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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Enfim... the Oscar goes to ... Martin Scorsese


Ufa... até que enfim! A Academia de Artes e Ciências de Hollywood resolveu esquecer todos esses anos em que esnobou Martin Scorsese, um dos maiores diretores norte-americanos de todos os tempos, e resolveu conceder a esse nova-iorquino acelerado o Oscar de melhor diretor. Assim como já aconteceu com Steven Spielberg e Clint Eastwood, Scorsese teve sua noite de redenção.

A festa da 79ª edição do Oscar reservou algumas surpresas. O mexicano “O Labirinto do Fauno”, de Guillermo Del Toro, ganhou três dos seis prêmios a que concorria, mas não levou a estatueta na categoria em que era favorito: a de melhor filme estrangeiro – perdeu para o alemão “A vida dos outros”, de Florian Henckel von Donnersmarck.

Dois filmes repletos de indicações decepcionaram na abertura dos envelopes: “Babel”, do mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu, e “A Rainha”, do inglês Stephen Frears, ficaram com um Oscar cada – o argentino Gustavo Santaolalla ganhou pela trilha sonora de “Babel”, e a favorita Helen Mirren venceu como melhor atriz por “A Rainha”. Mas estava na cara que Iñarritu não ia vencer: o diretor estava sentado em local pouco privilegiado – os favoritos sempre sentam na frente - até Nicole Kidman, que não concorria a nada, estava mais perto do palco que ele. Além disso, o astro de “Babel”, Brad Pitt, não deu às caras na festa – numa clara demonstração de insatisfação por não ter sido indicado.

O filme mais indicado da noite, “Dreamgirls”, de Bill Condon, que concorria a oito Oscar, ganhou apenas dois: melhor som e melhor atriz coadjuvante para a novata Jennifer Hudson.
Forrest Whitaker confirmou o favoritismo e levou o prêmio de melhor ator por sua atuação em “O Rei da Escócia”, sendo aplaudido de pé pelo seu principal concorrente na categoria, o elegantíssimo Leonardo DiCaprio.

Entre os roteiros, os favoritos também venceram: William Monahan ganhou pela adaptação de “Os Infiltrados” e Michael Arndt venceu pela originalidade de “Pequena Miss Sunshine”. A comédia independente, que concorria a quatro prêmios, ainda levou mais um: o veterano Alan Arkin ganhou como ator coadjuvante.

Mas a noite era mesmo de Scorsese. O diretor de clássicos como “Taxi Driver”, “Touro Indomável” e “Os bons companheiros” ganhou o duelo contra Clint Eastwood – para quem perdeu a estatueta de melhor diretor em 2005. E enquanto o filme de Eastwood, “Cartas de Iwo Jima” terminou a noite com apenas um prêmio (efeitos sonoros), o filme de Scorsese ganhou quatro dos cinco Oscar a que concorria: diretor, roteiro adaptado, montagem e filme, e o diretor ainda recebeu seu Oscar das mãos de Francis Ford Coppolla, Steven Spielberg e George Lucas.

Apesar de “Os Infiltrados” não ser o melhor filme de Martin Scorsese, não há dúvida que é melhor do que “Babel” – mas não tão bom quanto “Pequena Miss Sunshine”. Aliás, a melhor cena da noite veio da fofa da Abigail Beskin – a estrelinha de “Pequena Miss Sunshine” – e sua cara de tédio durante a festa. Essa menina sabe das coisas.


Janaina Pereira

domingo, fevereiro 25, 2007

Deus salve a Rainha


Relutei bastante para ver “A Rainha” (The Queen, Reino Unido/ França/ Itália, 2006), o novo filme de Stephen Frears (“Ligações Perigosas”, “Herói por Acidente” e “Alta Fidelidade”). Nunca fui fã de Elizabeth II e lembro bem como foi chocante ver o descaso da família real na época da morte da Princesa Diana – uma das mulheres que mais admiro neste mundo, ao lado de Jackie Kennedy Onassis. E foi por causa de Lady Di que fui ver “A Rainha”, afinal, o filme gira em torno das reações de Sua Majestade após a trágica morte da princesa do povo. O que posso dizer do filme? Deus salve a Rainha, porque a Rainha é Helen Mirren.

O excepcional roteiro de Peter Morgan narra a semana mais difícil da história da realeza britânica, em 1997. Após a morte da princesa Diana, a rainha da Inglaterra, Elizabeth II (Helen Mirren, em atuação impecável), se vê diante de um impasse: ela terá de lutar contra velhas tradições reais se não quiser perder o carinho de seu povo. O primeiro-ministro Tony Blair (o ótimo Michael Sheen), recém-eleito na época da tragédia, terá a difícil missão de mudar a visão da rainha, que não aceita as divergentes e modernas opiniões de Blair, principalmente em relação às providências que deve tomar para o funeral de Lady Di.

O filme impressiona pelo cuidado com a fotografia e o figurino, a direção cheia de nuances e sem pieguices, e, claro, pela excelente montagem em que as cenas reais convivem em harmonia com cenas fictícias. Tudo é muito sensível e verdadeiro, inclusive o sarcasmo e a crueldade da Rainha – capaz de se comover com a morte de um cervo, mas não com a morte de Diana. E graças as brilhantes atuações de Helen e Sheen, podemos ver como as reações humanas são passionais, vingativas e mutáveis.

“A Rainha” é um filme marcante, e certamente merece todos os prêmios que ganhou pelo mundo. No Oscar, está bem cotado com seis indicações: filme, diretor, atriz (Helen Mirren), roteiro original, figurino e trilha sonora. E que me desculpem Penélope, Kate, Judi e Meryl: sou fã de todas, mas o Oscar é da Rainha Helen Mirren.


Cuidado! Se você ainda não viu o filme, este parágrafo revela trechos da história

O filme mostra algumas coisas que já sabemos: a Rainha não gostava de Diana, Tony Blair tinha tudo para ser um líder moderno, o príncipe Charles é um paspalho e Diana era uma celebridade que conquistou o mundo por assumir suas fraquezas diante das lentes que a matariam. É incrível como a morte dela desenhou o futuro da Inglaterra: a Rainha caiu em desgraça e, numa das melhores cenas do filme, diz a Blair que ele vai sentir o desafeto do povo de repente, sem esperar. E é exatamente o que aconteceu, já que a desastrosa união do primeiro-ministro britânico com George Bush rendeu-lhe impiedosas críticas dos ingleses e de cidadãos do mundo inteiro. A Rainha Elizabeth II pode não ser perspicaz para algumas coisas, mas sem dúvida entendeu o recado que o mundo lhe deu.


