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quinta-feira, setembro 29, 2005

Salve ela


(para ler ouvindo Jorge da Capadócia”, com Jorge Benjor)


As pessoas adoram dizer que sou guerreira. Não sei exatamente quando isso começou, mas por ser considerada uma pessoa forte, logo sou associada a esta expressão. Tudo bem que São Jorge anda sempre comigo, estampado na camiseta, na oração na carteira ou no esmalte vermelho... mas ser guerreira todo dia cansa pra caramba.

Talvez tenha a ver com meu nome. Janaina – sem acento, por favor ! – é um nome forte. Talvez tenha a ver com meu signo. Leão é um signo que simboliza muita determinação. Talvez tenha a ver com meus cabelos. Totalmente cacheados, que aparentam uma profunda rebeldia. Talvez tenha até a ver com meu nariz. Arrebitado, sinônimo de gente atrevida. Quem sabe porque sou assim ... guerreira ?

Estou meio cansada dessa guerra particular por algo que não vem, mas eu sempre sigo a estrada. Protegida. Abençoada. E aqueles que não gostam de mim, não me alcançam. Seus olhares não me atingem e suas mãos não me tocam. As armas de fogo jamais chegarão perto do meu corpo, e as correntes, em algum momento, vão arrebentar. Porque eu sou e sempre serei, a moça que nasceu com o nome de Iemanjá. Aquela que canta a oração de São Jorge, que assim como eu, era um guerreiro.


Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, setembro 28, 2005

Pílulas



Obrigada pelos e-mails e comentários aqui sobre os textos “Eu já tive um relógio digital” e “82”. Fico muito feliz que minhas lembranças tenham atingido mentes e corações Brasil afora. É sempre gratificante quando meus textos fazem tanto sucesso assim.

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Atendendo a pedidos, é claro que vou voltar ao assunto dos anos 80. Tem tanto a ser dito ainda ... e eu esqueci muita coisa boa também. É a idade ... que me faz nostálgica e com falhas na memória.

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Para quem ainda não sabe, fui a padeira convidada em 6 de setembro pelo meu companheiro de escriba Leo, no www.balcaodapadaria.blogspot.com . Lá vocês encontram meu texto “Direto da Padaria”, uma singela homenagem ao jeito carioca de frequentar uma padoca. Deliciem-se.


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Falando no Leo, ele e meu mestre querido, José Amaral, continuam colocando a música no centro das atenções. Não deixem de conferir o que estes moços escrevem no www.ziriguidum.com.br


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“A saga dos cães perdidos”, “Matrix, bem-vindo ao deserto do mundo real”, “O mundo de Sofia”, “Uma criatura dócil”, “No bunker com Hitler”, “Fome de Viver”, “Cavaleiro das Trevas”, “Avenida Dropsey”, “Quadrinhos e Histórias Sequenciais”, “Narrativa”, “O judeu”, “Agosto”, “Almanaque Anos 80” e todos os mangás do Inteligence Girl... porque o dia não tem 48 horas para eu passar 24 delas lendo ?

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Faço das palavras da minha professora de Língua Portuguesa, Nanci Prieto, as minhas: não sou uma mulher de perguntas. Sou uma mulher de respostas.



Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, setembro 27, 2005

Eu, você, nós


Minha paixão pela dança vem desde muito cedo. Nunca quis ser bailarina, mas sempre sonhei em fazer sapateado e dança contemporânea. Já me imaginei excursionando pelo mundo, literalmente, dançando. E é isso que sempre me levou a ter verdadeira fascinação pelas companhias de dança.

Após três tentativas frustradas – tentei, em vão, assistir “Casa”, “Mix” e “Rota” no Rio – finalmente consegui conferir de perto a beleza e a força da Companhia de Dança Deborah Colker. Uma das maiores e mais conceituadas coreógrafas brasileiras, Deborah tem aquele estilo visceral e deslumbrante que sempre me agradou. Rápida, mordaz e furiosa, suas coreografias são verdadeiros estudos do que se esconde na alma humana. Em seu sétimo espetáculo, “Nó”, ela trouxe como tema o desejo e as amarras que ele pode nos causar.

“Nó” fez sua estréia mundial em maio no Festival de Wolfsburgo, na Alemanha, onde se apresentou por quatro dias, com enorme sucesso de público e crítica. No Brasil, estreou no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, onde fez temporada popular durante dois meses, com lotação esgotada. Agora, finalmente o espetáculo chega a São Paulo com sua proposta inusitada: são 120 cordas emaranhadas onde os bailarinos se amarram, em movimentos de aprisionar e libertar. Assim como o desejo, as cordas provocam prazer e dor, sofrimento e libertação. “Nó” traz os elementos que tornaram a companhia um fenômeno de comunicação com o público - a precisão coreográfica, a leveza e o vigor dos bailarinos e a exploração de novos espaços cênicos – além de diversas novidades.

Os 16 bailarinos - incluindo Deborah - fazem um espetáculo que tem altas doses de erotismo, numa explosão de sentimentos arrebatadores. Violento e delicado, brusco e sensível, chocante e amoroso, “Nó” é um desfile de sensações antagônicas, que nos deixa com uma felicidade angustiante.

No primeiro ato, os bailarinos se movimentam em meio ao emaranhado de cordas que dão nós e simbolizam os laços afetivos que nos amarram. Estas cordas servem para aprisionar, puxar, ligar e libertar, tudo num ritmo musical bem marcado e desconcertante. Em uma companhia reconhecida pela disciplina, foram necessários meses de treinamento exaustivo para lidar com o acaso das cordas, já que, a cada dia, os movimentos saíam diferentes. Também foi preciso dominar novas técnicas. Deborah utilizou o bondage (técnica com cordas para controle da dor, do movimento e do prazer) e o conhecimento de todos os tipos de nós, aprendidos com um marinheiro, para contribuir na construção coreográfica.

