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terça-feira, maio 31, 2005

Descabelada


Minha amiga Daniela tem razão. Só entre os seres humanos, leoa tem juba. Nós, mulheres de leão, conhecidas por seus cabelos volumosos, a maioria encaracolado, tem a força nos cabelos. E que nenhum homem tenha um ar de Dalila para aparar nossas jubas imensas.

Eu tinha um cabelo fofo, sem cachos, apenas ligeiramente ondulado. Mas aos seis anos de idade, minha mãe, cansada de fazer penteados gracinhas, resolveu tosar minha juba. Usei cabelo ‘joãozinho’ até os doze anos. A partir daí, fiquei vaidosa e deixei a juba crescer. Foi um desastre. O cabelo armava, minha mãe tentava alisar, um horror. Até que aos quinze anos resolvi deixar os cachos ativados. E nunca mais me livrei deles. Usava cabelos curtos, porque o calor do Rio não me permitia deixá-los crescer. E quando vim morar em São Paulo, deixei a juba se alongar.

Hoje, quando a chuva cai sobre meus cabelões, eu enlouqueço. Fica péssimo, armado demais, rebelde. Mas ainda assim eu prefiro minha juba, com seus cachos indomados, do que as escovas que progridem ou definem para sempre cabelos rebeldes. São lisos artificiais. E eu sou, acima de qualquer coisa, uma mulher indomável. Até nos cabelos.



Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
janaredatora@hotmail.com

segunda-feira, maio 30, 2005

O feriado em verso e prosa


E a Adriana não saiu do CD dos meus ouvidos ...




Quinta-feira – parte I


Cariocas
(Adriana Calcanhoto)

Cariocas são bonitos
cariocas são bacanas
cariocas são sacanas
cariocas são dourados
cariocas são modernos
cariocas são espertos
cariocas são diretos
cariocas não gostam de dias nublados

Cariocas nascem bambas
cariocas nascem craques
cariocas têm sotaque
cariocas são alegres
cariocas são atentos
cariocas são tão sexys
cariocas são tão claros
cariocas não gostam de sinal fechado



Sexta-feira – Parte II


Esquadros
(Adriana Calcanhoto)

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Khalo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Ah, eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome, nos meninos que têm fome

(Refrão)
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela, quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados
De uma lado eu gosto de opostos
Esponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

(Refrão)

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém, ao lado!

(Refrão)




Sábado – Parte III


Devolva-me
(Lílian – versão Adriana Calcanhoto)

Rasgue as minhas cartas e não me procure mais
Assim será melhor, meu bem
O retrato que eu te dei, se ainda tens não sei
Mas se tiver devolva-me, deixe-me sozinho
porque assim eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz junto do seu novo rapaz
O retrato que eu te dei, se ainda tens não sei
Mas se tiver, devolva-me
O retrato que eu te dei, se ainda tens não sei
Mas se tiver devolva-me
Devolva-me, devolva-me




Domingo – Parte IV


Mentiras
(Adriana Calcanhoto)

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família
Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu gosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu já arranhei os seus discos
Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha pra mim

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua aula
Queria falar sua língua
Eu vou publicar seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria
Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha pra mim

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha pra mim




Segunda-feira ... o que restou de mim ...


Metade
(Adriana Calcanhoto)

Eu perco o chão, eu não acho as palavras
Eu ando tão triste, eu ando pela sala
Eu perco a hora, eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim

Eu perco a chave de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio
Onde será que você está agora?





Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
janaredatora@hotmail.com

terça-feira, maio 24, 2005

Deixe que digam, que pensem, que falem


(para ler ouvindo “Ela é magnética”, do Trio Mocotó.)



Pode me chamar de Jana. Eu deixo. Só não gosto que escrevam meu nome com acento. Não tem. Sou Janaina sem acento. Assim foi registrado e assim ficará para sempre, até em minha lápide, se um dia eu tiver uma – eu prefiro ser cremada.

Adoro o mar mas não sei nadar. Talvez eu tenha medo. Mas tudo que vem do mar me atrai. As ondas. O surfe. As conchas. Os surfistas. Os golfinhos. Os peixes. O céu e a areia que o acompanham. O mar canta para mim mesmo quando estou longe dele. Eu nunca o abandonei. E ele nunca vai largar de mim.

Gosto de pessoas inteligentes. Adoro gente. Mas gente que saiba falar e tenha paciência para ouvir. Gente que conteste. Gente que lute por algo ou por alguém de maneira honesta e digna. Prefiro pessoas que pensam às pessoas pensativas.

Sou apaixonada pelos animais. Tenho uma predileção pelos cachorros. Adoro pássaros, desde que estejam soltos. E leões, onças, tigres, girafas, elefantes, ursos e outras feras. Mas sou meio bicho-preguiça. Não tenho nenhum animal de estimação porque dá muito trabalho.

