado, entende que "a indústria deixou a superfície para se tornar sideral, na mesma intensidade que as comunicações no planeta se tornaram mais próximas e instantâneas, criando possibilidades para que, dentro da metrópole (...) aparecessem novas formas de resistências." O novo espaço para confrontos, de acordo com Passetti, fica estabelecido entre os hackers e programadores de vírus contra os controladores, os satélites e os programas de vigilância.

A pílula vermelha que Morpheus entrega a Neo é a senha para que o "súdito da telerrealidade" possa agir de maneira livre por meio da informática, sem assumir uma identificação oficial. Ele pode estar em qualquer parte e pode fazer sua voz chegar a qualquer um.

A primeira iniciativa de usar a própria arma da burguesia contra ela mesma foi quando o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) do México "lançou" sua página na Internet, expondo ao mundo, por meio de boletins diários, a situação nas selvas de Chiapas. Em pouco tempo o mundo abraçou sua causa, mesmo que a tenha esquecido depois. No entanto, é inegável que a militância digital foi e é, de extrema importância, principalmente na sociedade de controle. São dezenas de páginas que se multiplicam na WWW, ao mesmo tempo em que cresce o medo dos controladores e a cada dia são novas as tentativas de pensar em freios para o monstro que eles mesmos criaram.

Recusar a situação de súdito e entrar nesta batalha eletrônica é uma escolha. Pode-se, naturalmente, tomar a pílula azul e voltar para a passiva situação de escravo num mundo virtual, enganado por um bife enquanto sua energia é consumida, de forma sedutora, pelos controladores.

Desfazer-se do templo das imagens, livrar-se da sedução, ocupar-se do que é inaceitável, não acatar a historiografia oficial, recusar a versão dos vencedores, ser revolucionário nas pequenas atitudes é o primeiro passo da escolha da pílula vermelha.

sexta-feira, março 23, 2007

Alejandro Sant'Ander - Parte 2


Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)



"O controle da alma", na tese de Foucault, é feito de maneira tão sutil, que até o indivíduo que se julga contestador acaba envolvido pelo jogo. Alguns exemplos são claros. Quantos não defenderam a ação norte-americana no Iraque, na Etiópia, no Haiti e, mais recentemente, em Kosovo, erguendo a bandeira das minorias massacradas por um "ditador sanguinário"? A versão oficial, a história dos vencedores, conquista os corações e todos vão às ruas pedir a morte de Sadam, e de outros "inimigos número 1" e se esquecem dos interesses comerciais e políticos da potência americana. A cada rebelião na Febem os programas de debates e as segundas páginas dos jornais se enchem de debates sobre o que fazer com os menores. Do extermínio às prisões agrícolas não há uma voz que se levante para discutir a validade do sistema carcerário, do sistema penal, do sistema judiciário, não quem discuta as condições materiais que levam, como dizia Marx, à lupemproletarização.

A TV tem o papel do grande mediador, que leva todos ao consenso por meio da sedução. Sai de cena a repressão física explícita como controle e entram as trilhas sonoras, as imagens, o pássaro sujo de petróleo, a baleia encalhada, os números de telefone para doar cinco, dez, trinta reais. Regis Debray assinala que o Estado sedutor vibra por meio de todas as suas antenas com os acontecimentos felizes e infelizes da aldeia global. "Ao se comover cada vez mais e ao se engajar cada vez menos, acasalando a excitação visual com a apatia moral, ele pegou o mundialismo passivo" .

A preocupação ecológica excessiva e a filantropia exagerada causadas pelo desespero frente ao Estado incapaz de resolver a miséria, distancia o indivíduo do dever político de contestar, de quebrar com a ordem, de querer trocar um sistema pelo outro, de exigir um novo mundo. Contestação, protesto, revolução são palavras quase que proibidas, vistas como parte de uma espécie de dicionário de dinossauros.