No segundo ato, saem as cordas e o palco é ocupado por uma caixa transparente de 3,1 x 2,5 metros, uma criação do cenógrafo Gringo Cardia. A inspiração veio de uma viagem que Deborah fez a Amsterdã, na Holanda, onde visitou o Red Light District (Bairro da Luz Vermelha), em que garotas de programa se expõem em vitrines nas fachadas das casas. Neste aquário gigante, feito de alumínio e policarbonato - material usado na blindagem de carros - os bailarinos se apresentam numa vigorosa coreografia, com corpos sendo entrelaçados, se atraindo e se opondo, dentro e fora da caixa. É uma metáfora do desejo, daquilo que se quer, mas não se pode ter, do que se vê, mas não se pode pegar, de tudo que se ambiciona, mas não se pode realizar. Quando observamos os corpos perfeitos em movimentos que se atam e se desatam, temos a incrível sensação de que, ao desfazer os nós, ficaremos irremediavelmente sozinhos. Esta separação, que vem desde o ventre, com o rompimento umbilical, nos acompanha por toda a vida e se mostra muito presente nas relações amorosas, onde amor e dor rimam, onde prisão e paixão combinam. Ao fundo, a voz de Elizeth Cardoso em “Preciso aprender a ser só” ilustra a solidão de cada um de nós. Os bailarinos equilibram técnica clássica e contemporânea em movimentos delicados e brutais. Com trocadilho, deu nó na garganta.

Para dar conta da complexidade do tema, a companhia modificou o seu sistema de trabalho e, paralelamente aos trabalhos físicos, introduziu aulas de filosofia com o professor Fernando Muniz, que continuará fazendo parte da equipe. Os figurinos ganharam a ousadia de Alexandre Herchcovitch, que, fiel ao tema proposto, criou roupas cor de carne, com toques de vermelho e preto.

O público é um privilegiado voyer desse espetáculo recheado de elementos fetichistas, como cabelos e cordas. Deborah, que dá show num solo emocionante, mostra maturidade ao propor um tema tão abrangente quanto singular. Os nós, que nos deixam sufocados em relações onde somos ora dominados, ora dominadores, ao se desfazerem nos deixam completamente sozinhos. Não é à toa que os nós somos nós que rima com sós.

A Companhia Déborah Colker mostra, num espetáculo imperdível, que tudo que é perverso também é sedutor; tudo que seduz tem um toque de perversão e tudo que nos amarra, nos liberta.




Teatro Alfa
Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722
Fone: (11) 5693 4000
Dias 23, 24, 25, 27,28 e 29, 30 de setembro, e 1 e 2 de outubro. Horários: 21h; domingo às 18h
Ingressos: R$ 30 a R$ 70 (estudante paga meia !)



Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, setembro 26, 2005

Mitos


Já que falei das divas, agora chegou a vez dos mitos do cinema. Quando essa figura do homem sedutor ganhou a vez e os galãs fizeram a fama, vários atores ultrapassaram a barreira das telas e se tornaram referência de masculinidade. O curioso é que anos depois descobriríamos que alguns eram homossexuais, mas ficaram marcados para sempre por seus traços de virilidade.

Meu preferido sempre foi James Stewart. Olhar arrebatador, discrição e sutileza, um luxo ! Acho que vi todos os filmes dele. Outro que eu adoro é o Montgomery Clift. Burt Lancaster – também cobiçadíssimo – era o astro de “A um passo da eternidade”, mas Clift roubava todas as cenas. Clark Gable, com aquele jeito de cafajeste, é arrasador. Humphrey Bougart, sempre um mistério; Spencer Tracy, um sedutor e Marlon Brando, o galã cheio de rebeldia. Mas rebelde mesmo foi James Dean, que para mim era o galã daquela época. Ele reuniu em seus três personagens qualidades que um homem deveria ter: sedução, timidez, atitude, introspecção, firmeza de caráter, força da alma e não do corpo ... simplesmente arrebatador.

A lista segue com Gary Cooper, Gregory Peck, Richard Burton, Charlton Heston, Marcelo Mastroianni, Henry Fonda, Rock Hudson, Rodolfo Valentino, Alain Delon ... e de todos estes mitos da época áurea de Hollywood, ainda existe um vivo e exibindo seu charme com a mesma intensidade: Paul Newman. Os olhos azuis mais incríveis do cinema.

Hoje, os galãs continuam surgindo mais e mais, para provar que Hollywood está permanentemente atenta. Beleza ainda conta, mas o grande diferencial entre os atores é que o charme e aquele jeito cafajeste de ser ainda valem boas bilheterias. E continuam conquistando corações e a admiração feminina.



Janaina Pereira
Redatora

domingo, setembro 25, 2005

Divas


Enquanto estou estudando cinema de vanguarda, aproveito para lembrar minha fascinação pelos filmes antigos. Desde criança sempre gostei da época áurea de Hollywood, com seus mitos e divas – que nem sempre eram americanos, diga-se de passagem. Saber que a garotada ouviu pela primeira vez o nome de Mae West, uma das mulheres mais fantásticas que o cinema já produziu, é um privilégio. Eles nem sabem o que aquela fase do cinema foi capaz. Espero que descubram.

Nunca ninguém entendeu porque, durante muito tempo, eu me escondi no Orkut sob as fotos das maiores divas do cinema. É que eu sempre quis ser uma delas. A minha favorita é, disparado, a Rita Hayworth. “Nunca houve uma mulher como Gilda” é um dos filmes mais sedutores do cinema – a cena em que ela canta e tira a luva bate de dez a zero na cruzada de pernas da Sharon Stone em “Instinto Selvagem”, considerada tão sexy pelos mais jovens. Rita foi uma grande atriz, subestimada porcausa de sua beleza e pela loucura que causava nos homens. Ela dizia que os caras dormiam com Gilda e acordavam com ela, justamente porque ela e a personagem se confundiram. Talvez, algumas vezes na minha vida, eu seja como Gilda. Mas isso é uma outra história.

Marilyn Monroe é, sem dúvida, a diva mais lembrada. Mas minha loira preferida é a mesma do Hitchcock: Grace Kelly, com seu jeito de boneca e seu estilo de princesa, mesmo antes de ser. Ingrid Bergman para mim é pura classe e estilo, outra que gosto muito. Entre as morenas, Ava Gardner é a que mais curto, seguida de perto por Katherine Hepburn (que fugiu do esteriótipo das divas e foi a primeira mulher a usar calças compridas no cinema) e Audrey Hepburn, a eterna ‘Bonequinha de Luxo’. E claro que eu adoro a Liz Taylor, símbolo máximo de beleza com seus olhos cor de violeta. Ela é a “Gata em Teto de Zinco Quente” e eternamente “Cleópatra”.