Prefiro o silêncio ao agito das noites. Mas sou da night. Ou da balada. Tudo é uma questão de ponto de vista. Já sai de segunda a segunda. Hoje sou mais tranqüila. Posso passar horas no vazio, sem som, sem imagem, sem palavras. A algazarra muitas vezes me incomoda. E o falatório só me provoca.

Sou louca por bolsas. Tenho necessidade de carregar algo nos ombros. O mundo, que seja. Mas o mundo vem em bolsas ... lindas, loucas, coloridas, de vinil, de tactel, de pano, de couro, com pele, com estilo. É minha marca registrada.

Sapatos e sandálias são encantadores mas eu gosto mesmo é de andar descalça. Tênis só de vez em quando. Sapatos de salto plataforma me fazem bem. Tamancos de salto agulha me dão poder. Pés na areia me deixam nas nuvens.

Vermelho é a cor. Jamais dos meus cabelos, mas sempre nas minhas unhas. Nas saias e vestidos, nos acessórios, na camiseta descolada, no casaco que aquece. Vermelho é sangue, é fome, é vida, é apetite e sedução.

Escova não faz minha cabeça. Definitivamente. Detesto meus cachos indomados mas aprendi a conviver com eles. São um ponto forte da minha personalidade. Chapinha ? Jamais. A escova até dá um ar de surpresa e elegância ao meu rosto. Mas só quando eu acho que realmente vale a pena investir neste artifício.

Odeio celular. Mas adoro telefone. Falo sem parar. Mas celular me deixa raivosa. A sensação de ser achada a qualquer hora, em qualquer lugar, me deixa louca. Desligo quando chego em casa. Saio e deixo o aparelho quieto. A mensagem sempre vai para a caixa-postal.

Ler é fascinante mas cinema é a melhor diversão. Gosto de filmes de aventura, ação e suspense. Gosto de tudo um pouco. De tudo muito. Cinema me deixa extasiada e reflexiva. Eu aprendo porque ele me ensina. É minha terapia.

Música é demais. Cantar, nem pensar. Mas ouvir e dançar, sim. Dançar faz toda a diferença para mim. Sinto falta quando fico muito tempo longe das pistas. E dos shows. Gosto do bom e velho rock. E MPB, bossa nova, jazz, rap, hip hop, samba. Pagode, não. Axé, nem pensar. Funk, jamais. Música clássica é muito bom. Inspira. Música mexe com a alma e alivia a tensão do corpo.

Chocolate faz bem à minha saúde. Doces, de um modo geral. Mas não tomo chá com açúcar. E só adoço limonada. Mas tortas e outros doces são comigo mesmo. Sou formiga: devoro.

Gosto de fazer musculação mas odeio o ambiente de academia. Mas puxo ferro amarradona. Esportes não são o meu forte porém curto lutas. Boxe é fantástico. E capoeira é o melhor.

Acho cigarro simplesmente insuportável. E detesto gente bêbada que enche o saco. Já bebi aos montes mas nunca vacilei. Dar vexame, nem pensar. Nem gosto tanto assim de cerveja. Chopp ainda é bom. Vinho é excelente. Champanhe é chique. Pró-seco é festa. Caipirinha de saquê é a bebida.

Viajar é um dos maiores prazeres da vida. E comer também. Comidas típicas de lugares diferentes é realmente uma ótima pedida. Lembro das guloseimas de Paraty. E dos meus bons momentos em Porto Alegre. E tantos outros lugares pelos quais passei. Um dia o Nordeste virá. E a Europa também.

Decotes abusados, saias curtas, é verão. Meias coloridas, calças estilosas e camisas, é inverno. Roupas abarrotam meu armário. Sou consumista. Capitalista. Primata. Selvagem.

Resumidamente, aí estão algumas coisas a meu respeito. Coisas poucas, coisas bobas. Mas somente coisas verdadeiras.




Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
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domingo, maio 22, 2005

Por onde andei


(Nando Reis)


Desculpe estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado e eu entendo

As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias até pr'uma criança

Por onde andei enquanto você me procurava
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava

Amor eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança
Como um dia que roubaram seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo coisa muito frágil
Uma bobagem uma irrelevância
Diante da eternidade do amor de quem se ama

Por onde andei enquanto você me procurava
E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada

E o que eu deixei algumas roupas penduradas
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava


Amor eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança
Como um dia que roubaram seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo coisa muito frágil
Uma bobagem uma irrelevância
Diante da eternidade do amor de quem se ama

Por onde andei enquanto você me procurava
E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada

E o que eu deixei algumas roupas penduradas
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava


Por onde andei enquanto você me procurava
E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada

E o que eu deixei algumas roupas penduradas
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava






Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
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quinta-feira, maio 19, 2005

Que a força esteja com todos nós


Darth Vader é, para mim, o maior e melhor vilão de todos os tempos. Sua armadura que simbolizava o mal, a voz rouca (excelente na dublagem e na versão original) e aquela música maravilhosa que ecoava quando ele entrava em cena ... tudo isso foi marcante demais. Passei anos da minha vida me deliciando com o maligno Vader. E acho que sempre soube, de algum modo, que ele era o pai do Luke Skywalker.