No entanto, novamente como no filme, a Matrix deve parecer perfeita. E os enigmáticos agentes, que na produção cinematográfica aparecem na caricatura de burocratas de estado, estão para manter a ordem, detectar novos vírus e aplicar programas eficientes de extermínio. Os agentes na sociedade de controle abrem as devidas brechas nos seus muros para a participação. Aqui entram as páginas policiais, os cadernos de geral, as reportagens sobre a fome na África, os documentários sobre os sem-terra, as entrevistas com as vítimas da guerra, quase sempre acompanhadas do 0800 com o número da conta de um banco onde o indivíduo indignado pode contribuir com sua parte para mudar o mundo ou simplesmente manifestar sua revolta.

Ligando para o apresentador da TV, mandando uma carta para o jornal ou pintando a cara o súdito veste a fantasia de contestador, geralmente filiado a uma ONG. O governo faz sondagens e descobre onde a população tem demandas e faz políticas específicas para cada uma. Multiplicam-se os direitos sem multiplicar iniciativas de acabar com estas demandas. Assim, o pacote de açúcar depositado na pilha de donativos faz o sujeito virar as costas e voltar para casa alegre por ter participado e contribuído com sua parte.

Não é o caso, evidentemente, de desmerecer por completo as campanhas de fraternidade. O próprio sociólogo Betinho, idealizador da Ação pela Cidadania, a mais famosa das campanhas de arrecadação de alimento nos últimos anos, dizia que tudo aquilo era um paliativo, uma etapa inicial e de emergência para uma situação desesperadora. Porém, a multiplicação dos "criança esperança" e "SOS" não trazem no contexto a crítica ao capitalismo, ao sistema neoliberal que, por definição, pretende a livre concorrência entre os indivíduos e o sucesso para o mais forte. É claro que para quem estava desempregado passar a ganhar R$ 150,00 por mês em trabalhos pesados como de limpeza das estradas de ferro é um grande avanço. Mas e as demais condições para esta população sobreviver? Lazer, educação, moradia, saúde e todas as outra famosas metas sociais que o capitalismo promete atingir? É como se nivelasse por baixo a exigência.

Novamente aqui, ficção e realidade (realidade?) se confundem. Um dos personagens pode comer um bife suculento num belo restaurante mesmo sabendo que é falso, criação da Matrix, e que continua sendo um escravo, que continua sendo uma pilha. Da mesma forma que contestador que se satisfaz quando a Coca-Cola doa R$ 100 mil para a campanha da fraternidade. Continua o mesmo capitalismo, continua o mesmo neoliberalismo, continua a mesma exploração do homem pelo homem.

E onde estão as resistências? No Manifesto do Partido Comunista, Marx afirma que "a burguesia produz seus próprios coveiros". Ou seja, o próprio desenvolvimento da burguesia mina o terreno em que ela assentou seu regime de produção. Para Marx, os adversários da burguesia deveriam usar as próprias armas da burguesia na luta. Portanto, a resistência deve acontecer no próprio seio do inimigo.


Amanhã: última parte de Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)

quinta-feira, março 22, 2007

Alejandro Sant’Ander


Quando o pequeno Alejandro apareceu em minha vida, nunca imaginei que fossemos ficar tão próximos. Menino de palavras divertidas e piadas fáceis, o jovem Sant’Ander é uma das mais dóceis figuras que conheço. Assim como eu, é fã de cinema, e por isso pedi que ele escrevesse para este blog.

Aproveitem os 3 capítulos da abordagem de meu amigo de fé e irmão camarada Alejandro Sant’Ander sobre um dos filmes mais cultuados dos últimos tempos: “Matrix”.




"E vejam como são as coisas porque, para que nos vissem, tivemos de cobrir nosso rosto; para que nos nomeassem, negamos o nome; apostamos o presente para ter um futuro; e para viver... morremos." Subcomandante Marcos




Por Alejandro Sant'Ander



Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)


