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segunda-feira, outubro 31, 2005

Folia no palco


Conheci neste final de semana, graças a minha amiga querida Ana Paula, o Galpão do Folias, um espaço bem bacana que dá ao teatro uma nova perspectiva. Com apenas 57 lugares, sem palco, e permitindo aos atores encenarem dentro e fora do Galpão, o local é a casa do excelente grupo teatral Folias D´arte. E foi lá que passei algumas horas agradáveis assistindo a peça “El dia que me quieras”.

Escrita em 1979 pelo venezuelano José Ignácio Cabrujas, a montagem narra de forma bem humorada a visita de Carlos Gardel (Dagoberto Feliz) à casa dos Ancízar, família tradicional burguesa decadente da Venezuela de 1935, que se esforça sem sucesso para manter o glamour dos velhos tempos. Sua visita coincide com o surgimento de uma crise familiar ocasionada pelo possível desmembramento do clã a partir do desejo de uma das irmãs, Maria Luiza (Simoni Bôer), em vender a casa para se aventurar com seu noivo Pio Miranda (Reinaldo Maia), militante da causa comunista.

“El dia que me quieras” chama a atenção pela interpretação farsesca e a crítica musical, que estão a serviço do diálogo de oposição entre a utopia socialista do velho militante Pio Miranda e a indústria cultural que a figura mítica de Carlos Gardel representa. Uma interessante visão do autor, que se utiliza desta comédia política para propor uma reflexão sobre o sonho, a utopia e seus mitos. Destaque para a direção de Marco Antônio Rodrigues, que se aproveita bem da atualidade do texto, e a primorosa interpretação de Bete Dorgam como a mandona Elvira.

Vale ressaltar a radical apropriação do espaço da rua nas cenas em que a porta do galpão se abre e o público vê, misturados aos atores, os transeuntes perplexos na tentativa de compreender o que se passa. Uma experiência teatral bastante particular e que merece ser apreciada.



Ficha Técnica
Texto: José Ignácio Cabrujas.
Tradução: Antonio Mercado.
Direção: Marco Antonio Rodrigues.
Com o grupo Folias D’Arte. (Bete Dorgam, Bruno Perillo, Dagoberto Feliz, Flávio Tolezani, Patrícia Barros, Reinaldo Maia, Simoni Boer, Demian Pinto, Imyra Santana, Val Pires e Bira Nogueira)
Duração: 135 minutos (com intervalo).
Censura: 12 anos
Galpão do Folias (rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília, São Paulo, SP, tel. 0XX/11/3361-2223). Últimos dias. De quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h. R$ 20 (estudante paga meia!)


Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, outubro 28, 2005

O silêncio vai preceder um esporro


Hoje, quando amanheceu, nem percebi que já era dia. Estou sonolenta e melancólica. Sinto saudades.

Olho para o dia de ontem e tudo parece em vão. Não tenho esperanças; suponho que o mundo emudece na gargalhada insana daqueles que sabem como fazer o mal. O mal é uma fonte de inspiração para todos que acreditam serem melhores do que são. Ele corrói tanto que parece que, em alguns casos, faz parte naturalmente de um ser. Ele está em cada esquina, espiando a gente para dar o bote.

Minha garganta fechou completamente. Claro ... não falo o que penso, não extravazo o que sinto. Até as lágrimas secaram. Chorar já não adianta, me calei diante dos fatos. Tenho um perfil que é classificado como rebeldia. Não nego. Sou contestadora, reclamona, chata. Não sou perfeita e nem exijo isso de ninguém, mas eu luto pelos meus direitos. Eu não vou morrer calada. Que se exploda o mundo corporativo, o capitalismo selvagem, as pessoas acomodadas. Eu ainda acho que vale a pena lutar.

Eu vou morrer em pé, com as armas e os escudos de São Jorge em minhas mãos; eu sou apocalíptica, sou aquela que dá a cara para bater. Eu quero cuidados, mas também quero respeito. Do alto da minha plataforma vermelha, vejo o mundo mais disperso, menos esperto. Sou boba, sou irritante, sou voraz e inquieta. Eu não deixo que pisem em mim sem meu consentimento. Eu bato para valer, até sangrar, até que eu veja que a dor é tanta que o indivíduo suplicou pela sua vida ... pediu clemência ... mas nem sempre perdôo. Muitas vezes eu deixo morrer.

Mataram minha esperança de dias felizes, mataram minha fé de dias melhores. Matam-me aos poucos. Minha alegria é triste, minha garganta não consegue se curar porque não sei como expressar minha angústia, minha revolta, minha indignação.

Nem sempre dá para ser forte e hoje eu quero ser frágil. Quero chorar até o dia acabar e eu perceber que morri. Amanhã eu vou nascer de novo, porque sempre volto das cinzas.

Sinto-me só.

Sinto-me triste.

Sinto-me perdida no meio da multidão que nem sabe para onde vai.

Hoje o dia parece estranho, sem gosto de vinho, sem beijo na boca. Hoje o dia não amanheceu para mim. Eu não acordei. Eu não estou aqui. Eu esqueci minha alma em casa. E meu corpo procura um lugar para descansar e deixar que esta inveja que se apossou dele seja levada para o mar, com as águas claras de Iemanjá.

Hoje eu sou forte como as pedras do Arpoador.
Hoje eu sou fraca como o vento que não ameniza o calor.
Hoje eu nada sou.
Amanhã tudo melhora.

Que São Judas Tadeu me ajude a vencer as causas impossíveis, invisíveis e inviáveis.


Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, outubro 26, 2005

Cariocas


Quando meu amigo David me chamou para assistir ao show da Fernanda Abreu no último domingo, no Sesc Vila Mariana, não titubeei. Apesar de não ser fã dela, por achá-la o esteriótipo do carioca marrento, gosto de algumas de suas músicas. Além disso, 9 entre 10 pessoas que me conhecem em SP, quando ouvem ou vêem a Fernanda Abreu, lembram de mim. Segundo uma amiga minha, eu sou cada trecho da letra de “Garota Sangue Bom”. E, para matar as saudades do Rio, show com sotaque já está valendo.

Para minha surpresa, Fernanda apresentou um variado repertório de samba em seu eletroacústico, que reunia instrumentos de percussão e guitarras. Desde a ótima “Aquarela Brasileira” ao grand finale “É hoje”, a cantora tocou tamborim, acompanhada por músicos com repique, pandeiro, cuíca e uma batida fortíssima. Os samplers, outra marca registrada dela, deram força em algumas músicas como “Baile da pesada”, um funk cuja batida é contagiante. Aliás, Fernanda curte um funk e não nega: este som esteve presente em boa parte do show.

Simpática e carioquíssima, Fernanda Abreu cantou para os exilados, os perdidos na terra da Garoa e os paulistanos que não têm preconceito com o sotaque mais charmoso do Brasil. E entoou em forma de oração a maravilhosa “Jorge de Capadócia”, sob luz vermelha e com total devoção à letra inspirada na oração do Santo Guerreiro. Outro grande momento foi “Jack Soul Brasileiro”, homenagem de Lenine a Jackson do Pandeiro, que a cantora gravou originalmente em 1995. Os maiores sucessos da carioca também apareceram pelo palco da Vila Mariana, como “Rio 40 graus” (que foi boicotada no Rio na época de seu lançamento e só virou febre nas rádios graças aos paulistanos que adoravam a música), “Veneno da Lata” (a música que inspirou o nome deste blog) e a belíssima “Um amor, um lugar”, que Herbert Vianna compôs especialmente para Fernanda.