P.S.: Ah, já está ficando chato dizer que o Fábio sempre indica os melhores filmes.


Janaina Pereira

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Perversões


O diretor Todd Field chamou a atenção do mundo com o drama “Entre Quatro Paredes”(2001), em que usava uma câmera giratória para mostrar a hipocrisia da supostamente equilibrada família classe média norte-americana. Com o mesmo olhar crítico para os dramas familiares, ele está de volta em “Pecados Íntimos” (Little Children), indicado ao Globo de Ouro de melhor filme e concorrendo a três Oscars - roteiro adaptado, atriz para Kate Winslet (que, aos 31 anos, chega a sua quinta indicação) e coadjuvante para Jackie Early Haley.

O roteiro foi escrito pelo próprio diretor, em parceria com Tom Perrota, autor do livro que originou o filme. O ponto de partida é a liberação, em condicional, de Ronnie (vivido por Jackie Early Haley, um coadjuvante sem muitas chances no cinema, mas que rouba a cena neste papel), um molestador de crianças que passa a morar num bairro tranqüilo e familiar. O desconforto de todos é geral diante da potencial ameaça. Porém, logo se percebe que Ronnie é apenas o lado visível e midiático da podridão daquela sociedade que se sustenta sobre os tradicionais pilares da aparência e da riqueza. Todos os personagens têm perversões, vazios e profundas tristezas a esconder, como Sarah (a sempre excelente Kate Winslet) e Brad (Patrick Wilson), dois jovens infelizes em seus casamentos, que, após se conhecem casualmente num playground, iniciam uma relação extra-conjugal.

Na tentativa de condensar as idéias do vasto livro de Perrota, muitas vezes o roteiro recorre ao pouco cinematográfico recurso da narração em off, o que não chega a incomodar, diante da profundidade das idéias e dos sentimentos de cada um dos bem construídos personagens. Vale ressaltar que não se deve ver “Pecados Íntimos” como uma história de traição – isso tira todo o interesse do filme. A narrativa funciona mais se for analisada pelo ponto de vista do personagem Ronnie, o homem publicamente pervertido numa sociedade repleta de ocultas perversões.


Cuidado! Se você ainda não viu o filme, este parágrafo revela trechos da história

A história é lenta e a tensão é constante. A tragédia parece se anunciar a cada cena, causando uma sensação sufocante que, ao contrário dos filmes comerciais convencionais, não será desatada no final. Talvez isso seja o que mais incomoda no filme: você acha que alguma coisa vai acontecer, que os pervertidos serão punidos de alguma forma, que haverá um final feliz... mas nada se resolve e a culpa permanece em cada um dos personagens.


Janaina Pereira

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Pílulas


Não gosto de Carnaval, mas há uma coisa que eu adoro na festa profana: a bateria das escolas de samba. Ainda é o melhor da festa.

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Voltou a TV aberta outra das minhas séries favoritas: “Without a trace”. Adoro, adoro e adoro!


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É sempre difícil tomar decisões nessa vida. Mas ela, a vida, é um risco que ainda vale a pena correr.


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Rio 41 graus. Literalmente.



Janaina Pereira

sábado, fevereiro 17, 2007

Off-Carnaval


Se você, assim como eu, não gosta de Carnaval, aproveite as dicas para curtir o feriadão com a companhia de um bom filme. Divirtam-se.


1 – ESTRADA PARA PERDIÇÃO (Road to Perdition, EUA, 2001) – segundo e excelente filme de Sam Mendes (“Beleza Americana”). Durante a Depressão, no inverno de 1931, Michael Sullivan (Tom Hanks) é um zeloso pai de família, que ama sua esposa, Annie (Jennifer Jason Leigh), e seus filhos, Michael Sullivan Jr. (Tyler Hoechlin) e Peter (Liam Aiken). Porém, ele vive moralmente em conflito, pois trabalha como assassino profissional para John Rooney (Paul Newman), um chefe de quadrilha que criou Sullivan como se fosse seu filho. Curioso sobre a misteriosa profissão do seu pai, Michael Jr presencia um crime, o que coloca toda sua família em perigo. Inspirado na série japonesa em mangá "Kozure Okami", de Kazuo Koike e Kojima, é um filme cheio de surpresas, e apesar do tema pesado, é repleto de sensibilidade e com elenco em atuações inesquecíveis.


2 - A IDENTIDADE BOURNE (The Bourne Identity, EUA, 2001) – Brad Pitt não quis o papel de protagonista deste excelente filme de ação dirigido por Doug Liman. Melhor para Matt Damon, que brilha nesta adaptação do livro de Robert Ludlum. Após acordar em pleno Mar Mediterrâneo sem memória e com o corpo cravado de balas, um homem (Damon) consegue se recuperar com a ajuda de um médico aposentado. Ele passa então a tentar descobrir quem ele é ao mesmo tempo em que é perseguido por estranhos. Com Franka Potente (Corra, Lola, Corra), Clive Owen (Closer) e Chris Cooper (Beleza Americana).


3 – NUNCA TE VI, SEMPRE TE AMEI (84 Charing Cross Road, EUA, 1986) – o título do filme engana completamente: não é uma história de amor, mas de uma sólida amizade construída graças a paixão pela literatura. Durante vinte anos, Helene Hanff (Anne Bancroft), uma escritora americana, se corresponde com o inglês Frank Doel (Anthony Hopkins), o gerente de uma livraria especializada em edições raras e esgotadas (que fica no endereço do título original). Neste período uma amizade muito especial surge entre os dois. Dirigido por David Hugh Jones e com roteiro de Hugh Whitemore, o filme foi baseado em livro de Helene Hanff. Hopkins ganhou o prêmio de melhor ator no Festival Internacional de Moscou.