Parte 1


Ao tomar a pílula vermelha, o personagem Neo do filme Matrix (EUA, 1999) fez uma escolha. Se tomasse a pílula, azul ele continuaria a viver no mundo tal como o conhecia, com todas as imagens que lhe ocupavam a vida. Poderia gostar ou não delas, mas eram as imagens de um universo, no mínimo conhecido. No entanto, se sua escolha fosse pela pílula vermelha, não haveria volta. Todo o mundo que conhecia iria se esfarelar, porque a verdade seria revelada e o personagem poderia não gostar. E de fato, a pílula vermelha era um programa que retirava Neo da sua condição de escravo das máquinas, pilha de abastecimento de energia num mundo de escravos e seria transportado até uma nave que vagava pelos porões abandonados pelo grande computador, a Matrix, que adquirira vida própria. Ele passaria a ser a resistência, uma espécie de vírus combatido por agentes eficazes na produção. Sua entrada no mundo virtual, no mundo da Matrix seria por meio de ligações telefônicas e sua sobrevivência estava ligada ao treinamento em programas e software que fosse aprendendo.

A ficção ultrapassa o limite da tela do cinema quando se observa o enredo não como se ensinam a ver, mas como o revolucionário o enxerga. As coincidências deixam de ser meras coincidências e levam ao alerta. Basta raciocinar.

Na sociedade de controle do século XX, mais do que minar a energia política do indivíduo gastando sua energia mecânica, a preocupação está na ocupação de corpo e mente ao mesmo tempo. Um "mundo cor-de-rosa" é pintado nas telas do cinema e da TV, nas páginas dos jornais (ainda que com os espaços para o sangue e para o pobre, que faz parte desta falsa naturalidade, como se verá), nas placas de publicidade, nas comemorações esportivas, nos feriados e nas vitrines de supermercados. Edson Passeti, no artigo “Governamentalização do Estado e Democracia Midiática” analisa que "não se pretende minar as energias políticas do corpo, mas mostrar que a política no Estado é democrática e segura. Não há por que se preocupar com política: ela é o bem que garante segurança ao indivíduo e a produtividade com eficiência deste trabalhador disciplinado e controlado. O mundo dos sujeitos sujeitados permanece inalterado".

A discussão política é tema para os técnicos. Por este raciocínio, quem deve se preocupar com saúde, habitação, distribuição de renda é o governo, o cidadão deve discutir os casos amorosos de astros da TV, a partida de futebol, os litros de silicone das modelos, a virgindade das cantoras. É o mundo virtual, como aquele criado pela Matrix. E cada um recebe seu programa, seu banco de dados com o qual deve participar sem saber que está sendo programado.


Amanhã: segunda parte de Quando se escolhe a pílula vermelha
(dos vírus e outras resistências)

terça-feira, março 20, 2007

Carioquices


Existem preconceitos para dar e vender no Brasil. O bairrismo é um deles. Volta e meia sou obrigada a aturar algum tipo de gracinha a respeito. Além de ser mulher – fato que, por si só, já me leva a ser vítima natural do preconceito - , sou carioca morando em São Paulo. Ferrou.

Quem vem do Rio, por si só, é diferente. Não é bairrismo: é fato. As pessoas que nascem perto do mar são mais alegres, soltas, alto-astral. Eu não seria quem eu sou se não tivesse nascido lá. O Rio é uma cidade especial, e não venham com aquele papo de que é violenta. São Paulo também é. A geografia do Rio, tão favorável à beleza, também ajuda a violência. Mas também não é sobre isso que quero falar.

Carioca tem umas manias estranhas, e é por isso que falar hoje. Então se você, preconceituoso de plantão, que vive xeretando a vida alheia, está incomodado com meu sotaque e minha personalidade, eu só lamento. Sou carioca cm orgulho e cheia de manias carioquíssimas. Eu como biscoito e não bolacha. Porque não há nada mais paulista do que comer bolacha. Então se você se acha a última bolacha do pacote, eu sou o biscoito mais recheado e fim de papo.

No Rio a gente come pão francês e bisnaga – e, vamos combinar, bisnaga é charmosíssima falada por uma carioca. Bebemos uma cerva bem gelada – breja, francamente, é coisa de paulista. Outras tradições são a média tradicional, o pingado nosso de cada dia, o pão doce saboroso, os docinhos gostosos – pense agora numa carioca falando ‘docinhos gostosos’ com os “esses” soando como bossa-nova em seus ouvidos.