O mestre Vader voltou às telas mundiais para contar sua própria história. O brilhante George Lucas resolveu contar a história intergalática do clássico Star Wars pelo meio, e só no final da década de 90 começamos a conhecer a origem do perverso personagem. Hoje algumas milhares de pessoas no mundo já assistiram ao Episódio III de Star Wars – que estreou mundialmente ontem – e sabem com quantas armaduras foi feita o nosso querido e malvado Darth.

Eu vou ver, lógico. Devo ser uma das poucas mulheres no Universo que é apaixonada pela trupe dos Jedis. Conheço a trilogia clássica de cor, sei até alguns diálogos na ponta da língua. Os novos episódios não me agradam tanto mas acredito que “A vingança dos Sith” vai ser maneiro. Afinal, veremos como Anakin virou Vader.

E enquanto o dia de viajar para uma galáxia muito, muito distante daqui não chega, desejo que a Força esteja com vocês. E comigo também.


Janaina Pereira
Redatora
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quarta-feira, maio 18, 2005

Padrão de qualidade


A pergunta jornalística do momento é: por que a Ana Paula Padrão deixou a Rede Globo ? com aquela carinha bonita, seu cabelo de playmobil e tanta grana no bolso e na conta bancária, Aninha resolveu dar um basta em tantas regalias. Cansada de ficar pela madrugada “abrindo” pro Jô, APP pediu seu boné. Dizem que vai pro SBT. Será ?

Andam falando por aí que APP fez beicinho porque a Globo não a deixou ocupar a cadeirinha do Jornal Nacional. Desbancar Dona Fátima ? Nem pensar. Acho toda essa discussão uma idiotice. Não gosto da Ana Paula Padrão, nem da Fátima Bernardes muito menos da Sandra Anemberg. Todas tem a mesma cara, o mesmo cabelo, vestem as mesmas roupas, das mesmas cores, com todo o estilo pasteurizado da Globo. Cansa. Até a voz delas tem a entonação parecida. Colocar Aninha no JN era trocar seis por meia dúzia: ninguém ia reparar a mudança.

Ainda sou muito mais a Glória Maria. Aliás, sou da época em que apresentadora de telejornal era a Leda Nagle. E que a Leilane Neubarth não tinha feito escova progressiva no cabelo. Falando nisso, outro dia vi uma reportagem no Jornal Hoje onde Sandrinha falava dos perigos da escova progressiva. Pensei: será que ela, a Dona Fátima e a Carla Vilhena fizeram seguro de vida após a escovada nos cabelos ? Será que, caso algo aconteça as moças, elas podem pedir indenização à Globo por acidente de trabalho ?

Voltando a Ana Paula Padrão: em momento algum questionam a perda de uma profissional competente, que fará falta ao telejornalismo global. Isso não vai ocorrer. Será substituído por uma Patrícia Poeta da vida. APP está na mídia porcausa de uma possível inveja que teria de sua companheira de trabalho, que resultou em sua demissão. Que coisa. No jornalismo é como na vida: a inveja mora ao lado.

Não se preocupem, meus amigos e leitores: não pretendo ser apresentadora de telejornal. Até porque escova progressiva não combina com meu cabelo e meu estilo é um pouco rebelde demais para os padrões globais. Aos fãs de APP, um consolo: ela volta. Vaso ruim não quebra, e tio Silvio taí mesmo para pagar uma pequena fortuna para ter o charme playmobiliano em seu canal.


Janaina Pereira
Redatora
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terça-feira, maio 17, 2005

Pílulas



Ainda dá tempo para assistir a exposição “O Corpo” no Itaú Cultural. Estive apreciando a arte contemporânea deste ótimo espaço paulistano e curti bastante. Indico.

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Minha amiga Daniela me contou que o Sean Penn é leonino. Isto explica o forte poder de sedução que ele tem. E agora também compreendi porque ele e Madonna não deram certo: ela também é do signo de Leão. Dupla explosiva, raramente funciona.

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David, meu amigo querido, que tem um blog espertíssimo (http://ahoradaxepa.zip.net) me disse outro dia uma frase antológica: se você reclama do seu professor é porque nunca teve um chefe. Faz muito sentido. Hilário !

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Ouvi recentemente que as mulheres de Leão estão passando por uma fase de transformação e questionando tudo a sua volta. Seria bom que metade do Universo questionasse o que está ao seu redor. E a outra metade ficasse ligada nisso tudo.

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Quem curte uma visão feroz e verdadeira dos acontecimentos não deve deixar de ler o blog do meu companheiro de escriba, Léo Pinheiro. www.balcaodapadaria.blogspot.com saiu do forno com textos quentinhos e recheados de inspiração. Delicie-se.

