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quarta-feira, novembro 30, 2005

Giz

(Legião Urbana)


E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém
Aparecer ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És, parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Tudo bem, tudo bem...
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Tudo bem, tudo bem...
Acho que estou gostando de alguém
Tudo bem, tudo bem...

segunda-feira, novembro 28, 2005

O circo de Gerald Thomas


Quem gosta de roteiros com começo, meio e fim, deve passar longe do Sesc Vila Mariana. Mais uma vez buscando inovação e colocando no palco a total falta de sentido, Gerald Thomas escreveu e dirigiu o espetáculo “Um Circo de Rins e Fígados”. Depois de passar por diversas cidades do país, a peça voltou a São Paulo para mais uma temporada, tendo Marco Nanini como protagonista. E ontem eu fui conferir a montagem.

A história gira em torno de um ator chamado Marco Nanini, que recebe várias caixas com documentos secretos - e até partes do corpo de uma bailarina - enviadas por um homem misterioso chamado João Paradeiro. Daí em diante, com muito humor, ele se envolve numa rede de acontecimentos que transformam sua vida num turbilhão. Gerald Thomas aproveita para criticar todo mundo, citar acontecimentos políticos e fazer o público rir de vez em quando.

Apesar do personagem principal trazer o mesmo nome do ator, Nanini afirma que de igual só o nome mesmo, e não há nada de autobiográfico na peça. Você termina o espetáculo com a sensação de que nada entendeu, embora tenha dado algumas boas risadas. E sai do teatro com a certeza de que Thomas fez a escolha certa do protagonista: somente Nanini para segurar uma peça sem pé nem cabeça... mas que deixa a sensação de divertimento e reverência a um dos maiores atores brasileiros.


”Um circo de rins e fígados”
Texto e direção: Gerald Thomas.
Elenco: Marco Nanini, Fabiana Guglielmetti, Amadeo Lamounier, Pedro Osório, Gustavo Wabner e Gilson Matogrosso.
Duração: 100 minutos.
Censura: 14 anos.
De sexta a domingo, até dia 11/12, no Sesc Vila Mariana
De R$10,00 a R$30,00


Janaina Pereira

domingo, novembro 27, 2005

Pílulas



O elogiado texto “Agosto em Novembro” vai me deixar más recordações: esquecer o livro dentro de sala de aula e o mesmo não ser devolvido ao dono, é lastimável. E o livro não era meu. É por isso que eu me distancio cada vez mais dessa espécie medonha que é o ser humano. Com atitudes como essa, o mundo caminha a passos rápidos para a total intolerância entre as pessoas.


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Estreei meu DVD com a série “Agosto” graças a uma gentileza do Leo. Ta, o DVD veio párar em minhas mãos por puro acaso. Mas eu prometi dar os créditos a ele por parte da inspiração do texto “Agosto em Novembro”, e isso aqui foi o melhor que consegui escrever a respeito.

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É, eu estou irritadíssima. Andei chorando horrores e não tenho vergonha de admitir isso. Sou uma pessoa sensível, e isso me atrapalha às vezes. Sei que fico chateada ao extremo por coisas que podem ser superadas facilmente. Pelos outros. Comigo nada é passageiro. Eu fico transtornada e pronto. Não adianta tentar dizer que vai passar. É melhor me deixar no fundo do poço que uma hora eu saio. Sozinha.

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Faz tempo que não escrevo sobre a minha solidão paulistana. Os últimos meses têm sido intensos. Estou cansada e fazia tempo que não me sintia assim tão de saco cheio do mundo. Mas eu sou campeã de crises. Está cada vez pior de controlar meu humor instável.

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Ah, eu não sou sádica. Sou irônica e sarcástica. Isso faz de mim uma pessoa difícil. Eu não faço por mal – mas às vezes faço sim, para provocar. A ironia é a minha maneira de me proteger do mundo que insiste em cair. Mas não adianta, ele não me derruba.

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Um único fato fez tudo valer a pena e fazer sentido nas últimas semanas ... mas também me fez pensar demais na vida. E agora eu choro só sem ter você aqui.



Janaina Pereira

sábado, novembro 26, 2005

Tá tudo cinza


(para ler ouvindo "People are Strange", com The Doors)


Eu não quero ter que explicar as coisas mal resolvidas, as necessidades partidas, os versos com gosto amargo. Não preciso de falsas promessas, de olhares que me sugam, de paixões que sufocam dias escuros de frio. Não preciso de nada, não tenho nada, não quero nada.

Acho que só preciso dormir agora.

E não vou levantar enquanto esta dor sufocante em meu coração não passar.



Janaina Pereira

quarta-feira, novembro 23, 2005

Agosto em novembro


Hoje é um dia que parece que não vai acabar. Queria estar agora de frente para o mar, comendo casquinha de siri. Casquinha. Com todos os ‘esses’ que tenho direito. Queria beber água de coco e andar descalça na areia. Muito bom.

Mas, estou descascando na Paulicéia Desvairada do Mário de Andrade. Só me resta um pedaço generoso da pizza Silvio Lancellotti, com alcaparras, parmesão e gorgonzola. Adoro. Estou faminta, e o pão de mel prestígio da faculdade não vai matar minha fome.

Agora que meu computador tem DVD, começo a entrar num mundo mais moderno. Apesar de ser uma mulher de vanguarda, tenho minhas restrições. Como detesto televisão, acabo não vendo nem filme nela. Mas estreei meu DVD vendo trechos de “Agosto”, excelente minissérie que a Globo exibiu faz doze anos. Uau, eu tinha só 19 ... lembro bem. Da série e de como era ter 19 anos ... lembro que fiquei atordoada com o final da história, baseada no livro do Rubem Fonseca, que eu li anos depois. Agora reli o livro e revi a série.

O livro é maravilhoso. Rubem Fonseca é um escritor que tem uma narrativa espetacular. Dinâmico, detalhista, cheio de molejo, ele é o cara. Um dos meus favoritos. Li o livro em três dias porque para mim, suas quase 300 páginas são pura diversão. Os personagens são bem construídos e a história se desenvolve com muita ação e força. A série é muito interessante, com rara fidelidade aos diálogos (palmas para Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, que adaptaram com maestria o livro), direção de arte belíssima e elenco afiado. O comissário Mattos tinha que ser o José Mayer. E todos os outros atores se encaixam muito bem com seus respectivos personagens.