O Rio é uma delícia de cidade, vista com olhar cheio de apetite para a televisão de cachorro – aquele galeto na brasa não pode faltar jamais. Domingo é dia de galeto de padaria. Isso lembra muito minha infância. E a pizza com catchup ? O clássico dos clássicos. Adoro!!!!! E os sandubas ( porque lanche é coisa de paulista também) ?! Cheesburger. Sanduíche de chester com bastante mostarda e tomate. Como você leu esta frase ? Deixa eu explicar: em carioquês a gente fala ‘sanduixxxi di xxxester com baxxxtante muxxxxtarda e tumate’. Fala sério, é ou não é uma melodia para os ouvidos este ‘sutaque’?

O Rio tem biscoito globo – quem come, não esquece jamais. Tem salsichão com molho, banana frita com sorvete de canela e crepe de chocolate do Chez Minchou. O Rio tem sacolé – porque paulista chama de gelinho? E o Rio tem feijão preto – porque paulista insiste em chamar o feijão mulatinho de carioquinha se a gente nem come esse feijão lá?

O Rio tem totó – como se chama esse jogo em São Paulo? Tem zerinho ou um – em São Paulo é dois ou um???? Tem sinal, e não farol. Tem roleta, e não catraca. Tem trocador, e não cobrador. Tem carteira de motorista, e não carta de motorista.

O Rio é. São Paulo a letra é ‘ê’. O Rio é de Janeiro. Então tudo bem, São Paulo é o ano inteiro.



Janaina Pereira

sábado, março 17, 2007

Caprichos


Era para ser um dia feliz, mas não, não é. Até me perguntaram se minha mãe estava orgulhosa de mim... mas ela não está. Ela está triste, porque eu liguei chorando, porque eu estou aflita. Ligada no 220 volts a semana toda, estou atropelando as palavras para não ser atropelada.

Os elogios são para os outros, o reconhecimento, as dádivas... mas eu só queria um agradecimento. Desnecessário.

Os caminhos tortuosos e esquisitos me levaram para onde eu não queria, e, por algum motivo, eu precisei ser testada. E não é que sou boa mesmo? Mas também sou boba. Isso é o que me deixa aflita, o que me atormenta, mas o que me faz refletir.

Neste domingo eu vou até ver televisão. Porque são as pequenas coisas que se tornam eternas. E os grandes momentos surgem assim... do nada... caprichados.


Janaina Pereira

quinta-feira, março 15, 2007

Lied Vom Kindsein de Peter Handke


"Quando a criança era criança
e balançava os braços sem saber
imaginava que o riacho fosse rio
e também o mar fosse rio, embora
pudesse ser mar, mas não sabia
que tudo não passava de uma pequena
poça de chuva, quando por acaso chovia.

Quando a criança era criança
a vida era uma só e ela não tinha
nem opiniões nem hábitos, desconhecia
as ruas e não fazia poses para fotos, nem
erguia a cabeça contra o céu aberto -
o universo era uma casa de um andar
e um homem tomando banho no quintal.

Como no parto, as mulheres
acabam com suas vidas, não é possível
esquecer o pôr-de-sol - e os tempos
e os acontecimentos que passaram
são fluidos. Há colinas
não muito altas - chega um avião
e as árvores se encrespam contra o ruído.

O guarda-chuva está encharcado
e já não protege - o homem se resigna
e enfrenta a chuva, os livros antigos
exorcisam o pensamento e o calor
das mãos diante da imagem imóvel
evoca a música sacra e o enlevo
de se sentir, como as crianças, perpétuo.

Vou contar
sobre o contador de histórias
que revelava o tempo ás criancinhas :
na letargia dessas histórias,
como poderei deixar de estar perdido,
mesmo louco e sozinho? Meu pai
foi um pai sem lágrimas e tristeza.

Você está livre porque esqueceram de você
e era tempo desta pergunta: porque eu sou eu
e não você? Estou aqui e não lá
sinto e vejo e ninguém me vê - e isto
é uma simples miragem do mundo anterior
ou posterior talvez, e quando
não serei mais quem eu sou.

Os deuses se cansaram
de sentar-se no lugar vazio
sem ninguém ao lado, precisam
excitar-se pelos contornos do corpo
ao invés do apelo aos desvios da alma,
do entusiasmo pelo mal, exercitar os pés nús
em outra carne expectante, á distância.