Com seu repertório cheio de músicas que falam do Rio, muito suingue e estilo cativante, Fernanda Abreu presenteou o público com o típico calor humano carioca numa chuvosa noite paulistana. Para mim, foi uma benção ouvir meu sotaque com todos os ‘esses’, ‘erres’ e ‘maneiros’ que ele tem. E para vocês, deixo a letra da música que explica porque uma carioca sempre se sobressai na multidão.




Garota Sangue Bom
(Fernanda Abreu)


Junto com a boca
Vem a coxa debochando
No compasso do escândalo dançante
Meio samba meio funk
Vem dançando no açúcar
Da presença feminina carioca
Suburbana, carioca Zona Sul
Corpo que é alma
Assim sublime irresistível inspiração
De cidade maravilha cortesa
Sintetizada pelas ondas
De um corpo feminino que é
Prestígio de calibre sensual
Olha o jeitinho dela falar
Olha o jeitinho dela dançar
Olha o jeitinho dela olhar
Olha o jeitinho dela andar
Olha o jeitinho dela paquerar
Olha o jeitinho dela go-go-go
Garota carioca
Suingue sangue bom
Garota carioca
Suingue sangue bom
Dá gosto de ver a inteligência
Movendo um corpinho como esse
Luz gostosa de boate
Fervilhante pagodinho churrascante
Na noturna suburbana
Tem garota sangue bom
No charme do suingue
Do desejo inevitável
Que é o convite irrecusável
Que o açúcar da presença
Feminina carioca
Quente paraíso do espírito excitado
Pela festa dos sentidos animados pelo sol
Quente paraíso do espírito excitado
Pela festa dos sentidos animados pelo mar
Garota carioca
Suingue sangue bom
Garota carioca
Suingue sangue bom



P.S.: Este show foi uma dica do Leo em www.balcaodapadaria.blogspot.com


Janaina Pereira
Redatora

sábado, outubro 22, 2005

Uma tarde impressionista


Não sei descrever qual foi a minha sensação ao olhar uma obra de arte pela primeira vez. Lembro que desde pequena ia aos museus do Rio, em especial o Museu Histórico Nacional, na Quinta da Boa Vista. Meus pais me ensinaram a apreciar a arte ainda muito nova e as aulas de história ajudaram também. Além disso tenho paixão por filmes que relatam períodos históricos, particularmente filmes de guerra. Isso tudo contribuiu para que eu gostasse de arte desde que me entendo por gente.

Minha primeira exposição importante foi Rodin, uma descoberta maravilhosa. Depois vieram Dali, Picasso, Goya, Camille Claudel, Botero, Miró, Renoir, e ele, o meu preferido, Monet. Suas obras me provocam uma emoção ímpar e eu lembro como foi entrar em sua exposição no MNBA do Rio; ver a ponte, a sua impressão do mundo, e da natureza em especial; “A Catedral” e o trabalho fascinante com a luz. Monet para mim é a representação do belo de Baudelaire: algo que não dá para descrever pois ele é eterno, invariável e difícil de explicar por si só.

Ter aulas de Estética e Comunicação na faculdade só tem colaborado para que meu fascínio pelas artes aumente. A certeza que farei o meu tão sonhado curso de história da arte persiste. E por tudo isso, levar uma paulistana para conhecer o Masp foi uma das melhores coisas que já fiz na minha vida na Paulicéia. Eu e minha amiga Valéria passamos uma tarde inesquecível em nosso passeio cultural. E ver uma pessoa descobrir este mundo é uma experiência bastante particular. O olhar da Val para cada obra que ela conheceu em uma sala de aula foi único. Acho que nunca vou esquecer sua expressão ao ver “A ponte com as ninféias em Giverny”, do Monet. Minutos antes eu contava para ela sobre a tal ponte, o jardim da casa do Monet e tudo mais que sei sobre ele (sempre ele!). E quando ela viu o quadro, sem saber quem o pintou, e disse: “Nossa, que lindo! Eu não sei porque eu gostei, mas eu gostei!!!”, pensei: “Meu Deus, ela descobriu o Monet!” Isso é mágico: descobrir uma arte, gostar dela sem saber o porquê, simplesmente olhar e pensar: “uau!”

E nossa tarde foi assim, uma aula prática do que as artes plásticas podem fazer com a gente. Lá estavam Van Gogh, Gauguin, Toulosse-Lutrec, Léger, Sagall, Matisse, Modigliani, Cézanne e as meninas em azul e rosa de Renoir, todos esperando pelo nosso olhar, nossa admiração, nossa alegria de descobrir que sabemos além do que vemos, e que sentimos além do que percebemos.

Ainda deu tempo de ver Lígia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Regina Silveira, Guto Lacaz e um mundo de sensações, vertigens e ilusões que o Itaú Cultural nos ofereceu. Lá vimos a evolução do lúdico nas artes, desde o início do século XX até os dias de hoje na ótima exposição “Homo Ludens – do faz-de-conta à vertigem”Uma tarde impressionista, impressionante, rica em conhecimentos e repleta de descobertas. E tudo isso porque um cinéfilo disfarçado de professor, que atende pelo nome de Luiz, entrou numa sala de aula e fez minha amiga Valéria abrir os olhos para um novo mundo. Um mundo de cores, impressões e expressões que revolucionaram a história das artes. Um mundo que vale a pena conhecer e se entregar completamente, sem medo. Porque cultura é uma das maiores riquezas que podemos adquirir. E quando você se dá conta disso, e se permite tê-la por perto, é um caminho sem volta. Mas um caminho simplesmente fascinante.


P.S.: E a exposição sobre cinema da “Folha de São Paulo” no Conjunto Nacional hein ? Ver a capa da Ilustrada no dia do lançamento de “Star Wars” e “Indiana Jones e o Templo da Perdição” é algo indescritível. Pois é, neste sábado o mundo das artes estava realmente esperando por nós!


Cinema: arte impressa no jornal
Conjunto Nacional
Avenida Paulista 2073
Domingo a Domingo
Grátis


As 100 Maravilhas - Impressionismo e Influências
Masp
Avenida Paulista 1578
De terça a domingo das 11h às 18h
Até 30 de dezembro
Ingresso: R$10,00 – Estudante paga meia!


Homo Ludens
Itaú Cultural
Avenida Paulista 149
De terça a sexta das 10h às 21h – Sábado e domingo de 10h às 19h
Até 29 de janeiro
Entrada Franca



Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, outubro 21, 2005

Cadê ela ?


Hoje senti um negócio esquisito.
De repente me deu vontade de chorar. Sei lá. Fiquei triste. Lembrei do nosso waffle com sorvete de creme e calda de chocolate no Pibu´s. Lembrei da viagem a Poa. Lembrei do primeiro job de Casa Verde.

Puta que pariu.