4 - UM GRANDE GAROTO (About a Boy, Inglaterra, 2002) - Will Freeman (Hugh Grant) é um homem na faixa dos trinta anos metido a galã que inventa ter um filho apenas para poder ir às reuniões de pais solteiros, onde tem a oportunidade de conhecer mães também solteiras. Will sempre segue a mesma tática: vive com elas um rápido romance e quando elas começam a falar em compromisso ele acaba o namoro. Até que, em um de seus relacionamentos, Will conhece Marcus (Nicholas Hoult), um garoto de 12 anos que é completamente o seu oposto e tem muitos problemas em casa e na escola. Com o tempo Will e Marcus se envolvem cada vez mais, aprendendo que um pode ensinar muito ao outro. Baseado no ótimo livro de Nick Hornby – o filme não é tão bom quanto o livro, mas ainda assim vale a pena.


5 - OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM (Dead Man Walking, EUA, 1995) – premiado filme dirigido e roteirizado por Tim Robbins, baseado em livro de Helen Prejean. Oscar de melhor atriz para Susan Sarandon e Urso de Prata de melhor ator no Festival de Berlim para Sean Penn. Em Louisiana, uma freira católica Helen (Susan Sarandon) passa a ser a guia espiritual e a lutar pela vida de um homem (Sean Penn) que espera ser executado a qualquer momento, por ter assassinado dois adolescentes, sendo que uma das vítimas foi uma jovem que foi estuprada antes de morrer. A verdadeira Helen Prejean aparece em uma ponta no filme, na cena da vigília à luz de velas do lado de fora da prisão.


Janaina Pereira

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Quando um best-seller chega às telas


O novo filme do alemão Tom Twyker (do excelente “Corra, Lola, Corra) é uma história surreal. Baseado no livro do também alemão Patrick Süskind, “Perfume, a história de um assassino” (Perfume: The Story of a Murderer, Alemanha/ França/ Espanha, 2006) é uma das adaptações mais esperadas dos últimos tempos. O sucesso estrondoso do livro, lançado em 1985 e traduzido para 45 idiomas, gerou uma grande expectativa para a realização do filme. O resultado, porém, deixa algo no ar.

Jean-Baptiste Grenouille (o inglês Ben Whishaw) é um rapaz pobre que nasceu com um olfato megadesenvolvido, capaz de diferenciar os mais diferentes tipos de odores a quilômetros de distância. Ao se apaixonar pelo cheiro de uma bela jovem e depois a matar inadvertidamente, Grenouille passa a desenvolver uma obsessão doentia pela criação de novos perfumes, transformando seu dom em paranóia assassina.
A direção de Twyker abusa da estilização visual, e a montagem e efeitos chegam a ser cansativos, o que atrapalha a narrativa, que ficou lenta e cansativa. Mas a direção de arte e a fotografia são belíssimas, e a atuação do desconhecido Whishaw – que tem como coadjuvantes no elenco nomes como Dustin Hoffman e Alan Rickman – surpreende.

O roteiro de Andrew Birkin, Bernd Eichinger e Tom Tykwer usou a narração oral (feita por John Hurt) como um recurso que garante personalidade cinematográfica própria, impedindo que o filme rompa com a linguagem verbal do livro. Ainda assim “Perfume” vale como entretenimento, mas qualquer comparação com o livro deve ser esquecida.

Agora algumas curiosidades: o diretor Ridley Scott seria o diretor do filme anos antes do projeto realmente começar. Tim Burton também foi cotado para a função, assim como Martin Scorsese e Milos Forman. Antes de morrer, Stanley Kubrick também esteve interessado em adaptar o livro, mas chegou à conclusão que era impossível transformar a obra em filme.


P.S.: Fabinho, valeu pela dica... de novo!


Janaina Pereira

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

É por isso que o mundo é pequeno


Você está ligado a seis pessoas nesse mundo. E só. Porque, na verdade, todo mundo está interligado de alguma forma. Duvida? Então você nunca ouviu falar na teoria dos seis graus de separação, que, inclusive, foi a responsável pela criação do Orkut, aquela praga que as pessoas adoram xeretar – e que, atualmente, faz com que perguntem, antes mesmo do seu telefone, se você tem orkut.

A partir de um estudo científico o mito dos seis graus foi criado. Parece que, no mundo, são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. Interessante, não? Eu aprendi sobre isso graças ao cinema, claro. Vi um filme ainda na adolescência e fui buscar saber do que tratava.
O estudo, feito nos Estados Unidos, era bem simples: ao enviar cartas, os cientistas identificavam o número de laços de conhecimento pessoal existente entre duas pessoas. Cada pessoa recebia uma carta identificando a pessoa alvo e deveria enviar uma nova carta para a pessoa identificada, caso a conhecesse, ou para uma pessoa qualquer de suas relações que tivesse maior chance de conhecer a pessoa alvo. A pessoa alvo, ao receber a carta, deveria enviar uma carta para os responsáveis pelo estudo.

Este estudo se tornou muito popular e, em 1990, uma peça foi inscrita inspirada nesta teoria: "Six Degrees of Separation", de John Guare. A peça logo se tornou um estrondoso sucesso, e em 1993, foi adaptada para o cinema. O excelente filme “Seis Degraus de Separação” foi que me despertou sobre a teoria. Estrelado por Donald Shutterland (o pai de Kiefer, nosso amado herói Jack Bauer), Stockard Channing e um novato Will Smith – era a estréia dele no cinema – o roteiro narra a história de um jovem negro que se envolve com um casal de brancos ricos, fingindo ser amigo do filho deles.

A teoria dos seis graus de separação faz parte dos modernos estudos de análise de redes sociais. Várias pesquisas vem sendo feitas, como, por exemplo, na identificação da estrutura das redes de colaboração de cientistas, redes de transmissão de doenças, e redes de páginas e sítios na web.

Essa teoria também é provada pelo uso das redes de relacionamento, como o Orkut, que mostra quando uma pessoa conhece a outra. A base de funcionamento do Orkut é a própria teoria, pois graças a ela o engenheiro de software responsável pela rede de relacionamentos, Orkut Buyukkokten, pôde estabelecer uma relação intermediária entre todos os usuários. Por isso há uma espécie de árvore onde você localiza seus amigos; ela aparece no site e você pode ver quem está interligado com quem.

Gostou? Então descubra que pessoa une você a mim, porque entre nós só existe seis graus de separação.

Janaina Pereira

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo, esse excelente,
completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile,
tua careta de gozo ou dor no escuro são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.