A moça triste, sozinha, flutuando no ar,
para voar no trapézio com as asas de um anjo
para uma grande multidão - mas não conseguia
porque suas asas eram de galinhas, e esse sonho
não era próprio de anjos, mas de trapezista caindo
sem nenhum público para aplaudir
como é sempre na vida.

Na última noite
não vem ninguém para ver o espetáculo
as asas de galinhas voando pelo ar adentro:
Só o tempo cura. Mas, se não fôr doença?
Alguém está pairando. "- Todos os que passam
perdem o fôlego e ficaram em minha cabeça -
e não houve uma só palavra de carinho
para encher meu coração e o som do acordeon.
O que prende a solidão que segura as asas
é o olhar do pequeno animal perdido na floresta.
Não devo chorar - o vazio
preenche tudo quando se está sozinha -
ah, eu queria fazer amor, mesmo que fosse
com uma aparição - quando se é estrangeiro
vale qualquer pele, qualquer corpo.
qualquer indício de que se pode viver.

As cores, o neon no céu escuro: os homens
não devem olhar - e uma onda de amor
vem perturbar-me
e ao meu desejo de amar - morrer
não é tão simples:
não basta cair do trapézio.

Os olhos das crianças,
as primeiras gôtas de chuva
o primeiro sol depois da chuva
as pedras brancas no leito seco do rio
um jovem dorso nu ao teu lado na cama
a carne jovem esperando.

Meu pai.

As esferas brilhantes e a luz do desejo
e, depois da passagem dos séculos,
as impertinências do futuro
cruzando o pântano - ninguém segue
a inspiração da paz. Devo
desistir agora ? Não encontro mais a praça
que era aqui - suas grandes árvores,
meu pai, meus amigos mortos, tenho
de esperar que ela passe outra vez
mesmo mais estreita e em ruínas, mesmo
sem ter havido guerras e bandeiras e tambores
não posso desistir de encontrá-la: é como
fugir da infância, aqui, onde ficaram
meus filhos pequenos que fugiram de mim.

Porque não estou ainda morto
não irei sair daqui - disfarço-me
em arbustos e em grandes árvores
para procurá-los entoando os cantos de guerra
e as canções de ninar - quanto tempo
se passou? Perpassa-me a ternura
de um quarteto barroco . A igreja.

Esta mulher em cima das ruínas
(quantas ruínas!). Quando foi?
Disse o general para a prostituta:
"- Se eu não te possuisse sentiria falta
da ausência do prazer, mesmo
sem qualquer amor, como o peso
de duas maçãs em cada mão".

Quando subias as montanhas
indo da sombra para o sol
um barco flutuava no lago,
esse grande lago dos ursos
entre as casas das crianças
e os olhos azúis da infância,
como o último salto para o infinito.
Providence. A mesa foi posta
entre as árvores
para o almoço no horizonte:
há uma mulher que não chega e um homem
que já não mais espera o baile.

Os clarins ao longe, como nas caçadas,
convocam para a festa.
Apenas se inicia outra vez
o caminho dos séculos,
tão íntimo como o tronco
do velho oitizeiro, contudo
a paz não te deixa sossegar:
onde está a velha praça
e as ruas estreitas de pedras pontudas
segurando teus passos
sob o velho guarda-chuva de teu pai,
onde o menino era menino
e o coração estava aberto
para todos os desafios? Onde
esconderam esse coração, e onde
se esconderam as crianças?
A terra de ninguém se disfarça com arbustos
e obuzes, e os jornais
são líderes sem escrúpulos, a môsca
presa no âmbar liquefeito
que só escapa
com a senha da alma cega e conquistada
mais cedo ou mais tarde.

Esta mulher conquistou minhas ruínas, as mulheres
aliás, apenas sobrevivem em nossas ruínas
porque morremos muito antes - o amarelo
e sinônimo da morte, que é a côr dos girassóis
que se queimam na vaidade da luz. "- Cinza -
disse o general para a prostituta - não é côr".
Por que? - respondeu ela - Não sou um anjo".
Não necessito de proteção. O circo
é muito triste para quem não é criança:
os palhaços são patéticos.
Quando a criança era criança
não sabia o que era couve-flor, espadas
e o fogo de Deus ou uma banda taurina,
mas gostava muito da banda do circo.