Esta redatora aproveita para agradecer a citação e a homenagem. Valeu, Léo.

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Li “Minha razão de viver – Memórias de um Repórter”, a biografia de Samuel Wainer por Augusto Nunes (que na verdade apenas transcreve as gravações de Samuca). Interessante visão da época da ditadura Vargas. Wainer criou o jornal “Última Hora” e teve papel importante na história jornalística brasileira.




Janaina Pereira
Redatora
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domingo, maio 15, 2005

O que jamais pode ser esquecido


A ditadura, em qualquer país, deixa marcas profundas em seu povo e na própria nação. Quando este assunto vem à tona, uma das maiores questões levantada é o desaparecimento de pessoas. E este é o tema do filme “Visões” (Imagining Argentina), inédito nos cinemas brasileiros, mas que você pode alugar em VHS ou DVD. Dirigido e escrito por Christopher Hampton, o filme é uma co-produção inglesa e espanhola, baseado em fatos reais, e mostra uma Argentina nada amigável em sua época de ditadura militar – de 1976 a 1983.

Buenos Aires, 1976. A jornalista Cecília Rueda (a talentosíssima Emma Thompson) escreve sobre o desaparecimento de crianças. Após a publicação da matéria, Cecília some. Seu marido, o autor teatral Carlos Rueda (Antonio Banderas, em atuação correta), inicia uma busca desesperada pela esposa. E acaba descobrindo que possui um dom para encontrar pessoas desaparecidas, decidindo usá-lo para achar sua esposa e também para ajudar outras pessoas que estão em situação semelhante a dele.

Com cenas fortes e viscerais, “Visões” passa a limpo um passado que os argentinos certamente querem esquecer. Mas esta é a grande moral do filme: situações aterrorizantes como as que aconteceram por lá, jamais podem ser esquecidas. O filme ainda lembra que milhares de pessoas desapareceram pelo mundo em outros regimes ditatoriais e que este assunto deve ser constantemente levantado (embora o Brasil não apareça ente os países citados, sabemos que nosso país tem bastante culpa no cartório quando o assunto é "os desaparecidos da ditadura").

Se você abstrair o estilo “Sexto Sentido” que entrelaça as cenas – que a mim, particularmente, não incomodou – vai se chocar com o horror que “Visões” faz questão de mostrar. Vale a pena assistir a este filme pelo simples fato de que uma situação obscura como esta deve ser analisada, sempre. Destaque para a versão em espanhol de “Maria,Maria”, de Milton Nascimento, que faz parte da trilha sonora.

Baseado na novela de mesmo nome, escrita por Lawrence Thornton, “Visões” teve cenas rodadas na histórica Praça de Maio, localizada em frente a Casa de Governo. E sim, a Casa Rosada aparece com destaque. Posso dizer que este é o tipo de filme para quem tem estômago para cenas difíceis. Mas também é aquele que faz a gente refletir sobre um passado que não poderia ter acontecido. Mas já que aconteceu, não podemos deixar que se repita.


Janaina Pereira
Redatora
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sexta-feira, maio 13, 2005

Abelardo


(para ler ouvindo “O meu sangue ferve por você”, com o Sidney Magal.)


Eu sempre detestei o Chacrinha. Preferia o Silvio Santos. E o ícone da breguice, o Bolinha. Mas o Chacrinha ... eu achava um mala. Deve ser por isso que não me agrada a idéia de participar do Cassino do Velho Guerreiro. Imagina eu como chacrete ! Se havia no passado a Rita Cadillac, eu seria o que ? A Jana Limousine ? Ou a Jana Audi ? Seguindo a versão da Gracinha Copacabana, eu seria a Jana Ipanema. E depois da Fátima Boa-Viagem viria a Jana Vai e Não Volta !!!

Mas, quando se está no meio do show de calouros, temos realmente que rebolar. Engolir sapos, pepinos e além de tudo segurar o troféu abacaxi. Porque pessoas como eu, que pode levar uma buzina a qualquer momento, não vai para o trono com tanta facilidade.

O melhor nessa zoeira toda é que Abelardo Barbosa era o cara ... e ele estava com tudo e não estava prosa ! Seus seguidores, no entanto, pecam por acreditar demais numa competência que não tem.

Porém, devemos lembrar que nada na vida é eterno ... e quanto mais alto você subir, maior será seu tombo. Ainda bem que tudo no mundo muda – não é à toa que a Terra é redonda. Como disse Darwin, a vida favorece os mais fortes. E como sabiamente completou meu querido amigo David, neste grupo de fortes eu faço questão de fazer parte.



Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
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quinta-feira, maio 12, 2005

Sussurros


Sim, estou viva. Mas hoje a dor no estômago foi tão forte que me desliguei do Universo. Só entrei aqui para postar a letra de uma música do Pearl Jam, que adoro. Acho que o Léo tem razão, estou meio pop ultimamente. Mas os antibióticos me consomem e não posso ficar muito tempo olhando para o computador. Não checo meus e-mails nem leio as notícias on-line. Mas o blog merece um sacrifício ...