Se for contar a quantidade de divas que circularam pelo meu imaginário, desde a infância, ficarei horas escrevendo. Mas tem umas que não posso deixar de citar: Claudette Coubert, de “Aconteceu naquela Noite”; Natalie Wood, de “Clamor do Sexo”; Debora Kerr, ousadíssima para a época em “A um passo da eternidade”; a malvada Betty Davis e a andrógina Marlene Dietrich. E a lista segue com Sophia Loren, Claudia Cardinalle, Brigite Bardot, Vivien Leigh, Anita Ekberg, Ursula Andrews, Donna Reed, Joan Crawford, Greta Garbo, Simone Signoret, Doris Day, Gina Lollobrigida, Lauren Bacall, Lana Turner, Kim Novak, Jane Fonda ... e aí o tempo passou, tudo fica mais recente e perde a graça.

E tudo isso começou com a Mae West, cuja frase célebre já citei neste blog como o meu lema de vida: ‘quando sou boa sou muito boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.’ Essas mulheres revolucionaram o mundo com suas idéias e ideais, a partir de uma tela de cinema. É por isso que um dia eu quis ser igual a elas. Acho que não consegui ainda. Mas estou chegando perto.


Janaina Pereira
Redatora

sábado, setembro 24, 2005

Dez frases para o dia de hoje


“As paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos.” (Descartes)

“Não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte.” (Millor Fernandes)

“Quem pouco pensa, engana-se muito.” (Leonardo da Vinci)

“Viver é como amar: todas as razões são contra, e a força de todos os instintos é a favor.” (Samuel Butler)

“O amor e a literatura coincidem na procura apaixonada, quase sempre desesperada, da comunicação.” (Jorge Duran)

“As minhas paixões fizeram-me viver e as minhas paixões mataram-me.” (Rousseau)

“Há corpos de agora em almas de outrora. Corpo é vestido. Alma é pessoa.” (Eça de Queiroz)

“Eu aprendi que a vida é dura mas eu sou mais ainda.” (Willian Shakeaspeare)

“Eu te peço perdão por te amar assim tão de repente.” (Vinícius de Moraes)

“A admiração é a primeira de todas as paixões.” (Descartes)


Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, setembro 23, 2005

A minha alma está armada


Reflexões filosóficas fazem parte da minha vida nos últimos tempos. E hoje vou falar da Teoria da Alma de Platão. Graças a ele, a alma e o corpo passaram a ser vistos como duas coisas completamente separadas. E assim nasceu a base do espiritismo.

Nossa capacidade de inteligência não vem do corpo, e sim da nossa alma. Tudo que sentimos, sofremos e percebemos não é uma representação corporal. A alma é nossa essência, é ela que guarda todas essas sensações. Aquilo que vemos aqui em nosso mundo, está representado no mundo das almas. Não é à toa que o filme “Matrix” é cercado de reflexões filosóficas. Mas isso é assunto para outro texto.

Platão acertou em cheio ao refletir que o grande castigo da alma é estar aprisionada ao corpo. Como o corpo sofre das paixões que o mundo lhe impõe, a alma acaba tendo este reflexo. Portanto nossa alma sofre por tudo de errado que fazemos com nosso corpo. As dores, os rancores, o ódio, a raiva e a paixão exarcebada é sentida fielmente em nosso íntimo. Por isso que muitos – inclusive eu – acreditam que as doenças não vem do corpo, e sim da alma.

Vamos analisar tudo isso olhando uma cena bastante difícil: um corpo morto. Aquele corpo não chora, não sofre, não sente mais nada. Um corpo morto não pode ser nada além do que a representação física, bela ou não de acordo com o ponto de vista, do que você foi um dia. Seu corpo não significa nada. Todas as horas de academia só levaram você a ser desejado. As roupas que usou, as tatuagens que fez, nada tem valor quando o corpo morre. E a alma ? A alma existe, ela é eterna. Porque sempre foi ela que sentiu suas paixões e decepções.

Sempre que estou estressada e sinto meu corpo doer, sempre que fico doente, faço a mesma pergunta: o que estou fazendo com meu corpo ? É ele, no fim das contas, que reflete toda a dor da minha alma. Que sofre, calada, por estar aprisionada a um mundo que não é dela.

Agora quando você for tomar uma atitude insana, que pode magoar alguém, ou uma atitude nobre, que pode fazer alguém realmente feliz, reflita sobre isso. Pense que aquele corpo que você vê e despreza, ou deseja, vai morrer um dia, mas a essência vai permanecer sentindo todo o mal – ou o bem – que você causou. Porque o corpo acaba. Mas a alma é eterna.



Janaina Pereira
Redatora

quinta-feira, setembro 22, 2005

Um mundo de possibilidades


(Para ler ouvindo “Eclipse Oculto”, escolha sua versão com Cazuza ou Caetano )


Hoje eu acordei e nem sabia que tinha dormido. Não há choro nem vela, e existe algo de diferente no ar. Os sinais estão todos muito evidentes. É preciso muita calma nessa hora. É preciso ter cuidado. Corações são cortados e sangue pode jorrar deles. As cicatrizes, às vezes, duram tanto tempo que parecem que não vão fechar. Porque a poesia faz de mim objeto cortante e as cicatrizes estão sempre sangrando, é algo profundo que está ali para mostrar que a ferida tentou se curar ... em vão. Mas o tempo é implacável e ele cura tudo.

Quero me libertar das amarras, desses nós que prendem minha vida a tudo que me acorrenta. Não nasci para viver numa prisão. Amar não tem nada a ver com isso, e tudo que eu espero das pessoas é respeito. Eu cuido tanto de todo mundo e em troca talvez receba a falta de atenção. Mas eu não pretendo falar disso agora, nem aqui, nem nunca mais, preciso fazer uma transfusão urgente.

Eu dormi e não sonhei, nem sabia que dormia, eu nem sabia que estava viva. Eu morri por alguns momentos e enquanto estava ali, sangrando, ferida, abatida, eu vi que minha tristeza ia passar logo mas que nada seria como antes. Olho para trás e não consigo lembrar do que aconteceu de bom no meio de tudo isso. Olho para o lado e só vejo uma sombra do meu passado. Olho para a frente e me sinto insegura, mas não quero pensar agora sobre isso. Não quero pensar. Não penso mais.

Existe vida lá fora, existem possibilidades. Basta respirar fundo e deixar que o tempo, sabiamente, resolva o resto.


P.S.: A letra da música para você cantar comigo !


Nosso amor não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto fomos quase nada
Tipo de amor que não pode dar certo na luz da manhã
E desperdiçamos os blues do Djavan
Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida

REFRÃO:
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa qualquer em você
O que será?

Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Pro outro lado da sua
Meu coração galinha de leão
Não quer mais amarrar frustração
O eclipse oculto na luz do verão
Mas bem que nós fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama

REFRÃO

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar?
Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como o som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero, sem tédio, sem fim

REFRÃO




Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, setembro 21, 2005

Música do Dia (e da prova)


Codinome Beija-Flor
(Cazuza)


Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor (nunca)
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor



Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, setembro 19, 2005

Algumas coisas que você precisa saber a meu respeito


(para ler ouvindo "Janaína" do Biquíni Cavadão")


Às vezes fico pensando se não me exponho demais quando escrevo aqui. Muitos textos são tão viscerais que eu mesma não acredito que escrevi. Então algum amigo vem me perguntar o que está acontecendo, e eu nem sempre posso responder.

Sempre dei a cara pra bater. E normalmente apanho. Mas, ao contrário do que pensam, minha vida não é um livro aberto. Pelo contrário, é um livro fechadíssimo. Eu sou muito discreta, extremamente tímida, porém, transparente. Basta olhar na minha cara e todo mundo já sabe se estou bem ou não. Meus olhos não mentem: eles exteriorizam paixão, raiva, angústia, medo, sofrimento, dor, felicidade, amor. Meu sorriso não é disfarce: sempre acreditei que ele era minha marca registrada. E é mesmo. Falo muito, e quando me calo, significa que algo não está tão bem assim. São nesses pequenos detalhes que as pessoas vão me conhecendo. Mas quando elas acham que me descobriram ... percebem que faltam sempre uma peça do meu quebra-cabeça, que nunca se encaixa.

Então quando eu escrevo aqui, pode parecer que estou me revelando demais. Nem sempre. Muitos textos escrevi com dias, e até semanas de antecedência. E tem tantos outros que nunca foram pro blog. Pego um momento oportuno e coloco aqui; geralmente os textos amargos levam um tempo para eu mesma digerir e por isso, não aparecem aqui em seu tempo real. Mas mesmo os que são postados no dia do acontecimento, é apenas a minha versão do fato. E, muitas vezes, quando o assunto é pessoal, eu não tenho neutralidade científica.

Por mais que revele alguma coisa da minha vida, neste blog você jamais vai conseguir entender o que se passa na minha cabeça. Nem eu mesma sei. É verdade que estou tentado descobrir. Mas nem sei se quero ... talvez o divertido seja manter o mistério. E talvez também seja mais legal nunca me mostrar por inteiro.

Sabe quando você está na praia e vê o sol lindo, radiante, aquecedor? Daquele jeito gostoso, que não faz suar mas te aquece na medida certa? Sou eu. Um sol que brilha sempre, mas que tem que se esconder de vez em quando. E às vezes as nuvens não deixam aparecer. E para fazer as coisas funcionarem, precisa dar lugar a chuva um dia ou outro ... só que pode chover muito, causar um temporal com trovões ... mas faz parte da vida. O sol tem que ir embora ... para a noite chegar. E a noite nem é tão longa assim. Porque o amanhecer – com o sol ! – sempre vem.



Janaina Pereira
Redatora

domingo, setembro 18, 2005

Pro dia nascer feliz


Amanheceu.
O dia foi sonolento e cansado, cheio de livros, cheio de promessas de aprendizado. Eu dormi e sonhei, e eu achei que estava acordada mas dormia com os olhos bem abertos.

Chove e amanhã é um novo dia. Que dia ? Mistérios.

Quando eu achava que não havia mais perguntas a serem feitas, descobri que na verdade as respostas eu já sabia ! E nas metáforas que fazem o dia mais colorido, mesmo com a água que cai lá fora, eu me pergunto: essa é a vida que eu quis ?

O mundo inteiro acordou.
E a gente dormiu.


Janaina Pereira
Redatora

sábado, setembro 17, 2005

Quando eu crescer quero ser criança



Quando eu achei que o tempo ia melhorar, lá veio o frio de novo. Adoro São Paulo assim ... nebulosa ... fria ... preguiçosa... e muito lentamente despertei, correndo para pôr a vida em ordem. Mas meus olhos ficaram perdidos no devaneio da saudade.

Estou lendo o “Almanaque dos Anos 80” e fiquei encantada com o mundo de lembranças que achei ali. Parece que tudo que vivi está neste livro – e essa onda saudosista, pelo jeito, não vai parar. Mas a parte que mais mexeu comigo foi quando me deparei com fotos de brinquedos. Lembrei de todos que tive, e lembrei até de coisas que eu achei que tinha esquecido para sempre.

E de repente, na manhã deste sábado, descobri que não tenho um passado. Meu passado mora no Rio de Janeiro, habita um apartamento que foi meu só por dois anos. Lá estão alguns dos meus brinquedos, que guardei com carinho para olhar com saudades em dias como hoje. A minha Moranguinho foi embora, para as mãos da pequena Bia, filha da minha amiga Priscila. Tantas outras bonecas foram doadas ao longo dos anos. Nunca achei justo guardar tanto brinquedo para as filhas que nunca vieram e talvez nunca venham.

Como filha única, sempre ganhei muito presente e, especialmente, muitos brinquedos. Nem todos eram caros, mas a maioria tinha um valor inestimável. Lembro quando eu quebrei a minha primeira boneca, a “Bochechinha”, num acesso de raiva infantil – pois é, eu era pirracenta desde pequena. E lembro também quando quebraram meu ”Bambam”, deixando o pobrezinho aleijado. Meus brinquedos eram tão bem cuidados que parecia que eu nunca brincava com eles. Mas eu me divertia muito. Tinha minha família de bonecos, a coleção inflável dos Barbapapas. Milhares de ‘fofoletes’, ‘agarradinhos’, panelinhas, cozinha, fogão, pipoqueira Pip Pop, liquidificador, credo ! Eu ia ser uma autêntica dona de casa, e vejam só, tanta brincadeira de cozinha não deu em nada ! Logo cedo me rebelei – lógico ! – e comecei a ganhar jogos. Também tive um quadro negro, que por anos fez minha mãe acreditar que eu seria professora (e de certa forma eu sou, mas sem quadro negro, ou lousa, para os paulistanos !). Meus brinquedos eram parte de um mundo próprio, que minha imaginação fez acreditar que seria eterno. E talvez por isso crescer seja tão doloroso.