Ao som da banda, os saltimbancos da nostalgia
as flôres sem côr na ausência do céu
as galinhas com os arcos
e a mulher que chora sem amor
com a carne exposta, a alma sangrando
sem mais esperanças. "Eu queria
eu queria muito fazer amor, uma vez so que fosse".

Passaram-se as manhãs e as noites
e o rio encontrara seu leito para dormir
e então as abelhas perderam as asas e vieram as nuvens
os javalis e os gatos selvagens povoar o fogo.

Aprendemos a falar através das fogueiras
e quando a roda se quebrou houve uma fuga
para começar a história, um monólogo
de anjos intermináveis, eis que somos muito poucos.
O que nos ensina de verdade é olhar para baixo - para o alto
são vertigens e plumas, o rio primitivo
e as gôtas de chuva que secam ainda entre as nuvens.

Nem todos vêem, desde a infância,
os desfiladeiros e as portas do céu,
o sol e a estrela com seus pequeninos pés
com que andam no infinito. Esses
não conhecem nem rios nem lagos mágicos
e assim desperdiçam a vida.

As imagens geométricas são apenas
reflexos da luz nas câmeras, nada
de coisas vivas, como fogo, fumaça e morte -
a pobre trapezista
vai voar pela última vez
na noite de lua cheia, graciosamente
em movimentos de dança aérea, em tons de amarelo
com medo da morte e da solidão.

Não é essencial ser bonita:
diante do espelho todos estão nus
com a alma á mostra
e não há beleza suportável
diante dos gestos teatrais da mágica.

Este é o último espetáculo, o último
orgasmo com os ombros colados no trapézio
na solidão do ar, como um pássaro sem asas
caindo para a morte, agarrando-se nas cordas
rindo-se da morte. É pior sem o amor.
Figuras caóticas no baile dos perdidos
a música banal, mas alucinada, imagens
desconexas descentradas da geometria,
a mão que te aperta por dentro os órgãos vitais
e a pergunta da criança, quando já não era mais criança,
"- Quem me protege e o que existe
em cima do sol e cortejando as estrelas?
E o anjo se transforma em criança
e faz as mesmas perguntas
sem acreditar em Deus e seu último espetáculo:
a solidão é como um pássaro
sorrindo para a morte
e o rio tem apenas duas margens, e quase nunca
quase nunca se está na definitiva -
também o ar tem suas margens, como o céu,
os corações, a solidão, os elementos, as crianças,
o trapézio no ar, o amarelo, as plantas secas,
o orgasmo, a decisão de morrer ou de viver,
olhar de frente, o ciclo das framboesas,
a tristeza das prostitutas e dos generais
e todas as coisas que já foram negadas ou explicadas -
e jamais se poderá
mudar de margem, nem mesmo os anjos,
com suas asas e seu mistério insolúvel
que instruem as crianças e os muito velhos,
poderão mudar de lado, sair
de cada cidade procurando outra menor,
as framboesas e as maçãs nascendo
de suas mãos, esperando a primeira chuva
- que até agora ainda aguarda -
e ver a mulher por fim encontrar o amor,
uma eternidade em deleite, mais embriagante
que o vôo no trapézio e uma grande multidão,
como quando a criança era criança e pensava
que o riacho era rio e o rio era mar . E o retrato.

Foi quando
arremessou um lança de madeira contra o velho oitizeiro
- que nele ainda balança até hoje - e as suas asas
foram em busca do destino
que era puramente humano
mas jamais fôra um sonho humano
mesmo com todas as suas cores possíveis.

"Quando a criança era criança
andava balançando os braços
e não sabia que era criança
queria que o riacho fôsse rio
que o rio fosse torrente, e poça d'agua, mar
e tudo era cheio de vida
e a vida era uma só".