Pode-se constatar, portanto, que a comunicação de massa consegue se salvar vez ou outra: “Agosto”, a série, é um caso raro de produção para a televisão que respeitou o livro. Tem suas liberdades, é verdade, mas que são necessárias para ‘entrar no clima’ da TV. Ah, e se passa no Rio ... em todos aqueles lugares e ruas que fizeram parte da minha vida desde sempre.

Agora eu queria estar lá, de frente para o mar, comendo cuscuz ... cuscuz, hein ? Com sotaque. Mas estou aqui na Paulicéia do Mário. Então, vou comer pastel mais tarde.



Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, novembro 21, 2005

Está chegando a hora de ir



Eu vim para partir
Vim para confundir
Para fugir
Para sumir
Vim porque alguém tinha que vir
Alguém tinha que chegar
Alguém tinha que estar aqui
Vim para mudar
Ou para sair fora
Correndo
Sem pressa
Com fôlego
Em verso
Sem prosa
Vim para pensar
Para argumentar
Para indagar
Para filosofar
Para reclamar
Vim para encher o saco
Causar incômodo
Ser diferente
Ser ausente
Vim porque tinha que vir
Vim porque você veio
Vim e não vou voltar
Quem sabe até eu vim para ficar.



Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, novembro 18, 2005

Vamos fugir
(Gil, na versão do Skank)


Vamos fugir
Deste lugar, baby
Vamos fugir
'Tô cansado de esperar
Que você me carregue

Vamos fugir
Pr'outro lugar, baby
Vamos fugir
Pr'onde quer que você vá
Que você me carregue

Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Pra onde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó
Qualquer outro lugar comum
Outro lugar qualquer
Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, céu azul
Onde haja só meu corpo nu
Junto ao seu corpo nu

Vamos fugir
Pr'outro lugar, baby
Vamos fugir
Pr'onde haja um tobogã
Onde a gente escorregue

Vamos fugir
Deste lugar, baby
Vamos fugir
'Tô cansado de esperar
Que você me carregue

Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Pra onde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó
Qualquer outro lugar comum
Outro lugar qualquer
Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, céu azul
Onde haja só meu corpo nu
Junto ao teu corpo nu

Vamos fugir
Pr'outro lugar, baby
Vamos fugir
Pr'onde haja um tobogã
Onde a gente escorregue

Todo dia de manhã
Flores que a gente regue

Uma banda de maçã
Outra banda de reggae

'Tô cansado de esperar
Que você me carregue

Todo dia de manhã
Flores que a gente regue

Uma banda de maçã
Outra banda de reggae...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Natural Blues

(Moby)


Oh, lordy, troubles so hard
oh, lordy, troubles so hard
don't nobody know my troubles but god
don't nobody know my troubles but god

went down the hill, the other day
my soul got happy and stayed all day
went down the hill, the other day
my soul got happy and stayed all day

oh, lordy, troubles so hard
oh, lordy, troubles so hard
don't nobody know my troubles but god
don't nobody know my troubles but god

went in the room, didn't stay long
looked on the bed and brother was dead
went in the room, didn't stay long
looked on the bed and brother was dead

quarta-feira, novembro 16, 2005

Horizonte


Às vezes penso que era melhor não ter ido
Ou talvez fosse melhor não ter voltado
Quando eu acho que está tudo bem
Percebo que mais uma vez construí um castelinho de areia
Que a qualquer momento vai desmoronar
Cedo ou tarde os castelos precisam ser derrubados
E enquanto eu olhava o mar, que me deixava calma,
Um turbilhão de acontecimentos invadia meu mundo
Desesperadamente eu me deixei levar pela ilusão da paz
Mas estou de volta aos caminhos cheios de rancores
Fingimentos necessários
Promessas não cumpridas
Palavras incompreendidas
Estou tão cansada
E minha alegria voltou a ficar triste
E meu sorriso se desmanchou
E eu já nem sei o que fazer
Talvez o melhor agora seja esperar
Esperar
E esperar
Até cansar
Até que a lua volte a ser cheia
Até que eu possa construir um novo castelo
De frente pro mar.




Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, novembro 11, 2005

O tom do Zé – Última Parte


As aventuras musicais do mestre Zé Amaral chegam ao fim. Acompanhem o desfecho dessa narrativa envolvente, com direito a lista de grandes discos que você deve ouvir.



NÓS E A MÚSICA

Eu disse que falar de música é uma coisa que me dá prazer. A orquestra é a prova da possibilidade da paz. Branco, preto, judeu, muçulmano, vascaíno e flamenguista podem, agregados pela partitura, entrar em harmonia e gerar beleza. Então, fica evidenciado que os motivos para esse meu gostar são vários, como são tantas as pessoas que me ajudaram a ser assim, potencializando minha ‘antena’ natural. E olhe que não relatei histórias do Miguel berrando “Rock’n roll music” embaixo do chuveiro como se estivesse sendo eletrocutado; do Vitório, violão em punho, tocando ‘Fio de Cabelo’; do Zé Vieira descendo as rampas da PUCSP soltando a voz com “Midnight Special”; do Mário Luiz interpretando repertório de Cartola; do João Pereira tocando gaita na volta da faculdade no banco de trás do Vila Ede; de Zé Luis e seu bongô; do Zé Nilton tocando contrabaixo na são Judas; do Alcinei misturando vinho tinto com cds de jazz; do Fernando de Marília cantando Tião Carreiro e Pardinho; de Lizete e Dide em dueto levando temas de Vinícius; Silvia Lucia interpretando uma balada da Rita Lee; Silvia Gobetti sussurrando João Gilberto; Tânia imitando Dalva de Oliveira; Márcia se emocionando com Billie Holliday; Alcina só rindo disso tudo... Tudo isso contribuiu, cada qual em seu momento certo, para este prazer pela música que trago comigo. A todos os que estão, os que não estão aqui e os que vem chegando, agradeço desde já, a participação de cada um neste grande concerto que é a vida.