É foda quando alguém que gostamos parte sem aviso prévio. Simples assim: ela sai hoje de cena, dos jobs, do stress diário, da vidinha que levamos achando que amanhã vai ser melhor. Não vai. Amanhã não tem Fabi aqui para rir com a gente, para achar tudo diferente, para caminhar pela agenda com seus inesquecíveis sapatos verdes. Amanhã não tem Fabi para me chamar de ‘gata’, para elogiar os textos, para desfilar seus óculos fashion.

Amanhã não tem Fabi, nem segunda vai ter mais; a Fabi vai andar por outras bandas, por outros jobs, por um sorriso maior.

Mas para sempre terá Fabi dentro do meu coração.

Boa sorte, gata. Saiba que esta carioca sempre achou você uma das mulheres mais incríveis que Sampa concebeu. E que bom que eu tive o imenso prazer de conhecer você.



Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, outubro 18, 2005

Cinema é a melhor diversão



Segue a já tradicional lista de filmes interessantes para vocês alugarem. Este blog é um serviço de utilidade pública aos cinéfilos, e para não deixar ninguém na mão, a lista está mais curta – são 10 filmes ao invés de 15. Mas todos foram vistos e revistos por esta redatora, alguns até recentemente ... portanto as dicas são quentes. Podem anotar os nomes e correr pra locadora !



1 – BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDRÓIDES - dirigido por Ridley Scott e produzido há mais de 20 anos, é um dos maiores clássicos do cinema contemporâneo e filme referência da década de 80, além de ser um dos melhores do gênero ficção-científica em todos os tempos. O roteiro, baseado no livro “Do Androids Dream of Eletric Shepp ?” de Phillip K. Dick (autor também de “Minority Report”), narra uma história passada num futuro sombrio. Em 2019, numa Los Angeles decadente, poluída, individualista, superpovoada e com sua chuva ininterrupta, andróides, que são capazes de pensar, intuir e até se emocionar, são programados para servir à colonização do espaço. Deckard (Harrison Ford, absurdamente lindo) é um ex-policial que volta à ativa para liquidar um grupo de andróides rebeldes (replicantes), que exigem o prolongamento de seu tempo de validade. Nessa jornada, que é também uma auto-descoberta (no bom estilo do gênero noir que inspira o filme), ele se apaixona por Rachel (Sean Young), suspeita de ser uma andróide. E o que o destino reserva a Deckard é tão obscuro quanto o futuro que vemos na tela. Assista as duas versões, curta a inesquecível trilha sonora de Vangelis e aproveite um dos maiores filmes que o cinema já produziu – meu favorito desde os 12 anos de idade, quando eu o descobri.


2 – AS VIRGENS SUICIDAS – a comentada estréia de Sofia Coppola (“Encontros e Desencontros”). O filme enfoca os Lisbon, uma família saudável e próspera que vive num bairro de classe média de Michigan, nos anos 70. O sr. Lisbon (James Woods) é um professor de matemática e sua esposa (Kathleen Turner) é uma rigorosa religiosa, mãe de cinco belas adolescentes, que atraem a atenção dos rapazes da região. Quando Cecília (Hanna R. Hall), de apenas 13 anos, comete suicídio, as relações familiares se decompõem rumo a um crescente isolamento e superproteção das demais filhas, que não podem mais ter qualquer tipo de interação social com rapazes. Mas a proibição apenas atiça ainda mais as garotas a arranjarem meios de burlar as rígidas regras de sua mãe. Bom relato sobre a hipocrisia que volta e meia cerca os ambientes familiares.


3 – TOY STORY – outro que entra fácil na minha lista de favoritos. O aniversário de Andy está chegando e os brinquedos estão nervosos. Afinal de contas, será que um deles será esquecido por alguma nova maravilha da tecnologia? Este é o dilema central do divertido filme, que apresenta a história de como Woody, um caubói do faroeste, e Buzz Lightyear, um astronauta do espaço, se conhecem e disputam a preferência de Andy. O primeiro filme da parceria entre a Pixar e a Disney e estréia do gênero animação computadorizada nos cinemas. Com dublagem original de Tom Hanks (Wood) e Tim Allen (Buzz) e direção de John Lasseter.


4 – DE OLHOS BEM FECHADOS – último filme de Stantley Kubrick. A história gira em torno do médico Bill Harford (Tom Cruise), que é casado com a curadora de arte Alice (Nicole Kidman). Ambos vivem o casamento perfeito até que, logo após uma festa, Alice confessa que sentiu atração por outro homem no passado e que seria capaz de largar o marido e a filha por ele. A confissão desnorteia Bill, que sai pelas ruas de Nova York assombrado com a imagem da mulher nos braços de outro. Os acontecimentos que vão surgindo a partir daí fazem com que Bill entre num mundo onde ele já não sabe mais o que é real e o que é imaginário. Surpreendente a cada cena, funciona como uma excelente terapia para casais.


5 - CENTRAL DO BRASIL – o premiado filme brasileiro de Walter Salles. O filme retrata a vida de Dora (Fernanda Montenegro) e Josué (Vinícius de Oliveira). Ela, uma professora aposentada que ganha a vida escrevendo cartas para analfabetos, na maior estação de trens do Rio de Janeiro, a Central do Brasil do título. Ele, um garoto pobre, que com oito anos de idade perde sua mãe no Rio de Janeiro e sonha com uma viagem ao Nordeste para conhecer o pai. Dora conhece Josué, que após a morte da mãe fica perdido e entregue às várias formas de violência urbana, típicas de uma cidade grande num país subdesenvolvido. Após um grave acidente, onde Josué quase foi vítima de uma tentativa de tráfico para o exterior, Dora rende-se ao apelo do menino e o acompanha em busca de seu pai e irmãos numa longa viagem para o sertão da Bahia e de Pernambuco. Emocionante e poético, uma obra-prima do cinema nacional, com destaque para a arrebatadora atuação de Fernanda Montenegro.


6 – HARRY & SALLY – o filme percussor do gênero comédia romântica. Roteiro esperto e atuações simpáticas garantem o charme dessa produção. Após se formarem pela Universidade de Chicago, Harry Burns (Billy Crystal) e Sally Albright (Meg Ryan), um casal de estudantes, viajam juntos para Nova York. Com o passar dos anos cada um leva a sua vida, se vêem esporadicamente, mas aos poucos, e de forma um pouco assustadora, descobrem que estão se apaixonando. A cena de Meg Ryan simulando um orgasmo na lanchonete é antológica. Dirigido por Rob Reiner (“Conta Comigo”)


7 – FOME DE VIVER – relançado nos cinemas recentemente, é o filme mais cult sobre vampiros da década de 80. A história se passa em Nova York onde Mirian Blaylock (Catherine Deneuve), uma imortal secular, vive ao lado de seu amante John (David Bowie). Embora vampiros e humanos sejam raças distintas, uma pessoa normal pode ter sua vida extremamente prolongada se dividi-la com uma dessas criaturas. Mas há um revés: depois de séculos, humanos comuns esbarram num limite natural e envelhecem subitamente. John está há poucos dias de enfrentar sua sina e procura a ajuda de uma cientista, Sarah (Susan Sarandon), especializada em envelhecimento. Porém, a ancestral e sensual Mirian decide que é hora de tomar para si uma nova amante. Dirigido por Tony Scott.