A sinusite é mesmo implacável. Então divirtam-se com esta letra que tem algo a ver comigo hoje ... porque sim, eu continuo viva.



Alive

Pearl Jam


Son, she said, have I got a little story for you
What you thought was your daddy was nothin' but a...
While you were sittin' home alone at age thirteen
Your real daddy was dyin', sorry you didn't see him, but I'm glad we
talked...

Oh I, oh, I'm still alive
Hey, I, I, oh, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Hey...oh...

Oh, she walks slowly, across a young man's room
She said I'm ready...for you
I can't remember anything to this very day
'Cept the look, the look...
Oh, you know where, now I can't see, I just stare...

I, I'm still alive
Hey I, but, I'm still alive
Hey I, boy, I'm still alive
Hey I, I, I, I'm still alive, yeah
Ooh yeah...yeah yeah yeah...oh...oh...

Is something wrong, she said
Well of course there is
You're still alive, she said
Oh, and do I deserve to be
Is that the question
And if so...if so...who answers...who answers...

I, oh, I'm still alive
Hey I, oh, I'm still alive
Hey I, but, I'm still alive
Yeah I, ooh, I'm still alive
Yeah yeah yeah yeah yeah yeah




Vivo


Filho, ela disse, tenho uma historinha para você
O que você pensava era que seu pai não passava de um...
Enquanto você esteve em casa sozinho aos 13 anos
O seu verdadeiro pai estava morrendo, sinto você não tê-lo visto,mas estou contente de termos conversado

Eu continuo vivo...
Hey eu ... mas eu continuo vivo
Hey eu, garoto ... eu continuo vivo
Hey eu, eu, eu, continuo vivo, sim
Ooh, sim ... sim ... sim ...


Ela caminha vagarosamente, pelo quarto de um jovem
Ela disse estou pronta... para você
Eu não consigo lembrar nada até aquele dia
Exceto o olhar, o olhar
Você sabe onde, agora eu não posso enxergar, eu só encaro...

Eu continuo vivo...
Hey eu ... mas eu continuo vivo
Hey eu, garoto ... eu continuo vivo
Hey eu, eu, eu, continuo vivo, sim
Ooh, sim ... sim ... sim ...

Tem algo errado, ela disse
É claro que tem
Você continua vivo, ela disse
E eu mereço estar
É essa a questão
E se for... E se for... Quem vai responder... Quem vai responder...

Eu continuo vivo...
Hey eu ... mas eu continuo vivo
Hey eu, garoto ... eu continuo vivo
Hey eu, eu, eu, continuo vivo, sim
Ooh, sim ... sim ... sim ...




Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
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quarta-feira, maio 11, 2005

Relicário


(para ler ouvindo "I´ve got a felling", dos Beatles.)


A sinusite teve o poder de me derrubar mais uma vez. Mas ela não foi táo rápida a ponto de avançar território, conquistar meus frágeis pulmões e virar mais uma pneumonia para me arruinar de vez. Ela só vai me deixar fora de forma e e de órbita por uns dias.

A pergunta que vem nessas horas é a seguinte: até quando vou investir meu dinheiro na cura de uma doença incurável ? E quando eu vou perceber que qualidade de vida é algo que não se compra ? Pelo jeito são várias perguntas - estas e outras - todas sem resposta. Aliás, tenho respostas mas me recuso a aceitá-las.

Este é o resultado do relicário imenso do meu amor.



Janaina Pereira
Redatora
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janaredatora@hotmail.com

segunda-feira, maio 09, 2005

É só o amor


Nove horas de sol em Ipanema
Natural no pão árabe
Paz interior
Quase felicidade
O velho conflito
O dilema que nunca acaba
A história de amor e raiva com o Rio continua
Hoje é dia de olhar este céu cinzento, nesta manhã fria,
e deixar o perdão invandir
o que restou do meu coração ferido.

Cante para mim ...




Relicário

Nando Reis


E uma índia com colar
A tarde linda que não quer se por
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o A de que cor ?
O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou
E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar
Onde eu não vou
O que você está fazendo ?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo ?
Um relicário imenso deste amor
Corre a lua porque longe vai ?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que trocaria a eternidade
Por esta noite
Por que está amanhecendo ?
Peço o contrário ver o sol se pôr
Por que está amanhecendo ?
Se não vou beijar seus lábios
Quando você se for
Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente dura, o futuro amor
Eu sou a chuva pra você secar
Pelo zunido da suas asas você me falou
O que está dizendo ?
Milhões de frases sem nenhuma cor
O que você está dizendo ?
Um relicário imenso deste amor



Janaina Pereira
Redatora
www.fotolog.net/janaredatora
janaredatora@hotmail.com

sexta-feira, maio 06, 2005

Bendito fruto do vosso ventre


Vem aí o Dia das Mães, uma das datas mais comerciais que existem no mundo. Detesto pensar que sou obrigada a fazer coisas que não quero: dar presente, ir ao Rio e participar dos festejos familiares pelo simples fato de que terei, para sempre, que agradecer a minha mãe pelo meu nascimento. Só que eu não pedi para nascer, certo? Errado. Mãe é carma. E dos mais fortes que existem.