O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem,
rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-o como ele aceitará sua forma
definitiva e concentrada no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.


(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, fevereiro 11, 2007

Como uma prece


Às vezes tudo parece perdido e a luz nunca vem. Mas nunca há escuridão profunda, pois o amanhecer sempre chega. Existem dias nublados, outros com chuva, e muitas vezes ocorrem tempestades. Mas a gente sempre sobrevive.

Sempre achei que ‘fé’ é a melhor palavra do mundo. Sei que tem horas que o desespero bate e a fé escorre pelo ralo. E eu quase duvido da existência divina. Mas aí Ele dá um jeito de mostrar quem manda aqui. E eu obedeço.

Vários caminhos a seguir, várias possibilidades, várias tormentas e um só desejo: que a fé remova a montanha para que eu possa enxergar a luz. E no meio de tanta coisa que preciso buscar em mim, eis que algumas palavras fazem toda a diferença.

Sempre respeitei e admirei a filosofia budista, e de alguma forma ela sempre fez parte da minha vida. Quando pequena, exercitei, ainda que involuntariamente, um dos seus momentos mais sublimes. Eis que agora eu fui buscar conforto e encontrei respostas que eu não imaginava que pudesse ouvir.

Em momentos conturbados os amigos de verdade sempre são bons conselheiros. E é muito bom saber que eu não estou sozinha. Mas uma pessoa me fez silenciar, e, curiosamente, é a pessoa que mais ouço. Justamente porque é alguém de grande paz interior e muito equilíbrio emocional – coisas que eu não tenho, mas que ele está me ensinando a ter.

É por isso que eu digo sempre: Wellington, eu quero ser como você quando crescer.



Janaina Pereira

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Fábula para gente grande



O sotaque latino do Oscar desse ano deve-se, em grande parte, ao estrondoso sucesso de “O labirinto do fauno” (El Laberinto Del Fauno, México, 2006), de Guillermo Del Toro (“Hellboy”). O filme – que emocionou os brasileiros no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - conquistou os americanos, recebeu seis indicações ao prêmio mais glamouroso do cinema e é o favorito na categoria filme estrangeiro. Mas a grande proeza da produção são as (merecidas) indicações técnicas; por se tratar de uma obra não-americana, estas indicações são uma raridade e um reconhecimento ao belo filme. E “O labirinto do fauno” é belo em vários sentidos.

A história se passa na Espanha, em 1944. A pequena Ofelia (Ivana Baquero) muda-se para uma zona rural com sua mãe grávida, Carmen (Ariadna Gil), que acaba de se casar com o militar Vidal (Sergi López), que persegue os rebeldes que tentam acabar com o fascismo no país. Lá, Ofélia conhece de perto todo o turbilhão sócio-político pelo qual passa a Espanha durante a Guerra Civil, enquanto faz amizade com a empregada Mercedes (a sempre excelente Maribel Verdú). Realidade e fantasia se misturam quando a menina encontra um labirinto próximo à casa em que vive. Guiada pela criatura conhecida como Fauno – parte bode, parte humana, parte árvore -, ela entra numa tensa aventura em busca de sua salvação e de sua mãe.

Além da direção extremamente segura, Del Toro surpreende pelo seu roteiro de realismo fantástico. Num ano de excelentes histórias originais, ele duela palmo a palmo com o americano Michael Arndt, de “Pequena Miss Sunshine” (meu preferido), e o também mexicano Guillermo Arriaga, de “Babel”, ao Oscar de melhor roteiro original. A forma lúdica como constrói esta fábula – que, para surpresas de muitos, é estritamente política – surpreende. O filme é visualmente muito rico, e cada cena sobressai de forma única. O figurino, a maquiagem, a fotografia e a direção de arte são extremamente bem cuidados, transformando “O labirinto do fauno” num espetáculo visual. Mas não é só isso: a história é boa e envolvente, e, embora se passe muito lentamente, consegue conquistar o espectador por sua sensibilidade.

Mesmo recebendo classificação como gênero terror, “O labirinto do fauno” nada mais é do que um filme político em tom de fábula – é difícil de imaginar isso, mas de fato é o que filme representa. É para ser visto no cinema, com toda a magia que aquela tela enorme tem. E é a prova que ainda existem cineastas que podem ser criativos e inteligentes sem nenhuma apelação.


P.S.: Fabinho, obrigada por mais uma excelente dica.


Janaina Pereira

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

A longa jornada


Em determinados momentos da vida a gente até se acomoda com o fundo do poço. Estamos lá, na lama, sem enxergar a saída. É tanta dor, tanto sofrimento, tanta chateação, que parece o fim do caminho, ou um caminho sem volta. Mas tudo nessa vida, tudo mesmo tem jeito. Só uma coisa não dá para consertar: a morte.

Sempre achei que a gente nasce já sabendo o dia que vai morrer. Quer dizer, nós não sabemos, mas Deus sim. Está escrito no livro Dele, a data do início de nossa história e o nosso epílogo. E repito o que já escrevi aqui: não importa muito como vamos morrer, importa como vamos viver.

É muito doloroso enfrentar a perda de alguém que amamos. Saber que nunca mais vamos ver a pessoa, nunca mais vamos ouvir sua voz, é quase insuportável. Mas o tempo cura tudo. Ficam as lembranças e aí entra a parte importante, aquela que diz que importa mesmo como vivemos.

Imagina lembrar só coisas ruins ... tristezas, mentiras, maldades e outras peripécias que o ser humano é capaz de fazer. Bem mais legal é lembrar de alguém que faz falta porque era pura alegria, solidariedade, força. Por isso é tão importante ser do bem, ser honesto, ter caráter. É isso que fica, é isso que vai ser lembrado: quem você era nesta passagem por este plano.

Creio que cada um tem uma missão, e ao cumpri-la, parte daqui para algum lugar bem melhor. Não acho que a morte seja ruim, ela é dolorosa. Há uma frase do Fernando Pessoa que considero perfeita: morrer é apenas deixar de ser visto.

Eu sinto falta das pessoas que perdi, e não quero perder mais ninguém, mas sei que isso é inevitável. Talvez dor maior seja perder alguém que está vivo e consegue matar os sentimentos alheios. Em minha vida, todas as pessoas que morreram continuam vivas em meu coração. E este amor é o que importa, e é isso que vou levar até a hora que a missão estiver cumprida e eu partir para reencontrá-los.