Quando a criança deixou de ser criança
o mar já se transforma em rio
e o rio em poças e as poças em gotas d'agua
e as gotas d'agua no vento seco do deserto
e desapareceram as asas e houve o regresso
ao único átomo e suas derradeiras partículas
e a criancinha loura então aprendeu a dançar.

E quando a criança não era mais criança
ficou imóvel com os braços e o sorriso
e não acreditou mais que o riacho era rio
e o rio torrente e a torrente era o mar
e viu que nem tudo era cheio de vida - e também
que já tinha hábitos e opiniões e sabia dançar
e a vida, enfrentando-a, não era uma só
e já não havia mais nem asas nem a magia do tempo.

terça-feira, março 13, 2007

Pílulas


O Aerosmith vem aí. Espero que eles cantem "Jane´s got a gun".


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Calor, calor e calor. São Paulo está quase igual ao Rio. Insuportavelmente quente.


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Rever "Asas do Desejo" tantos anos depois soa estranho. O filme é lento, mas tem diálogos tão lindos... e agora que descobri o poema, já era!

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Como alguém pode achar graça em "Cidade dos Anjos", o remake hollywoodiano de "Asas do Desejo"? Nunca gostei do filme, acho piegas e o final apelativo. É estilo "Titanic", aquele filme com final triste para todo mundo se comover e chorar. E a Meggie Ryan não me convece jamais.

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Por que eu sou eu e não você?



Janaina Pereira

domingo, março 11, 2007

Gi


Existem amigos e amigos.
Amigos de ontem. De hoje. De sempre.
Amigos que vem. Que vão. Que ficam.
Pessoas que deixam boas lembranças mas desaparecem com o tempo.
Outras que nem o tempo consegue mudar.

Existem os amigos do Rio. Os amigos de São Paulo. Os amigos do mundo.
Existem aqueles que estão presentes nas alegrias. Outros, nas tristezas. E alguns nas alegrias e nas tristezas.

Existem amigos e amigos.
E existe a Gi.

A mais paciente de todas as minhas amigas.

Feliz aniversário, querida. Adoro você.


Janaina Pereira

quinta-feira, março 08, 2007

Nós

(para ler ouvindo “Mulheres de Atenas”, do Chico Buarque)

Para a Márcia – Pereira e Alegro.
Para a Lenira – avó e prima.
Para a Luiza e a Isabela.
Para a Val, a Camila e a Mari. A Brisa, a Guilene, a Samanta, a Karina, a Elisa, a Diana e a Priscila. A Bárbara, a Lísia e a Ivy. A Carlinha e a Sanny. A Janis e a Danielly.
Para as Anas: Cristina e Paula. Para a Aninha. Para a Ana Maria Ziccardi.
Para a Chris. Para a Cristiane Gonçalves e a Cristiane Taveira.
Para a Elis.
Para a Fernanda e a Fernandinha.
Para a Lu, a Nilda, a Norma, a Cida e a Carmen.
Para a Ju Farias e a Ju Corbellini.
Para a Sueli e a Adriana.
Para a Gi.
Para a Simone Carioca e a Simone Paulista.
Para a Cíntia e a Cinthia.
Para a Dani e a Danny.
Para a Silvia e a Silvia.
Para a Cleide, a Elaine, a Blanca, a Ivone e a Cibele.
Para a Parvati.
Para a Kelly.
Para a Vera e a Fabi.
Para a Patrícia – Kay e Pappacena.
Para a Ro, a Dulce, a Marta e a Jaira.

Para as Danieles e Danielas; Marianas e Marianes, Helenas, Suzanas, Luanas, Lucianes e Lucianas, Tatianas e Janas.



Mulheres de Atenas

(Chico Buarque)


Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas se perfumam

Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas

Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas

E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas, obcenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas

Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho

De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços

Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não tem gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas

Mirem-se daquelas mulheres
Se conformam e se recolhem
mas suas novenas serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas



Janaina Pereira

segunda-feira, março 05, 2007

Chatice


Se há uma coisa que detesto nessa vida é gente fraca. Gente que fala e não faz, que diz que vai fazer e acontecer, e na hora H... nada!