Concluindo. Eleger é motivo para polêmicas e críticas. Acabamos por esquecer sempre algo ou deixamos de fora coisas importantes demais por opções. Um notório risco. Porém, como aceitei a deliciosa provocação de dizer alguns discos admiráveis, vou escrever os que neste instante me chegam à mente. Não é nenhuma receita de antologia. Entrementes, no meu entender, merecem audição carinhosa. Então, 10 discos de MPB que recomendo:

1. Grande Circo Místico, de Edu Lobo e Chico Buarque; 2. Memórias Chorando e Cantando, de Paulinho da Viola; 3. Amoroso, de João Gilberto; 4. Elis & Tom; 5. Secos & Molhados 73; 6. O Trio; 7. Roberto Carlos, 71; 8. Clube da Esquina, Milton Nascimento; 9. Demônios da Garoa interpretam Adoniran; 10. Antonio Nóbrega, Na Pancada do Ganzá. Ôps! Já foram 10 ? Vixe! Não. Cês precisam ouvir 50 anos de Chão, Luiz Gonzaga; Mistura e Manda, Paulo Moura; Arthur Moreira Lima interpreta Nazareth; Edu & Tom; Cinema Transcendental, Caetano Veloso; 100ª apresentação, João Bosco; Clementina de Jesus e convidados; Novos Baianos, Acabou Chorare; A Cor do Som, Ao Vivo em Montreux 78; Fafá Lemos & Carolina C. Meneses; Consertão, com Arthur, Paulo Moura, Heraldo do Monte e Elomar; Encontro, com Arthur, Paulo, Clara Sverner e Olívia Byington; Dança das Cabeças, Egberto Gismonti e Nana Vasconcellos. Epa! Já tem mais 13! Que riqueza é nossa música popular brasileira. E quanto talento. Não acabam nunca as possibilidades!... E de Jazz? Há cada coisa bonita. Vamos fazer então também 10 sugestões, para fechar a lista em alto nível. 10 LPs (ou Cds) de Jazz:

- Ella Fitzgerald & Louis Armstrong; Concerto do Carnegie Hall, 1938, Benny Goodman; The Okeh, Duke Ellington; Lady in Satin, Billie Holiday; Gerry Mulligan & Chet Baker Quartet; Take 6; Charlie Parker I e II, selo Imagem, com ele, Miles Davis, Fats Navarro, Bud Powell etc; Time Out, Dave Brubeck Quartet (com Paul Desmond); Quintet Hot Clube of France, com Django Reinhardt e Stephane Grapelli; The Joint is Jumpin, Fats Waller; Atlantic Years, Ray Charles; Jazz, Tony Bennet; King of Delta Blues, Robert Johnson… e já estourei meu limite de novo! Parei porque ia citar em seqüência o disco da Carly Simon, Torch, onde ela canta alguns standards, mas entendo que não seja jazzístico, porém é muito bonito e tem, entre outras coisas, o sax de Phil Woods. Ok. Então, aproveitando, uma lista curta de música internacional, para encerrar de vez. Além da já citada sugiro:

- Abbey Road, dos Beatles; Janis Joplin, com Summertime; Secret Life of Plants, com Stevie Wonder; Simon & Garfunkel, Ao vivo no Central Park; Elton John, com Your Song; Elvis, Sun Sessions; Led Zeppelin, vol.1; A Night at the Opera, Queen; Paco de Lucia; Buena Vista Social Club; Madredeus. Chega, chega, chega. Vamos dar um tempo para apreciar isto que já lembrei aqui. Afinal, em se tratando de som, melhor que falar sobre é poder ouvir. Saio deste teclado e vou agora mesmo me encontrar com alguns desses temas e cidadãos que me vieram à lembrança. Para matar as saudades. Isso sem ter entrado no âmbito do erudito, hein? Legal, fica para uma outra. Só uma coisa: cês já ouviram as Bachianas de Villa Lobos? Abraços! Inté.

S. Paulo, primavera, outubro de 05. José de Almeida Amaral Júnior.

quinta-feira, novembro 10, 2005

O tom do Zé – Parte III


Hoje chegamos ao penúltimo capítulo da saga musical do mestre Zé Amaral. Vamos ao texto?


NÓS E A MÚSICA

A cidade de S. Paulo abrigava várias rádios com programações que possibilitavam ouvir muita música, fosse brasileira ou internacional. Sem aquilo que posteriormente ficou conhecido como ‘jabá’, isto é, a influência da grana comprando espaços e enfiando guela abaixo o que as poderosas multinacionais do disco desejam o que o público consuma. Ao que consta, a proposta ficava a cargo do diretor artístico, ou função assim, que escolhia o que tocar misturando bom gosto com facilidade de empatia para atrair o público. Através das ondas da Bandeirantes, Jovem Pan, Eldorado, Excelsior - ‘A máquina do som’ e Difusora, as duas últimas antecipando o que seriam as FMs pouco depois, desde o crepúsculo dos 60 e por todos anos 70 eu fui sendo apresentado pelos locutores de bonitas e charmosas vozes aos artistas das paradas de sucesso. Navegando as ondas hertzianas fui conhecendo gente que tinha brotado nos festivais da TV desde 65 ou que germinava em outros quadrantes naqueles tempos de hippismo. Peguei gosto. Comecei e não parei mais. Por exemplo: Gil, Gal, Caetano, Rita Lee, Tom Zé, Nara, Maria Bethânia, Edu Lobo, Marcos Valle, Martinho da Vila, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Paulinho Nogueira, Luis Ayrão, Tim Maia, Novos Baianos, Secos e Molhados, Sá, Rodrix e Guarabira, Taiguara, Zé & Arlindo Bettio, Creedence, Eric Clapton, Santana, Joe Cocker, Marvin Gaye, Al Green, Aphrodits Childs, MPB4, Quarteto em Cy, Beth Carvalho, Toquinho e Vinícius, Maria Creusa, Yes, Pink Floyd, Led Zeppelin, Gênesis, James Taylor, Carole King, Focus, Jackson Five, Stevie Wonder, Bread, Carpenters, Charles Aznavour, Rod Stewart, Peter Frampton, Gerry Rafferty, Abba, Alice Cooper, Barry Manilow, Carly Simon, Queen, Commodors, Chick, Kate Bush, Dire Straits, Earth, wind & fire, Alcione, Luis Melodia, Gonzaguinha, Raul Seixas, Ivan Lins, Hyldon, João Bosco, Roberto Ribeiro, Morris Albert, Wando, Genival Lacerda, Odair José, João Nogueira, Belchior, Fagner, Luis ‘Filho da Véia’ Américo, Cassiano, Ruy Maurity, Ednardo, Agepê, Hermes de Aquino, Simone, Renato Teixeira, Peninha, Ivone Lara, Ângela Rorô, Zezé Motta, Alceu Valença, Guilherme Arantes, Gengis Khan, Sidney Magal, Zé Ramalho, Boca Livre, Céu da Boca, Kleiton e Kledir, Joyce, Police, Phil Collins, Eduardo Dusek, 14Bis, Zizi Possi, Elba Ramalho, Marina, A Cor do Som, Roupa Nova, Blitz, Lulu Santos, Chitãozinho e Xororó, Fafá de Belém, Richie, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Titãs, Paralamas do Sucesso, Premeditando o Breque, Rumo, Língua de Trapo, Lobão, Kid Abelha, RPM, Legião Urbana, Tetê Espindola, Men at Work, Prince, George Michael, Cure, Almir Sater.... Nossa Senhora! É tanta gente. Falta tinta no computador para escrever. Vou parar por esse frescor dos anos 80. Todos tocavam no rádio. Ele foi ‘O’ veículo. Ou melhor: ainda é.