8 – PEGGY SUE, SEU PASSADO À ESPERA - dirigido por Francis Ford Coppola, foi lançado em 1986, em meio a onda de fitas que levavam seus protagonistas ao passado para modificar o presente - é considerado o "De volta para o futuro" de adultos. O roteiro gira em torno de uma mulher de 43 anos, a Peggy Sue do título (Kathleen Turner), que está à beira do divórcio. Após desmaiar durante uma festa de confraternização, ela inexplicavelmente retorna ao passado. Nesta volta no tempo (de 1985 para 1960) Peggy vê, entre outras coisas, seu namorado (Nicolas Cage) com quem vai se casar e se separar 25 anos depois. Surge então uma questão: se ela vai se separar, deve se casar ou não? Ela percebe que tem a oportunidade de transformar o curso da sua vida, alterando seu passado e consequentemente o seu presente. Boa metáfora sobre ‘o que você faria se pudesse recomeçar sua vida ?’


9 – UM FILME FALADO – surpreendente e fascinante filme do aclamado diretor português Manoel de Oliveira. A história começa em Lisboa, onde Rosa Maria (Leonor Silveira), uma professora de história, e sua filha Maria Joana embarcam num cruzeiro pelo mar Mediterrâneo. As duas vão em direção à Bombaim, na Índia, onde encontrarão com o marido da jovem. Durante a travessia, a professora tem a oportunidade de passar por locais com uma história antiga e intrigante. Através das diversas cidades onde o cruzeiro pára, Rosa Maria vai pela primeira vez conhecer lugares de que falava nas suas aulas, mas que nunca visitara antes. Por isso, a viagem por Ceuta, Marselha, as ruínas de Pompéia, Atenas, as pirâmides do Egito e Istambul, é também uma viagem pela civilização mediterrânea, e uma evocação de tudo o que de decisivo marcou a nossa cultura ocidental. Nesse cruzeiro, ela vai também conhecer três mulheres que muito a impressionam: uma francesa (Catherine Deneuve), empresária de renome; uma italiana (Stefania Sandrelli), antiga modelo famosa; e uma grega (Irene Papas), atriz e cantora; e ainda o comandante do navio, um americano de origem polaca (John Malcovich) que se encanta por Rosa. Mas a caminho de um porto no Golfo Pérsico, uma estranha ameaça perturba o cruzeiro e a vida dos passageiros. Final surpreendente para um filme totalmente ancorado em diálogos.


10 – O SHOW DE TRUMAM – a obra-prima daquele que é um dos meus diretores preferidos, Peter Weir (“Sociedade dos Poetas Mortos”), com atuação impecável de Jim Carrey e um dos roteiros mais inteligentes dos últimos tempos. Truman Burbank (Carrey) é uma pessoa especial. Nasceu, cresceu e vive com uma câmera de televisão relatando 24 horas o que acontece com ele. A própria cidade em que vive e as pessoas com quem convive são falsas. Só que Truman não sabe de nada disso e segue sua vida naturalmente. Quando descobre a verdade, sua vida vira de cabeça para baixo. Ácida crítica a televisão e a alienação humana.




Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, outubro 17, 2005

Epitáfio

Titãs


Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar

Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr ...

sábado, outubro 15, 2005

Aos mestres, com carinho


Fazia tempo que eu não lembrava que hoje se comemora o Dia dos Professores. Agora, de volta ao universo estudantil, vejo este dia com especial carinho. Uma das minhas maiores amigas em São Paulo é professora de Língua Portuguesa, hoje fazendo seu mestrado na USP. Para a Sueli, companheira de cinema, copos e bares, fã de Beatles, Rolling Stones, Gil, Caetano e Saramago, o universo pedagógico é a essência da vida. Ela, que me dá lições de humanismo e solidariedade, foi a pessoa que me fez enxergar mais claramente que a Educação precisa de socorro urgente.

Sabemos que não vale a pena investir no ambiente educacional, afinal, manipular pessoas que sabem o que pensam é bem mais difícil. Por isso, estudar, no Brasil, é luxo. Estudando sobre as cotas em Universidades, graças ao seminário de Sociedade e Cultura Latino-Americanas, pude perceber que qualquer iniciativa de igualdade no ensino gera uma discussão preconceituosa. Assim, os ricos continuam em Universidades públicas, os pobres não conseguem estudar, e o proletariado financia a elite, que estuda e a qualquer momento volta ao Poder. Lamentável.

Num país de analfabetos, de gente que idolatra a indústria cultural, onde a cultura de massa é o que fortalece bolsos e produz mentes vazias, ter opinião própria dá quase cadeia. Por isso filosofia não é obrigatório nas escolas, por isso é tão difícil entrar numa Universidade pública, por isso o mundo acadêmico não pode se vender nem se sujeitar a qualquer coisa.

Eu sempre gostei de estudar, e me recuso a acreditar que numa sala de aula ainda exista gente com infantilidade e comportamento de criança. Aliás, eu, que trabalho também com crianças, sei que elas são bem mais espertas que muitos por aí, que chegam aos bancos universitários dispostos a ter um diploma e nada mais. A consciência para lutar pelos seus direitos, inclusive o direito de refletir sobre a vida, parece que não existe. O que interessa é azucrinar a paciência de quem quer preencher a mente com algo que valha a pena. Se é para perturbar, vai encher o saco do garçom no bar, ao menos.

Eu respeito, e admiro, todos os professores que passaram pela minha vida. Cada um ajudou a formar a pessoa que sou hoje. Recordo com um carinho especial de todos os meus professores de língua portuguesa, pois foram eles que me incentivaram a continuar escrevendo. Desde a tia Edméa, com quem aprendi a ler e escrever, passando pelas tias Marilene e Selma. Fundamental na minha adolescência, dona Élida foi a professora que me convenceu que escrever seria, para sempre, o meu ofício. Professores Almir e Abrahão, que me ajudaram a formar o bom gosto na literatura, completam esta lista.

Claro que outros conseguiram arrancar de mim algo que eu não sabia que tinha: um conhecimento além das palavras. Podem acreditar, eu sou apaixonada por biologia e já quis fazer biologia marinha. Graças ao Eraldo, meu professor no segundo grau, que tornou genética um assunto inesquecível em minha vida. História, outra das minhas grandes paixões, só foi interessante porque eu discutia com o professor Marcos tudo que cercava esta matéria. E, apesar de detestar matemática, confesso que o professor Mauro sugava o que podia do meu QI (que naquela época era bem alto).

Da parte publicitária que eu adquiri em sala de aula, lembranças boas dos professores de criação: Vera Marques e Álvaro Gabriel. Hoje, da parte jornalística, alguns dos meus professores são leitores deste blog: Odair, que é a fonte de inspiração para tantos textos filosóficos recentes (ele é o culpado pela minha arrebatadora paixão pela Filosofia); Nanci, que mantém a minha tradição de excelentes professores de Língua Portuguesa (com a vantagem de que ela, como eu, é fã de HQs); Jair, que me fez acreditar que sou uma boa oradora; Marcela e Rosângela, que, além de ‘mestras', são minhas jornalistas preferidas; Luiz, que é um cinéfilo disfarçado de professor; mestre Zé Amaral, que sempre tem uma visão interessante dos fatos para narrar (além de ser fã do Paulinho da Viola, o que lhe dá muitos pontos a favor) e ela, professora Márcia Alegro, o terror da Uninove, aquela que pôs medo em todo mundo para plantar a semente da sociologia em cabeças que precisavam pensar.