Hoje eu descobri que estas lembranças, que minha memória fez questão de adormecer, não vivem em São Paulo. Elas estão na casa da minha mãe, no Rio. Hoje eu senti saudades. Hoje eu até chorei. E foi aí que olhei a minha volta e vi que tudo que construi em São Paulo foi minha história de adulta. Caramba ! Não é que eu cresci ?!

Entre lágrimas, olhei minha cama enorme e lá estava ele. Quando cheguei a Sampa em 2001, trouxe minha mala com meia dúzia de roupas, meu portfólio de publicitária e ele. Há 21 anos ele está sempre no mesmo lugar: em cima da minha cama, seja ela qual for. As orelhas foram remendadas, as roupinhas estão desbotadas mas ele continua ali, silencioso, me olhando com ternura. Ele chegou em minha vida quando eu tinha só 10 anos de idade, no Natal de 1984, um presente inesquecível do meu pai. Ele é o pedaço da minha infância, ele é o meu olhar de saudades. Meu Snoopy inseparável prova que eu cresci. Mas que no fundo, no fundo, eu continuo sendo aquela menininha suburbana sorridente, com cachinhos esvoaçantes e queimada de sol (ok, já não tão bronzeada ...). E pensando bem, acho que nem sou tão adulta assim. Porque continuo adorando um brinquedo – vide minha digital !

Ah, para que ser uma adulta ranzinza, chata e perfeccionista – que eu sou, mas só de vez em quando ! Olhem bem para minha cara: porque todo mundo acha que tenho 20 anos ? Porque minha essência, minha alma, é a mesma. Porque eu ainda sou a menina que usa saias coloridas, sandálias de plástico, bolsas espalhafatosas e camisetas com bichinhos. Eu nunca deixei de ser criança. Só que agora eu tenho atitudes e a força de uma grande mulher.



Janaina Pereira
Redatora

quinta-feira, setembro 15, 2005

Eu já tive um relógio digital


(para ler ouvindo “Cinema Mudo” dos Paralamas do Sucesso)


Uma das coisas boas da minha vida é ter chegado aos 30 anos em pleno século XXI. Isso significa que vivi minha infância, e começo de adolescência, nos divertidos anos 80. Estudando a estética daquela década, pude observar com mais precisão tudo que passou na minha vida. Sem dúvida que os anos 80 tinham um lado meio brega, aquela cafonice colorida e espalhafatosa, um jeito kitsch de ser. O kitsch existe até hoje, vai existir sempre, mas foi muito forte naquele período. Eu olho para trás e vejo como era engraçado, e como as referências foram realmente marcantes.

Eu nunca tive um All Star. Comprei o meu aos 26 anos, já morando em São Paulo. Verde. Porque All Star verde era muito anos 80 e mesmo já tendo passado a época, eu tinha que ter um. O tênis All Star era caro demais e minha mãe nunca pode comprá-lo para mim. Eu também não tive bamba, nem kichute, mas tive conga e melissinha. Ah, tive várias melissinhas, cada uma mais fofa que a outra. Vermelha, azul, rosa, transparente, cor de guaraná – tinha essa também ! – verde ... cada uma delas combinava com uma bolsa. E com a pulseira do relógio Champion. Fashion demais, mas ninguém usava a palavra ‘fashion’ para definir algo que estava na moda.

Meus brinquedos eram da Estrela. Tive uma Barbie – e a piscina da Barbie, o guarda-roupa da Barbie e tudo mais que a casa maravilhosa da Barbie podia oferecer - e uma Susi também. Brinquei de Banco Imobiliário – dos outros, eu não tinha. Até hoje tenho meus jogos guardados: ‘boca rica’, ‘cara a cara’, ‘cilada’ e meu inesquecível dominó da Disney. Nunca andei de patins de rodinha porque queria ter um skate. Não me deram nem uma coisa nem outra.

Eu usava calça pescador – calça capri é um nome fashion criado no fim dos anos 90. Tive camisetas rosa shocking e verde limão. Tive uma ridícula gravata feminina – salmão – que nunca usei porque não conseguia colocá-la – e nem minha mãe sabia ! Minhas roupas desde aquela época eram coloridas: lilás, azul e amarelo predominavam no guarda-roupa. Usei gel New Wave, que dava um brilho molhado e luminoso ao cabelo. E Studio Line da L´oreal posteriormente. Vestidos com faixa na cintura. Saia balonê. Tiara nos cabelos, que eram curtíssimos.

Eu sou da época em que o Ricky Martin era um menino bonito do Menudo. Dançava new wave nas matinês. Ouvia Blitz e Lulu Santos. Aos 8 anos de idade descobri os Paralamas do Sucesso com ‘Vital e sua moto’. Aos 12, eu concordava com Renato Russo na música ‘Pais e Filhos’. Aos 13, eu perguntava com ele: ‘Que país é esse?’. E aos 14 eu assistia “Vale Tudo”, a novela que é cada vez mais atual, ao som de ‘Brasil’ do Cazuza, na voz da Gal. E já naquela época ele dizia: ‘ tem TV a cores na taba de um índio programada só pra dizer sim’. Enquanto isso os Titãs gritavam: ‘a TV me deixou burro, muito burro demais’. Eu fui criada na frente de uma TV devorando Chacrinha, Bolinha, Silvio Santos, Os Jetsons, reprise do Batman dos anos 60, Ultraman, Spectroman, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Flinstones, Mr. Magoo, Scooby Doo, Caverna do Dragão, He-man, Flipper, Sessão da Tarde com filmes do Elvis e do Jerry Lewis, Sessão Aventura com ‘Caras e Caretas’, ‘Super Gatas’ e ‘Super Vicky’, e ainda meus seriados preferidos: ‘O incrível Hulk’, ‘As panteras’, ‘A ilha da fantasia’, ‘Casal 20’, ‘A feiticeira’ e ‘Jeannie é um gênio’. E meu herói das tardes era Ferris Buller, o protagonista de ‘Curtindo a vida adoidado’.

Eu vi quase todos os filmes dos Trapalhões no cinema, numa época em que eles eram campeões de bilheteria. Na TV, eram os meus ídolos. Meu primeiro filme legendado foi ‘ET’. Meu primeiro filme no vídeo foi ‘Top Gun’. Eu vi o Indiana Jones no cinema. E vi o Marty Mcfly em ‘ De volta para o futuro’ no Natal de 1985, quando o filme estreou nas telonas brasileiras. Sou da época que havia censura, e por isso quase não pude ver ‘Robocop’ (eu tinha 13 anos e o filme era censurado para 14). Aliás, a paixão pelo cinema vem de lá, dos anos 80: eu via dois filmes por semana e achava pouco. De lá também vem meu amor pelos gibis: Mônica, Luluzinha, Mickey, Batman, Calvin & Haroldo, Recruta Zero, Hagar e meu adorado Snoopy. Ganhava uma HQ por semana. Lia na hora.