Não pensem que sou uma filha desnaturada e que não gosto da minha mãe. Não é bem por ai. Eu dou valor a ela e a todas as mulheres que têm esta brilhante vocação. Não sei se sou capaz de dar conta do recado. Não sei se quero dar à luz e abrir mão da minha vida de mulher-solteira-que-não-procura-nada-além-da-sua-própria-independência. Odeio pensar que posso ter alguém amarrado em mim para sempre. Porque filhos são eternos, ou pelo menos somos obrigados a crer nisso.

Como todo mundo que veio a este mundo para se redimir de suas encarnações passadas, repletas de atitudes inferiores, eu também tenho mil problemas com minha mãe. Somos pessoas diferentes, de atitudes e pensamentos opostos. Tem dias que eu a adoro, tem outros que quero que ela fique bem longe de mim. Muito mais do que os 457 km que já nos separam. Eu sempre tive um ótimo relacionamento com meu pai, mas ele morreu quando eu era muito jovem e eu não posso comparar estes afetos. Minha mãe sempre foi a durona, a que brigava, a que batia em mim – e eu merecia muito, pois sempre fui ‘mal-criada e respondona’, como ela adorava dizer quando eu criança. E ela continua me tratando com uma criança, e isso nunca vai mudar. Já me acostumei. Eu estou sempre magra demais, rebelde demais, chata demais, implicante demais e insubordinada demais para minha mãe. Eu nunca a agradei em nada. Ainda que hoje em dia ela não disfarce mais o orgulho que tem de mim, pelo simples fato de que eu sai de casa e dei conta do recado sem ajuda dela, ou de qualquer outra pessoa da família. Se estou aqui hoje foi porque eu enfrentei o mundo sozinha. Mas tenho que admitir que se não fosse a criação exemplar que ela e meu pai me deram, eu jamais teria conseguido.

Acho que a parte mais difícil da história é essa: construir o caráter de uma pessoa, ajudar na formação intelectual de um ser. E foi esse o legado do meu pai, e a melhor coisa que minha mãe fez por mim. Foi ela que me ensinou a ser honesta, a ter caráter, a falar o que eu penso e assumir as conseqüências dos meus erros. Foi ela que, com sua proteção excessiva, acabou me fazendo ser rebelde e passional. Minha mãe nunca me mandou estudar, jamais me cobrou boas notas, e nem ficava preocupada com o que eu fazia na escola. Mas sempre teve a máxima atenção ao que eu escrevia. Sempre detestou minhas críticas ferozes, minhas atitudes ácidas e meu jeito desafiador. Ela foi a primeira pessoa que eu desafiei, que eu confrontei de verdade, que eu encostei na parede para esbravejar contra o mundo. Se algo dava errado para mim, ela era a primeira a ser apontada como culpada. Confesso: não é nada fácil ser minha mãe. Foi graças a marcação cerrada dela que eu aprendi a cobrar de mim mesma e do mundo atitudes que, do meu ponto de vista, são as mais corretas. Ela me fez acreditar que eu podia mudar o mundo. E estava por perto quando eu descobri que tudo não passava de uma grande mentira.

Minha mãe é a pessoa que mais me conhecesse. Ela sabe quando estou triste, quando estou mentindo, quando estou sofrendo, quando estou amando. E ela nem sempre ama aqueles que eu amo, e às vezes insiste em amar aqueles que eu não amo mais. Eu queria, de verdade, que ela fosse mais feliz. Eu queria que ela enxergasse o mundo como eu o vejo, mas eu não posso mais mudá-la. Então eu aceito a minha mãe com todos os seus defeitos, procurando estancar o sangue que ainda jorra de suas cicatrizes.

Eu sei que sou o bem mais precioso que ela tem, e por isso eu respeito minha mãe e todas as mulheres que um dia foram mães, ou as que ainda são, e as que sonham um dia ser. Eu acho que não consigo. Não tenho ventre, nem tempo, nem cabeça, nem paciência para isso. Não tenho coração de mãe. Não sei o que é mais importante para outro, não sei me doar, não sei amar incondicionalmente, não sei abrir mão da minha vida para cuidar de um outro ser. Ainda que eu adore as crianças e tenha muitas delas perto de mim.

Já senti saudades insuportáveis da minha mãe, de doer o coração. Já passei noites chorando, sozinha, querendo muito o seu colo, o seu beijo, o seu abraço. Ainda que ela seja a pessoa que menos me entende. Mas, sem dúvida nenhuma, apesar disso, ela ainda é a pessoa que mais me ama.