À Márcia, queria dedicar um capítulo à parte. Um dia, já com as aulas terminadas, estive na faculdade para pegar minha prova e encontrei com ela. Numa longa conversa, ouvi todas as coisas que eu precisava naquele momento de profundo incerteza. A ela, presto a minha mais singela homenagem neste dia, pois todas às vezes que penso em desistir, lembro das suas palavras. Aliás, lembrar dela não é difícil: outro dia, alguém me falou que não conseguiu aprender sociologia e não entendia Weber. Minha resposta: “é porque você não teve aula com a Márcia Alegro. “

Aos meus mestres, professores queridos, que passaram ou ainda estão em minha vida, meu agradecimento pelo apoio e pelo aprendizado constante. Esta ainda é a minha única maneira de retribuir o que todos me ensinaram ao longo desses anos: dedicando estas palavras a vocês.

Muito obrigada por tudo.



Janaina Pereira
Redatora

quinta-feira, outubro 13, 2005

O sol brilha para ela


(para ler ouvindo "Vai levando" do Chico Buarque)


Tanta coisa para dizer sobre ela
E nem precisa ser dito
Nem precisa fazer nada, ela fala por si só
Singela, tão delicada
Um rosto que se perde na imensidão paulistana
Um sorriso que se acha nas manhãs sonolentas
Caronas pro trabalho são divertidas
Choramos nossos lamentos
Gargalhamos as nossas bobagens
E quando parece que estou longe – e eu sei que estou
Parece que estarei sempre por perto
Dela
Amiga
Querida
Bacana
Ana
a Paula de luzes e sombras
de pequenas sutilezas
de coração enorme
de doce esperança
de grandiosa e sincera amizade
Feliz o dia de hoje
Dia de Ana
Porque hoje Ana nasceu
Para ser uma grande mulher
Para nunca deixar de ser menina
Para ser, cada vez mais, e a cada dia mais
Uma encantadora e verdadeira amiga.




Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, outubro 12, 2005

História De Uma Gata


(para ler ouvindo a música, uma homenagem desta redatora a todas as crianças e a todos aqueles que ainda permanecem com sua alma de criança!)


por Chico Buarque


Jumento: Querem saber? Me sinto melhor agora que somos três.

Gata: Quatro!

Cachorro: Que? Quem está aí?

Gata: Sou eu, estou aqui na árvore, miau, eu sou uma gatinha.

Cachorro:Au au

Gata: ui ai

Jumento: Para, cachorro. 1ª lição do dia, o melhor amigo do bicho é o bicho. E você gata desce da árvore.

Gata: Depende do programa.

Galinha: Nós vamos à cidade, vamos fazer um cocococonjunto você também sabe cantar a sim, infelizmente...

Todos(menos a gata): Infelizmente? ? ?

Gata: Porque fazer um som não foi nada jóia pra mim.

Jumento: Perdão como disse?

Gata: Porque cantar um musica me custou muitíssimo, miau.

Todos(menos gata): Conta.


Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram

O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia filé-mignon
Ou mesmo um bom filé...de gato
Me diziam, todo momento
Fique em casa, não tome vento
Mas é duro ficar na sua
Quando à luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite vão cantando assim


Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás


De manhã eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem filé e sem almofada
Por causa da cantoria
Mas agora o meu dia-a-dia
É no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim


Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás



P.S.: o VENENO de hoje foi escrito por CHICO BUARQUE.

terça-feira, outubro 11, 2005

A lista do Léo


Estou abrindo espaço para os companheiros de escriba soltarem seu veneno aqui. O primeiro convidado especial é o Léo Pinheiro, do www.balcaodapadaria.blogspot.com Retribuindo a gentileza de ter sido sua padeira convidada, pedi ao Leo para fazer uma lista com livros interessantes que ele já leu. E aí está o texto do moço.
Obrigada pela colaboração, Léo. E não esqueça: a luta é árdua, mas a inteligência sempre vence no final.


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Acho extremamente temerário fazer uma lista dos meus livros preferidos. Primeiro por que cem livros seria pouco, segundo por que sempre vai faltar algum. Que delicioso problema dª Jana me arrumou.

Adoro ler, leio tudo, sou daquelas pessoas que não saem sem um livro. Meu gosto pela leitura pode ser resumido da seguinte forma: Gosto de pegar ônibus e metrô. Grandes livros da minha vida li nestes dois meios de transporte. Acho que é por isso que não gosto de dirigir. Se saio de carro, não leio. Sou do tipo que se não tem o que ler procuro bula de remédio...

Mas vamos lá: dividi minhas leituras em fases, pois assim o processo fica menos monótono que a lista por si só. Infância, adolescência e fase adulta . Acho que desta forma posso fazer a coisa entrar em um processo de justiça do id. Meu conflito vai ser menor, uma vez que meus preferidos de certa forma vão estar lá e eu vou estar me justificando que não tinha espaço para todos os meus preferidos. Portanto vamos à famigerada lista:


Infância

Caçadas de Pedrinho e Hans Staden (Monteiro Lobato): o autor de Taubaté foi fundamental em criar o hábito de leitura para mim. Primeiro uma breve justificativa. Tomei “bomba” na escola e meu pai, avesso a castigos “tradicionais”, me deixou as férias lendo os livros da coleção dele de Monteiro Lobato. Lia um livro, apresentava um resumo. Tinha tudo para não gostar de ler, mas a literatura de Monteiro Lobato era algo que não se faz mais para crianças; quem acha que a inglesa JK Rowling e seu mediano Harry Porter são algo revolucionário, deveria ler Monteiro Lobato. Detalhe: o livro em si era politicamente incorreto ao extremo. Pedrinho organiza uma caçada de onça e sai vitorioso, como também sai vitorioso do ataque das onças e outros animais ao sítio de dona Benta. Depois encontra um rinoceronte, fugido de um circo do Rio de Janeiro, que se refugiara naquelas matas um animal pacatíssimo do qual Emília tomou conta, depois de batizá-lo de Quindim. Completa o volume a narrativa feita por dona Benta das célebres aventuras de Hans Staden. Esse aventureiro alemão veio ao Brasil em 1559 e esteve nove meses prisioneiro dos tupinambás, assistindo a cenas de antropofagia e à espera de ser devorado de um momento para outro. Mas se salvou e voltou para a Alemanha. Lá publicou o seu livro: o primeiro que aparece com cenário brasileiro e um dos mais pungentes e vivos de todas as literaturas


Sangue Fresco (João Carlos Marinho): Marinho escreveu uma série de livros sobre as aventuras da Turma do Gordo (personagem principal de todas as suas tramas), mas este em especial é simplesmente delicioso. Uma aventura que se passa na Amazônia, onde o Gordo e sua turma são seqüestrados por uma quadrilha de contrabando de sangue infantil (?). A ambientação da trama na Amazônia, e a riqueza de detalhes são contagiantes. Isto se deve as conversas do autor com José Genoino (ele mesmo) e seus relatos da Guerrilha do Araguaia, de onde o Marinho tirou algumas situações e as transportou para a trama. Recomendável para despertar o prazer de ler em crianças.