Eu lembro da ditadura, do Figueiredo preferindo cavalo a gente, das Diretas Já e os comícios na Cinelândia. Vi pela TV o Congresso Nacional eleger o Tancredo Neves e detonar o Paulo Maluf. E vi também a agonizante morte do Tancredo. Lembro exatamente do dia em que ele morreu e a sensação de que ficamos todos órfãos invadiu o país. Eu sei o que foi o Plano Cruzado, o congelamento de preços, ágio, fila no mercado, carne desaparecendo das prateleiras, fiscais do Sarney. E ainda lembro do Plano Verão, do cruzeiro velho e da nota de mil que era um barão – do Rio Branco. Vi o cruzado nascer, morrer e dar lugar ao cruzado novo, que depois cedeu sua vez ao novo cruzeiro, que virou o real. A gente cortava os zeros da moeda, mas a inflação sempre dava um jeito de voltar.

Eu vi o Brasil perder a Copa de 82. E a de 86. E a de 90, na famosa era Dunga. Éramos perdedores. Vi o Botafogo ser campeão pela primeira vez em 89, aos 15 anos, gol de Maurício. Vi a primeira vitória do Ayrton na F-1, no GP de Portugal em 1985. Mais do que isso: eu vi a estréia do Ayrton na F-1, no GP Brasil de 1984, na época em que a corrida ainda era realizada no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio – que ainda não se chamava Nelson Piquet. Eu cresci tendo a referência de que ele era o brasileiro que dava certo. E era mesmo.

Eu vivi num país diferente. Eu era diferente. Era uma criança que adorava televisão, bebia muito kisuco e refrigerante, comia batata frita quase todo dia, escrevia pra caramba, era tímida demais. Eu cresci. Hoje não gosto de TV, não bebo kisuco e refrigerante é raro. Ainda curto batata frita, mas não como sempre. Preservo minha timidez. E escrever é mais do que uma paixão: é meu ofício. E essa é a maior herança dos saudosos anos 80, onde meu interesse pelas palavras e meu olhar crítico para o mundo começou a se desenhar com tons fosforescentes. Exatamente como era aquela década.


Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, setembro 14, 2005

Um dia frio


(para ler ouvindo “Nem um dia” do Djavan )


Hoje eu acordei com vontade de dormir. Está chovendo, está frio, estou só. No silêncio da minha casa vazia, pensei como a vida dá umas rasteiras na gente. O banho quase quente me faz despertar e lembrar que é só mais um dia. Um dia cheio de possibilidades, de encantos despertados, de olhares velados, de novos encontros, e até algumas despedidas.

A vida é assim, esse turbilhão de emoções, uma busca insana pela felicidade que não está fora de mim. Eu me sinto perdida e de repente me acho no meio do nada. Exorcizei tantos fantasmas ultimamente que libertei até meus discretos romances. Mas eu não quero falar disso agora. Eu sempre fui tão transparente e não poderia ser diferente no momento de rompimento. Mas eu acredito em novas possibilidades. E lá vem a vida me dando rasteira, colocando novas perguntas para eu responder.

Nestes meses em que um furacão tomou conta de mim, percebi como eu ando flexível. Claro que é triste ver as pessoas partirem, especialmente aquelas que eu tanto quero bem. Mas não posso obrigar ninguém a gostar de mim. Eu sou assim mesmo, sonolenta logo cedo, preguiçosa, devagar. Quero chegar logo ao trabalho, ler os e-mails, produzir. Reuniões, pautas, chateações, aquela correria louca da vida publicitária que faz parte de mim. E o dia vai passar voando, a academia vai me relaxar na hora do almoço, as nuvens continuarão encobrindo o céu. A noite vai chegar, mais uma aula, risadas, aprendizado, cansaço. E na madrugada milhões de palavras perdidas, livros interessantes e minha casa todinha para mim.

Hoje eu acordei com vontade de dizer que estou bem. Olho para o lado e lá estão todos os tormentos do desejo. Mas eu estou aqui. Olhando para minhas palavras ácidas e pensando: por que tinha que ser assim ? É, não sei o porquê das coisas. Mas quem foi que disse para você que eu saberia responder todas as suas perguntas ?


Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, setembro 13, 2005

O abismo


Não me venha com este papo
De que tudo é normal
Esquece
Fica na sua
Deixa eu seguir meu caminho
Se liga
Sim, cala a boca agora
Que vontade fenomenal de mandar você ...
Sumir
Desaparecer por completo
Vai se danar
Desaparece agora
Não me adoce com seu sorriso
Sou bem mais que um coração partido
Sai fora
Existe mais do que um caminho escuro entre a gente
Uma cadeira vazia
Vários nós atados
Existe um abismo, um buraco
Negro
Que afunda meus sentimentos
E corrói meu coração
Com o ácido que você jogou nele
Talvez o mesmo que ampare suas noites sombrias
Jamais existiu uma palavra doce para mim
Jamais existiu um olhar verdadeiro
Uma amizade sincera
Um bem querer que valesse a pena
É tão difícil perceber que você foi uma alucinação
Uma febre alta
Passou
Estou convalescendo
Espero me curar
Em breve.