Janaina Pereira

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Saudades de casa



Outro dia me perguntaram o que mais eu sinto saudades do Rio. Morar com minha mãe? Trabalhar lá? Viver lá? Não sinto falta de nada disso. Eu já me acostumei com São Paulo e gosto daqui. Mas eu amo o Rio e não dá para explicar o que mais sinto falta. Eu simplesmente sinto.

No começo eu sentia falta dos amigos. Era quase insuportável, já que eu morava em São Paulo e não conhecia ninguém aqui. Também sentia muita falta da praia e dos lugares que eu freqüentava lá. Mas com o tempo isso tudo foi passando e eu sinto saudades, mas nada incontrolável como já foi um dia.

Mas o pior de morar longe, sem dúvida, e estar longe da família. Por mais problemática que ela seja, família faz parte da vida e não dá para apagá-la da existência. Eu sofro ao pensar que alguém que amo pode morrer e eu não estarei por perto. Eu sofro ao pensar que a única coisa que me liga ao Rio, de fato, é minha família. Eu sofro porque, quando a coisa fica difícil por aqui, eu só queria minha mãe por perto. E olha que para querer minha mãe por perto eu devo estar muito mal mesmo.

Minha mãe e eu sempre tivemos uma relação ruim. Nada grave, mas somos muito diferentes. Ela tentou me moldar à sua imagem e semelhança, mas eu não deixei. Sou muito mais temperamental, mal-criada e autoritária do que ela gostaria. Aprendi, desde cedo, a ser dona do meu nariz e faço o que quero e como quero. Ela detesta o meu jeito de ser, mas agora já aceita isso.

Uma das maiores revelações da minha mãe foi quando ela disse: “eu achava que você ficaria três meses em São Paulo e voltaria. Mas você não voltou.” Pois é. Nem ela levava fé em mim. Poucos levavam... e muitos quebraram a cara. Agora todo mundo acha que eu ficarei em São Paulo para sempre. Mas ‘para sempre’ é muito tempo para mim.

Uma das coisas que mais gosto em minha mãe é quando eu ligo para casa e começo a falar dos meus problemas. Ela tem sempre uma palavra de conforto. Ou quando eu omito qualquer dificuldade. Ela sempre sabe que estou escondendo algo. O que mais me irrita é quando quero conversar e ela não me ouve. Ela faz isso com freqüência, mas eu sempre a perdôo.

Mesmo não querendo, e mesmo tendo uma postura de vida diferente da dela, eu acabo falando e fazendo coisas iguais a minha mãe. Isso chega a ser engraçado, já que lutei a vida inteira para ser diferente dela. Então me pergunto como podemos ser tão diferentes e termos atitudes iguais. A genética explica.

Minha mãe é uma mulher muito legal. Eu a admiro principalmente porque ela nunca se abateu após a morte do meu pai. Não na minha frente. Ela sempre foi o apoio para que eu seguisse minha vida sem meu pai – e ela sabia que eu era muito mais apegada a ele, pois meu pai era meu porto seguro.

Sei que minha mãe esperava que eu fosse diferente. Casasse, tivesse filhos, construísse uma família bacana e, se fosse muito necessário, arrumasse um trabalho para ajudar no sustento da casa. A única coisa que ela esperava de mim é que eu não ficasse sozinha. E talvez seja justamente isso que faz ela esquecer nossas diferenças: eu consigo me virar sozinha, e ela não conseguiu.

Poucas vezes eu disse para minha mãe que a amava. Ela também não costuma dizer isso para mim. Mas nunca foi necessário. Porque todas as vezes que eu precisei, ela sempre esteve por perto. E hoje só ela pode entender o que sinto. E hoje só o amor da minha mãe pode me consolar.


Janaina Pereira

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Pequeno grande filme


Finalmente consegui ver “Pequena Miss Sunshine” (Little Miss Sunshine, EUA, 2006), o road movie mais divertido dos últimos tempos. Melhor representante do cinema independente norte-americano, o filme dirigido pela dupla de novatos Jonathan Dayton e Valerie Faris vem desbancando “Babel”, de Alejandro Gonzalez Iñarritu – já comentado neste blog – nas principais premiações do mundo cinematográfico. E todos os prêmios são mais do que merecidos. Deliciosamente surpreendente, o filme agrada por sua maneira sensível e sincera de retratar uma família desajustada – como a maioria das famílias é, mas não gosta de admitir.

O inteligentíssimo roteiro do estreante Michael Arndt mostra a complexa família Hoover. O pai, Richard (Greg Kinnear), desenvolveu um método de auto-ajuda que é um fracasso. O filho mais velho Dwayne (Paul Dano) fez voto de silêncio. O cunhado Frank (Steve Carrell) é um professor suicida e o avô (Alan Arkin) foi expulso de uma casa de repouso por usar heroína. Enquanto isso, a mãe, Sheryl (Toni Collete), corre de um lado para o outro tentando manter a família unida. Nada funciona para o clã, até que a filha caçula, a desajeitada Olive (Abigail Breslin), é convidada para participar de um concurso de beleza para meninas. Durante um fim de semana eles deixam todas as suas diferenças de lado e se unem para atravessar o país numa kombi amarela enferrujada.

O filme explora com humor os surtos de cada membro da família, sem deixar de lado a emoção. Extremamente criativo, “Pequena Miss Sunshine” é uma surpresa após a outra, e parte de seu sucesso é credito de seu precioso elenco. Greg Kinnear (“Melhor é impossível”) e Toni Collete (“O sexto sentido”), eternos coadjuvantes de luxo, se saem muito bem como o pai que não aceita perder e a mãe que tenta colocar a família nos eixos. Steve Carrell e Alan Arkin estão memoráveis e o novato Paul Dano surpreende ao transformar seu Dwayne num ‘mudo’ cheio de expressões. Mas a grande atração é a adorável Abigail Breslin. A menina, de apenas sete anos, dá um show com seu rabo-de-cavalo enorme, sua barriguinha e seus óculos gigantes. A cena final é uma das melhores da história do cinema com direito a performance inesquecível da pequena Abigail.