Adolescência

Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll): descobri Alice tarde, achei que era um livro infantil, e como tinha ganhado de presente, fui demorar um pouco para ler. Li a contragosto, mas depois vi meu equívoco. Não se sabe em nenhum momento se é um livro infantil ou adulto. O livro simplesmente é uma sucessão de mensagens subliminares, arremeta-se para época em que foi escrito e entenderá o que digo. Não bastaria a Lewis Carroll compor uma narrativa que apresentasse o país das maravilhas como universo ficcional caótico; desvinculado de qualquer comprometimento com o real - ou propostas de realidades - não permitindo ao leitor estabelecer relações cognitivas e emocionais no encontro com o texto. Na condição de obra de arte, Alice no país das Maravilhas não trata apenas dos delírios usuais do mundo infantil, de um nonsense desprovido da coerência, mas apresenta um discurso interno de ordenação lógica singular. O livro em uma frase: A desconstrução das Ilusões.


Capitães da Areia (Jorge Amado): esta obra relata as peripécias dos meninos de rua da Bahia, na década de 30, tendo como pano de fundo a miséria do cais de Salvador e a sombra protetora da mãe de santo Aninha. Mostra o cotidiano do grupo e o seu modo de agir, de conviver, a sua luta por alimento, abrigo, dinheiro, em suma, pela sobrevivência. Procura demonstrar que a sociedade é que leva essas crianças ao crime e à marginalidade. É também a história dos amores de Pedro Bala e Dora, figura feminina frágil, mas, ao mesmo tempo, protetora. A violência, sempre presente na vida destes jovens que vivem do roubo, tem o seu contraponto na amizade que os une e nos momentos em que, extasiados, ouvem, como qualquer criança, histórias de aventureiros, de homens do mar, de figuras heróicas e lendárias.



Fase Adulta

Crime e Castigo (Fiodor Dostoievski): divido o livro em duas partes - quando o li pela primeira vez em meados de 1994, e recentemente, em 2002, quando foi relançada uma nova edição pela editora 34. A primeira vez em uma tradução do Russo para o Francês e deste para Português, foi uma leitura de descobertas, porém de pouco prazer, sou obrigado a confessar. Era um português duro, sem mobilidade, o francês deprecia muito algumas particularidades da nossa língua. Em compensação com a tradução direta do Russo pude ai sim gostar da história e colocar ele como um dos melhores livros que já li. O grande conto que é Crime e Castigo faz pensar. Seriamos todos um Raskolnikof? Assassinos, que ficam corroídos anos por sentimentos de culpa de seus atos.


Feliz Ano Novo (Rubem Fonseca): O autor para criar o clima do conto que dá o título do livro, passou o natal do ano de 1974 em uma favela no Rio de Janeiro. Devido ao conteúdo extremamente realista que permeia os contos desta obra, foi proibido pela censura do governo militar em 1975. Rubem Fonseca, após a proibição de sua obra, recorreu à justiça e conseguiu a liberação do livro. Fonseca é hoje o maior escritor de contos no Brasil, seu corte seco, sua forma dura de contar a história fazem dele um dos escritores mais realista do Brasil. A descrição de cenas e personagens e de tal precisão que em alguns momentos pode-se achar possível sentir os cheiros e odores. Minha descoberta de Rubem Fonseca veio com o livro A Coleira do Cão de 1965, mas o melhor dele ainda é Feliz Ano Novo.

Para que eu possa tentar dormir no mínimo tranqüilo vou citar apenas cinco que não coloquei aqui. É uma forma de diminuir o remorso:


• Antologia Poética (Carlos Drumonnd de Andrade) é difícil citar um do Drumonnd, então nada melhor que uma antologia.
• O Tempo e o Vento (Erico Veríssimo) A maior saga em livros no Brasil.
• Madame Bovary (Gustave Flaubert) Flaubert são – juntamente com Madame Bovary – suas maiores criações, mostrando um estilo jamais visto na literatura francesa, dominado por significados profundos e uma linguagem pura, onde o autor demonstra toda a sua genialidade, uma das mais peculiares do século 19.
• Diário de um Cucaracha (Henfil) Henfil escreveu estas cartas entre 1973 e 1975, os anos que passou morando nos EUA e um pouquinho no Canadá. Depois publicou algumas dessas 600 cartas na Revista do Fradim, a partir do número 12, no livro a integra deste período.
• 1984 (George Orwell) Sem comentários tão realista e perturbador que dá até medo, quase profético.


Jana muito obrigada pela chance. É uma honra escrever na publicação de quem me incentivou a começar postar meus escritos.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Cronicamente viável


(para ler ouvindo "Blues da Piedade", com Cazuza.)


Como é bom perceber que eu mudei. Que apesar das dores e angústias, consigo controlar a raiva. Sim, a mágoa existe mas nada como um dia após o outro. E realmente tem coisas que não precisam ser explicadas, porque existe sempre alguém velando este sono cansado e estas pessoas pobres de espírito.

Vamos discutir a ética: se todos temos consciência do que é o bem e o mal, age errado o sujeito que gosta de, deliberadamente, fazer isso. Para eles, eu só tenho desejos de que sejam felizes e assim encontrem sentido na vida. Para mim, só me resta concordar com Sócrates: 'só sei que nada sei'. E é justamente por não saber de nada que me calo.

Então, quando alguém pensa: 'como ela escreve bem!', deve se lembrar que pago um preço alto por isso. Toda essa força com as palavras só existe porque sou mesmo uma pessoa extremamente sensível. Porque meu coração carrega um amor incondicional pelo ser humano, cada vez mais medíocre e cruel. Eu sou assim, uma pessoa dotada de virtudes, que só sabe se vingar com as palavras. Elas ainda são a minha maior arma.

Inteligência é afrodisíaco. E a alienação e a ignorância dos seres humanos será sua maior ruína, sua grande derrota. Na hora da escolha, posso embarcar na Arca de Noé sem problemas. Porque os animais merecem respeito, palavra que o ser humano, ultimamente, nem sabe o que é.

Ética e moral, que não andam juntas, fazem parte dessa sociedade com valores cada vez mais distorcidos. Ser bom ou mau podem fazer toda diferença. Eu ainda prefiro o caminho do bem. Ele sempre me levou aos melhores lugares, as melhores paisagens, as melhores coisas da vida. Não que eu seja boazinha. Eu tenho um lado malvado bem forte e à flor da pele. Mas meu caráter jamais vai se corromper e eu sei em que nível estou. Acima, muito acima, em intelectualidade e espiritualidade. Por isso a minha imaginação vai longe. Com meu pensamento, sou capaz de voar. E nunca, jamais deixei de pousar meus pés no chão quando é preciso.