Janaina Pereira
Redatora

segunda-feira, setembro 12, 2005

Não faça nada por mim



Aquele dia parecia mais uma noite vazia
Sem rumo e sem medo
Éramos sós
E o fim não justificou o que ficou pela metade
O mundo parecia tão irreal, tão pequeno para nossas pretensões
Eu nem sabia o que estava fazendo
Mas não queria deixar você simplesmente ir
E ficaram lembranças
Um certo gosto amargo na boca
Esperar por quem não vem
Mas que veio
E quando veio ficamos sós
A sós
Novamente
Mas sempre tinha algo estranho
Um arrependimento talvez
Um gosto de nada
Um vazio que nunca se acaba
Uma dor que nunca se parte
Eu não era nada
Eu nunca fui nada além do que mais um dia como outro qualquer em sua vida
Eu não era a sua vida
Eu não era o seu pra sempre
Eu não era o sempre
Eu nunca fui
Eu nunca estive lá
E você simplesmente partiu
Partiu sem graça
Sem jeito
Sem mim
Partiu meu coração em mil pedaços
E até agora eu junto os cacos
Não sobrou muita coisa
Não sobrou quase nada
E eu sou um pedaço do nada no meio do teu mundo vazio
Não me olhe assim desse jeito que me parte mais ainda
Não tem espera
Não tem desculpa
Não existe um porquê
Você não me deixa partir
Não me deixa voltar
Não me deixa ficar
Não me deixa sequer lamentar que deu errado
Porque não houve tentativa
Não sou um erro
E não sou sua
Não sou nada
Nunca fui
Você percebe que não foi por acaso ?
E aquilo que era pra ser um pra sempre
E aquilo que era pra ser a eternidade
Partiu em dois
E não tem mais volta
Se você não volta
Então não vem
Não faz papel de amigo
De irmão
De solidário companheiro de luta
Não represente para mim
Não faça absolutamente nada por mim
Eu quero seguir a estrada
E se for sem você
Que seja assim, que seja agora e quem não demore
E que eu possa nunca mais olhar para trás.




Janaina Pereira
Redatora

domingo, setembro 11, 2005

...


"Só Nos Resta Viver"

DÓI EM MIM SABER
QUE A SOLIDÃO EXISTE
E INSISTE
NO TEU CORAÇÃO
DÓI EM MIM SENTIR
QUE A LUZ QUE GUIA
O MEU DIA
NÃO TE GUIA NÃO
QUEM DERA PUDESSE
A DOR QUE ENTRISTECE
FAZER COMPREENDER
OS FRACOS DE ALMA
SEM PAZ E SEM CALMA
AJUDASSE A VER
QUE A VIDA É BELA
SÓ NOS RESTA VIVER


A melancolia da Angela Ro-Ro tem estilo. Valeu, Leo.

sábado, setembro 10, 2005

A dona da história



Ela é apenas a mulher da minha vida.
Aquela que me deu braço, abraços, alentos.
As diferenças de opinião persistem. O mundo parece injusto e nós ainda brigamos. Mas eu sei que ela estará sempre por perto, mesmo estando longe.
Ontem foi aniversário dela. Hoje ela está aqui. Ela vem e vai, nunca fica, e talvez seja bom para que nossas diferenças não sejam tão aparentes.
A simplicidade de seu mundo é um contraste com o meu mundo tão cheio de tons e sons.
Ela veio.
Ela vai.
Ela é a razão da minha vida porque estou viva por ela.
E eu acho que nunca vou conseguir representar tão bem esse papel como ela faz.

Mami.

Feliz aniversário ontem.
Felicidades hoje.
Seja feliz sempre.



Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, setembro 09, 2005

Sem juízo



Minha paixão pela filosofia já ficou explícita aqui. Então hoje vou falar de um estudo bem bacana dessa matéria, o juízo de fato e o juízo de valor.

A gente vive fazendo julgamento, desde a hora que acorda. Julga o carinha que avançou o sinal – será que estava atrasado ? – e todos os infortúnios que acontecem no caminho de casa para o trabalho. Julgamos a tudo e a todos o dia inteiro, sem perdão, sem dó nem piedade. E somos julgados. Julgados porque chegamos atrasados e ninguém se importou em saber o porquê; julgados pelo trabalho que está fora do prazo mas ninguém quer saber se temos todo material para fazê-lo decentemente; julgados porque não demos aquele telefonema, porque não fizemos do jeito que os outros queriam, porque não sorrimos como todos esperavam. É um julgamento atrás do outro, nosso e alheios, e parece que nada passa desapercebido.

Os fatos ocorrem e julgamos o acontecido, e isso parece simplesmente o juízo de fato. Mas quando avaliamos tudo ao nosso redor e colocamos como coisas boas ou ruins, chegamos ao tal juízo de valor... e aí a gente pira. Pira criticando o outro e pira quando somos ferozmente criticados. Elogio é espécie em extinção, e por isso é sempre bem-vindo!

Graças ao juízo de valor chegamos ao juízo ético e aí a coisa desanda de vez. De repente eu percebo que a liberdade é uma fantasia que colocaram na minha cabeça. Eu não posso ser livre se tenho que seguir algumas regras. E não é só isso: meus valores éticos fazem com que meus desejos não possam ser extravazados. Complexo demais ? Nem tanto. Todo dia você pode ter o desejo de matar alguém que te ofende, agride e humilha. Mas você sabe que, se fizer isso, será punido. Portanto sua ética não permite cometer vários assassinatos por dia. A ética impõe normas. E lá se foi a liberdade.

A liberdade esbarra em vários pontos e acaba sendo limitada. Ninguém se dá conta disso ... e é por isso que continuamos reclamando, falando, lutando para sermos livres no mundo capitalista que nos explora cada vez mais. E ao invés de olharmos para o nosso próprio umbigo, julgamos os outros. É mais fácil. Eu não sou livre porque o fulano não deixa, estou presa ao sistema. Pura enrolação.

Pense primeiro nos seus atos e em tudo que você faz bom e mau juízo vinte e quatro horas por dia. Pense. Reflita. Questione. Julgar é fácil, ser julgado não é. Então antes de atirar a pedra, defenda o seu telhado com a força do seu pensamento e do seu conhecimento.



Janaina Pereira
Redatora

quinta-feira, setembro 08, 2005

Pretéritos


Estava
Apaixonada
Esperançosa
Sonhadora
Criativa
Especial
Romântica
Iludida
Verdadeira
Incrível
Amorosa
Amada
Amante
Amiga
Feliz.



Fiquei
Cansada
Sofrida
Calada
Angustiada
Amargurada
Afobada
Enlouquecida
Chata
Confusa
Triste
Irritada
Acuada
Entediada
Sufocada.


Quero conjugar o futuro mas ainda não entendi o presente.



Janaina Pereira
Redatora

quarta-feira, setembro 07, 2005

Imperfeitos um para o outro


Eu amo. Amo sim e daí ? Não tenho vergonha de fazer sexo, mas também sei fazer amor, sei me doar, sei dar, sei receber, sei o que é carinho, respeito e afago. Eu me apaixono. Eu assumo riscos. Eu não fujo. Eu não tenho medo.