Foram necessários cinco anos até que o filme fosse concluído, devido a problemas financeiros. Mas valeu a pena esperar: a produção foi indicada a quatro Oscars – filme, ator e atriz coadjuvantes (Arkin e Abigail) e roteiro original – e tem muitas chances de vencer. Aliás, se o roteiro não ganhar vai ser muito injusto – e como o Oscar não é justo, pelo menos o filme já ganhou outros prêmios importantes.

É impossível não se divertir com “Pequena Miss Sunshine”, um raro caso de filme que diverte sem o menor esforço. E que já entra, disparado, na minha seleta lista dos melhores do ano.


P.S.: Este filme é mais uma dica certeira de Fabinho Camargo! E este post é o número 600 do meu blog!!!


Janaina Pereira

domingo, fevereiro 04, 2007

Seis



4 de fevereiro de 2001. Arrumei a mala, peguei o portfólio e vim para São Paulo. Passagem sem direito a bilhete para voltar.

4 de fevereiro de 2007. Seis anos depois, olha eu aqui. Nunca imaginei resistir tanto tempo. E quanto tempo ainda resta? Não tenho muito o que dizer. Todo ano escrevo nesta data, é só procurar neste blog. É como se fosse um segundo aniversário para mim, só que nunca comemorei. Talvez porque ainda seja difícil estar aqui... tão longe e tão perto.


Stay

(U2)


Green line, Seven Eleven
You stop in
For a pack of cigarettes
You don't smoke
Don't even want to
And now check you change
Dressed up like a car crash
The wheels are turning
But you're upside down
You say when he hits you
You don't mind
Because when he hurts you
You feel alive
Is that what it is?

Red light, grey morning
You stumble
Out of a hole in the ground
A vampire or a victim
It depends on who's around
You used to stay in
To watch the adverts
You could lip synch
To the talk shows
And if you look
You look through me
And when you talk
you talk at me
And when I touch you
You don't feel a thing

If I could stay
Then the night would give you up
Stay
Then the day would keep its trust
Stay and the night would be enough
Faraway, so close
Up with the static and the radio
With satellite television
You can go anywhere
Miami, New Orleans
London, Belfast and Berlin
And if you listen
I can't call
And if you jump
You just might fall
And if you shout
I'll only hear you


If I could stay
Then the night would give you up
Stay
Then the day would keep its trust
Stay
With the demons you drowned
Stay
With the spirits I found
Stay
And the night would be enough

Three o'clock in the morning
It's quiet and there's no one around
Just the bang and the clatter
As an angel runs to ground
Just the bang and the clatter
As an angel hits to ground


Janaina Pereira

sábado, fevereiro 03, 2007

Só o amor não basta


Assistindo ao filme “Terapia do Amor”, com Meryl Streep e Uma Thurman, duas frases me chamaram a atenção: ‘relacionamentos dão trabalho’ e ‘só o amor não basta’. Concordo com ambas.

Relacionamentos são extremamente trabalhosos. E por isso cansam. Você tem que estar disponível para ouvir, cuidar, calar, motivar, esperar, compreender, perdoar, aceitar, respeitar... é tanta coisa pra fazer que só de pensar me deixa cansada. O pior é quando você faz tudo isso e o outro lado não está nem aí...porque a maioria das pessoas acha que relacionamento é diversão. Isso só acontece no começo das relações, quando, apaixonados, achamos qualquer programinha insosso uma aventura. Com o tempo surgem as dificuldades – e se o casal não tiver afinidade, tudo piora. Por exemplo: no começo ele até aceitar ir a praia com você, mesmo odiando a mistura suor-mar-areia. Mas ele não vai ceder por muito tempo.

Os pequenos detalhes que fazem a diferença nas relações vão aumentando com o tempo – o tempo em que o casal está junto e o tempo como a ‘idade’ dos dois. Quando somos mais jovens, o namoro não passa de... diversão. Novamente a palavra aparece para retratar uma relação. Casais formados por jovens de 20 anos de idade acham tudo lindo. Dez anos depois tudo muda. Porque aos 30 anos nenhum casal vai viver de diversão. Você tem contas para pagar e a relação tem que ser muito mais baseada em amizade e companheirismo do que qualquer outra coisa.

Ninguém, mas ninguém mesmo, sobrevive de ‘um amor e uma cabana’. O amor morre com a falta de dinheiro, a falta de emprego, a falta de perspectiva e a falta de filhos – sim, porque se um dos lados não quiser ter filhos, isso vai gerar confusão mais cedo ou mais tarde. Por isso só o amor não basta. Justamente porque o relacionamento dá trabalho e o amor não consegue suportar tudo. Você pode amar incondicionalmente uma pessoa, mas se ela ficar apática diante da vida, você não vai querer afundar no mesmo barco. O amor não resiste a mentiras, traições, intolerâncias, cheque sem fundo, conta no vermelho, sonhos adiados, desejos frustrados, impotência e frigidez. E mesmo quando o sexo é bom, a relação não se salva – pode ter seu fim adiado, mas um dia a separação vem.

Só o amor não basta para salvar uma relação em que a mulher ganha mais do que o homem – já vi dois casamentos acabarem exatamente por isso. Só o amor não basta para perdoar uma traição - embora ainda existam pessoas que perdoem. Só o amor não basta para fazer duas pessoas felizes – é preciso muito mais. Porque, infelizmente, o amor não é o suficiente para uma relação dar certo. É preciso saber ouvir e saber calar, saber esperar e saber motivar, cuidar, compreender, apoiar, aceitar, respeitar... é necessário ser fiel e leal não apenas ao outro, mas a si mesmo, as suas convicções, seus objetivos. Ninguém deve se anular por causa do outro. O amor não são duas metades que se encontram, mas dois inteiros que se unem.

É por isso que o amor cansa. E cada vez mais eu concordo com Ernest Hemingway: quando duas pessoas se amam não pode haver final feliz.


Janaina Pereira

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Flores no mar


O motivo que levou meu pai a escolher Janaína para ser meu nome foi um samba. Mas este samba falava dela: Iemanjá. Porque, como já repeti mil vezes, Janaína é um dos nomes de Iemanjá. E hoje é dia dela, dia de jogar flores no mar e fazer oferendas.