Inicialmente portáteis ou tipo cabeceira, depois evoluindo para os chamados 3 em 1, onde se acoplavam gravador de fitas k7, pick-up para os discos e, claro, um receptor com faixas AM e FM num móvel só. Tudo ligado a duas caixas acústicas para encher o ambiente de sustenidos e bemóis. Pode ser no walkman ou no carro. Não importa. Meus sinceros agradecimentos aos inventores desta maravilha que estreou no Brasil em 1922 com Roquete Pinto. Uma salva de palmas que eles merecem!

Lembro que a faixa de FM - Freqüência Modulada fortaleceu-se durante os 80 apresentando música 100% do tempo. Nos anos 90 ela começou a servir para pregação religiosa e também para programas de jornalismo. E estas práticas estão se alastrando no dial. Durante os anos 80 ganhou força igualmente uma nova mídia, o vídeo-clipe. Porém, o rádio ainda é, repito, o grande companheiro. Até na internet tem rádio. A propósito: já escutaram Marisa Monte, Cássia Eller e Mônica Salmaso? Acabei de ouvi-las neste instante pela Cultura AM. Óbvio que o radinho tá ligado...

Ao entrar na faculdade comecei a trabalhar e, com um pouco de cobres nos bolsos, era possível vez em quando ir ao cinema, comer pipocas e descolar uns LPs- os Cds se fixaram nos anos 90 - pelo centrão da cidade. Além do que, chega uma hora em que a gente finalmente deixa de ser boboca e começa a dançar com as garotas. Daí se namora e a coisa com a música fica ainda mais legal porque se ganha discos como dedicatórias e marcas de batom. Certamente livros idem. E, por conseguinte, o acesso à história, às raízes se aprofunda. Os velhos bambas: Pixinguinha, Sinhô, Ernesto Nazareth, Chiquinha, Noel, Assis Valente, Geraldo Pereira, Garoto, Dorival, Jacob, Nelson Cavaquinho, Adoniran, Dick Farney, Tom Jobim. Os sons vão entrando na cabeça e ocupando espaços, de maneira desordenada a priori. Com o tempo vão se organizando, se definindo, se qualificando. E a gente se apaixonando mais.

Acho que assistir a filmes no cinema também ajudou a conhecer mais música. Durante a faculdade, freqüentando cineclubes, incentivado pelo uspiano Cláudio, passei a me ligar mais em trilhas. Um diretor que logo me capturou foi Woody Allen. É possível que tenha me influenciado e me aproximado mais do jazz. ‘Manhattan”, só com temas de Gershwin, é uma beleza. “Radio Days” também foi outra trilha bonita. Por causa dele acabei criando uma mania de espera os créditos finais nas sessões para ver quem tocou o quê na fita... E filmes minimalistas com trilhas do Philip Glass? “Paris, Texas” do Ry Cooder? “Blade Runner” do Vangelis? “O Baile”, de Ettore Scola? “A Última Tentação de Cristo” com Peter Gabriel e músicos orientais? Outros mais antigos como “2001: Odisséia no Espaço” com os Strauss. Que viagem! “Summer of 42” de Michel Legrand? “A Pantera Cor de Rosa” de Henry Mancini? Os filmes de Fellini por Nino Rota? Desde que o cinema uniu-se ao som, foi um par perfeito. Não acham?

Depois da flauta doce na escola, em tempos de puberdade comecei a estudar violão. Tudo muito frouxo. Então, não daria mesmo para ir à frente. Músico tem que ter muita disciplina, excetuando-se aqueles que já nascem feitos, ou seja, virtuoses. Os 98% restantes têm que ‘ralar’ para criar e manter a técnica, seja qual for o instrumento. Inclusive a voz. Cantei pela primeira vez em coral no Centro Cultural Vergueiro, com o regente Joaquim Paulo. Era 1986. Fiz alguns ensaios no grupo particular dele de ‘spirituals’. Sentia vontade de aprofundar na matéria. Depois, em 92, após uma viagem a S. Thomé das Letras, Minas, num por do sol, topo de serra, fiquei vendo e ouvindo uma figura sentada no outro morro à direita tocar um instrumento de sopro que, na distância, não sei se era um oboé, uma flauta, um sax soprano. Todavia, aquela experiência de colher as notas que o sujeito lançava aos ventos me seduziu de vez. Voltei decidido a comprar e estudar clarineta. Lá se foi meu 13º salário. Cinco meses no Conservatório de Santana pulei para a Universidade Livre de Música – ULM que passou a se chamar Tom Jobim enquanto lá estava. Fiz aulas com Marta Vidigal, da Jazz Sinfônica e com o Maestro Portinho. Participei de orquestras e grupos com o regente Roberto Bomílcar, vulgo São José. Cantei no Coral de Mantras de Magali Mussi e Waltel Branco. Conheci uma porção de gente bacana como a clarinetista Rosa, a violonista Enedina, a flautista Malú, meus queridos Edu Caballero da transversal e Carmen, pianista, e tantas figurinhas mais. Foram muitas apresentações em corais, grupos e orquestra. Tempo muito bom, que dá saudades por ter podido praticar junto a todos eles. Música é como beber chopp: sozinho é legal, mas em boa companhia fica ainda melhor.


(continua ...)


AMANHÃ: Zé Amaral e o melhor da MPB. Aguardem.



Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, novembro 09, 2005

O tom do Zé – Parte II

Segue a narrativa do mestre Zé Amaral sobre sua apaixonante história com a música. Para quem perdeu o primeiro capítulo, ele está postado ontem. Boa leitura.



NÓS E A MÚSICA

No início dos anos 70 eu via as coleções de discos nas casas dos adultos. Fuçava aquilo com bastante curiosidade. LPs e compactos de artistas da década que há pouco se acabara e as novidades do momento que pintavam. Achava-se Beatles, Rolling Stones, Mammas & Papas, Holies, 5# Dimensions, Johnny Rivers, Chris Montez, Procol Harum, Simon & Garfunkel, Animals, Bee Gees, Marmalades, Elton John, B.J. Thomas, entre outros. Muitas orquestras populares também reinavam nessas discotecas: Ray Conniff, Frank Pourcell, Paul Mauriat, Burt Bacharach e afins. Entre os brasileiros era fatal encontrarmos Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley Cardoso, Martinha, Chico, Elis, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Jorge Ben etc. Outra coisa comum: achar bolachas de estrelas como Glenn Miller, Ray Charles, Eliseth Cardoso, Altemar Dutra, Ângela Maria, Demônios da Garoa, Carlos Galhardo, Tonico e Tinoco, Elvis ou Nat King Cole. Importante: não passem pela existência sem ouvir atentamente, deste tremendo pianista e cantor, a gravação pelo selo Columbia de ‘Stardust’ (H.Carmichael). Obrigatório. Voltando ao assunto, ao iniciar a adolescência, entre a 5ª e 8ª séries, lembro de ir até Vila Ede, casa do Mauro Tanikawa, cujo irmão mais velho tinha uns LPs de trilhas de novelas, filmes e ele gentilmente deixava a gente ouvir. Ficavam na sala, junto a um pequeno altar budista. Num desses discos tinha uma faixa com Suzy 4 que cantava rouca um rock chamado ’48 Crash’, agitadíssimo, e o grupo Nazareth, que regravou ‘Love hurts’, balada que acabaram por dar uma interpretação mais pesada que a versão original e a moçada vibrava com o solo de guitarra que aparecia no meio. Por falar em solos de guitarra, nada parecido com a emoção na gravação de Paul McCartney & Wings em 74 com ‘My Love’. Fazia tremendo furor nas horas que tocavam ‘as lentas’ e era o momento certo da noite para tirar aquele alguém especial e dançar. Óbvio, quando se reunia coragem para tanto.

Para encontrar discos a casa de Marcelo e o apartamento de dona Benê eram uma festa. Ou quase isso. O marido dela, funcionário da Editora Abril, trazia em meados dos 70 LPs da coleção ‘Gigantes do Jazz’. Apesar de achar complicado sua sonoridade, a princípio, era muito interessante inclusive por conta dos textos e das fotos que vinham juntos dando charme especial à publicação. Um dos filhos do casal, o Pedrão, descolava por vias diferentes outros vinis bonitos. Foi com ele que aprendi a ouvir Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Djavan, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé. Através da Cris Mastrocessário ele emprestara um álbum do Supertramp muito legal. E dona Benê fazia ainda gostosos bolos e docinhos quando a gente baixava pelo seu apartamento. Uma beleza. Pequenos Blues.... Já no caso do Marcelo, o irmão dele era fogo. Trabalhava como economista, ganhava uma grana e tinha sido um dos fundadores do ‘Cavern Club’, grêmio para fãs do ‘quarteto de Liverpool’ em Sampa. Que curriculum! Além disso, era proprietário de uma tremenda coleção das bandas dos anos 60. Coisa fina mesmo. E, boa parte, material importado. Contudo, a maior encrenca rolava se fossemos pegar algo quando ele não estava em casa. Parecia que poderia chegar a qualquer momento e nos flagrar ouvindo. Kinks; Bob Dylan; Cream; John Mayall’s Bluesbreakers; Blind Faith; Duane Allman; Jimmy Hendrix, Janis Joplin, The Doors, The Who; Crosby, Still, Nash, Young; Velvet Underground; Ten Years After; Jethro Tull; tudo de Rolling Stones, e, óbvio, dos Beatles. Juntos e separados. Loucura. Ah! Que vontade de pegar aquilo e sair correndo para o meu quarto... Sim, certo, é preciso também dar crédito ao intrépido Ricardo Okasima, dono de LPs de ‘balanço’, que eu não curtia muito - porém fazia a cabeça da Rosana, da Rosa, da Rosangela, da Érika, da Eriete entre outras flores - e de MPB, como o famoso álbum ‘Opera do Malandro’ do Chico. Era dele ainda um LP de musicas internacionais variadas que continha no repertório a faixa ‘One day at the time’, de John Lennon, interpretada pelo Elton John em grande forma naqueles momentos. Que jóia de gravação!

É comum vermos textos lembrando a ‘época de ouro’ do rádio ao tratar das décadas de 30 a 50, quando ainda não havia a presença da imagem no vídeo disputando as atenções do público. Neles destaca-se a técnica e o carisma de cantores como Vicente Celestino, Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas, Nélson Gonçalves, Carmen Miranda, Aracy de Almeida, as irmãs Batista, Emilinha, Isaurinha Garcia etc. Contudo, os tempos vindouros também precisam ser respeitados pela enorme qualidade existente.



(continua ...)


AMANHÃ: Zé Amaral e o rádio. Aguardem.



Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, novembro 08, 2005

O tom do Zé


Formado em Economia, pós-graduado em Sociologia e mestrado em Política, José Amaral foi meu mestre em meus primeiros momentos no Jornalismo. Como ele é leitor deste blog, escreve - muito bem - para alguns sites (colabora com o Perfil do Uol e com o Ziriguidum) e sua veia musical é muito forte, resolvi convidá-lo para escrever aqui. A partir de hoje vocês vão conhecer a trajetória musical deste homem que adora pastel de palmito e é muito gente boa. Com vocês, mestre Zé Amaral, um cara que entende de música como poucos. Ah, este texto é dos bons, e vem em capítulos, um pouquinho a cada dia. Aproveitem. E obrigada, mestre. Pelo apoio, pela atenção e por dizer que meu blog é cult.