Eu dou a cara pra bater, eu choro, eu grito, eu corro atrás, eu me apaixono, eu sei o que quero e o que não quero. Eu não sou tão má, tão perversa, tão chata ou tão mesquinha como acham. Eu sou uma mulher de verdade.

E é só por isso que eu tenho coragem de chegar aqui e dizer o que sinto. Sinto muito e sinto tanto. Sinto pena. Sinto raiva. E nem sei quanto tempo isso vair durar, mas sei que vai passar. Porque tudo passa.

Eu sou prática: quando um não quer, dois não brigam. E quando dois não querem, nem precisa discutir mais sobre o assunto. Chega ? Claro que chega. Chega de preguiça de ser educado. Chega de fingir o quanto aos olhos dos outros seu sorriso é perfeito, seu bom humor contagia, seu carinho é latente e seu carisma preenche todos os espaços.

A mentira já virou sua verdade. E é triste quando o ser humano já se perdeu na vida e nem consegue mais se reconhecer. O próximo passo é se perder no seu mundo cheio de meias verdades. E quem sabe um dia alguém descubra que você é uma grande mentira.
E cadê eu nessa história ? Eu sou aquela que sofre mas que sempre dá a volta por cima. Porque eu não sou sua mentira. Eu sou a mais cruel e verdadeira realidade que você teve medo de encarar. Sou a piada mas no final dessa história quem vai sorrir sou eu ... porque eu não fugi. Eu não me enganei. Eu não me perdi. Eu não magoei.

Olhe no espelho. Quem você vê ? Quem você é ? O que você sente ?

Um dia você vai ter a resposta. Mas não estarei mais aqui para ouvir suas perguntas.


Janaina Pereira
Redatora

terça-feira, setembro 06, 2005

Engano


Respirei fundo.
Achei tudo estranho desde o começo. Estava no fundo do poço. Achei que seria um resgate. Estava enganada.
Fiquei confusa.
Fiquei triste.
Quase perdi o rumo. E de repente o perfeito virou imperfeito, os meios não justificaram o fim.
Estou triste.
Triste porque eu sempre amo demais
Triste porque eu sempre acho que vale a pena.
Triste porque no final da história é só mais uma imaturidade da vida.
Às vezes bate um cansaço.
Quero fugir.
Desligar o mundo e descer correndo.
Partir.
Voltar para casa.
Mas talvez eu nunca mais volte.
Talvez eu fique ... e eu achava que você era a resposta.
Não é.
Queria entender qual é a sua verdade.
Mas eu só me iludi na grande mentira que você é.



Janaina Pereira
Redatora

sexta-feira, setembro 02, 2005

82


(para ler ouvindo “High and Dry” do Radiohead)


Era uma casa muito engraçada. Ou melhor, um apartamento. Gente indo e voltando, gente feliz, gente triste, gente que chegou a SP repleta de sonhos. Gente que veio para ficar, gente que veio para partir, gente que não veio, gente que se foi. Mães, irmãos, avós, amigos, incenso para disfarçar, luz de vela, luz da lua.

Era lá, naquela esquina da Manoel da Nóbrega, naquele prédio cheio de estilo que a gente se escondia. Era uma fase e a gente sabia que ia passar. Por aquele corredor muita gente entrou e por aquela porta muita gente partiu. Acordar ao som dos pavões, ter a Thompson como olhar da minha janela e apenas um colchão no chão. E eu não tinha nada mas também tinha tudo. Eu tinha sonhos. Eu me iludi. Mas eu não desisti.

Era uma festa, um tédio, um silêncio, uma algazarra, uma briga, várias brigas, muitas panelas, tempos sem fogão, sem geladeira, sem TV, com sofá, com plantas, com microondas e com a Isaura. Era assim, sem passado e sem futuro, era um presente incerto, era uma esperança renovada, era uma fuga, um desemprego, um desespero, uma vida que parecia que ia mudar a qualquer instante.

Não mudava.

De repente mudou.

Hoje o 82 não existe. Sinto saudades de muita coisa que vivi ali, de muitas lágrimas que se perderam no meu imenso quarto com armário embutido. O tempo não volta. Tudo mudou. As pessoas se perderam ao longo da estrada. O 82 é só um apartamento vazio cheio de recordações. Quando eu sai de lá, deixei para trás um pedacinho da minha vida paulistana. Só o começo dela.

O apartamento 82 da Manoel da Nóbrega 401 foi minha primeira casa de verdade em SP. Depois de anos sem rumo, foi ali que me encontrei. E foi depois dali que segui o meu caminho para, quem sabe, nunca mais voltar. Como um dia me disseram para eu fazer. Seguir minha vida sem olhar para trás. Ops, agora eu olhei. E vi o 82 lá no final, como uma lembrança de uma fase importante e decisiva na minha vida.

Satya. Juli. Ju. A estrada é longa, o caminho cheio de espinhos, mas a gente nunca deixou de acreditar.

E quando olhar os bilhetinhos, Ju, lembre-se que o passado não volta. Mas o presente é todinho seu. E o futuro vai ser melhor do que a gente imagina. Basta acreditar.

E no final das contas, 82 é um bom número... e era uma casa muito engraçada mesmo. Quer dizer, um apartamento. Ou melhor, era realmente um lar.



Janaina Pereira
Redatora

quinta-feira, setembro 01, 2005

Pílulas



Fiquei chocada quando a garotada preferiu “Fome de Viver” a “Blade Runner” na aula de Estética e Comunicação. Fala sério. “Fome de Viver” é um bom filme, ousado até para a época, estiloso e tal. Mas “Blade Runner” é um clássico. Pior que a maioria nem sabia do que se tratava. Sem comentários.

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Fui ao Bourbon Street Fest no domingo. Boa música de graça não se encontra em qualquer esquina. Por isso a esquina da Chanés bombou ...


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O texto “A Guerra no Rádio” – inédito no site da Rádio Agência (www.radioagencia.com.br) - teve a colaboração sempre bem-vinda do Augusto César. Antenado, o moço me apresentou os fatos e eu fui lá atrás da verdade. Espero que vocês tenham gostado do resultado.

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Um blog maneiro: http://www.revistadamonica.theblog.com.br/

Minha maior referência infantil,ídolo total, mostrada desde os primórdios. A Mônica é tudo!


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A produtividade está em alta. Tem texto novo no Trampolim www.trampolim.art.br

E em breve numa padaria perto de você.


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E quando você acha que a vida deu todas as respostas, vem alguém e muda as perguntas.





Janaina Pereira
Redatora

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