Por causa do meu nome, sempre tive interesse pela história de Iemanjá. Ao contrário do que muitos pensam, Iemanjá é um orixá feminino extremamente simples – a idéia de vaidade que está associada a ela não tem a ver com pretensão. Para Iemanjá foi reservado o lugar de Nossa Senhora, sendo, então, mais importante que as outras divindades femininas, o que foi assimilado em arte por muitos ramos da Umbanda. Sua popularidade é imensa, especialmente pelo caráter, a tolerância, a aceitação e o carinho.É uma das rainhas das águas, sendo as duas salgadas: as águas provocadas pelo choro da mãe que sofre pela vida de seus filhos, que os vê se afastarem de seu abrigo, tomando rumos independentes; e o mar, sua morada, local onde costuma receber os presentes e oferendas dos devotos.

Na África, a origem de Iemanjá também é um rio que vai desembocar no mar. De tanto chorar com o rompimento com seu filho Oxóssi, que a abandonou e foi viver escondido na mata junto com o irmão renegado Oçãnhim (Oçanhe), Iemanjá se derreteu, transformando-se num rio que foi desembocar no mar. É a mãe de quase todos os Orixás de origem ioruba e também associada à fertilidade.

Segundo a lenda, Iemanjá é a criadora do mundo, juntamente com Oxalá. Complacente e pródiga, é responsável pela pescaria farta, além da vida com abundância de alimentos. Ela não lembra a volúpia das sereias das lendas européias ou a Iara dos mitos indígenas, mas é representada e cultuada com muito respeito, pois é a mãe da criação. Odoiá!!!

Significado: iya; mãe. Omo; filho. Eja, peixe
Dia da semana: Sábado
Cores: branco e azul (cristal translúcido)
Saudação: O doiá! (odo, rio)
Elemento: água
Domínio: mar, água salgada
Instrumento: abebê (espelho)


Janaina Pereira

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Férias & filmes

Quem achou que eu esqueci das já famosas listas de filmes para alugar, aqui vai uma surpresinha: selecionei os melhores que vi – ou revi – nas últimas semanas para indicar aos leitores deste blog. Como todo mundo já sabe, época de férias na faculdade é produtiva, pois minhas noites passam a ser preenchidas com longas sessões de DVDs, além de incontáveis filmes na telona. Divirtam-se.

1 – FESTIM DIABÓLICO (Rope, EUA, 1948) – primeiro filme colorido do mestre do suspense Alfred Hitchcock, é uma aula de direção cinematográfica. O filme foi todo realizado em tomadas de 10 minutos e editado de tal forma que se tem a impressão que não houve corte durante as filmagens. Reparem nas tomadas de câmera, as cenas mostrando uma ação e o diálogo se referindo a outra situação, além de uma curiosidade: ao invés de Hitchcock aparecer numa ponta, como em vários outros filmes dirigidos por ele, seu logotipo aparece em um letreiro de néon que pode ser visto através da janela do apartamento onde ocorre toda a ação. O roteiro de Hume Cronyn e Arthur Laurents, baseado em peça de Patrick Hamilton (que foi inspirada no caso Leopold-Loeb, dois estudantes da Universidade de Chicago que cometeram um assassinato de forma bem parecida com a mostrada), narra uma noite na vida de Brandon (John Dall) e Philip (Farley Granger), que matam David Kentley (Dick Hogan), um colega da escola preparatória, apenas para terem a sensação de praticar um assassinato e provar que conseguem realizar o crime perfeito. Para desafiar os amigos e a família, resolvem convidá-los para uma reunião no apartamento deles. James Stewart, um dos atores preferidos de Hitchcock (e meu também!), é o ex-professor de Brandon, Philip e David convidado para a reunião, e o homem que percebe que naquele apartamento, nem tudo é o que parece – temática máxima dos filmes hitchockianos. Mais um clássico do meu diretor preferido.


2 – CORRA, LOLA, CORRA (Lola Rennt, Alemanha, 1998) – filme cult do final dos anos 90 e escolhido pelo público como o melhor filme do Sundance Festival de 1998. O diretor Tom Tykwer usa diversos tipos de linguagens cinematográficas para contar a história de Manni (Moritz Bleibtreu), o coletor de uma quadrilha de contrabandistas que esquece no metrô uma sacola com 100.000 marcos. Ele só tem 20 minutos para recuperar o dinheiro ou irá confrontar a ira do seu chefe, Ronnie, um perigoso criminoso. Desesperado, Manni telefona para Lola (Franka Potente), sua namorada, que vê como única solução pedir ajuda para seu pai (Herbert Knaup), que é presidente de um banco. Assim, Lola corre através das ruas de Berlim para salvar o namorado. O inusitado é que são apresentados três possíveis finais da louca corrida de Lola. Divertido, criativo e inteligente, é um filme único.


3 – MONSTROS S.A.( Monsters Inc., EUA, 2001) – mais uma brilhante produção da parceria entre Disney e Pixar. Monstros S.A. é a maior fábrica de sustos existente. Localizada em uma dimensão paralela, a fábrica constrói portais que levam os monstros para os quartos das crianças, onde eles poderão lhes dar sustos e gerar a fonte de energia necessária para a sobrevivência da fábrica. Entre todos os monstros que lá trabalham o mais assustador de todos é James P. Sullivan (voz de John Goodman), um grande e intimidador monstro de pêlo azul e chifres, que é chamado de Sully por seus amigos. Seu assistente é Mike Wzowski (voz de Billy Crystal), um pequeno ser de um olho só com quem tem por missão assustar as crianças, que são consideradas tóxicas pelos monstros e cujo contato com eles seria catastrófico para seu mundo. Porém, ao visitar o mundo dos humanos a trabalho, Mike e Sully conhecem a garota Boo (voz de Mary Gibbs), que acaba sem querer indo parar no mundo dos monstros e provoca a expulsão de ambos para o mundo real. É diversão garantida.


4 - VESTÍGIOS DO DIA (The Remains of the Day, Inglaterra, 1995) – primoroso filme dirigido por James Ivory (“Retorno a Howard's End”) que retoma a dobradinha de sucesso ente os excelentes Anthony Hopkins e Emma Thompson. Em 1958, James Stevens (Hopkins) começa uma viagem pela Inglaterra em direção ao mar. Por muitos anos ele foi o mordomo-chefe de Darlington Hall, uma famosa casa de campo. Neste época sacrificou sua vida pessoal por vários anos para ter um alto desempenho profissional, mesmo reprimindo seus sentimentos e passasse uma frieza que na verdade não era parte da sua personalidade. Ele está indo visitar Sally Kenton (Emma), que ele não vê há muito tempo e tinha sido governanta em Darlington. Ele pensa em persuadi-la a retomar a sua antiga posição, trabalhando para o novo proprietário de Darlington, um congressista americano aposentado (Christopher Reeve).