Este texto, dedicado a todos aqueles que buscam uma auto-reflexão de seus atos, também é uma pequena metáfora aos dissabores da vida. Acho que estou buscando o Justo Meio, como Aristóteles tão bem ensinou. O equilíbrio, para não me deixar abater mais por essas insignificâncias da vida. Afinal, quando eu morrer, o que vou levar daqui? Acho que só o amor das pessoas que realmente valerão a pena. E isso é o que importa.

A letra da música deste texto vai como um desabafo. Frejat e Cazuza já passaram por isso também... porque ninguém pede piedade para essa gente careta e covarde à toa.

É isso ... o mundo está cheio de gente vazia, gente tosca, gente chata, gente que não pensa, que só age através da manipulação alheia. Gente que sai da escória para encher de larvas sonhos e vidas. Gente que merece estar onde está: no limbo da ignorância. Para essa gente, só me resta cantar o "Blues da Piedade". E que Deus, que olha por todos nós, inclusive esses pobres coitados, abençõe cada um neste momento com Sua força, Sua luz e Sua sabedoria. Que estas pessoas encontrem seus caminhos no mundo e saiam o mais rápido possível do meu. Coragem ! Vocês podem viver suas vidas e deixar a dos outros em paz! Não precisa ficar remoendo assuntos e idéias que não lhes pertencem. Sejam mais criativos: vivam suas incertezas e aceitem que, por mais que tentem, não podem passar por cima de alguém que nunca esteve, e jamais estará, abaixo de vocês.



Blues da Piedade



(Frejat/Cazuza)


Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêncio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem



Janaina Pereira
Redatora

domingo, outubro 09, 2005

Dia de Maria


(para ler ouvindo "Chão de Giz", com a Elba Ramalho)


Acordar cedo
Ler
Arrumar a casa
Lavar a roupa
Estudar
Fazer comida
Passar roupa
Ler
Organizar o armário
Ir ao mercado
Estudar
Vaidade: unhas, cabelo, pele
Guardar a louça
Cuidar do joelho
Ler, estudar, ler, estudar, ler, estudar ...
Vida de dona de casa
Vida de estudante
Vida da Janaina
Maria que não vai com as outras


Respirar fundo. O dia não acabou. Amanhã é segunda e a semana será muito longa.
Da psicologia para a psiquiatria e a esquizofrenia falta pouco.
Preciso de um café. Ou de um chocolate. Ou dos dois.
Tudo ao mesmo tempo agora.
Hoje eu só quero que o dia termine bem.


Janaina Pereira
Redatora

sábado, outubro 08, 2005

Pílulas



Estou pelas salas e corredores da Uninove com a versão jornalística do texto “Eu,você,nós”, sobre o espetáculo “Nó” da Companhia de Dança Déborah Colker. Confesso, foi muito emocionante ver meu texto pregado numa parede universitária.

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Mais um site legal: www.estudiocabecaoca.com.br Meu amigo Vamberto Araújo mostra porque é um ilustrador de mão cheia.


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De 21 de outubro a 3 de novembro acontece a Mostra Internacional de Cinema de SP. Imperdível.

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Em breve, alguns convidados especiais estarão colocando suas listas aqui no blog. Livros, discos, músicas, lugares, viagens e muitas outras coisas interessantes, do ponto de vista de quem lê este singelo blog.


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Faço minhas as palavras de André Takeda: a minha vida não é de domínio público. Os meus pensamentos são. Mas só às vezes.

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Fiz acupuntura ouvindo “La vie em Rose”. A dona Maria, além de fofa, curou meu joelho e é chiquérrima.

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“Mas há vida que é para ser intensamente vivida.
Há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.”

(Clarice Lispector)



Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, outubro 07, 2005

Ainda lembro ?


(para ler ouvindo "Metamorfose Ambulante" com Raul Seixas)



Hoje o dia amanheceu esquisito. Eu simplesmente acordei. E agora estou visitando o passado. Graças ao Orkut, achei minhas comunidades de infância, dos colégios que estudei. E descobri que, apesar de lembrar de todos os professores e alunos, já não sei mais a maioria dos nomes.

Então bateu uma saudade e uma tristeza. Olhei para trás e percebi que, diante da maturidade, o passado ficou no passado mesmo, como uma sombra distante. Eu lembro como eu era CDF (ainda sou), e como vivia pegando no pé dos professores (ainda pego). Lembro que adorava as aulas de redação e escrevia tanto que os professores de Língua Portuguesa tinham que limitar a quantidade de linhas. Eu era uma magrela de aparelho nos dentes, depois uma magrela de óculos. Tímida, falava pelos cotovelos ... jamais fui escolhida a menina mais bonita do colégio e, sim, isto era decepcionante. Eu era a mais legal, a melhor amiga de todos, a mais inteligente. A inteligência, aliás, sempre foi minha aliada: era uma das poucas que conseguia conversar de igual para igual com o moço da cantina, o professor de matemática e qualquer outra pessoa que aparecia pela minha frente. Isso me tornava alvo fácil de inveja e esperança de ser uma mulher fora de série. Naquela época, um teste comprovou que eu tinha um QI acima da média. Tanta cobrança gerou uma crise existencial quando, aos 17 anos, não passei no primeiro vestibular que fiz.

Isso faz parte de tempos distantes e quase felizes ... a adolescência foi uma fase da minha vida repleta de perdas. E isso me fez mudar para sempre. A morte do meu pai, quando eu tinha 14 anos e estava entrando no segundo grau, mudou para sempre a minha história. E neste exato momento descobri que, ao crescer, perdi as boas lembranças de uma época que ajudou a formar a pessoa que sou hoje.

Agora, a mulher que estuda filosofia com a paixão de quem ouve uma música do Chico, é alguém que está longe de seu passado. E isso já não é metáfora, é literal. Minha infância se perdeu entre livros e amores esquecidos no fundo de uma gaveta, nas primeiras poesias, no livro que nunca terminei, nos contos que jamais publiquei, nos cartões de Natal guardados com carinho, nos milhares de recados na agenda, e naquele menino que me ajudou a fazer amizade com Platão – o amor platônico foi a minha primeira descoberta filosófica, com apenas 13 anos de idade.

Hoje, sou apenas a menina que cresceu com seus cachos indomáveis questionando o porquê das coisas. Pelo jeito algo não mudou: desde aquela infância distante eu já era uma metamorfose ambulante. Por isso sempre dei a cara pra bater, porque nunca aceitei a velha opinião formada sobre tudo. E olha que eu ainda nem mesmo sei quem sou.


P.S.: A música do dia é para o professor Odair. Já que ainda não consigo fazer a prova por aqui, pelo menos ela (a prova) e ele (o professor) me inspiram a mais uma reflexão filosófica.



Janaina Pereira
Redatora

quinta-feira, outubro 06, 2005

Seja bem-vindo


Aos meus olhos que riem
Ao meu melhor sorriso
Aos meus gestos aflitos
Ao meu medo do nada
A minha angústia de tudo
A minha solidão de ontem
Aos meus anseios de hoje
A minha introspecção de amanhã
A minha aurora
Ao meu entardecer
Aos meus momentos enlouquecidos
Aos meus instantes de ternura
A tudo que foi e não é
A tudo que é e já foi
As cores que habitam meu mundo
Ao meu mundo repleto de flores
Ao meu cheiro que invade a sala
Ao meu silêncio que rompe o quarto
A tudo aquilo que você pode imaginar
A tudo que você nunca sonhou
Ao choro, a reza, a vela
A benção do mar
Ao sol que está nascendo
A noite que vai chegar
A minha vida
Ao meu ser
Ao meu eu
A mim
A sós, nós, entrelaçados em pedaços que nunca se despedaçam
A inteiros que se encontraram
A metades que não se separam.


Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, outubro 05, 2005

O Que Será (À Flor da Pele)


na voz de CHICO BUARQUE



O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

terça-feira, outubro 04, 2005

O mundo animal


Por um momento quase esqueci que dia era hoje. E justo hoje, dia de tantos significados. Hoje é dia de São Francisco de Assis, o protetor dos animais. Não sei se já contei isso aqui, mas tenho uma história particular com ele.

Adoro Igrejas. Quando silenciosas, trazem paz e boas energias para mim. Em maio de 2000, estava me preparando para fazer uma entrevista na então Salles, na Borges Lagoa. Eram 8:25 da manhã, a entrevista era às 8:30. Vi uma igreja em frente a agência e resolvi entrar. E, para minha surpresa, era a Igreja de São Francisco de Assis.

Quando vi aquela imagem enorme do santo, aquele ambiente rústico, fiquei encantada. E pensei: “eu vou morar em São Paulo.” Eu, que sempre achei a história de humildade e amor de São Francisco belíssima, tinha certeza de que aquilo era um sinal.

Desde que vim morar aqui, em 2001, o dia de hoje é um dia de reflexões. É o dia que vou à Igreja e tenho o prazer de assistir a missa com vários animais. O dia em que não faz diferença o fato de ser pensante ou não ou de quanto eu tenho na minha conta bancária. Uma das maiores lições de São Francisco era mostrar que perante aos olhos de Deus, homens e animais são iguais.

Eu, que sou falsamente católica e absolutamente espiritual, vejo o dia de hoje como o ponto de reflexão. O ser humano tem atitudes irracionais e medíocres, enquanto os animais apenas agem pelos seus instintos na lei de sobrevivência da natureza. Quem será que pensa? Nós, humanos, que temos armas e fazemos a guerra? Que matamos, mentimos e magoamos sem dó nem piedade? Quando alguém olha uma cena – aparentemente cruel – de um leão comendo um pobre veado indefeso, por que fica com pena? A nossa lei é menos cruel que a da selva? A pessoa que te agride, física e verbalmente, é menos 'malvada' que um leão que está apenas se alimentando para sua sobrevivência?

Quem são os animais? Nós, que pensamos mas continuamos matando, roubando, ofendendo e julgando,ou eles, que apenas seguem o instinto natural que lhes permitem viver?

São Francisco disse ‘Senhor, fazei com que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado’. Então quero fazer uma pergunta: você continua com a atitude egoísta de quem espera ser amado e respeitado ou já aceitou o fato de que, se você não doar o amor e o respeito primeiro, isso jamais lhe será retribuído?

Que Deus nos perdoe este mundo cheio de pensamentos rancorosos e atitudes mesquinhas. E que, de alguma forma, ainda que seja com palavras, que eu possa ser um instrumento de Vossa paz.



Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, outubro 03, 2005

Como as cores de Almodóvar


Eu não estou a fim de falar. O que acontece, como, onde, por que ... realmente não importa. Como as cores de Almodóvar, expresso-me por mim mesma sem precisar me explicar.

Estou com sono. Preciso descansar eternamente como se nunca mais fosse acordar, como se todo dia a esperança rondassem sempre na mesma direção. O caminho de volta. A porta de saída. Se eu descer pela escada de incêndio, sobrevivo. Talvez seja a melhor opção, hoje não é um bom dia para morrer, está sol.

Quantas vezes alguém disse ‘eu te amo’ e alguns momentos depois já estava odiando. Não dá para se confiar nas pessoas. Não se deve confiar. Nem quero.

Estou chata, mas tenho meus momentos de mau humor. Não quero falar, eu já disse e repito. Não me pergunte o que há. Não quero responder nem preciso. A autoridade sobre a minha vida ainda é exclusividade minha.

Hoje eu não queria ter dormido, mas já que dormi eu não queria levantar, mas já que levantei eu não queria fingir que está tudo bem, mas já que fingi eu não queria mentir, mas já que menti eu não queria estar aqui mas já que estou só me resta esperar.

O dia vai passar.
Como todos os outros.
Alguém que era importante, morreu.
Alguém que nunca esteve perto, chegou.
Alguém que precisa de mim, pediu ajuda.
E eu continuo aqui ... esperando ... esperando ... andando pelo mundo observando as cores de Almodóvar. As minhas cores que já não pintam minhas paredes e apenas colorem minhas meias.


Janaina Pereira
Redatora

domingo, outubro 02, 2005

Proteção




ORAÇÃO DE SÃO JORGE



Chagas abertas Sagrado Coração todo amor e bondade, o sangue do meu Senhor Jesus Cristo, no corpo meu se derrame hoje e sempre.

Eu andarei vestido e armado com as armar de São Jorge, para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem, e nem pensamentos eles possam ter para me fazer mal.

Armar de fogo ao meu corpo não alcançaram, facas e lanças se quebrem, sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentem, sem ao meu corpo amarrar.

Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua Santa e Divina Graça, e a Virgem Maria de Nazaré me cubra com o seu Sagrado e Divino manto, me protegendo de todas as dores e aflições, e, Deus com sua Divina Misericórdia e Grande Poder seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos carnais e espirituais e de todas as suas más influências. E que debaixo das patas do cavalo de São Jorge meus inimigos fiquem humildes e submissos a Ti, Senhor, sem se atreverem a ter um pensamento sequer que me possa prejudicar.

Assim seja com o poder de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem Maria de Nazaré, de São Jorge e da Falange do Divino Espírito Santo.


Amém.



Janaina Pereira
Redatora

sábado, outubro 01, 2005

Era uma vez

(para ler ouvindo “Ai, ai, ai” com a Vanessa da Mata)


É de manhã
Parece que vai fazer sol
Não faz
Desfaz
Um par de All Star afoitos
Quem foi que disse que não pode ?
Joguei as regras no lixo ?
Passei por cima de tudo ?
Que nada
Pequenas metáforas habitam olhares que se perdem
Há uma janela logo ali
Nos cantinhos percebemos os detalhes mais profundos
Os olhos vagam
Procurando algo
Nem sei o que
Não sei bem o porquê
Parece fácil
Parece meio perdido
Parece que não foi nada
Parece que sinto tudo
Não é o que parece
Parece exatamente o que não é
Vê se aparece
Manhãs em espera
Tardes em encanto
Noites em sintonia
Sol que nasce
Estrelas que não brilham
O que você vê quando olha um sorriso ?
Quem você vê quando alguém se perde na sua imaginação ?
Quem está ai ?
Sou eu ?
É você ?
Somos nós ?
Sós ?
Nada é tão real quanto parece
E nada pode ser mentira se eu não quiser que seja
A noite vai terminar
E eu estou esperando para mais uma vez
Dançar com meias.



Janaina Pereira
Redatora

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