NÓS E A MÚSICA

Este texto foi produzido a partir de um pedido de Janaína, aluna talentosa do jornalismo, nascida no Rio de Janeiro e que tive a sorte de encontrar em uma das classes que lecionei no primeiro semestre deste 2005. Dedico estas mal traçadas linhas a ela e também ao garoto Léo que, além de gostar muito de música, tem a virtude de ser vascaíno.

Uma coisa que me dá grande prazer é falar sobre música. Dentre todas as formas de expressões artísticas como pintura, escultura, arquitetura, ela é a que mais me encanta. Não saberia explicar com exatidão o porquê surgiu essa predileção. Sei que é um fato. Popular ou erudita. MPB, jazz, fado, rock, tango, flamenco, reggae, canto gregoriano ou de monges tibetanos. Não importa, sou um apaixonado por essa magia proporcionada pelo som.

Seria uma questão genética? É verdade que não tenho notícias de algum ancestral ter sido maestro ou mesmo instrumentista lá pelos lados da Serra da Estrela, Beira Alta, Portugal, de onde se origina toda família. Era gente simples. Camponeses, pastores de ovelhas, produtores de queijos. Quem sabe esse agrado tenha vindo através de meu pai, cujo assobio é uma das lembranças de mais tenra idade, ouvindo-o desenvolver melodias enquanto se barbeava ou lidava com seus afazeres no quintal ou no quartinho em fins de semana. Talvez tenha sido por causa de minha mãe, envolvida no dia a dia com suas ‘prendas domésticas’, lavando, passando, cozinhando para os dois filhos e o marido, cantando as canções aprendidas no rádio, ligado todo tempo, como se fosse um outro integrante da casa, cheio de histórias, opiniões e novidades. Pai assobiador e mãe cantora. Seria? Bem, do meu irmão não foi. Eu o carreguei no colo. Podemos aprender a gostar de música ouvindo berreiro de criança pedindo chazinho de erva cidreira para acalmar dores de barriga? Só se for.

A resposta é possível que esteja no convívio comunitário, aquele chamando pela sociologia de ‘grupos secundários’, os amigos, colegas e vizinhos. Vejamos. Segundo meus arquivos da memória, tempos de pré-primário, lá pelos lados do Belenzinho, a Rita, a Maria Amélia e a Tânia gostavam de brincar de boneca. O Eduardo e o Douglas gostavam de brincar de carrinho e jogar futebol. Assim como, já na Vila Guilherme, faziam o Ricardo, o Natanael, o Zé Bacalhau, o João da dona Erotildes, o Yuri, o Tião, o Chiquinho, o Luizinho e o Birico (os irmãos mais magros que já conheci). Não lembro muitas demonstrações artísticas nessa época entre tais figuras. Deixe-me pensar um pouco mais. O Haroldo e o Reginaldo? Qual o quê, o negócio deles era contar piadas. O Hermes? Esse estudava e declamava em eventos cívicos na escola poesias como ele só. O Marcão, da dona Geni e do saudoso sr. Domingos? Super criativo, o objetivo dele era construir um foguete e ir até a lua partindo do seu quintal. O João Marcos? Nada, ele gostava mesmo era de dar tiro de chumbinho em bonequinhos de plástico. Esperem um pouco: seria por causa da Suzana, irmã do Serginho? Acho que não, embora seja verdade que ela cantava no portão de casa enquanto mexia os cabelos longos e escuros. A Janete, da dona Marta, falava que a amiga apaixonou-se e assim ficava enrolando a língua numa daquelas baladas inglesas que faziam sucesso. Um tempo que a moçada dava bailinhos e menino com menina dançavam colados! Sim, já houve coisas assim. Só que eu era muito tímido e não freqüentava tais eventos...

Pequenino, prestava atenção na música que tocava quando ia ver meu avô materno na Bela Vista. Sr. Mário, dona Nair, Conceição, Lourdes, botavam para rodar coisas da Jovem Guarda e afins. Eles gostavam que eu cantasse em sua sala ‘Quero que vá tudo para o inferno’ e ‘A Praia’, respectivamente hits de Roberto Carlos e de Agnaldo Rayol. Ganhei deles meu primeiro disco: um compacto do Trio Esperança. Nem vitrola em minha casa tinha. Mais tarde também me presentearam com o sucesso ‘Retalhos de Cetim’ de Benito di Paula, sambista que ficou famoso martelando o piano. Interessante que, apesar de estar no coração do bairro do Bexiga, o que menos ouvi por lá foram árias de ópera ou canções napolitanas interpretadas pelos muitos oriundi e descendentes de italianos que habitavam o pedaço. Porém, pude ver e ouvir várias vezes, subindo a rua Manoel Dutra, a alvi-negra escola de samba Vai-Vai, fundada em janeiro de 1930. Salve o pessoal do Saracura!

Dona Norma na 5ª série foi minha professora de música número 1. Com ela efetivamente pude tocar as primeiras notas musicais através de uma flauta doce. Observem: isso era escola pública. Através dos trabalhos que pedia, descobri a série da Abril Cultural chamada “História da Música Popular Brasileira” onde fascículos semanais ou quinzenais procuravam mapear os grandes compositores da MPB e davam, junto com o texto escrito por especialistas, um disco com 10 ou 12 canções do personagem em destaque. Até hoje é um excelente recurso de pesquisa. Lembro-me de ter feito um trabalho com o pianista e compositor Johnny Alf, autor de ‘Eu e a Brisa’ e ‘Ilusão à toa’. Nos sebos da cidade ainda há possibilidades de se achar vários desses exemplares uma vez que houve 3 ou 4 edições da coleção. O colégio também tinha uma bela fanfarra da qual nunca participei. Que bobeira... assim, como os tais bailinhos, é outra das minhas frustrações acumuladas.


(continua ...)

AMANHÃ: Zé Amaral e os anos 70. Aguardem.



Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, novembro 07, 2005

A arte é pop


Sábado consegui, finalmente, ir ao Instituto Tomie Ohtake para conferir a exposição de um dos maiores artistas da Pop Art: Roy Lichtenstein. “Vida Animada” é uma rara oportunidade para o público brasileiro conhecer a obra de um dos maiores ícones da arte, que discutia a cultura de massa e o universo norte-americano, especialmente na década de 60. A exposição propõe um mergulho na obra de Lichtenstein, fato inédito no País e na América do Sul, destacando obras da década de 60 a 90, incluindo seus últimos trabalhos, de 1995, dois anos antes de sua morte. Isso faz de “Vida Animada” um importante acontecimento para quem gosta de artes plásticas.