5 – O PECADO MORA AO LADO (The Seven Year Itch, EUA, 1955) – um dos maiores sucessos de Marilyn Monroe, aqui dirigida pela primeira vez por Billy Wilder (“Sabrina”, “Crepúsculos do Deuses”, “A montanha dos sete abutres”. Diretor e atriz trabalhariam novamente em 1959, no clássico “Quanto mais quente melhor” ). Richard Sherman (Tom Ewell) é um editor de livros que sente-se "solteiro" quando a mulher (Evelyn Keyes) e o filho (Burch Bernard) viajam em férias. Ele começa então a ficar cheio de idéias quando uma bela e sensual jovem (Marilyn), que é modelo e sonha ser atriz, torna-se a sua vizinha. É neste divertido filme que se encontra a famosa cena em que Marilyn Monroe tem sua saia levantada pela ventilação do metrô. Esta cena foi originalmente rodada na Lexington Avenue, em Manhattan, mas como não ficou do modo como o diretor Billy Wilder queria, ela foi refilmada em estúdio.


6 – A MARCHA DOS PINGUINS (La Marche de L'Empereur , EUA/França, 2005) – emocionante documentário vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2006. O filme narra a saga dos pinguins imperadores para a procriação da espécie, em um terreno no interior da Antártica. As dificuldades para sobreviver, a disputa no acasalamento, a alegria no nascimento dos filhotes e a dor pela morte e separação dos pingüins comove e encanta. Na versão legendada, Morgan Freeman é o narrador. Na versão dublada, narração de Antônio Fagundes e Patrícia Pillar. A versão original do filme, feita na França, apresenta diálogos entre os pinguins e também uma trilha sonora com músicas pop.


7 - OS EXCÊNTRICOS TENEMBAUNS (The Royal Tenembaums , EUA, 2001) – o diretor Wes Anderson fez um filme divertido e comovente sobre os problemas familiares, e como eles nos levam a melancolia e a redenção. Royal Tenenbaum (Gene Hackman) e sua mulher, Etheline (Angélica Huston) tiveram três filhos – Chas (Ben Stiler), Margot (Gwyneth Paltrow) e Richie (Luke Wilson) - e então se separaram. Chas começou a investir em imóveis ainda adolescente e parecia ter um dom quase sobrenatural para finanças internacionais. Margot, uma jovem dramaturga, recebeu, ainda no primeiro colegial, uma bolsa de estudos de US$ 50.000. Richie foi campeão juvenil de tênis e vencedor do Campeonato Nacional por três anos consecutivos. Entretanto, todos os feitos brilhantes dos jovens Tenenbaums foram esquecidos após duas décadas de traições, fracassos e tragédias.


8 – TERAPIA DO AMOR (Prime, EUA, 2005) – o diretor e roteirista Ben Younger fez um filme para retratar que nas relações só o amor não basta. A história gira em torno de Rafi Gardet (Uma Thurman, em papel recusado por Sandra Bullock), uma mulher de 37 anos que mora em Nova York e se separou recentemente. Ela não quer se envolver em nenhum relacionamento amoroso e tenta seguir sua vida dividida entre o trabalho, os amigos e a terapia com Lisa Metzger (Meryl Streep). Mas sua opinião muda após conhecer David (Bryan Greenberg), um talentoso pintor de 23 anos, por quem se apaixona. O filme fala de preconceitos de uma maneira divertida e faz refletir sobre como os relacionamentos dão trabalho.


9 – DURVAL DISCOS (Brasil, 2002) – surpreendente filme de Anna Muylaer. Durval (Ary França) e sua mãe Carmita (Etty Fraser) sempre viveram na mesma casa, onde funciona a loja Durval Discos, que já foi muito conhecida no passado. Hoje, a loja vive uma fase de decadência devido à decisão de Durval em não vender CDs e se manter fiel aos discos de vinil. Para ajudar sua mãe no trabalho de casa, Durval decide contratar uma empregada, e o baixo salário acaba atraindo Célia (Letícia Sabatella), uma estranha candidata que chega junto com a pequena Kiki (Isabela Guasco). Após alguns dias de trabalho, Célia desaparece, deixando Kiki e um bilhete avisando que voltaria para buscá-la dentro de 3 dias. Durval e Carmita ficam surpresos, mas acabam cuidando da garota, o que modificará para sempre suas vidas. O filme passa da comédia ao drama com muita desenvoltura e o roteiro toma um rumo inesperado, o que faz desta produção uma das melhores já feitas no país.


10 – MERA COINCIDÊNCIA (Wag the dog, EUA, 1997) – um dos mais interessantes filmes sobre o poder da imprensa – mas precisamente da TV. O presidente dos Estados Unidos (Michael Belson), poucos dias antes da eleição, se vê envolvido em um escândalo sexual. Para reverter a situação que compromete as chances de reeleição, é contratado Conrad "Connie" Bean (Robert de Niro), que entra em contato com o produtor de Hollywood Stanley Motts (Dustin Hoffman) para que este "invente" uma guerra na Albânia para desviar a atenção pública. O inteligente filme dirigido por Barry Levinson (“Rain Man”) e escrito por Hilary Henkin e David Mamet, baseado em livro de Larry Beinhart, contou com um inesperado reforço de marketing: antes de seu lançamento, o então presidente Bill Clinton se envolveu em um escândalo sexual com uma estagiária, Monica Lewinski, e também em uma ação militar contra o Iraque. Esta semelhança com os fatos reais e os narrados no filme foi o grande motivo do título brasileiro (Wag the dog, em português, seria algo como sacuda o cachorro. Logo no início do filme a expressão é melhor explicada). Uma curiosidade: o slogan da campanha de reeleição do presidente mostrada no filme é "Don't change horses in the middle of the stream", o mesmo utilizado pelo presidente norte-americano Franklin Roosevelt durante sua campanha de reeleição, em meio à Segunda Guerra Mundial.


Janaina Pereira

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