Janaina Pereira
Redatora
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quarta-feira, maio 04, 2005

É ele


Quando eu era adolescente, eu adorava o Tom Cruise. Ele certamente foi o favorito da minha geração. Lembro-me da minha primeira sessão de vídeo, na casa de uma amiga do colégio. Vimos “Top Gun”. Éramos seis meninas, entre 11 e 13 anos, que suspiravam pelo belo rapaz de olhos verdes. Meu Deus, eu hoje sou uma mulher de trinta anos ! E o Tom Cruise já passou dos 40.

Mas Tom foi meu favorito por uns três ou quatro anos. Já adolescente, eu descobri o Kevin Costner. Que foi rapidamente substituído, já no início da vida adulta, pelo Brad Pitt. Que ainda é um dos meus favoritos. Sempre correndo por fora, Harrison Ford ganha de todos porque ele é o dono do meu personagem preferido: Indiana Jones. Se eu pudesse escolher um personagem para viver o resto da minha vida, ele seria o Indiana. Sarcástico, aventureiro, difícil, inteligente, audacioso, seguro, bom caráter mas longe de ser almofadinha. Perfeito.

Como já deu para perceber, sempre detestei os galãs mais novinhos. Mesmo quando eu já sabia muito bem o estilo de homem que me agradava ou não, meus olhos jamais se renderam para tipos como Matt Damon ou Ben Affleck. Não vejo a menor graça neles. E mesmo o Brad Pitt só ganhou minha preferência depois de fazer “Seven”. Homem tem que ter cara de homem – e foi quando se revelou menino demais que o Tom Cruise saiu rapidinho da minha lista. Só fui redescobri-lo em “Minority Report”, no auge dos seus 40 anos. Um absurdo de maravilhoso. Realmente envelhecer faz muito bem.

Já tive minha fase latina com o Antonio Banderas, mas ele perdeu o vigor e o estilo espanhol que tanto me agradava. Hoje prefiro o Javier Badem. 36 anos. Sem dúvida, na melhor das idades. Entre os loiros – sempre os meus preferidos – tem o espetacular Jude Law. Para mim, ele é o homem mais bonito do mundo. E para manter a minha fama de preferir os rebeldes, adoro o Russel Crowe. Ele, de barba, em “Gladiador”, era tudo que eu pedi a Deus.

Também gosto do Mel Gibson, que anda com rugas que lhe trazem um algo a mais. E por falar em rugas, o sinal da idade fez com que um ator que eu nunca achei bonito, nem sequer admirei, ganhasse pontos comigo nos últimos tempos. Descobri que o homem da minha vida é o Sean Penn. Ele não sabe disso, mas eu já sei. Eu nunca gostei dele. Até porque ele batia na Madonna, e eu sempre adorei a Madonna. Uma vez vi na TV “Não somos anjos”, onde ele contracenava com o Robert de Niro. Achei que ele era um bom ator. Os anos passaram, e em 2004 eu fui ver “Sobre meninos e lobos”. Fui assistir ao filme porque era dirigido pelo Clint Eastwood, que eu adoro. E ai eu descobri o Sean Penn. Ótimo ator, maduro, com ar de rebelde, os cabelos começando a ficar grisalhos ... e as rugas aparecendo na testa. Nossa... que homem era aquele que saltava na tela ? Depois disso, lá estava ele novamente em “21 gramas”. Arrebatador. E quando ele apareceu “A intérprete”, mal pude me conter. Fui ao cinema porque queria vê-lo. E não era só porque ele atua bem. O Sean Penn tem um ar displicente, um jeito de briguento, envocado, mal-humorado, algo meio chato e politicamente incorreto. Um estilo bravo e irrequieto de ser. E está longe de ser bonito. Ele não é. Mas tem charme, algo que transborda naquele olhar cheio de palavras. A última cena do filme é um caso à parte. Dá vontade de pular na telona para agarrá-lo. Tive que me conter.

Bem, agora todo mundo já sabe que eu estou apaixonada pelo Sean Penn. Mas confesso, sou volúvel. Já sei que o Jude Law e o Brad Pitt estão estreando filmes em breve. E os loiros sempre terão lugar de honra na minha lista.


Janaina Pereira
Redatora
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segunda-feira, maio 02, 2005

Ele está no meio de nós

Foi num domingo de maio, mais precisamente no primeiro dia de maio, em 1994, que algumas vidas brasileiras se chocaram na curva Tamburello. Impossível eu deixar passar em branco esta data. Como já disse aqui (em texto postado em maio de 2004), eu era fã do Ayrton Senna. E não tenho nenhuma vergonha em revelar que ele foi a única pessoa no mundo que eu realmente admirei.