Já faz um bom tempo que vi, no CCBB do Rio, a exposição de outro mestre da Pop Art, Andy Wahrol. Lembro-me que na época eu fiquei fascinada com o colorido e com a transformação dos mitos em obras de arte. Hoje, sei que Wahrol contribuiu muito para o que a sociologia chama de ‘coisificação do homem e humanização das coisas’, ou seja, transformou o ser humano num objeto e vice-versa. Lá estavam Marilyn, Elvis, Jackie Kennedy e a onipresente Coca-Cola, símbolo do imperialismo americano. Aliás, existe coisa mais humanizada do que uma garrafa de Coca-Cola? Agora, pude me encantar com os 78 trabalhos, entre desenhos e colagens, que oferecem um panorama de mais de 35 anos da trajetória do outro mestre pop, Lichtenstein. Com uma linguagem aparentemente banal, ele esconde um sutil e complexo pensamento conceitual.

O desenho sempre foi o núcleo da estética e o ponto de partida da arte de Lichtenstein, que tem um estilo bem marcante, baseado nas HQs, cartuns, anúncios publicitários e em clichês retirados do universo da comunicação de massa. Ele produziu cerca de três mil desenhos e trabalhos em papel em seus 50 anos de carreira, sendo que todas as suas pinturas e esculturas partiram de algum desenho. Além disso, demonstrou que as imagens veiculadas pelos canais de comunicação em massa são meticulosamente produzidas com a finalidade de esvaziar o pensamento, rebaixar a leitura e a escrita, e transformar a fala numa forma de expressão repleta de gírias. Assim, sua obra é marcada por onomatopéias, pin-ups, gêneros tradicionais como paisagem, natureza-morta e figura, muito colorido e visual reticulado, reproduzindo friamente cenas do cotidiano e produtos de consumo. Ele não usava apenas o desenho na preparação de obras maiores, como também via o desenho como uma linguagem abstrata de signos, contestando com humor e ironia o próprio conceito da arte na era da reprodução em massa.

Lichtenstein faz parte de uma geração que reagiu ao expressionismo abstrato, movimento voltado a temas míticos e à expressão individual, para embarcar em um mundo comum, no dia-a-dia, no cotidiano. Com isso, esta geração, que reunia gigantes como Andy Warhol, Claes Oldenburg, James Rosenquist e Tom Wesselmann, celebrava a paisagem sem emoção dos produtos de consumo, extraindo uma diferente dimensão da psique americana. Uma geração extremamente pop, que soube criticar a cultura de massa, transformando-a em objeto de arte.


Exposição Vida Animada – Desenhos de Roy Lichtenstein
Até 20 de novembro de 2005
Terça a domingo, das 11h às 20h - Entrada franca
Instituto Tomie Ohtake - Av. Faria Lima, 201 (entrada pela Rua Coropés, 88) - Pinheiros – São Paulo - Fone: 11 2245.1900


Janaina Pereira
Redatora

domingo, novembro 06, 2005

Sol desbotado


(para ler ouvindo “As canções que você fez para mim”, com a Maria Bethânia)


Hoje está um dia lindo de sol
Pra que?
Por que?
Nem olho pela janela
Não quero chorar, não há lágrimas
Nem suspiros
Só uma angústia
Uma tristeza que não acaba
Uma sensação de tempo perdido
Preciso sentir o vento no rosto
Preciso me desligar
Preciso sair correndo
Párar o mundo para descer e ficar espiando
Quero sair correndo
E mesmo que eu queira fugir
Os pensamentos ficam
As lembranças acompanham
Mas no final da história
Eu continuarei só
Sem ter você aqui.


Janaina Pereira
Redatora

sábado, novembro 05, 2005

Polêmicas no blog


Pois é, meus amigos companheiros de escriba e leitores do blog acharam que peguei pesado no texto anterior. Não estou aqui para defender os mestres não, pelo contrário, aqueles que me conhecem sabem que eu pego no pé dos professores ... mesmo.

Acho que tem professor que vai para a aula jogar suas amarguras e frustrações em cima da turma, mas também acho que tem aluno que pensa que pode tudo só porque está pagando a faculdade. Tem professor em cima do muro, tem professor conivente com cola, tem professor que nivela a turma por baixo, tem professor que não aceita a opinião dos outros. Mas tem aluno que acha que manda mais porque a autoridade é dele (que paga a mensalidade), e não do mestre. O que questiono é a falta de respeito que impera nas salas, a educação como mercadoria barata – coisa que não é.

A coisificação do ser, cada vez mais inanimado, me irrita. E fico mais irritada com os coniventes, com todos que não tem peito para falar. Eu não apenas tenho peito pra dizer o que penso, como falo na cara mesmo. Mas tem gente que não se preocupa e não quer ouvir. Até que ponto a Universidade só quer receber sua grana e vender a educação como mercadoria? Até porque, estudar não é algo importante no Brasil; quem pensa, neste país, nunca teve o menor valor.

E sobre as amizades da sala de aula ... sempre achei que poderiam ser as mais verdadeiras. Claro que faço amigos na faculdade, até porque tem gente que vale a pena sim. Mas este não é e nunca foi meu objetivo final. Eu não sou dessa cidade, sofro preconceitos e, definitivamente, fazer amigos não é algo fácil na paulicéia. Ao contrário do que se pensa, a universidade é sim uma disputa de vaidades, porque poucos sobreviverão. Mas tenho consciência que levarei algumas pessoas amigas ao final do curso.

Outro dia um professor me perguntou se eu já estava na área de comunicação, e eu respondi: ‘sou publicitária, tenho este defeito; mas não acho que como jornalista vou me redimir disso’. É bem por aí: não quero ser absolvida dos meu pecados, mas quero cometer menos deslizes na vida.

E quando eu entro numa sala de aula quero acreditar que a humanização das coisas é passageira, assim como a coisificação do homem. Não é. A educação é mercadoria vendida em qualquer Universidade. Os alunos não querem pensar e muitos professores não se importam com isso. Quase tudo é burocrático. Mas eu posso fazer a diferença. E é por isso que eu ainda estou lá, em frente ao quadro negro – que é verde! – sabendo que o mundo não vai mudar por minha causa. Mas, mesmo assim, acreditando que minhas palavras e minhas idéias ainda podem mudar o mundo.



Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, novembro 04, 2005

Eu nunca faço média


(para ler ouvindo “É” com Gonzaguinha.)


Eu queria dizer tudo que penso mas não dá. Quem sabe, de repente, eu posso escrever sobre isso. Às vezes sinto-me enganada. Estou ali, sentada em minha cadeirinha, lutando para ter mais conhecimento. Quero saber mais, sempre. Quero que me digam além do que estou ouvindo. Mas a maioria não quer ouvir e os mestres, muitas vezes, acabam se cansando de falar.

Ao voltar à sala de aula, coloquei os estudos como prioridade em minha vida. Sou publicitária, mas rasguei minha carteirinha faz tempo. Fui obrigada, durante anos, a escutar de todo mundo que meu texto era jornalístico, e não publicitário. Meu portfólio, com aqueles ‘fantasmas’ que todo mundo sonha fazer, está lá, num canto da sala, esperando o dia em que eu tiver que ‘rodar a pastinha’, a primeira forma de prostituição explícita que a propaganda nos faz passar.

Nunca achei que ser jornalista ia fazer de mim uma pessoa melhor. Meu blog só é legal porque não tenho um editor em cima de mim dizendo o que posso ou não escrever. Eu nem sou tão ácida com as palavras, talvez um pouco venenosa ... e meu maior defeito – para muitos – é questionar tudo. Sempre.

Eu questiono a nota quando acho que merecia mais, e um 9,5 é totalmente diferente de um 10, sim. Eu não acho que a prova vai provar se sou boa ou não, e muitas vezes não posso me dedicar aos trabalhos como gostaria. Mas eu me esforço para mostrar, todos os dias quando entro na sala de aula, que eu sou diferente da maioria que está ali.

Não estou na faculdade para fazer amigos. Nem para competir. Muito menos para encher o saco dos outros, ou desrespeitar as pessoas. E também não acho que, porque estou pagando, eu tenho o direito de fazer o que bem entender. Estudar, para mim, não é uma mercadoria. Não serve o 'paguei, levei'. Conhecimento não pode ser vendido dessa forma. Isso é falta de respeito com quem quer aprender e com aqueles que estão ali para ensinar. E na minha casa me ensinaram a ter educação, fizeram com que eu acreditasse que estudar valia a pena, e o respeito e a busca pelo conhecimento sempre foram as bases da minha vida, sempre tiveram igual importância.

Mas me sinto violentada quando não posso ouvir o que um professor fala porque os gritos histéricos de alguns alunos não deixam; quando o desfile de moda e aquele entra e sai da sala atrapalha; quando a correria para falar ao celular prejudica e a necessidade irracional de estar ali somente para responder a chamada é parte mais comentada da aula. Isso me enche.

Aos mestres, a quem eu tenho a mais sincera devoção, deixo meu consolo e meu alento, pois nem sempre consigo acompanhar os raciocínios. Questiono métodos, tento me encaixar ao esquema, mas acima de tudo eu procuro mostrar que estou além do 9, ou do 9,5, ou do 10 que tirei na prova. Aliás, eu sou péssima aluna de Língua Portuguesa. Escrevo muito, tenho vícios, e a essa altura do campeonato nem a Nanci consegue me consertar. Ah, e ser péssimo aluno para mim é tirar um 7, um 8. mas não acho que quem tira esta nota é ruim, eu é que acho que isto é o mínimo que posso mostrar sobre o que sei.porque eu sei mesmo, não colo, não disfarço, não engano, afinal, já não tenho idade para isso. eu não sei tudo, e quando não sei nada eu procuro argumentar. Porque eu sou exigente mesmo, porque eu gosto de provas inteligentes, gosto de pensar, de ter conhecimento dos assuntos, de refletir, de expor minhas idéias. Eu gosto de estudar. Será que isto é um crime ?

A vida tem me ensinado – e eu tenho só 31 anos – que nunca se deve desistir, e que na hora que o barco estiver afundando, é quando a maré vai virar. Então vou seguir enquanto der, tendo a certeza de que alguns mestres acreditam que posso, alguns companheiros de escriba até acham incentivo nas minhas linhas, e que eu tenho este dom natural de passar emoção através das palavras.

Agora, por exemplo, eu estou chorando. Porque não quero acreditar que meu sonho vai ser em vão. E é por isso, e só por isso, que minha maior arma continua sendo as minhas palavras. Doces ou cruéis, elas ainda são o que há de melhor em mim.



Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, novembro 01, 2005

Palmas para eles


A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo está chegando ao fim e, confesso, só me interessou mesmo assistir a um filme. Não tenho muita paciência para estas maratonas, embora concorde com elas. Gostaria muito de ver “O Encouraçado Potenkim” com orquestra no Memorial da América Latina, mas estou indisponível no dia da sua exibição. Um filme (belga!), porém, me fez driblar a gripe do final de semana: “A Criança” (L´enfant), Palma de Ouro no último Festival de Cannes. E o fato dele estar fora de perspectiva de ser exibido em circuito, me fez ter a certeza de que deveria assisti-lo. Não me arrependi.

A história gira em torno de Sonia (Débora François), uma jovem de 18 anos que acabou de dar à luz a um menino. Bruno (Jérémie Renier), o pai, com 20 anos de idade, vive de pequenos roubos cometidos por ele e seus comparsas adolescentes. Os dois vêem de maneira bem diferente o significado da chegada desta criança, sendo que os atos de Bruno em relação ao filho colocarão o casal diante de sérios dilemas sobre suas existências.

Com um roteiro seco e sem reviravoltas, os irmãos diretores Jean-Pierre e Luc Dardenne fizeram de “A Criança” um filme com enfoque social e político, sem nunca cair no panfletarismo sem conteúdo. A técnica que eles utilizam é bem peculiar: câmera na mão grande parte do tempo, sempre em busca de drama pertinente, na maioria das vezes, ao mundo operário da Bélgica; e o uso de atores profissionais e não-profissionais, selecionados geralmente por anúncios em jornais. Dramas sociais e denúncias políticas são temas constantes nos filmes dos diretores, que vão nos apresentando as situações de maneira real e sensível. Isso leva o espectador a um momento cada vez mais raro no cinema: tirar suas próprias conclusões.



Janaina Pereira
Redatora

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