E aqueles que pensam que vão se impor? Que falam em alto e bom som que não vão permitir isso ou aquilo, e no momento que precisam tomar uma atitude, se escondem atrás da moita! Eu detesto gente assim.

Gente fraca. O mundo está cheio delas. Mas, curiosamente, hoje em dia os homens são muito mais fracos que as mulheres. Obedecem, como cordeirinhos... aceitam tudo calados. Como é chato ter que lidar com homem assim! Que não tem opinião própria, que segue o caminho dos outros, que atura calado para não brigar, que se recusa a impor seu ponto-de-vista.

Eu detesto gente fraca. Essas pessoas merecem o limbo, a sarjeta, a desilusão. São perdidas no tempo e no espaço, e não vão chegar a lugar nenhum. Ou melhor, já chegaram o fundo do poço, disfarçado numa felicidade nebulosa.


Janaina Pereira

quinta-feira, março 01, 2007

Éramos quatro


Estamos ligados a seis pessoas nesse mundo. Essa é a teoria dos seis graus de separação – e eu já escrevi sobre ela aqui. Essa teoria vale para o orkut. E pela primeira vez eu vi o orkut como algo positivo. Faz poucos dias que entrei lá e vi um recado que me deixou boquiaberta. Uma amiga de infância, a Cris, me achou.

Tudo que escrevo sobre o Rio tem muito significado para meus amigos de lá, que me conhecem faz tempo. O que escrevo de Sampa, quem é daqui sabe como é. Mas o que falo da minha infância não é referência para ninguém. Desde os 17 anos eu perdi contato com minhas amigas de infância. E, para minha surpresa, uma delas, me localizou.

Eu, a Aninha, a Cris e a Andréa éramos inseparáveis. Quando terminamos a oitava série, a gente se separou. Aninha e Andréa foram para um colégio, eu para outro e a Cris continuou no mesmo em que fizemos o ginásio. Estudamos juntas dos 10 aos 14 anos. Mantivemos contato ainda no primeiro ano do segundo grau – juramos que íamos nos ver uma vez por mês. Isso não aconteceu. Lembro que a última vez que falei com a Cris ela ia fazer pedagogia na UERJ. Estávamos caminhando para a maioridade e perdemos o contato.

Mas o tempo não apagou as lembranças. Lembro do bolo de cenoura com chocolate da mãe da Cris. Da Aninha sendo carregada nos braços pela mãe porque tinha quebrado o fêmur e não podia andar. Da paixão da Andréa pelo Stallone. Do primeiro filme que vi em vídeo, na casa da Cris... era “Top Gun” com o Tom Cruise!!!

Nessa época eu usava aparelho nos dentes. Depois tirei o aparelho e coloquei óculos – aliás, eu, Aninha e Cris colocamos óculos no mesmo ano. Foram elas que acompanharam o momento mais difícil da minha vida: os dois derrames do meu pai e seu conseqüente falecimento. E quando eu fiz 15 anos, meu pai não estava lá para me levar para a missa que ele tanto queria que eu participasse.... e foi o seu Carlos, o pai da Cris, quem me levou de carro.

Por tudo isso, quando vi o recado da Cris, fiquei muito emocionada. Ela me reconheceu mesmo sem minha foto estar no orkut: apenas pelas características do meu perfil. Ou seja, continuo geniosa, marrenta e passional. E, como ela mesmo disse, leonina – algo que ela nunca esqueceu!

Nisso tudo o que me emociona é saber que minha essência não mudou, apesar das dificuldades, das dores, das tristezas, das angústias e decepções. Saber que 22 anos depois do nosso primeiro contato eu permaneci a mesma pessoa. Saber que alguém lembra demim com tanto carinho. Isso me deixa orgulhosa e certa de que eu segui o caminho correto.

Eu nunca acreditei em acaso, nem em coincidência. Então, por algum motivo, Deus colocou a Cris – e a Aninha também, já que a Cris a achou antes de me localizar – novamente em meu caminho.

Abençoados sejam aqueles que fazem o bem e sabem plantar a semente da amizade. Ela pode ficar um tempo sem colher frutos. Mas nunca morre.


Janaina Pereira

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