Já tentei entender o porquê da minha fascinação por ele. Talvez eu o visse como um cara forte, corajoso, invencível. Quando se tem doze anos de idade e poucas possibilidades de vencer na vida, os ídolos passam a exercer presença garantida no seu dia-a-dia. Eu era uma adolescente problemática, como todos os adolescentes são; não tinha muitos amigos e os poucos que estavam perto de mim, eu brigava. Vivia numa redoma de vidro, era criada como uma porcelana valiosíssima e isto tudo impedia meu crescimento. Mas admirar o Ayrton era uma válvula de escape fora-de-série: ele era tudo que eu queria ser, ele tinha tudo que eu queria ter e ele desafiava a morte, como eu gostaria de fazer.

Mas naquele fatídico domingo eu descobri, entre outras coisas, que o Super Homem não existia, que o Ayrton tinha medos, que o dinheiro falava mais alto que tudo e que foi a ganância e a ambição do circo da Fórmula 1 que o colocou naquele cockpit. Porque foi preciso o ídolo morrer para que alguma coisa ali mudasse. Era visível que ele não queria correr mas ele não podia fazer nada. O destino estava escrito. E meus domingos nunca mais foram os mesmos. Mas foi porcausa daquele domingo de maio que o Ayrton entrou, para sempre, em minha vida e na vida de milhares de pessoas em todo o mundo.

Hoje, onze anos depois, acredito que a Tamburello roubou de mim mais do que um ídolo: roubou uma certeza de mudança, de invencibilidade que eu acreditava que havia, não só nele, mas em mim mesma. Aquela curva roubou minha ilusão e destruiu meus sonhos adolescentes de viver ultrapassando todos os limites. O que restou foi a certeza de que os mitos sobrevivem a tudo. Até mesmo à sua própria morte.



Janaina Pereira
Redatora
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domingo, maio 01, 2005

A verdadeira verdade


Assisti ao filme “A Intérprete”, de Sidney Pollack (“A Firma”), uma interessante história de suspense e espionagem e um bom entretenimento para uma noite fria e chuvosa. Longe de ser imperdível, mas bastante competente em suas pretensões, a grande atração do filme - além da dupla de protagonistas Nicole Kidman e Sean Penn - é que ele é o primeiro na História do cinema a ser rodado dentro da sede da ONU (Organização das Nações Unidas). E isto, sem dúvida, é um grande feito. Para filmar “A Intérprete”, o diretor Sidney Pollack e sua equipe trabalharam somente durante finais de semana e após o expediente, durante cinco meses.

Graças ao mundo globalizado, a barreira da língua e da cultura faz com que os relacionamentos entre as nações, e os interpessoais também, se tornem cada vez mais complicados e perigosos. A linha que separa a guerra e a paz está cada vez mais tênue e é exatamente isso que organizações como a ONU oferecem: um território neutro, onde o trabalho dos intérpretes é de extrema importância. É esse o fio da meada de “A Intérprete”, no melhor estilo thriller de espionagem. O roteiro de Scott Frank, Charles Randolph e Steven Zaillian é inteligente e bem amarrado e nos leva para dentro da sede da ONU com bastante eficiência. A intérprete do título do filme é Silvia Broome (Nicole, absurdamente linda e loira), uma mulher aparentemente discreta e diplomática. Ela ouve por acaso uma conversa suspeita - um possível assassinato do ditador de um fictício país africano - dentro da protegida sala de convenções. Assustada, conta aos seus superiores o que escutou e o assunto vai parar no FBI. O agente Tobin Keller (Penn, o envocado mais charmoso da telona) é designado para investigá-la e acaba descobrindo o envolvimento da intérprete em assuntos políticos, que também estão relacionados ao que a moça ouviu. De vítima Silvia passa a ser suspeita, sempre tendo em seu encalço Keller e sua companheira Dot Woods (Catherine Kreener).

Com algumas boas reviravoltas e uma trama que vai crescendo em tensão e suspense, o filme passeia pelos imensos corredores da ONU com vigorosa desenvoltura, graças à câmera segura e sóbria de Pollack. A química da dupla protagonista também sobressai: tanto Sean Penn quanto Nicole Kidman dão o tom certo a seus personagens, que passam por conturbados momentos pessoais no meio da grande confusão em que estão envolvidos. E apesar do clima que fica sempre no ar – e é impossível não negar que a gente entra no cinema esperando que a Nicole beije o Sean, e vice-versa – nem o diretor, nem os atores, erraram a mão na hora de dar sentimentos às cenas mais pessoais.

O filme pisa em terreno muito delicado - a forma que os outros países interferem no governo de ditadores -, mas em momento algum cai na baboseira norte-americana de justificar qualquer intervenção militar, como vemos atualmente na vida real. Mais do que explorar os desentendimentos diplomáticos que acontecem entre os países, “A Intérprete” trata da redenção e da busca pela justiça. E como diz muito bem o título que acompanha o cartaz do filme, a verdade não precisa de tradução.



Janaina Pereira
Redatora
janaredatora@hotmail.com
www.fotolog.net/janaredatora

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